Jovens Infelizes ou A Profecia do Apocalipse

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por Lucas Borges, do Central Cine Brasil

Apagam-se as luzes, começa o dantesco espetáculo. Cortinas vermelhas aveludas harmonizam com uma jovem que geme e canta. Sentada em uma cadeira no centro do palco, de frente para a plateia, ela não tem braços nem pernas, suas vísceras e articulações estão à mostra em tonalidade mais podre do que o vívido colorado do tecido ao fundo. “Qual é sua utopia?”, pergunta ao público com voz perturbadoramente sedutora.

Somem as cores, o cenário é preto e branco. Cavaleiros do apocalipse estrondam seus cassetetes em armaduras negras, explodem bombas e repelem os estudantes que buscam a resposta cobrada pela musa dilacerada.

Do lado oposto da cena, nos perguntamos, “Qual é seu absurdo?”

‘Jovens Infelizes ou Um Homem que Grita Não É um Urso que Dança’ é um retrato documental revestido em poesia sambista e provocação iconoclasta das históricas manifestações de junho de 2013, no Brasil.

Thiago Mendonça e o elenco do filme são aquilo que vemos na tela. Os mesmos nomes, as mesmas crenças, a mesma militância dos personagens da trama. A herança da dramaturgia de Brecht está estampada nas reações, a paixão politicamente pasoliniana vibra na garganta, como se fosse preciso atuar. A violência ali registrada é real, o drama existiu. Amigos foram agredidos, foram presos ou morreram.

“Nosso enquadramento não é da janela, é da rua e não é das ruas da Vila Madalena”, já havia avisado Thiago em entrevista ao Central Cine Brasil, logo após vencer a Mostra de Tiradentes de 2016.

As câmeras do diretor caem no asfalto sujo de São Paulo para mostrar os clichês esquizofrênicos da Paulicéia. A classe média higienista amarra o negro pobre na Avenida Paulista em paus de arara do século XXI, tampa o nariz para o brasileiro enquanto anseia ser Nova York. Não gostam de gente, gostam do indivíduo, ao contrário do que prega um dos heróis da trupe de ‘Jovens Infelizes’

Fanáticos religiosos profanam a alma como se não houvesse amanhã e se “escandalizam” com os prazeres da carne.

‘Jovens Infelizes’ é retrato nu e cru do que para alguns é indigerível e para outros é cotidiano doentiamente comum. E o longa também se propõe a profetizar os tempos vindouros pós junho 2013.

Convenhamos, os sintomas já estavam lá. O estado violento sob a benção cínica do líder que decreta, “Quem não reagiu está vivo”. “Amém”, assente a massa bovinamente racista/egoísta.

Nesta quinta-feira, 17 de março, antes da exibição da abertura da Mostra Tiradentes/SP, no Cinasesc, Thiago e o elenco do filme subiram ao palco para lamentar o sucesso premonitório de sua obra. A poucos metros da sala da Rua Augusta, os ditos cidadãos de bem ocupavam de tapete vermelho a Paulista de tão disputados prazeres dominicais e lutas operárias, filé mignon na boquinha servido pelos magnatas da Fiesp, massagens relaxantes oferecidas pela PM e o apoio de Carecas Nazi, todos transloucados pelo vazamento do diálogo entre a presidente mulher burra e o analfabeto nordestino feio sem dedo – não importaram o que disseram, cadeia! -, inventores da corrupção.

“Qual é seu absurdo?”

Nem a mais maluca das ficções pode superar a realidade. Imaginasse a equipe de ‘Jovens’ que, neste interim, alunos do segundo grau enfrentariam a última pá de cal no túmulo da educação pública ocupando escolas para serem retirados a tapas na cara pelos jagunços da direita – “Amém”, louvam outra vez os hipócritas da moralidade – e o longa transpiraria ainda mais radicalismo e indignação em forma de beleza cinematográfica.

*Aqui o manifesto apresentado pela equipe do filme antes da exibição: http://zagaiaemrevista.com.br/contra-o-fascismo/

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