Fronteiras Invisíveis do Futebol #77 Padânia

Voltamos ao Velho Mundo para falar de uma região que não é um país! Você já ouviu falar na Padânia? Uma criação separatista do vale do rio Pó que ganhou força no início dos anos 1990, com o então novo partido da política italiana, a Lega Nord. Isso, o mesmo partido que hoje é uma das forças dominantes da política italiana. Então, para entender esse momento atual, vamos ver as raízes históricas dessa diferença regional e como a bandeira da Lega Nord mudou com o tempo.

Vamos passar pelos itálicos, celtas gauleses, romanos, os lombardos, os francos, os germânicos, os franceses, os espanhóis, basicamente todos povos que já dominaram o norte da atual Itália, e o legado cultural deixado por cada um, além, claro, do Renascimento.

Entenda também, como a industrialização italiana criou distorções internas ao recém formado país, com um norte industrial e um sul rural, e o impacto dessa diferença na política da bota. Claro, tudo isso temperado pelo calcio e alguns campeonatos de futebol para povos que não possuem Estado!

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Xadrez Verbal #174 Grupo de Montevidéu

A crise entre Itália e França chega ao seu pior nível desde a Segunda Guerra Mundial. Palavras da porta-voz do Ministério e Relações Exteriores da França! Luigi di Maio recebeu líderes dos coletes amarelos franceses, e ainda tuitou que “o vento da mudança cruzou os Alpes”, o que pegou bem mal na França. Sobrou até para os Tartarugas Ninja. E mais algumas notícias sobre a 5ª Série E… digo Europa.

Voltamos para a Venezuela, onde Guaidó e Maduro continuam sua queda de braço, cada um com seus apoiadores internacionais, agora com um novo grupo, o de Montevidéu, que defende novas eleições via um acordo entre as partes. Além de passarmos pela América Latina, fomos aos EUA, onde Trump proferiu o tradicional discurso de State of the Union perante o Congresso, abrindo de forma oficial o ano na política do país.

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Xadrez Verbal #132 Eleições na Itália

O mundo inteiro foi pego de surpresa, menos os nossos ouvintes, com as negociações entre Pyongyang e Washington, e o aceite de Trump para se encontrar com Kim Jong-Un. Levantando a placa de “eu já sabia”, Filipe Figueiredo e Matias Pinto chegam em mais uma edição da sua revista semanal de política internacional em formato podcastal. Além dos temas com as Coreias, também passamos pela situação interna aos EUA, com a taxação do aço e a saída de mais um membro do gabinete presidencial.

De lá, cruzamos o Atlântico e fomos até a Itália, onde o Movimento Cinco Estrelas foi o partido mais votado nas eleições para o parlamento. Porém, a coalização que liderou foi a centro-destra. Quem vai poder formar o governo? Nem o presidente italiano sabe.

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Pão e chocolate

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*Por Xico Pati

Há 40 anos entrava em cartaz a obra prima do diretor Franco Bursati, Pane e cioccolata (Pão e chocolate). Ótima ocasião para relembrar a maravilhosa cena que mistura futebol e identidade nacional.

É uma das cenas mais místicas do cinema italiano. Em 1973 saia o filme Pane e Cioccolata dirigido por Franco Bursati. É a história de um imigrante italiano na Suíça, interpretado por Nino Manfredi, que almeja um visto de trabalho no país vizinho. O personagem Nino Garofalo passa por enormes dificuldades, chegando a dormir num galinheiro amontoado a outros compatriotas.

Nino é demitido de todos os seus empregos e passa por várias situações constrangedoras por conta de sua origem. Com o objetivo de escapar dessa situação, ele decide pintar o cabelo de loiro para ficar parecido com um local e assim se integrar naquela sociedade hostil. Ai surge a cena antológica onde Nino entra num bar repleto de suíços e alemães (Assista ao vídeo abaixo). Na televisão passa o jogo entre Itália e Inglaterra. Evidentemente todos os suíços torciam para a Inglaterra e vaiavam os italianos. Para não gerar qualquer tipo de desconfiança, Nino é obrigado a fingir que está torcendo para o English Team, vaiando e xingando a sua Azzurra.

