Erros e acertos das mudanças da Copa do Nordeste

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Clubes e federações chegam a acordo para ajustes no maior torneio regional do país. Avaliamos o que melhora e o que piora com as novas regras.

*Por Irlan Simões

Sob o argumento de aumentar o recuperar o nível técnico da competição, e consequentemente a atratividade do torcedor, a Liga do Nordeste se reuniu com CBF e federações para promover algumas alterações nos critérios de CLASSIFICAÇÃO do torneio.

Faço a caixa alta porque o formato de disputa (grupos de 4 clubes, quartas, semis e final) ainda não tem qualquer indício de mudança, em que pese a importância que esse assunto merece ter.

As novas propostas para a Copa do Nordeste receberam muitas críticas desde que as informações começaram a circular, ainda no início do ano. Em 2016 eram muitos os indícios de que alguma coisa seria mexida, e agora, após a reunião do dia 24 de março, foi consumada a reforma da Lampions para 2018 e 2019.

Formato até aqui e seus problemas

Quando retornou em 2013 a Copa do Nordeste estabeleceu que os participantes seriam todos selecionados através dos campeonatos estaduais. Foi a forma encontrada para conquistar o interesse das federações dos sete estados participantes (Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará).

As federações também foram agraciadas com o repasse de 5% dos recursos arrecadados, pela Liga do Nordeste (associação dos clubes) em cotas televisivas e eventuais patrocinadores. Esse valor vai aumentar para 10% do total com a mudança que ocorre em 2015.

Os participantes da nova Copa do Nordestes seriam, portanto, os campeões e vice-campeões estaduais do ano anterior à disputa, totalizando 14 clubes. Os 15º e 16º clubes seriam os terceiros colocados de Bahia e Pernambuco, favorecidos por sua posição no ranking de federação da CBF.

Na terceira edição da “nova era” do Nordestão os clubes dos estados do Maranhão e Piauí foram finalmente inseridos no torneio, corrigindo uma exclusão histórica. A exclusão se justificava porque esses estados historicamente se localizaram na “região Norte” da geopolítica da CBF.

Com a entrada dos campeões e vices dos estaduais maranhense e piauiense, a competição passou a ter 20 clubes, divididos em 5 grupos. Esse novo formato exigiu uma mudança no processo de classificação para as quartas de final: passavam os cinco campeões de grupos e os três melhores segundos colocados. Esse formato manteve um problema e criou outro.

Primeiro não alterou a questão da disputa simultânea do estadual e da Copa do Nordeste. Esse problema acarretou na desclassificação prematura de grandes clubes locais, por disputarem fases decisivas dos dois torneios ao mesmo tempo, deixando-os de fora da Lampions dos anos seguintes, como aconteceu com Santa Cruz, Vitória e Ceará. Por outro lado, fez com que os grupos dos torneios ficassem mais desequilibrados, “espalhando” as grandes rivalidades interestaduais. Uma vez que se criou um novo grupo, os desequilíbrios também aumentaram.

O critério de classificação pelo estadual acarretava, quase sempre, na ausência de um clube de qualidade, que estava disputando Série A, B ou C. Isso ocorre porque estados como Paraíba e Alagoas (não favorecidos com três vagas) possuem mais do que dois times tradicionais e de boa torcida.

Guarde essa informação: esse problema poderia ser solucionado pela criação de uma segunda divisão do torneio regional. Lá para frente veremos a importância disso novamente.

Mudanças para 2018 e 2019

De forma sintética, as mudanças que foram aprovadas para as duas próximas temporadas são referentes ao critério de classificação. Em suma, é como se ainda classificássemos 20 clubes, mas apenas 12 deles teriam vagas diretas na parte regular do torneio. 8 seriam classificados para aquela que já podemos chamar de “pré-Nordestão” ou “pré-Lampions”.

Há diferença profunda entre o que acontecerá em 2018 e 2019. Então temos que explicar separadamente.

Em 2018 os 12 classificados automaticamente serão:
– Todos os 9 campeões estaduais
– Vice-campeões de Bahia, Pernambuco e Ceará (agraciados pelo ranking)
Esses 12 clubes se juntarão aos 4 vencedores do pré-Nordestão:
– Vice-campeões dos outros 6 estados (SE, AL, PB, RN, CE, MA, PI)
– Terceiros colocados de Bahia e Pernambuco.

