José Trajano e Central 3: foi assim

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Por Leandro Iamin

José Trajano conheceu a Central 3 há pouco mais de um ano, convidado por Thunderbird para o seu programa de entrevistas aqui na casa. Me achou parecido com o Ivan Lins, foi a primeira coisa que falou comigo. O programa, de tão legal que estava, estourou o tempo previsto. No dia seguinte, ao enviar o link do programa para o whatsapp dele, fiz o de praxe, agradeci a visita e me permiti dizer algo como “nosso estúdio é bonito, mas a nossa luta nem sempre é, e sua visita torna tudo um pouco mais prazeroso”. Estas coisas de quem quer dizer “estamos aqui”. Em fevereiro de 2016 José Trajano era ainda o Trajano da ESPN Brasil, ao vivo na telinha duas vezes por semana e sombra diária que mais ardia do que refrescava.

Me retornou a mensagem poucos dias depois, querendo entender qual era a nossa. É curioso, aliás, como tanta gente que nos visita vai embora com ideias para dar e sugestões a fazer, isso quer dizer alguma coisa, mas, porra, o Trajano? Sim, o Trajano. Levei a boa nova para a nossa cúpula. “O velho quer saber qual é a nossa”. Respondemos com sinceridade e um leve tom de desabafo, e sua segunda visita, sem formalidades, deixou a porta aberta e eu, sozinho na ocasião, perplexo. O velho pegou o Uber em uma tarde de garoa para me dar ideias e pensar alguma maneira da nossa luta ser mais bonita. E entendeu, acho, qual era a nossa.

O terceiro ato viria pouco depois, e envolvia uma produção da Central 3, contratada pelo Museu do Futebol visando os Jogos Olímpicos. Trajano topou o trabalho de locutor da produção sem hesitar. Compreendi, na prática, que estávamos, de fato, em sua lista de produtoras confiáveis. Não se preocupou com o valor do cachê, fez por acreditar no que faria, e, no dia da gravação, comentava, com algum divertimento, que “Porra, tão descendo a lenha em mim, só porquê falei que o Pelé não chega aos pés do Muhammad Ali”. A gente riu, sem saber que poucos dias depois, não por isso, Zé estaria fora da televisão que concebeu. Ato contínuo, alguns de nossos ouvintes mais imaginativos já nos twittavam: “Chama o Trajano pra C3!”. Ainda não fazia sentido pensar nisso – mas a gente pensou.

A gente pensou porque a Central 3 em si nunca fez tanto sentido assim mesmo. Criada quando todos diziam que podcast era um navio naufragando, foi tocada muitas vezes com a intuição, não com o juízo. Quem chegou há pouco não acreditaria nas histórias de nossas jornadas em 2013, a mesa de som que parecia um ET, as falhas técnicas, as faltas de backup, as quedas de energia e as mil histórias que entrarão para o nosso almanaque (compre, quando sair, será leitura da boa). Cada pequeno avanço técnico, no número de audiência ou de domínio do produto que produzíamos era sensível e comemorado. Passou mais água debaixo dessa ponte do que sou capaz de beber. Passa, o tempo. No final de 2016, por intermédio de Pedro Asbeg, que dirigiu a nossa série em vídeo do Som das Torcidas, sentamos em um restaurante para falar com o Zé e deixar que o verão fermentasse uma ideia em sua cabeça: queremos você conosco. Como, quando, quanto, não sabemos.

Acabou o verão no último domingo, 19. Trajano estreia hoje, dia 20.

Tenho pra mim que, lá atrás, quando escrevi para o Zé pela primeira vez, poderia ter sabotado a Central 3. Se hoje temos o seu sim e a sua voz, é porque Trajano visitou nosso site, procurou nossas coisas e encontrou, pelo menos, um trabalho coerente com o que acredita e cuidadoso com o que produz. Não se associaria a nós se o que visse fosse poluição, plástico, mais-do-mesmo. Pois se nos cabe algum mérito nesta trajetória toda, é esse: o editorial, que só se aliou a parceiro com boas referências e produziu o que fazia sentido – sim, já abrimos mão de líderes de audiência e de boas possibilidades comerciais em nome de alguma coesão, nunca muito clara, é verdade, mas também nunca tão turva assim. Continuamos uma catástrofe do ponto de vista comercial, vivemos, como toda equipe pequena vive, algumas angústias que o público nunca saberá, lidamos bem com as inevitáveis contradições do caminho em uma produção de caráter independente, mas, olhando hoje, o que teríamos feito de muito diferente se pudéssemos voltar lá atrás? Muito pouco. Quase nada.

