Copa C3 | Dia 15, o pior dia da Copa

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Dia 15 – O pior dia da Copa

por Gabriel Brito

Colômbia 1 x 0 Senegal – Vitória de quem quis

Começamos o diário pelo único jogo sério do dia, que antecipou perfeitamente o vazio desta sexta-feira.

Partida com a cara de uma última rodada em que ainda por cima fica-se de olho no outro jogo. Ou seja, predominantemente amarrada.

O pênalti seguido de expulsão de Carlos Sanchez logo nos primeiros minutos da rodada inaugural foi o determinante de todo o grupo H; a falta de frieza do colombiano em aceitar o gol relâmpago do Japão e jogar 90 minutos em condições de igualdade desatou o caos.

Daí em diante, nossa torcida pela classificação de uns e outros que ontem se enfrentaram em Samara estava definitivamente complicada.

Dito isso, o Senegal pagou o preço do pragmatismo reinante do futebol atual. Além de conceder os dois empates ao Japão, esperou demais o tempo passar na partida derradeira.

No fim das contas, é melhor depender de si mesmo. O Senegal, que chegou a curtir a liderança da chave durante seus últimos 90 minutos na Rússia, resolveu ir ao ataque apenas depois do gol de Mina, isto é, por 15 minutos. E criou um bom punhado de chances, diga-se.

Já o zagueiro colombiano é um monstro, o melhor da Copa ao lado do sueco Granqvist. Sua capacidade na bola aérea não encontra paralelo em nenhum outro jogador de defesa da atualidade.

Quanto ao conjunto cafetero, acertou-se a partir da segunda rodada. Uma lástima a lesão de James, mas há elenco razoável. Muriel foi bem em seu lugar e no fim das contas o time que mais se incomodou em buscar o resultado saiu com a vitória. Nosso lamento pelos Leões de Cissé é sobretudo afetivo.

Polônia 0 x 1 Japão – Que moral nós temos?

Vivemos a sociedade dos resultados, da posse, do êxito, da “eficiência”. Noções de ética se tornaram coisa de românticos, “que não entendem as necessidades básicas da vida”. Partilhar e ser feliz, em lugar de concorrer e sempre se sentir em dívida, não são exatamente as razões existenciais ou leit motiv da ampla maioria das pessoas, inclusive formadores de opinião.

Tal discurso é amplamente aplicado ao esporte. Ninguém acha que as Olimpíadas mantém alguma ideia de purismo esportivo, “o importante é competir” e outras platitudes. O atleta vai ao limite de suas condições e seu corpo é mercadoria a ser explorada até a última gota. A epidemia de doping responde por mim. E os donos do circo vinham sendo, se é que não seguem, notórios receptores de propina e amantes de uma vida fácil que só o esporte poderia lhes dar.

Dessa forma, até que ponto não somos patéticos em condenar a postura japonesa nos constrangedores minutos finais da partida contra a Polônia, quando a classificação estava na mão?

Até que ponto uma geração de atletas que nunca superou a primeira fase da Copa do Mundo deveria se preocupar tanto em satisfazer nossos pruridos ético-filosóficos? Aonde isso dá prêmio?

De certa forma, a postura polonesa em corroborar o fim de jogo tal como vimos, quando nenhum resultado alteraria seu destino, e aceitar de forma tão mesquinha uma vitória inútil é até pior.

Mas retornamos ao início: na sociedade torturada pelos números e doente por status os polacos queriam marcar no caderno: “olha, vencemos uma”. Vai que se toma o empate? Estavam eliminados do mesmo jeito, mas um joguinho de três pontos em Copa é mais uma marquinha pros currículos pessoais do futebol mais egocêntrico de todos os tempos – outro reflexo do tipo de sociedade que optamos por ser.

O argumento que mais se aproxima de constranger os responsáveis pelo simulacro de Volgogrado é aquele que lembra do torcedor que tanto esforço fez pra estar lá, tanto dinheiro gastou para ver uma Copa longe de casa. Mas não é esse mesmo o sujeito massacrado pelas cantilenas de que “é business”, “não adianta querer voltar ao passado”, “vocês têm que entender”? Quando de fato dão a palavra ao torcedor sem esse tipo de cerco, censura prévia?

