Qualquer carinho entre LGBTs vira transa

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*Por Miguel Rios

Volta e meia, surge a reclamação de que um casal de homens estava aos beijos em uma praça de alimentação qualquer em um shopping qualquer. Consideram obsceno. Que uma mulher sentava no colo da outra em plena rua. Acham depravação. Que uma travesti estava abraçada a seu namorado. Taxam de abominação. Que tais carícias deveriam ser feitas entre quatro paredes.

E o que pessoas LGBTs devem fazer entre quatro paredes? Beijarem-se? Namorarem? Dar as mãos? Mostrar quem são?

Quantos de vocês já presenciaram cenas de sexo em público entre LGBTs? Ou melhor, de seja lá quem for? É tão comum assim pessoas transarem diante das outras?

Eu nem em locais fechados, a não ser muito específicos, vejo gente transando. Vejo beijo, vejo abraço, sentar no colo, dar as mãos, cheiro no cangote. Vejo afeto. Essa comilança, nunca presenciei em rua alguma. Pelo que vociferam, é como se as pessoas transassem no meio-fio, em avenidas movimentadas, debaixo de holofotes.

Não vejo nada que não esteja na novela das 21h, nem em Malhação. Nada que não tenha visto anos atrás, no século passado.

O que está por trás de tanta indignação imaginária é que qualquer carinho entre LGBTs é superdimensionado. Para incriminar. Já ouvi um cara dizer, com os olhos vermelhos de ódio e a boca cuspindo de fúria: “A gente vê homem com homem e mulher com mulher se beijando e não pode dizer nada, porque vão dizer que é preconceito”. E é o quê?

Eis o motivo da revolta: ver ser retirada a credencial de dizer algo, de ir lá e agredir. Dói demais no ego. Dói demais a sensação de ter o tapete da normalidade puxado. Dói demais ver a estrutura de poder que lhe favorecia e a qual se acostumou, que lhe dava controle absoluto, ruindo.

Daí, apelam. Um cheiro vira chupada, um beijo vira penetração, um abraço vira sexo ao ar livre. A reclamação oculta é a de manter LGBTs inexistentes. No mínimo, invisíveis. Recuperar a espiral de poder que privilegia héteros cisgêneros.

A voz cada vez mais alta e influente da comunidade, apesar de ainda precisar de muitos avanços, trouxe reflexões, conscientizações, alianças. Os armários se abrem, a coragem de se expor é bem maior, o orgulho de ser quem é se espalha.

Ainda há violência, mas há retaliação a ela. Se no passado, o certo era dizer que era errado, hoje não é bem assim. Hoje quem diz vai para a lista dos arcaicos. Imagine como dói se ver sem a chancela de oprimir quem antes era liberado e aprovado oprimir.

Acabou a normalidade da opressão. A resistência a impede de ser normalidade como décadas atrás, quando parada, orgulho e determinação de namorar em público eram impensáveis. Quando LGBTs também se consideravam erros por o mundo os convencer que eram mesmo, que precisavam de guetos, que eram afrontas às pessoas de bem.

A normalidade foi desafiada e, claro, despertou a ira dos antes “normais”. Perder o pedestal arde. Os eleitores reacionários rosnam e são estridentes. Alegam querer salvar a família tradicional da tal ditadura gay. Mas, de verdade, querem retroceder, que tudo volte a ser tranquilo e poderoso como antes. Para eles.

*Miguel Rios é jornalista, recifense, militante LGBT e filho de Oxalá.

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