Neymar, pela última vez

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De Leandro Iamin

O jornalista Flavio Gomes, que visitará a Central 3 nesta segunda, dia 3, para falar com José Trajano no Zé no Rádio (20h30, fique ligado na transmissão ao vivo nosso Facebook e em nossa home), sabe como poucos como é isso. O coitado precisou escrever mil textos e responder um milhão de vezes sobre Ayrton Senna. Seu crime: considerar o piloto “apenas” um dos melhores da história, quando a expectativa de muitos era por uma voz unânime afirmando que o herói nacional era um ser ungido pelo Divino, imbatível, indiscutível, imortal. De modo que, após mais uma Data Fifa em que recebo mensagens aqui e ali sobre Neymar, prometi a mim mesmo que pela última vez falarei sobre o tema: eu gosto do Neymar, só não gosto de ser obrigado a gostar.

Neymar é, disparado, o jogador de futebol mais elogiado e a personalidade mais festejada do país, mas comporta-se, muitas vezes, como se na verdade fosse perseguido, algo que não faz o menor sentido. É uma escolha deliberada de narrativa? Já vi muito disso no futebol, mas esse desejo de inflar um inimigo imaginário para fazer tudo parecer mais épico combina com figuras xucras, tipo Felipão, não com o jogador mais habilidoso do país. Às vezes fico pasmo com a inversão da narrativa, é como se Neymar vencesse e calasse os críticos a cada drible, mas olho ao redor e não enxergo essa comoção anti-Neymar, muito pelo contrário, há um país inteiro disposto a paquerá-lo.

Eu sei exatamente por qual razão me associam ao Neymar como crítico contumaz e implacável do Menino Ousadia. Este texto, que gerou por algum tempo um blog só com manchetes bizarras envolvendo o craque que gera cliques, é um exemplo. Não percebem, porém, que a crítica é mais ao modelo doentio de negócio do jornalismo de celebridades, comprometido economicamente com quem retrata, do que propriamente a ele. Neymar é agente secundário disso, o alvo preferido da necessidade nacional de cultuar personalidades, e, esperto, capitaliza em cima disso – e é uma troca, tá? Ele ganha muito dinheiro capitalizando em cima da exposição de seu estilo de vida, mas isso gera críticas, muito razoáveis por sinal, como qualquer BBB ou Musa Fitness também recebe, e podemos falar sobre delas noutro texto, das críticas, digo, não das Musas Fitness.

Enfim. Como quem recebe as mensagens engraçadinhas sou eu, tive a paciência de voltar no tempo em meu Facebook após mais uma mensagem “Tá vendo o Neymar, Iamin?”, e colher o que falava do camisa 10 da Seleção durante a Copa do Mundo.

Aos comentários de 2014: Após o jogo de estreia, contra a Croácia: “O Neymar, que para muitos é proibido de receber críticas, deu uma braçada violenta e proposital no pescoço do croata. O árbitro viu e amarelou. Se expulsasse não seria absurdo. Neymar correu esse risco”. Após o jogo contra Camarões, terceira rodada: “O segundo tempo é um perfume ligeiro. O primeiro tempo fedeu. Não tá nada bem. Tem um moleque de 22 anos que resolveu, quase sozinho, de novo. Ele não é mágico, não vai ser sempre assim (…)Que seja uma semana séria”. Após as oitavas, aquele jogo sofrível contra o Chile, que certamente abreviou minha vida: “Futebol é pressão, cobrança. Neymar pintou o cabelo, emulou emoção, chamou a atenção para si além do jogo, só que nada disso me distrai. Convivo com as graças dele e de todos, faz parte do show, mas ele tem que ser pressionado. Está abaixo. É o jogador que presta contas pra torcida, não a torcida que presta culto a jogador. Em outras palavras, saiam da merda do marasmo dessa granja e comecem a jogar bola. A começar pelo melhor jogador, que sempre foi e sempre deveria ser o mais pressionado”. Após o malfadado e inclassificável 7×1: “Cultuar personalidades é um perigo muito grande, em qualquer área. Vamos jogar no lixo o que Neymar tem a oferecer se continuarmos infantis desse jeito pra analisar o futebol”.