Os confrontos desse pré-Nordestão deverão se dar, provavelmente, por sorteio.

Já em 2019 os 12 classificados automaticamente serão:
– Todos os 9 campeões estaduais
– Melhores ranqueados de Bahia, Pernambuco e Ceará.

Esses 12 clubes se juntarão aos 4 vencedores do pré-Nordestão:
– Melhores ranqueados dos outros 6 estados (SE, AL, PB, RN, CE, MA, PI)
– Segundo melhor ranqueado de Bahia e Pernambuco.
Como se pode notar, a diferença de 2018 para 2019 é que, salvo os campeões estaduais, prevalecerá o ranqueamento dos clubes para as 7 vagas que não serão dos campeões, incluindo aí a totalidade dos competidores do pré-Nordestão.

Vale lembrar se trata do Ranking Nacional de Clubes (RNC) da CBF, que pontua principalmente pelo desempenho em competições nacionais. Aqui reside boa parte dos problemas que cercam o futuro da Copa do Nordeste. Façamos então esse balanço, para evitar críticas exageradas e descoladas da realidade.

Balanço dos Erros e Acertos

Apontarei os pontos positivos e os negativos, justificando as suas validades ou equívocos.

Acerto 1: Redução para 16 clubes. Essa medida dá espaço para uma futura mudança de formato na competição, uma vez que preveria um número mais adequado de datas diante da realidade do futebol brasileiro. Além disso, retoma a competitividade do torneio: de 2015 para cá não faltaram “sacos de pancada”.

Erro 1: Manutenção do sistema de grupos. Como não houve comentário de nenhuma autoridade sobre a mudança do formato do torneio, podemos considerar que ele se manterá, o que seria uma oportunidade perdida. A melhor época da Copa do Nordeste foi nos anos de 2001 e 2002, quando os 16 clubes se enfrentavam em jogos de idas e os quatro melhores iam às semifinais.

Acerto 2: Pré-Nordestão. Considerando a participação do Uniclinic em 2017, que se juntou a vários outros exemplos de “saco de pancada” em torneios anteriores, o pré-Nordestão faria um filtro maior dos postulantes à taça. Muitos clubes conquistavam a classificação, embolsavam os 600 mil das cotas televisivas (valor alto para clubes de menor porte) e notavelmente não investiam em elencos competitivos.

Erro 2: Não criação de uma Serie B. Acompanhando o erro anterior, quando em 2002 se instauraria o sistema de rebaixamento do último colocado (não aplicada pela extinção do torneio provocada pela CBF). Seria a solução mais prática para o problema que está se instaurando com a aplicação do “ranqueamento”.

Acerto 3: Datas separadas dos estaduais. Não há confirmação, mas considerando as queixas de Evandro Carvalho, presidente da federação pernambucana, acompanhado de posições tímidas de alguns outros dirigentes, a Copa do Nordeste deve deixar de ser disputada em paralelo aos estaduais, concentrando importância e foco das equipes em

Erro 3: Ranqueamento. Não há razão para criar “cadeira cativa” para os grandes da região. No modelo previsto para 2019 a vaga de Vitória e Bahia, Sport, Santa e Náutico e do Ceará estariam praticamente garantidas independente das circunstâncias. Isso causaria um efeito colateral monstruoso em outros estados, principalmente aqueles que possuem mais de dois clubes tradicionais. (Obs: o Náutico ainda poderia ficar fora caso o campeão estadual não fosse um dos grandes).

Acerto 4: Futura mudança?. É uma aposta que faço. O sistema do ranqueamento pode significar a formatação de uma mudança futura, que talvez esteja sendo encaminhada. Não faria tanto sentido manter quase metade das vagas compostas por ranqueamento sem aplicar de forma definitiva um sistema de rebaixamento e promoção. Talvez estejamos vendo um processo polêmico de desgarramento dos estaduais, que não seria necessário em edições futuras, o que é um acerto.

Erro 4: Ranqueamento 2. Com o benefício de 3 vagas para Bahia e Pernambuco e a obrigatoriedade da disputa do pré-Nordestão para seis estados; o Ceará ficou numa situação delicada: o campeão e o melhor ranqueado vão diretamente para as fases decisivas, isso o insere na distorção que pode ocorrer em outros estados, a ver.

