Paso a Paso

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Por Felipe El Biglia de la Gente Dominguez

Na última edição do Meu Time de Botão, Leandro Iamin e Matias Pinto receberam o jornalista Mauro Cézar Pereira para mostrar as peças do Racing campeão do Apertura, em 2001, no Estrelão da Central3. Este esquadrão que tirou Lacadé de uma fila que durou 35 anos, marcou o final da minha adolescência. Uma equipe sem futbol champagne – para delírio do Doctor Bilardo –  de muito sacrifício, huevo, e sobretudo coragem para reverter partidas impensadas, como o milagre em La Plata, naquela virada épica por 3 a 2 diante do Estudiantes.

A aproximação com o castelhano – mais precisamente o lunfardo, dialeto dos porteños – se deu em meio as narrações da Radio Rivadavia, acompanhando paso a paso, como nos pedia Mostaza Merlo, a saga que naquela altura parecia impossível. Meu primeiro contato com o Campeonato Argentino se deu com as transmissões do clássico da rodada pela TVA SPORTS na segunda metade dos anos 90, quase sempre com os comentários sagazes do mestre Roberto Petri. O Racing ganhava a predileção no meu coração graças a sua crise esportiva e institucional que o levaria a la quiebra. A imagem do bumbo redoblante no olho de Daniel Lalin, o Cilindro abarrotado cueste lo que cueste, o papel picado sempre atrasando o cotejo, a comovedora resistência da torcida para evitar o embargo da sede social na Avenida Mitre, eram cenas marcadas à ferro e fogo.

Numa chuvosa noite invernal de sexta-feira, me conectei pela internet ao dial 630AM para escutar o começo do Apertura. Fernando Marin, o famoso gerenciador da Blaquiceleste S.A. havia prometido um pacotão de reforços. Reinaldo Merlo chegou antes do Clausura 2001, com seu vozeirão tangueiro, os cuernitos de la suerte e a melena inconfundível dos anos 70. Criado no River Plate, Mostaza era o 72º treinador após Juan José Pizzuti. Uma maldição que insistia em perdurar, quando La Academia tinha apenas o objetivo de somar pontos para fugir da zona do promedio. Eis que, naquele primeiro jogo contra o Argentinos Juniors no Cilindro, o Racing apresentava 7 novos reforços: o zagueiro Gabriel Loeschbor comprando junto ao Rosario Central, ao lado do atacante Rafael Maceratesi, o lateral-direito Martín Vitali que estava no quarteirão vizinho de Avellaneda, o defensor Francisco Maciel vindo do Almagro e o enganche cordobês Leo Torres, com passagens por Belgrano e Ulsan Hyundai (Coreia do Sul), o gêmeo bom Gustavo Barros Schelotto, emprestado pelo Villareal, e o colombiano Alexander Viveros, encostado no Fluminense.

O esquema tático na estreia foi o 4-3-1-2, tão em voga na Argentina. Defendendo a meta, ainda sem a chegada de Gustavo Campagnuolo, campeão do Clausura pelo San Lorenzo, estava o o goleiro juvenil Gastón Pezzuti, que falhou no empate dos bichos de La Paternal. A defesa contava com Claudio Úbeda e Loeschbor como centrais, além de Pelotín Vitali e Carlos Arano nas laterais. O trio de volantes era formado por Adrián Bastía, Pancho Maciel e Gustavo Barros Schelloto; Leo Torres era o enganche, com Diego Milito e Rafa Maceratesi na frente. A vitória foi dramática, com gol contra do zagueiro De Muner nos minutos finais.

Na rodada seguinte, a prematura visita ao Independiente na saudosa Doble Visera. Era a estreia de Gustavo Campagnuolo para aportar experiência de bajo de los palos. Campa foi fundamental na campanha, obtendo a maior média do torneio segundo o diário Olé! com 6,50. O histórico goleiro racinguista teve duas passagens pela Academia. A primeira finalizada em 2003, quando emigrou ao Tigres de Monterrey, regressando ao Cilindro em 2005, num ciclo que durou 4 temporadas. Neste Clásico de Avellaneda, o Racing arrancou um empate com uma cabeçada inesquecível de Gabriel Loeschbor aos 44 minutos da etapa complementar. O líbero começava a demonstrar seu papel místico na conquista, aparecendo sempre nos momentos decisivos.

A campanha começava com uma cosecha de 4 pontos em 6 disputados. Um começo pra lá de alentador. No entanto, o futebol apresentado era pobre, clamando por retoques em todas as linhas. Mostaza teve papel primordial na conquista, mudando o esquema tático na 3ª rodada na diante do Rosario Central. Maciel foi recuado para o lado direito da defesa, configurando uma linha de 3 zagueiros com Claudio Ubeda na esquerda e Gabriel Loeschbor como líbero. O jogo contra os canallas marcava a estreia de José Chatruc na temporada, retornando após uma suspensão. Eis que logo de cara Pepe vestiria o traje de herói ao anotar o solitário gol no Gigante de Arroyito.