Em suma, amigas e amigos: eu não abro mão de analisar o Neymar como parte do futebol. Eu ainda acho o futebol muito mais legal que o Neymar. No parágrafo acima tem elogios, críticas, opiniões sobre o seu tamanho em relação ao resto do time brasileiro, era o que eu pensava durante a Copa e o que eu penso do futebol e da relação que temos que manter com o craque de um time, sempre proporcional ao tamanho do que joga e do que está em jogo, mas, como meus comentários nunca foram ajoelhados, rendidos, entregues à força do carisma de um homem carismático, a impressão que muitos possuem é de que sou um anti-Neymar. Ora, eu tenho mais o que fazer.

Se do Brasil e da Espanha chegam números que, somados, tornariam Neymar, após as investigações terminarem, um dos maiores criminosos fiscais da história do Brasil, sim, isso é muito sério e tem de ser colocado em perspectiva. Se ele arrebenta o Paris Saint Germain e faz um ano melhor do que seus parceiros de ataque, isso também é relevante e será dito. Mas é preciso ficar atento: entre o que merece crítica real e elogio de verdade, muita distração tenta esvaziar nossa capacidade e independência de análise. Não dou a mínima para a profissão da namorada de qualquer jogador, e não sigo nenhum deles em nenhuma rede social, pelo menos enquanto são jogadores de futebol.

O Neymar tem é muita sorte por possuir críticos. Se não fossem eles, quero dizer, se o mundo fosse só dos aduladores e sanguessugas de manchetes, provavelmente ele seria hoje um ser humano insuportável e absolutamente alienado. Ainda acho um pouco, mas muito menos do que um dia achei que seria. Não conseguiram estragar o moleque, e esta é uma boa notícia. Ele é um jogador espetacular. Como Senna foi um piloto absurdamente bom. E isso não interfere em nada na análise do jogo, do esporte, do que precisa ser feito enquanto se está no jogo e no esporte, dias bons e ruins, resultados bons e ruins. Eu só faço a minha parte. E de minha parte, esta é a última vez que escrevo sobre a minha parte.

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Leandro Iamin escreve às segundas na Central 3, mas dessa vez escreveu na quinta também.

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2 comentários em “Neymar, pela última vez”

  • Vitor Forcellini disse:

    Concordo com grande parte, embora me encontre entre aqueles que olha torto pra quem não acha o Senna o maior da história haha tenho um sentimento parecido em relação ao Tite. Ele tá fazendo um baita trabalho, aliando bom futebol a resultados contundentes. Mas tenho criticas. A convocação, ao comportamento, a o que me parece ser uma vontade de se mostrar um “homem de muito caráter”. Não que não tenha, mas algumas atitudes me parecem forçadas. Porém, criticar qualquer coisa no Tite hoje já gera revolta e acusações de clubismo (já que por coincidência o maior sucesso dele foi no rival meu time). Complicado, mas entendo perfeitamente sua posição hahaha

  • Concordo com tudo. Parabéns, texto excepcional.

    Gosto do Neymar e acho incrível o futebol que ele joga na seleção ultimamente. Cristiano Ronaldo ou Messi nunca foram tão decisivos em suas seleções como o Neymar o está sendo pelo Brasil. O que me incomoda é essa obrigatoriedade de gostar do Neymar e essa mania de engrandecer tudo que ele faz. Por exemplo, agora se quer fazer crer que ele faz sua melhor temporada da carreira e é o melhor do Barcelona no ano e por consequência deve ganhar a Bola do Ouro. Peraí, será que é isso mesmo? Messi 40 gols, Suarez 31 e Neymar 14. Será mesmo o melhor do Barcelona na temporada? Estou equivocado ou até poucas semanas, quando o Neymar passava por grande jejum no time catalão, as críticas por lá começaram até a ficar pesadas? É só isso que questiono. Esta mania que brasileiro e a sua imprensa tem de precisar ser superior em tudo. Com o Neymar isto é ainda mais exacerbado. Por que ele não pode ser tratado como um craque que está jogando barbaridade na seleção e fazendo uma temporada regular no Barcelona?

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