Alegria gigante, tristeza colossal

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Em tempos de torcida única, é raro encontrar um clássico que transmita os mesmos sabores e energias de outrora, com aqueles ruídos emanados por cada parcialidade chocando-se no ar e o medo inerente de ver a massa opositora explodir e gozar o que se quer pra si, a todo custo.

Mesmo assim, grandes dérbis ainda existem. Precisa buscar um pouco, mas como diz o ditado “quem procura, sempre acha”. Foi assim que passei esse último domingo de frio, diante do monitor de um notebook e da transmissão – via streaming, público e gratuito – de Newell’s Old Boys e Rosário Central.

É, sem dúvida, uma das maiores rivalidades do Mundo. E isso se sente a distância. São muitos os ingredientes que permeiam o jogo, muitos deles vividos para além do dia da peleja.

Na quinta-feira, os leprosos fizeram seu tradicional banderazo, um último alento ao time antes do clássico, e colocaram 30 mil pessoas no estádio para uma mera atividade recreativa dos jogadores.

“Doping psicológico” maior que esse, pra usar a expressão do picaresco Hector Bambino Veira, não pode existir.

A grande questão é que depois da volta dos canallas à Primera, passados três longos invernos na B Nacional, todos os confrontos terminaram com festa auriazul. Desde 2008, o NOB não vence seu grande rival em jogos oficiais.

Aliás, neste período, só há registro jogos oficiais, pois ao contrário de um Boca x River não há tanta brecha pra “amistosos” de verão pelo interior do país.

Outro dado importante para nos situar: já faz mais de 20 anos que um jogador não veste as duas camisas. O último foi Carlos Gastaldi, filho de um dirigente do Central, onde jogou entre 1992 e 93. Depois de passar um ano no Talleres, de Córdoba, assinou com o Newell’s, onde, no entanto, não chegou a jogar no time principal. Após outra temporada no Tigre, encerraria sua breve carreira.

Para encontrar o último que realmente o fez, precisamos voltar ainda mais no tempo. Trata-se do goleiro Juan Carlos Delménico, que jogou na Lepra entre 1971 e 1973 e no Central já no final da carreira, na temporada 1983-84. Com o detalhe nada irrelevante de que o clube de Arroyito caiu. Contra tamanha maldição, nunca mais ousou-se beber na fonte do rival.

De volta ao último domingo, o Coloso do Parque Independência, localizado em meio a uma área verde de mesmo nome, recebeu mais um capítulo, sempre inesquecível, dessa loucura coletiva.

Comandados por dois emblemas da casa, Bernardi e Coudet, respectivamente (aliás, outra fagulha poderosa, pois ambos os clubes sempre estão repletos de titulares feitos em casa), os times se enfrentaram numa cancha, segundo repórter da TV Pública “com alguns setores mais cheios do que deveriam estar”.

Com a bola rolando, o Central logo mostrou a credencial de quem disputa a ponta da tabela e vinha de três vitórias consecutivas desde que o clássico saiu do limbo. Já o Newell’s, continua tentando reproduzir os ideais de Marcelo Bielsa e, mais recentemente, Tata Martino, cujo clássico 4-3-3 rendeu um título nacional e a chegada à semifinal da Copa Libertadores, ambos em 2013.

Após uma homérica pipocada do árbitro Nestor Pitana, que viu, mas não quis marcar, um clamoroso pênalti de Milton Casco em Nery Dominguez, os times foram aos vestiários zerados.

Mas o visitante, coisa rara, era melhor e isso se notava, mesmo num caldeirão cercado de toda a hostilidade que cabe nessas bandas. Entre outros bons momentos, destacaram-se duas tentativas de encobrir o goleiro Ustari do meio campo.

De toda forma, a consistência e frieza canallas foram premiadas no rápido passe de César Delgado nas costas da defesa, para a elegante finalização de Marco Rubén. Gol construído por uma dupla que nasceu no clube, rodou o planeta e voltou, já com a vida feita, para desfrutar da camisa que ama – sem “moles” para chamegos chineses ou sauditas.

Como sempre, a vantagem seria curta, quase de lei neste confronto. Mas ainda havia tempo para um arrepio, propiciado pela reposição de Caranta nos pés de Maxi Rodriguez; este, bateu quase da meia cancha (a terceira do dia!) e viu a bola beijar o pé da trave, em lance que seria rememorado e reencenado por décadas.

É assim nos grandes momentos desse clássico. Como se cada confronto fosse uma película, uma obra de arte única e irrepetível, a ter seus diálogos e desventuras narrados uma e outra vez, de geração em geração.

O Coloso veio abaixo, mas de tristeza. Era o fim, todos sabiam. Escassos minutos de angústia depois, soou o apito final. Os visitantes invadiam eufóricos o campo, a festejar seu título citadino; já os donos da casa, desabavam. Impressionante ver torcedores e até jogadores chorando com uma derrota em clássico de meio de tabela.

Aos canallas, algumas semanas – o próximo duelo local está marcado para a Fecha 24, recheada de rivalidades – de tranquilidade e flauta garantidas. Aos leprosos, o exato oposto, um time em reconstrução incapaz de vencer seu rival, algo que nem as constantes lembranças da passagem pela B podem estancar. Sabem que vivem algo sem igual no futebol.

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