Erro 5: Ranqueamento 3. Em Alagoas, caso o tradicional e popular CSA seja vice-campeão estadual, perderá a vaga para o ASA ou o CRB inevitavelmente, mesmo que esses sejam rebaixados. Na Paraíba mesmo ocorrerá ao Campinense. Em Sergipe o mesmo acontecerá com o C. S. Sergipe. O RNC da CBF não acompanha a conjuntura local, e tende a expulsar alguns clubes muito tradicionais que tiveram más fases nos anos recentes. No caso do Ceará, caso o Fortaleza perdesse o título para o Uniclinic, perderia a vaga para o rival Ceará, que ficou em quinto.

Desacordos

Logo após a circulação das informações sobre as mudanças aprovadas pela CBF junto às federações e aos clubes, uma posição conjunta de FPF, Náutico, Santa Cruz e Sport trouxe preocupação. Os clubes alegam que o regulamento só poderia ter sido alterado por unanimidade.

A postura de intransigência ligou o sinal amarelo na Liga do Nordeste. A ausência dos pernambucanos obviamente inviabilizaria economicamente a competição. Recife tem a maior e mais populosa região metropolitana da região, o que causaria a fuga de patrocinadores e a quebra de uma série de contratos. Por isso tendem a usar do poder de barganha para conquistar maior espaço.

É certo que os três clubes de massa do estado estão entre as grandes forças região ao lado de Vitória, Bahia e Ceará; mas a insatisfação parte principalmente de uma demanda que beira à mesquinhez: a garantia de três vagas diretas na fase principal da competição.

Isso se dá porque os pernambucanos acreditam estar perdendo direitos diante da entrada automática dos campeões de Piauí e Maranhão. As três vagas automáticas de 2013 até 2017, seriam trocadas por duas vaga automáticas e mais uma do pré-Nordestão.

Como política é um exercício de demonstração de poder, é meio compreensível a postura dos pernambucanos. Mas, convenhamos: o terceiro pernambucano teria tamanho receio de não passar contra vice-campeão de qualquer outro estado nordestino?

Mais uma vez, a Copa do Nordeste se vê em uma encruzilhada de egos, vaidades e mesquinharias. O torneio com imenso potencial para se tornar a terceira principal competição do futebol brasileiro, vai deixando de se fortalecer por conta dos próprios erros.

Em tempos de instabilidade política no futebol nacional, a unidade dos clube em torno da Liga do Nordeste seria uma imensa arma para a diminuição das desigualdades econômicas que prejudicam os grandes clubes e as grandes torcidas da região.

Perdemos todos os amantes do futebol nordestino e da Lampions League.

 

*Irlan Simões é jornalista, mestre em Comunicação (UERJ) e pesquisador do futebol. Participa do programa Baião de Dois.

 

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3 comentários em “Erros e acertos das mudanças da Copa do Nordeste”

  • Daniel Dalence disse:

    Bom texto, mas com um erro: essa fase preliminar não eliminaria o Uniclinic. Como vice-campeao cearense entraria na fase de grupos de qualquer jeito. Além do mais incharia o calendário com mais duas datas prejudicando ainda mais os estaduais, outro problema não citado.

  • Rodolfo Nícolas disse:

    Se calendario e protecionismo sao um problema, nao deveria ter um acerto 0? Que no caso seria, acabar com a copa do NE, estaduais e ter apenas o campeonato nacional para os times disputarem? Serie A e B continuam existindo da forma q sao porem com pre temporada e ocorrendo durante o ano todo. A serie C e a D sao engordadas (mantendo a regionalizacao) para os times terem calendario o ano todo.

    Supondo-se que o texto parte da premissa oculta q a copa do NE deve continuar existindo pq os estaduais dao prejuizo e eh uma forma dos clubes se fortalecerem localmente (e a cbf nao consertara o calendario mesmo), mesmo q o estadual se torne uma competição de acesso para a serie b da copa do NE, como encaixar um campeonato de pontos corridos com 12 ou 16 times (22 e 30 datas respectivamente) no primeiro semestre? O problema do calendario nao continuaria o mesmo? Times como bahia, sport e vitoria vez por outra seguem vivos na copa do brasil, e agora tem sula tbm (e nao seria surpresa se o sport ou algum desses consiguisse eventualmente uma vaga na liberta tbm).

    Por fim, caso jesus volte e ilumine os grandes clubes, e a copa uniao reapareça, organizada e lucrativa, defendendo o interesse dos clubes, minguando os estaduais do sul e etc. Como a copa do NE se sustentaria?

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