A Vida Como Ela É #2: Fla-Flu

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*por Victor Faria

Amigos, de vez em quando eu esbarro num rubro-negro desvairado. Ainda ontem, encontrei no posto 6, um grande colega. Nunca vi ninguém tão Flamengo! Entre parênteses, ele é um homem que vive tropeçando em milhões. Tem um ar típico de garoto do Pedro II fazendo gazeta na Quinta da Boa Vista. Conta-se que é capaz de arrancar contratos de publicidade até em velórios, até em cemitérios. Pois bem, mas o caso é que ele só pensa no Fla-Flu.

LEIA AQUI O PRIMEIRO DOS TEXTOS DA SÉRIE A VIDA COMO ELA É, ‘A MULHER DO PRÓXIMO’

Assim que me viu, ele me arrastou para um canto. Conversamos no calçadão, diante do mar. Simplesmente ele queria falar da batalha das batalhas. Em cima dos seus sapatos, pôs-se a exaltar seu time. E eu senti, desde o primeiro instante, que a sua euforia era inteiramente equivocada, imprópria. Falta a morada clássica digna de um Fla-Flu.

Com sua cara de garoto, cara de Mozart aos sete anos, ele fez-me a seguinte confidência: – vai comemorar a vitória com busca-pé, desfile, bombinhas diversas, fogos de artifício. Pensa também em cantos oficiais para dar o tom alto à comemoração.

Eu o ouço e me calo. Há qualquer coisa de estranho nessa alegria prévia. Amigos, sempre que vai estourar uma catástrofe, o ser humano cai num otimismo obtuso, pétreo e córneo. Foi assim, em Hiroshima, na fatídica manhã dominical da bomba. Nenhum presságio, nenhuma tensão, nada que turvasse a ternura da cidade.

Eis o que me pergunto: – com a sua comemoração antecipada, não estará arranjando sua Hiroshima particular? As reportagens descrevem a mesma euforia em todo o mundo rubro-negro. O treinador Muricy Ramalho está calmo, aceitou a mudança para Brasília de bom grado, gostou das condições do gramado, e digo: – é a calma que antecede a catástrofe. Ao passo que todos os torcedores sentem, na carne e na alma, a angústia anunciada num clássico longe de campos cariocas.

Mas vejam a dupla experiência que está reservada ao meu colega: – ele hoje canta a vitória do seu time, para futuramente chorar saudades do Maracanã. É assim desde os primeiros embates, não há razão para que eternos rivais, símbolos do Rio de Janeiro, resolvam jogar no Distrito Federal. Centenas de jogos já rolaram no campeonato, mas nunca longe de seu habitat natural.

Lembro-me que, num dia de Fla-Flu, alguém morreu na minha rua. E, no caixão, o defunto estava de cara amarrada, porque não ia ver o clássico eterno no estádio. Mas como eu ia dizendo: – com o mesmo otimismo trágico de meu colega, o Flamengo preparou a apoteose. Torcedores de poltrona, de ocasião, aguardavam sem muita euforia o final do embate.

E venceu o Flamengo. Creio que perderam todos, os torcedores de ambas as agremiações. Pode-se ter uma ideia da ira e frustrações dos apaixonados, distantes em milhares de quilômetros de sua salvação. Os cavalos baixaram as orelhas desoladas e mais pareciam tristíssimos jumentos. E agora?

Nesta coluna, faço um apelo aos tricolores e rubro-negros. Um Fla-Flu não pode faltar ao Maracanã num domingo à tarde. Incluo os fantasmas na convocação e explico: – a morte não exime ninguém de seus deveres clubísticos. Em certos clássicos, cada adversário arrisca o passado, o presente e o futuro.

Precisamos pensar nos títulos já possuídos. Ai do clube que não cultiva santas nostalgias. Com os torcedores de hoje, presenciamos o mais lamentável Fla-Flu de todos os tempos.

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