O Racing tomou forma no 3-5-2 de Mostaza Merlo. O sucesso de Bielsa no comando da Albiceleste nas eliminatórias sul-americanas oxigenou a ideia dos 3 zagueiros no futebol local. O trio Maciel, Loeschbor e Ubeda se converteu em emblema de um sistema defensivo sólido, que sofreu apenas 17 gols no Apertura.

https://www.youtube.com/watch?v=3M4aqgoNOtw

O capitão Claudio Ubeda é um ícone da história do Racing. El Sifón chegou ao clube em 1995, proveniente do Tampico Madero, após passagens por Central Córdoba, Independiente e Rosario Central nas inferiores, além de convocações para integrar a seleção sub-20. Vivenciou o drama como ninguém nesse plantel de 2001, desde a amargura da falência em 1998 ao tão sonhado título em 2001. Referente total, permaneceu no clube apesar dos inúmeros atrasos de salário para levantar o troféu. Após uma breve experiência no futebol japonês, jogando pelo Tokyo Verdy 1969, voltou ao Cilindro tornando-se o segundo atleta que mais vezes vestiu a camisa blanquiceleste, totalizando 329 partidas, 5 a menos que o histórico Agustín Cejas, para entrar definitivamente no hall de ídolos eternos da metade azul de Avellaneda. Atuou quase sempre como zagueiro pela esquerda, cumprindo o papel de último homem quando da ausência de Loeschbor.

https://www.youtube.com/watch?v=ouMW48tEFg4

Nas alas, Mostaza encontrou seus armadores: Martin Vitali pela direita e Gerardo Bedoya pela esquerda. El Pelotín, encostado no Independiente, chegou na véspera da estreia, convertendo-se no líder em assistências no Apertura com 5 passes que terminaram nas redes rivais. O colombiano Gerardo Bedoya dividiu a titularidade no começo da campanha com o jovem Chiche Arano. O lateral cafetero chegou por empréstimo do Deportivo Cali, no qual foi vice-campeão da Libertadores em 1999, transformando-se em herói com o golaço agônico que empatou o duelo contra River Plate, maior perseguidor do Racing na campanha, que praticamente selou a conquista.

A dupla de volantes, o famoso doble cinco, era uma mescla da experiência de Gustavo Barros Schelotto e o ímpeto jovial de Adrian El Polaco Bastia. José  Chatruc era um dos maiores beneficiados no esquema tático de Mostaza Merlo. Da mesma safra de Ariel Ortega, Juan Román Riquelme e Leandro Romagnoli, o meia ofensivo do Racing se distinguia dos três enganches citados por contribuir incessantemente no combate – e por ter menos talento obviamente. Um jogador fundamental na marcação pressão. Foi também o segundo goleador da campanha com 6 tentos.

O ataque racinguista contou com o rodízio de Dieglo Milito, Maximiliano Estévez e Rafael Maceratesi. La Chanchi foi o grande destaque anotando 7 gols. Jogador de muito temperamento e coração para auxiliar no trabalho defensivo, que veio ao Racing para seu segundo ciclo após uma passagem em falso na Espanha pelo Racing de Santander. Rafa celebrou 5 vezes ao longo do Apertura, eclipsando o jovem Milito, em começo de carreira, que teve menos minutos em campo que seus companheiros de ataque, balançando as redes em apenas 3 oportunidades: o doblete que garantiu os três pontos contra o Newell’s Old Boys e o gol da vitória diante do Colón de Santa Fé. Alfio Coco Basile, ídolo eterno do clube, ao falar sobre Milito foi profético: “A atitude desse time foi o fator fundamental da conquista. Porém, nem tudo é estímulo e coragem. A equipe é ordenada, e possuí algumas individualidades interessantes. O pibe Milito em especial tiene algo. Suspeito que possui um algo a mais do que mostrou nesse torneio. Pelo controle, pelo que busca, e até mesmo pelo azar que tem em determinadas jogadas”.

Um Racing que voltaria a sonhar, com glória e coração, em meio ao Argentinazo, culminando uma metáfora do país na dramática e lúdica tarde de Liniers.  Na temporada seguinte o time se desfez. A Libertadores de 2003, no ano do centenário, traria o trago amargo nas oitavas de final contra o América de Cali. Seria o regresso do Racing aos anos de penumbra, da luta contra o promedio, marcada por equipes de escasso talento. Tempos duros que teriam o desenlace apenas nessa década com o final do gerenciamento e uma nova conquista em 2014, com a volta do Príncipe Militosempre ele…

Racing 2001

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