Dizem que faço parte do jogo

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Por Leonardo Lepri Ferro

E a verdade é que faço mesmo, não nego. Inclusive,às vezes,a vontade é tamanha que eu acabo me intrometendo mais do que deveria (porém, muito menos do que gostaria).

Faço questão – e até prefiro, também reconheço -acompanhar aquele que arrisca tudo em busca do gol. Mas sei que devo ser justa sobre todas as coisas. Nunca deixo desamparados os velhos precavidos de sempre. Os mesmos que ainda insistem em jogar com uma linha de três zagueiros, exibindo pares de olhos vigilantes enquadrados na moldura de um rosto tenso.

Repito mais uma vez. Se há uma coisa que aprendi ao longo dos anos, é que preciso ser justa. Incondicionalmente. Não importa o que digam, ou os presentes que chegam todos os dias.

Posso garantir que tenho olhos mais vendados do que os da deusa Têmis. Sou completamente cega às estrelas reluzentes abundantes em diversos escudos, e procuro me fazer de surda aos gritos que as arquibancadas derramam. Eu me concentro exclusivamente naquilo que deve ser feito.

É por isso que sempre vou alternando o meu amor. Pela justiça, não posso ser exclusividade de alguns poucos. O mundo já está cheio disso, cheio de benefícios dedicados a uma minoria. E como sou avessa à ordem natural das coisas, e também me considero um benefício pra lá de especial, eu decidi ir pulando de um novo amor para outro mais recente.

E a verdade, seja ela dita, é que preciso acompanhar alguém. Melhor dizendo, preciso escolher alguém para acompanhar. Assim está melhor.

Geralmente eu me enfeito, me maquio. Sou bastante vaidosa,mas sei que nem precisaria tanto esforço. Manhosa,estou ciente de que todos me desejam e então me dou ao luxo de escolher quem eu quiser.

São vários, arriscaria dizer incontáveis, aqueles que querem caminhar de mãos dadas comigo. Como se eu fosse um troféu. Isso! Um troféu. A minha companhia costuma vir repleta deles. Aos montes, de tamanhos e importâncias variadas.

Mas eu sou reservada a um só. Pelo menos por uma noite. É mais ou menos aquela antiga história: “Que seja eterno enquanto dure”.

Se a bola explode na trave, fui eu quem sufocou o grito de gol. E se a bola vence o arqueiro, também tem a minha mão nisso tudo aí.

Eu já vesti várias cores, mas jamais me enamorei de alguma. Nunca tive compromisso algum com a fidelidade. Admito que existem aqueles que, de alguma maneira,me marcaram profundamente e que ainda movem o meu chão.Eu sempre procuro por eles no começo da noite, ou da tarde. Ao encontra-los, costumo dar uma discreta piscadela. Mas há de se estar atento para perceber. Se eu for desprezada, não costumo voltar por um bom tempo. Gosto de me sentir desejada, é claro.

Existem também os que me chamam de injusta. Ressentidos. Não prestaram a devida atenção quando lhes dei oportunidades. Certamente foi isso que aconteceu. E agora saem por aí falando poucas e boas de mim. Deixe que falem, eu não me importo. Eles se esquecem que também os beneficio quando menos merecem, mas justamente quando mais precisam. Ingratos que só sabem reclamar, é isso o que são.

Sou tão discreta em minhas ações, que deixo os torpes afirmarem que “determinado time venceu por detalhes”. Ou ainda; “os clássicos se decidem nos detalhes”. Aqui valeum alerta: é importante se ter um álibi. E o tal “detalhes” é o meu. Prefiro que continue sendo assim. Tenho meus próprios segredos e escolhas, e posso assegurar que ninguém os conhece.

Você já deve ter me visto alguma vez, mas é bem difícil recordar a minha fisionomia. Costumo aparecer no voo do goleiro, na cabeçada mortal do centroavante, ou na arrancada triunfal de um volante todo-coração. Esta semana eu escolhi aparecer na última opção.

Quando se trata de dois pretendes tão importantes, prefiro passar uma noite com cada um.Nas últimas semanas, tive dois grandes encontros: um com River Plate e outro com San Lorenzo. Aviso desde já que, para este duelo, não houve qualquer predileção de minha parte. Acompanhei Torrico e também Barovero em defesas memoráveis, cada qual em sua noite especial.

Mas aí… quando percebi o ímpeto de um uruguaio de estatura mediana, mas com uma vontade gigante, eu não tive como manter minha imparcialidade prévia. Decidir tomar partido e desviar o chute fraquinho desferido por Carlos Sánchez, enganando o meu defasa do amor de uma semana atrás.

Desculpe-me, Torrico.

Um azarado pode viver a vida toda sem receber a minha atenção. Porém, um campeão não sobe ao pódio sem antes ter flertado comigo.

Carinhosamente,

S…

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