Porém, no segundo tempo, quando a Itália já vencia por 1 x 0, Fabio Capello aumentou a vantagem para a Nazionale. Overdose de emoção na cabeça de Nino, o qual se segurou durante todo o primeiro tempo. De repente, quando a TV mostrou as bandeiras tricolores se agitarem no estádio, ele surtou e começou a gritar: Gol! Gol! Gol!. Só se ouvia os seus gritos ecoando no bar. Diante do olhar de desaprovação dos suíços, ele desabafa: “Sim! Eu sou italiano! E ai?

Incomoda? Gooooooooooooooool!” A cena termina com Nino indo se olhar no espelho depois de ter discutido com um dos clientes. Após olhar fixamente o ridículo tingimento no cabelo, ele bate a cabeça contra o espelho num gesto desesperado de vergonha por ter traído a sua origem.

Esta cena foi muito comentada em toda Itália, por escritores, cineastas, jogadores e sociólogos, porque ela explica um monte de coisas ao mesmo tempo. Ela demonstra o complexo de inferioridade que os imigrantes italianos sentiam durante anos no estrangeiro, seja na Inglaterra, na França, na Alemanha ou na Suíça. No futebol, esse complexo desapareceu no dia 14 de novembro de 1973, no dia em que os Azzurri foram jogar contra a Inglaterra em Wembley.

Nunca, na história, a Itália, apesar do bicampeonato mundial, havia vencido os ingleses na terra da Rainha. Mas o gol de Fabio Capello, no final do segundo tempo, mudou essa história. O gol começa com um lance de Giorgio Chinaglia (imigrante no Pais de Gales desde os seis anos de idade) que dribla e chuta pro gol. O goleiro rebate e sobra para Capello marcar o segundo e último gol da lendária vitória italiana.

http://https://www.youtube.com/watch?v=3oRX7-AiT2E

Vários imigrantes italianos estavam neste dia em Wembley. Para eles, muitas vezes tratados como simples garçom de bar pelos ingleses, foi uma libertação. Uma alegria imensa que vai além de uma simples revanche sobre a suposta superioridade futebolística britânica.

“Eu pensei na hora neste resultado histórico, mas sobretudo em todos os italianos no exterior. Para eles, é uma espécie de revanche (“riscattto” em italiano). Esse gol foi o mais importante da minha carreira por conta disso tudo”, comentou Fabio Capello em uma entrevista a RAI.

A cena do bar, o gol em Wembley e esta vitória histórica, Fabio Capello assim explicou: “Nos anos 70, a Itália não era uma potencia mundial, mas um país pobre. Os italianos no estrangeiro não eram respeitados e não tinham grande importância. A cena do filme Pane e Ciocolata corroborou com o que eu pensei na hora que marquei o segundo gol. Era um presente para todos italianos no mundo. Era uma resposta para o complexo de inferioridade”.

O famoso jornalista Gianni Brera explicava que em campo os italianos se sentiam inferiores fisicamente, pois corriam sempre menos que os seus adversários. “Eram menores que os alemães e os ingleses. Eram grandes e fortes”.

Uma ligação direta com a escolha de Nino em pintar o cabelo de loiro, antes que ele desse conta que o amor pela sua pátria e o orgulho de ser italiano eram mais fortes que uma simples cor de cabelo.

Fonte: So.foot

 

*Xico Pati é descendente de italianos e idealizador da Central3

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Termina a primeira temporada do Prato Feito

Era dia de semifinal de Copa do Brasil e, também, data cabalística para os fãs da trilogia De Volta Para O Futuro. Poderia ter encontrado Conrado Giulietti na porta do Maracanã, mas o encontrei na fila da pipoca no cinema que passaria, em sequência, os três clássicos de Robert Zemeckis. Eu estava fugindo da angústia de assistir ao complicado jogo pela claustrofóbica TV, e suspeito que ele também. Seja como for, esta foi a primeira vez que conversamos sobre amenidades e coisas da profissão. E foi também a noite em que não disse “se pensar em fazer podcast um dia, não faça nada sem falar comigo antes”.

Não precisei dizer. Meses depois, o Conka trouxe para a C3 sua ideia de podcast pessoal, e desde sempre achei muito legal o seu propósito com o dito cujo: Prato Feito nasceu em 2016 para documentar histórias, ou seja, para ser ouvido daqui dez, quinze, trinta anos. Um programa de memórias que celebrou, em bom tom, amizades e experiências. Nada muito fervente, tudo muito agradável.

