Mamma mia

As arquibancadas do mundo já tiveram dias melhores. Fato!

Mas nem sempre tudo foi festa. Além do lado lúdico, festivo e democrático dos estádios, não podemos esquecer seu lado sombrio e cruel. Neste ambiente libertino, o ser humano sempre teve espaço para revelar o seu pior instinto. Nem tudo é festa na plateia do futebol, o ódio sempre esteve presente, dissimulado no pretexto da rivalidade. Homofobia, racismo, preconceito regional e outros predicados da bestialidade humana encontram seu lugar de honra nas arquibancadas do planeta.

Na Itália, onde a rivalidade histórica e secular se apoderou do futebol, os ultras das curvas (assim é chamada a parte popular atrás dos gols) se aproveitam deste pequeno universo para promover toda a sua aversão ao inimigo regional.

A Itália que já fora o centro de um dos maiores impérios da história, transformou-se por séculos em uma colcha de retalhos. Ela fora estuprada por inúmeros invasores formando vários pequenos burgos com identidade própria. Há um famoso ditado que explica o sentimento regionalista da península: Cada pequena cidade acredita que a sua torre é maior que a do vizinho. Estamos em 2015 e nada mudou desde então. Este sentimento atemporal dos italianos sempre será a sua maior riqueza e também o maior entrave para quem sonha transformá-la em uma nação uníssona e reta.

Dentre as inúmeras rivalidades históricas existentes na velha bota, as cidades de Roma e Nápoles levaram consigo a animosidade para o futebol, mais especificamente entre os times: Roma e Napoli, no chamado “Derby del Sole”. A rivalidade consiste no confronto entre as duas maiores cidades do sul, de um lado a capital administrativa “rica” e do outro o povo napolitano conhecido por seu espírito de contra poder histórico, representado na figura da Camorra.

Neste último final de semana, o estádio olímpico recebeu mais um derby do Sol. Tensão no mais alto nível entre os tifosi e as forças policiais. Um fato importante aumentou ainda mais o perigo neste último domingo. Há um ano, um jovem torcedor do Napoli fora assassinado por Danilo De Sanctis, famoso ultra da Roma, apelidado de Gastone. O homicídio ocorreu no dia da final da Copa da Itália de 2014, em Roma, entre Napoli e Fiorentina. Ciro não resistiu aos ferimentos e morreu 50 dias depois.

No derby deste domingo, a curva sul não poupou críticas à mãe do jovem assassinado. Uma faixa foi estendida com a seguinte mensagem:

faixa

“Que coisa triste… Lucro com o funeral… livros e entrevistas”.

Os ultras da Roma acusam a mãe de Ciro de aproveitar da morte do filho para ganhar dinheiro com livros e entrevistas.

A mãe, transtornada, logo explicou que o dinheiro obtido na venda dos livros iria para fundação “Ciro vive” e seria destinado aos hospitais de todo o mundo.

Mas não parou por ai, uma faixa com o rosto da atriz e apresentadora Sandra Milo foi exposta. Uma ironia pra lá de maldosa.

sandra-milo-ciro-curva-sud

A foto da apresentadora foi uma alusão a um episódio que ficou marcado na memória da televisão italiana. Durante o programa “L’amore è una cosa meraviglosa”, de 8 de janeiro de 1990, uma telespectadora telefonou dizendo que o filho de Sandra Milo, também chamado Ciro, fora vítima de um grave acidente automobilístico. Tudo não passava de uma brincadeira, no entanto, a apresentadora ficou transtornada e abandonou o estúdio aos prantos gritando “Oddio chi parla? Oddio chi è? Chi? Ciro? Dove? Noooo! Oddio!!” (Assista o fatídico episódio no vídeo abaixo)

Posts Relacionados