Os números não mentem

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Por Pedro Pereira Buccini

Há um ditado popular (ou seria acadêmico) que afirma que se você torcer os números eles contam o que você quiser. Possivelmente são baseados nisso os argumentos do promotor Paulo Castilho, do JECRIM (Juizado Especial Criminal) ligado ao MP-SP, sobre torcida única. Um exemplo claro foi sua afirmação de que o Clássico da Saudade bateu o recorde de público da Vila Belmiro na semifinal do Paulistão.

Inicialmente acreditei na afirmação do promotor, mas com claras ressalvas. Ele provavelmente só contabilizava jogos recentes e nesses um duelo decisivo sem torcida visitante possibilitaria um estádio cheio sem as separações da Polícia Militar, que “comem” muitos lugares do estádios. Mas trabalhar com a verdade não é uma das características fortes de Castilho, que disse que os “torcedores de bem” do Palmeiras foram “descaracterizados” ao Morumbi sem mencionar que estes correram riscos reais à sua integridade física como nos mostra o excelente texto de Leandro Iamin, em O Periquitão. Aliás, trabalhar não é também uma de suas competências fundamentais, pois se fosse certamente já teria encontrado alguma solução mais eficaz e eficiente do que a torcida única, proposta que defende há alguns anos.

A acusação da falta de verdade no parágrafo acima não é falsa, pois o público da semifinal do Paulistão [Santos 2 (3):(2) 2 Palmeiras] foi inferior aos dois jogos decisivos do ano passado entre os clubes na mesma Vila mais famosa do Mundo. Enquanto, neste ano tivemos 13.690 pagantes, em 2015 o público da final da Copa do Brasil (Santos 1:0 Palmeiras) foi de 14.116 pagantes, em uma quarta-feira à noite, e o da final do Paulistão foi  de 14.662, em um domingo igualzinho à este ano. Ou seja, respectivamente 426 e 972 a mais, mesmo com torcida visitante. Aliás, possivelmente esse número a mais são justamente os visitantes. O único público que é “derrotado” pelo do dia 24 de Abril deste ano é o de 1º de Novembro de 2015, vitória santista por 2 a 1 com 11.767 pagantes, pelo Brasileirão, quando os dois clubes estavam mais interessados na finalíssima da Copa do Brasil.

Poderíamos voltar um pouco mais no tempo e relembrar de outra semifinal do Paulistão entre os clubes, no ano de 2009. Naquele ano, na partida de ida, o Peixe venceu o Verdão por 2 a 1, com 17.773 pagantes. Se pularmos mais sete anos no passado, em 2002, em jogo que Marcos brilhou no “Alçapão”, o clássico foi disputado para 19.949 pagantes. E seis anos antes, em 1996, em uma goleada histórica alviverde (6 a 0), as torcidas dividiram o Urbano Caldeira e 14.687 pessoas presenciaram. Sim, estádio dividido na Baixada e com público superior ao deste ano. 4.083, 6.259 e 997 torcedores a mais que em 2016 respectivamente em cada duelo.

Mas vamos dar novas chances ao nosso “cidadão de bem” público? Que tal olharmos os outros dois exemplos de clássicos com torcida única que tivemos desde a medida “genial” do paladino da justiça. Primeiro, os jogos no Morumbi entre São Paulo e Palmeiras, o clássico do último domingo com vitória tricolor por 1 a 0, o inaugural com torcida única entre os clubes, teve 21.016 pagantes, número que também foi usado como argumento pelo senhor Paulo Castilho para afirmar que o número de torcedores aumentou nos clássicos devido à sua proposta.

Bem, o Choque-Rei anterior, um empate em 1 a 1, com gol de cobertura de Robinho nos últimos minutos, foi presenciado por 25.047 torcedores, 4.029 a mais do que o do último domingo. Antes, em 2014, o Tricolor bateu o Verdão por 2 a 0, às 19h30 de um domingo, diante de 36.350 presentes, 15.334 pessoas a mais, portanto. Também pelo Brasileirão, mas em 2012, o São Paulo contribuiu para o rebaixamento alviverde com um categórico 3 a 0, com 34.941 espectadores, 13.925 pagantes a mais no mesmo Cícero Pompeu de Toledo. O único Choque-Rei com torcida inferior foi justamente o que menos valia para os clubes: um oxo, pelo Paulistão de 2013, com 18.020 torcedores.

Por fim, Corinthians e Santos, no Itaquerão, outro ótimo exemplo, afinal o estádio da Zona Leste é recente e o público corinthiano costuma manter uma média próxima em quase todos os jogos. O efeito “torcida única” de Paulo Castilho talvez apareça de forma mais inconteste, no final das contas.

O Timão superou um retrancado Peixe – graças a CBF – com um gol solitário de Giovani Augusto aos 36′ da etapa final diante de 30.452 corinthianos exclusivamente. Ano passado, em uma manhã acalorada, 41.748 presentes viram Jádson anotar, nos 10 minutos finais, os dois tentos que colaboraram para o hexacampeonato do Alvinegro do Parque São Jorge, 11.296 pessoas a mais do que no 1º de Junho deste ano. Pela Copa do Brasil, também em uma noite de quarta-feira, só que às 22h, 37.388 torcedores assistiram a incontestável vitória santista por 2 a 1, 6.936 a mais, portanto. No Paulistão do ano passado, em jogo sem importância na classificação, 32.566 pagantes presenciaram o empate no Clássico Alvinegro, 2.114 presentes a mais. Pelo Brasileirão de 2014, em um domingo, no péssimo horário das 19h30, Guerrero marcou logo no começo o gol da vitória corinthiana para 31.089 espectadores, no que era o pior público do clássico no novo estádio paulistano até ontem.

 

Qual será a próxima mentira do promotor Paulo Castilho após o Dérbi deste domingo?

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