Nesta segunda-feira a primeira temporada do Prato Feito acabou. São dez edições temáticas com seus convidados e músicas personalizadas, e a próxima temporada chegará em breve. Enquanto isso, se não ouviu or programas todos, confira com a gente no replay:

O Programa 1 falou da paixão do Conka (e nossa): o rádio.

Londres, onde Conka morou, foi o tema do podcast número 2.

O Rio de Janeiro, olímpico e belo, ocupou a terceira edição do PF.

No programa 4, papo divertido sobre o backstage do mundo da música.

Mudanças: eis o tema mais existencial e reflexivo da primeira temporada.

O Prato Feito número 6? Estados Unidos da América. De todos os ângulos.

Música ao vivo e música como alimento da alma: eis o programa sete.

Com sotaque e afeto, o podcast 8 falou de Minas Gerais com tudo que tem direito.

Outro destino para Conka: a Itália foi o tema do Prato Feito número nove.

Fechando a temporada, papo com e sobre narradores, estes condutores de emoção.

 

 

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A herança maldita de Gaetano D’Agostino

“Eu juro que se não respeitar este sermão, serei morto da maneira mais brutal”.

Este juramento, pronunciado durante o rito de iniciação à ‘Ndrangheta, a máfia calabresa, atormentou Gaetano D’ Agostino ao longo de sua carreira. Contudo, o ex-jogador da Fiorentina e Udinese nunca fez esta jura à mais influente organização mafiosa dos anos 90. Grande promessa do Calcio em sua juventude, Gaetano teve que carregar por muitos anos o fardo de seu pai, Giuseppe D’Agostino, ex capo da ‘Ndrangheta na pequena cidade de Laureana di Borello. Preso em 2006, o seu pai colaborou com a justiça denunciando vários colegas do crime organizado. E na Calábria romper com o código da Omertá significa assinar uma sentença de morte por toda a vida.

O ingresso na máfia calabresa se dá somente por elo de sangue. O dia em que Giuseppe D’ Agostino decidiu, através de uma picada ritual no dedo, se engajar nas leis da ‘Ndrangheta, ele se transformou em um mais novo membro da poderosa máfia que suplantou a Cosa Nostra siciliana. Nos anos 80, o pai de Gaetano foi promovido. Apoiado por ‘Ndrina Belloco de Rosano (cada ‘ndrina, composta por membros de uma mesma família, controla o seu próprio território), Guiseppe D’Agostino era, em 1996, um dos trinta mafiosi mais procurado da Itália. Encontrou asilo em uma pequena casa em Rosano, província de Reggio Calabria, longe de seu filho Gaetano, nascido em 1982, em Palermo. Neste mesmo ano, Gaetano marcou mais de 100 gols no equipe de juniores do clube da capital siciliana.

Em 1998, Gaetano foi contratado pela Roma. Uma transferência forçada pelo pai do jogador, que considerava a capital mais segura que a Sicília. Ao lado de Francesco Totti, D’Agostino venceu o Scudetto na temporada 2000-1, entrando apenas vez em campo. Para o siciliano, a adaptação à città eterna foi difícil. Entre 2000 e 2005, o jogador, ainda no clube romano, foi emprestado ao Bari. Em seguida ele assinou um novo contrato com o Messina e retornou à sua terra natal. Na temporada seguinte, Gaetano jogou ao lado de Giuseppe Sculli, neto de Giuseppe Morabito, também capo de um clã da máfia calabresa. O avô mafioso foi preso depois de anos foragido, quando assistia a um jogo de seu neto no estádio. Foi o início dos problemas de Gaetano. Em 2006, seu pai foi preso por ter participado de mais de dez homicídios. A partir dai, o senhor Giuseppe D’ Agostino optou por colaborar com a justiça italiana, traindo o código de honra mais importante da ‘Ndrangheta: a Omertá!

A máfia que não perdoa a traição, condena os desleais e toda a sua família à pena de morte. Gaetano D’Agostino corria sério perigo e pagará para sempre pela felonia de seu pai.