De modo que a estreia de Zé no Rádio, às 20h30 de hoje, é para nós, antes de qualquer coisa, a recompensa pelo nexo buscado e harmonia conquistada pela Central 3. Xico Pati, Paulo Junior, Matias Pinto, eu e alguns anos de sonho. Ao nosso lado, uma série de nomes, de Gabriel Brito a Rodrigo Borges, de Murilo Rezende a Gil Luiz Mendes, de Carolina Mendes a Lucas Jim e tantos outros, que fizeram a personalidade de um lugar que, hoje, ganha espaço na biografia profissional de um dos principais nomes do jornalismo brasileiro, e isso não é pouco. Eu gostaria que José Trajano continuasse na ESPN Brasil, escrevesse para quatro ou cinco jornais e tivesse um diário em alguma rádio bala do país, a ponto de não ter tempo para ouvir o que esses malucos da Central 3 tem a dizer. Mas eu é que não vou tentar entender os empresões…

José Trajano está de bem com a vida. Cada encontro que teve conosco foi alto astral, leve, e a impressão que tenho é mesmo que Trajano merecia a chance de ser abraçado como um sujeito comum, que é, afinal, o que jornalistas são, sujeitos comuns, e é o que as redes sociais e as ruas estão fazendo com ele, um grande abraço simbólico e físico, sem aquele magnetismo estalado e distante da TV, com o calor dos que reconhecem nele mais que um mero caçador de simpatia barata. Se nós, da Central 3, merecíamos essa moral por parte dele? Não sei. Quando este podcast virar passado, a gente terá a resposta. Enquanto ele é presente, cuidaremos do jeito que sabemos. Com carinho e responsabilidade.

Eis, enfim, a parte bonita da luta.

 

*   *   *

Leandro Iamin escreve toda segunda no blog da Central 3

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18 comentários em “José Trajano e Central 3: foi assim”

  • adamilton andreucci disse:

    Vai dar certo, tenho certeza, essa parceria.
    Aliás, parabéns a todos da central3 pela conquista.
    Ao Trajano, toda sorte do mundo, muito trabalho e grandes pontos de audiência.
    Saúde a todos.

  • Bruno Gonzalez disse:

    Pra quem acompanha o trabalho da C3 desde seus princípios, difícil não se emocionar num dia como o de hoje. Parabéns e que siga a luta!

  • Que bacana que ele terá um podcast na Central 3. Confesso que achava ele um tanto turrão e incomodo vê-lo antigamente na ESPN… Com a mudança do perfil (e da narrativa) do canal, percebi que o que ele dizia tinha sua razão de ser, parei para vê-lo muitas vezes e me atentar ao que ele dizia, grande jornalista, uma das pouquíssimas vozes dissidentes que a área cada vez mais complacente ainda permite resistir. Que seja muito bem vindo Trajano!

  • Christian Munaier disse:

    Coisa linda saber que vocês terão o Zé no projeto. E que coisa linda é a história desse projeto. Sem saber necessariamente onde daria, vocês foram seguindo suas convicções e ideais. Vista mais linda, não há! Parabéns!

  • Gostei muito da aquisição. Gosto muito de contribuir e acompanhar esse trabalho tão bom, que mesmo que não fosse feito por gente conhecida por mim (e que admiro), também teria meu elogio. Acompanharei.
    Abração

  • Muito especial essa “aquisição” da Central 3, com a vinda do Trajano, que acrescenta muito sempre! Posso não concordar com tudo que ele fala, mas acho muito útil alguém que tenta ver e fazer o jornalismo, principalmente o esportivo, um pouco além do usual, e o fato dele estar fora da ESPN hoje e ver no que o canal se tornou explica muito o estilo dos “empresões” como você disse no texto. Parabéns pela iniciativa!

