Ídolos da pátria grande: Darío Dubois

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Por Léo Lepri

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Antes das equipes saírem definitivamente a campo, o defensor do time local bate à porta do vestiário utilizado pelos árbitros e solicita fazer uso do espelho. Ainda que o pedido soasse estranho num primeiro momento, o juiz principal resolve aceder ao requerimento sabedor de que seu vestiário era o único a contar com o precioso objeto.

Uns poucos minutos mais tarde, abre-se a mesmíssima porta e dali emana a figura de um jogador devidamente uniformizado para a partida e com o rosto MAGISTRALMENTE pintado ao melhor estilo roqueiro da banda KISS. A humilde cancha do Ferrocarril Midland, naquela época pertencente à divisional D argentina, QUINTA e ÚLTIMA divisão dos times diretamente afiliados à AFA, jamais seria a mesma.

E quiçá até o futebol argentino jamais foi o mesmo depois da passagem de Darío Dubois por suas categorias mais apaixonantes. Neste dia, no ferrenho clássico do ascenso local que coloca frente a frente os dois rivais de Merlo, localizado no PICANTE oeste bonaerense; Ferrocarril Midland e Argentino de Merlo, o zagueirão Dubois, do Midland, valeu-se da maquiagem que pegou emprestadada com um travesti para fantasiar-se como seus ídolos de Black Metal.

Ao todo, Darío Dubois atuou 14 partidas com o rosto pintado. Só não continuou com a prática porque foi proibido pela AFA. Segundo o órgão máximo do futebol argentino, o costume do zagueiro “transmitia uma má imagem do que era o futebol da divisional D”. Bueno, qué se puede decir? Gracias a la AFA por demostrar diariamente lo que es ser un sinónimo de buen manejo en sus negocios y por el ejemplo de total credibilidad (?).

O sujeito era uma baita figura. Fã incondicional do estilo de rock QUANTO MAIS PESADO MELHOR, foi o líder de um banda de metal chamada “Tributo Rock“ que não emplacou muito sucesso. Ou nenhum para dizer a verdade. Até por isso, e por uma vida de quem circulava diariamente pelas zonas mais humildes da grande Buenos Aires, Dubois também fez parte de uma banda de cumbia villera: “Corre Guachín” (melhor nome, impossível).

Começou no mitológico Yupanqui em 1994 (melhor nome, impossível – parte II). Passou, além do supracitado Ferrocarril Midland, por Lugano, Deportivo Laferrere, Deportivo Riestra (bem antes que Maradona chegasse por lá), Cañuelas, Deportivo Paraguayo e se aposentou no Victoriano Arenas. Parou em 2004 não por escolha própria, mas porque rompeu os ligamentos cruzados e não possuía o montante necessário para operar-se. Seu último clube, o Victoriano Arenas, tampouco tinha la guita para algo assim. Tentou custear a operação através da Futbolistas Argentinos Agremiados (FAA), mas a associação de atletas lhe negou o pedido.

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Por si só, a anedota do rosto pintado já é prova insuperável e CABAL de máxima idolatria merecida. Porém, os feitos de Dubois não se limitam ao uso de maquiagem em uma partida de futebol.

Quando ainda atuava pelo Lugano, muito antes de ter a ideia de pintar o rosto, o defensor boicotou o único anunciante que o clube tinha. Segundo o que ele próprio contou tempos depois, a tal empresa havia prometido um prêmio de $40 pesos por cada vitória do time. Los Naranjas se entusiasmaram tanto com a promessa de um bicho tão PARRUDO que emplacaram três triunfos consecutivos. Como não receberam o que havia sido combinado, na partida seguinte, Dubois pensou que podia aproveitar a chuva que castigou o precário campo de jogo. Assim que pisou no gramado, um digno lamaçal, valeu-se do BARRO para tapar completamente a marca do anunciante estampada na camiseta do Lugano.

Também denunciou dirigentes rivais que quiseram propor acertos para que ele fosse para trás, como se diz na Argentina. Em outra oportunidade, já atuando pelo Midland, um árbitro o expulsou em uma partida contra o Excursionistas de Belgrano. Ao sacar o cartão vermelho do bolso, o homem da lei futebolística deixou cair $500 pesos no pasto. Dubois não teve dúvidas, agarrou la plata e saiu em desabalada carreira. Ninguém o alcançou. Depois resolveu devolver o dinheiro, mas não sem antes alfinetar o juiz: “Esa es la guita que te llevas por echarme”.

Nunca figurou em equipes de médio porte, quem dirá nas grandes. Melhor assim. Seu estilo não encontraria lugar em meio a toda essa PARAFERNALHA que compõe a primeira divisão. Apesar de tudo, Darío disputou 146 partidas e anotou 13 gols.

Como a grande maioria dos jogadores de futebol, também não conseguiu fazer dinheiro com o esporte. Precisava se virar como operador de som nas noites de festa para fazer algum qualquer. E foi assim que Darío encontrou seu fim. Fugaz, como costuma ser para aqueles que se dedicam ao ofício de mártires. Foi baleado em 2008 quando saía do trabalho, num show em Isidro Casanova. Tinha 37 anos.

Partiu, mas não sem antes ter sido justamente reconhecido por los muchachos do excelente En Una Baldosa. A fama do excêntrico personagem teve seu rosto estampado em uma série de camisetas que o site lançou. Darío inclusive disputou um campeonato com a galera que trajava uniformes com uma imagem de sua cara pintada. Achou o máximo.

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Nenhuma definição o sintetiza tão bem quanto as próprias palavras em uma entrevista concedida ao Diario Olé:

Soy un payaso que se pinta la cara, pero que se mata por la camiseta”, Darío Dubois.

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