No meu futebol seria tudo muito simples: você joga pra vencer e se não der, paciência, a cerveja desce igual. Infelizmente não funciona assim.

Tunísia 2 x 1 Panamá – Mudemos de assunto

Os leitores que me desculpem. Esse foi o único jogo que de fato não olhei nada, só gols à noite. Aparentemente, deu a lógica e o time mais experiente em grandes competições, e que por pouco não arrancou ponto da Inglaterra, volta pra casa com uma vitória pra contar história.

Fiquemos com o extracampo, portanto.

Pioneira nas revoltas que ficaram conhecidas como Primavera Árabe, a Tunísia de fato é o país mais bem sucedido da região após o esfriamento dos levantes.

Apesar das dificuldades (e políticas de austeridade), respirou ares democráticos e um alto nível de engajamento político da população. O país patina na economia e precisa lutar pela manutenção da estabilidade institucional.

Neste ano, diversos jornalistas e organizações de direitos humanos disseram-se preocupados com uma possível ruptura e retorno a tempos autocráticos, dada a perseguição, ainda que menor do que em outros tempos, a opositores e violência contra protestos.

Vale lembrar que o atual presidente, o nonagenário Béji Caïd Essebsi, era ministro das Relações Exteriores do antigo ditador Habib Bourghiba, que governou o país de 1957 a 1987, sucedido por Zine Abdine Ben Ali. Este, esteve no comando até a chamada Revolução dos Jasmins de 2011.

Após um tempo fora do país, onde seguiu sua carreira de advogado, retornou à Tunísia para o novo período e foi eleito.

Bachir Amroune, jornalista que escreve para o Deustche Welle, faz o seguinte diagnóstico do atual momento:

“Há anos, os supostos amigos europeus da Tunísia a têm deixado na mão. Na realidade, eles só cuidam, meticulosamente, de seus próprios interesses; garantem para si um lucrativo acesso ao mercado de consumo e de trabalho tunisiano, sem retribuição real. Em vez disso, exigem mais engajamento no combate à migração ilegal para a Europa. Como se o país já não tivesse problemas suficientes!

Diante de tal hipocrisia, é preciso os tunisianos se darem conta de que só podem confiar em si mesmos. O governo precisa finalmente abandonar o modelo econômico ultraliberal, que persegue desde a independência nacional, em 1956. Ele aposta apenas em exportações baratas para a Europa e turismo de massa barato para os europeus, e investe exclusivamente na região litorânea, mais lucrativa por ser de acesso mais fácil”.

Quanto ao Panamá, chamou atenção a entrevista do experiente técnico Hernán Darío Gómez. Irritado com uma pergunta sobre o desempenho desta que foi a pior seleção de todas, deu uma explicação altamente estruturalista sobre os porquês. Em suma, comparou não só as condições econômicas do futebol local e sua capacidade de formar jogadores frente a países muito mais poderosos como foi taxativo em relacioná-las a outros aspectos da organização social panamenha.

Dessa forma, fica a recomendação da fantástica matéria de Fernando Moura sobre o bairro Chorrillo, celeiro de jogadores num país onde nem os atletas – por aqui tão acima do bem e do mal – escapam da barbárie.

Bélgica 1 x 0 Inglaterra – treino de luxo

Pra fechar o dia mais difícil em prestar atenção nas quatro linhas, um treino de luxo entre os dois europeus classificados.

Como dito pelo amigo André Baiano, um encontro de fim de ano de estrelas da Premier League.

Ambos fizeram o que mandava a cartilha e sacaram todos os atletas pendurados ou com o mínimo risco de lesão.

Não só pelo resultado, mas pelo desempenho, ficou a impressão de que a Bélgica tem mais elenco e, de fato, um belo leque de jogadores.

Na conta do chá, fechou o grupo com 100% de aproveitamento, tal como em 2014. Mas agora é que são elas, para ambos.

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