  • Galera da Central3,
    Conheci vocês há pouco menos de um ano. Jornalista que sou de profissão e coração encontrei nos podcasts o reencontro com uma das minhas paixões o rádio. É bem verdade que não é bem “rádio” e talvez seja melhor por que podemos ouvir quando como e onde quisermos.
    A Central3 se tornou pra mim uma forma de conteúdo confiável e divertido e a Chegada do Zé Trajano aumenta ainda mais a credibilidade e o prestigio da C3
    Sucesso nesse novo programa e nas novas empreitadas

  • Lucas Delgado disse:

    Ao saber da novidade eu devo ter ficado tão feliz quanto que vocês. Bom, provavelmente vocês transbordaram em alegria, mas o fã aqui realmente alegou-se.
    Boa sorte nesse caminho que se abre de forma cada vez mais pela para a Central3. Abraço.

  • Parabéns!!! O Trajano é necessário nesses tempos esquisitos!!!! Não conhecia a central 3, vai aqui pela chamada do Juca , vou acompanhar!!!

  • Ailson Jenck disse:

    Parabéns a todos os envolvidos! A Central3 é o exemplo mais expressivo da capacidade de produzir coisas boas, coisas legais, a partir de podcast. Eu arquivo vários programas para ouvir durante o dia e principalmente no trânsito e quem ouve comigo fica abismado com a qualidade excepcional dos conteúdos!
    Abraços e sucesso eterno!

  • Cristhian Camilo disse:

    “Conheci” o Trajano no Cartão Verde, nos idos de 94, sempre ao final da rodada do Brasileirão ou dos Estaduais aos domingos. Muitas vezes, meu pai assistia comigo.
    Confesso que, como diversos grandes amigos que fazemos ao longo do tempo, não simpatizei nada com aquela figura careca e cabeluda ao mesmo tempo, que parecia num eterno mau-humor. Ao mesmo tempo, dava pra sentir que o programa só funcionava porque ele e o Juca, faziam um ponto e contraponto interessante, o Juca mais racional, pausado e o Trajano com seu temperamento sanguíneo. Às vezes, o Flávio Prado parecia meio perdido no meio dos dois, sem saber o que fazer para controlar. E isso fazia do programa uma delícia.

    E aí o Zé saiu, depois o Juca saiu e o Cartão Verde saiu da minha tela. Comecei a acompanhar o Juca em seu programa dominical na Rede TV (era isso mesmo?). Até que, em ano de Copa do Mundo, assinei novamente uma TV a cabo. E, ora vivas, havia um Cartão Verde lá, só que era às segundas e se chamava Linha de Passe, e tinha o Zé, e tinha o Juca e mais um cara que eu lia muito no Lance, com nome de encanamento. Aliás, depois que deixou o Cartão Verde, meu contato com o Trajano era a sua coluna também no Lance.

    Enfim, o Linha de Passe foi por quase 10 anos meu programa favorito na TV. E a ESPN, minha TV favorita, e fiquei estupefato ao saber que todos os programas haviam sido concebidos pelo careca-cabeludo-mau-humorado. E vi várias entrevistas dele e percebi que mau-humor não havia ali (bom, em algumas doses e sempre justificado), e vi um jornalista dos melhores e uma criatividade enorme e vários depoimentos de seus colegas dizendo como aquele cara os motivou e motivava a trabalhar e fazer o melhor de si. E senti uma ponta de arrependimento de não ter feito jornalismo. E….

    …e bom, minha esposa já perguntou se estou escrevendo um comentário ou um romance. E eu só queria falar como é bom saber que vou ligar meu telefone daqui a alguns minutos e voltar a ter contato com o Zé.

    Valeu Central3!! E valeu Trajano!!! Vou torcer para essa parceria durar bastante tempo!

  • Parabéns galera da Central 3.

    Essa linha editorial de vocês, talvez incompreensível porém cativante, é o que faz dessa rádio um dos meus lugares preferidos de tocar no meu feed RSS. Como estudante de jornalismo guardo uma grande admiração pelo trabalho que fazem. Agora então, com um dos grandes marcando presença semanal por aqui, é como juntar o time que mais faz você vibrar com o craque histórico que pensava jamais poder ver com a mesma camisa que você usa.

  • Fernando Cellotto disse:

    Parabéns pela iniciativa e pelo belo texto.
    Conheço pouco do trabalho de vcs mas tenho o Trajano como referência de jornalismo sério.
    Então vida longa e próspera à Central3.
    O som das torcidas foi ótimo. Sempre que puder vou estar com vcs. Abrs

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