O time do Messina sabia muito bem que Gaetano estava em perigo. A cada treino, o jogador era protegido por policiais. Depois de uma boa campanha na Sicília (4 gols em 27 jogos), a Udinese e seu presidente Giampaolo Pozzo, ávido por bons negócios, contratou o jogador. Ele ficaria quatro anos no norte da Itália. Durante a sua terceira temporada, Gaetano formou com Simone Pepe e Antonio Di Natale um dos trio mais temidos da velha bota. O clube de Friuli chegou até as quartas de final na Copa da UEFA, eliminado pelo Werder Bremen. Na ocasião, Gaetano chamou a atenção de grandes clubes da Europa. Juventus, Real Madrid e Villareal se interessaram pelo palermitani. Graças ao sucesso alcançado, Gaetano fora convocado por duas vezes pela Azurra de Marcello Lippi. Entretanto, os clubes abdicaram do jogador cientes da dificuldade em protege-lo de um ataque iminente da máfia. Na época, D’Agostino contou o episódio de sua possível transferência ao Real Madrid ao site da revista Panorama: “Estava quase contratado. Iria assinar um contrato de 5 anos por 2 milhões de euros anuais. Faltava apenas viajar até Madrid para assinar o contrato, porém a Udinese não concluiu o negócio. Eles queriam mais contrapartidas e o negócio acabou não vingando e Xabi Alonso acabou sendo contrato no meu lugar”.

Neste mesmo ano, a Juventus também preferiu contratar Felipe Melo ao invés de Gaetano. Em 2010, a Fiorentina assinou com Gaetano por 10 milhões de euros.

Depois de uma temporada ruim no clube viola, o jogador teve passagens pífias pelo Siena e Pescara. Na temporada passada, aos 32 anos, Gaetano atuou no fraco Benevento – time de uma pequena cidade próxima à Nápoles – pela Serie C1. Quase no termino de sua carreira desperdiçada, Gaetano ainda vive sob a pressão da máfia e a dura herança de um pai que estigmatizou seu filho e sua família. A família segunda a qual o escritor calabrês Corrado Alvaro dizia que é a força da Calábria, sua coluna vertebral, sua genialidade, seu drama e sua poesia. Gaetano D’ Agostino sabe bem disso.

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15 anos sem Gino Bartali

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Hoje é o dia de lembrar os 15 anos da morte de um dos maiores ciclistas da história.

No rol dos principais campeões do ciclismo está o italiano Gino Bartali (18/07/1914 – 5/05/2000).

No entanto, não foi somente nas pistas que o italiano se destacou. O Ginettaccio, assim era carinhosamente chamado, tornou-se um exemplo de altruísmo e coragem durante a Segunda Guerra Mundial.

Gino foi uma espécie de “Oscar Schindler” sobre duas rodas.

Para os italianos, ele era antes de tudo “Gino o piedoso”. O toscano rezava na linha de partida, durante a corrida, ou ainda no pódio, agradecia Nossa Senhora e todos os santos pelas vitórias. Durante este tempo, o piemontês Fausto Coppi (1919-1960), seu maior rival, dividia a admiração de seus compatriotas (dois Tours de France e cinco giros).

Na época, Gino representava a Itália rural, conservadora e católica. Tinha a aparência de um simples camponês dos Apeninos. Enquanto que Coppi era um personagem moderno, galã, o autentico latin lover.

 

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A Guerra
De setembro de 1943 até maio de 1944, quando as competições ciclísticas estavam suspensas por conta da ocupação alemã na Itália, Bartali decidiu ser o “carteiro” de uma rede de resistência.

Essa organização de ajuda aos judeus refugiados recebeu o importante apoio de um grupo católico, formado por padres oblatas da cidade de Lucca, o arcebispo de Genova, frades franciscanos e irmãs da Ordem de Santa Clara.

A guerra interrompeu as principais competições da Europa, restando ao herói apenas as provas bufas dedicadas à gloria do fascismo e de Mussolini, as quais Gini se recusou a  participar.

Porém, o campeão não ficava parado. Com sua bicicleta “Legnano”, Gino dizia a sua companheira Adriana que “iria fazer uma longa pedalada”. E como pedalava o jovem toscano. Direção Assis, na Umbria, Viareggio ou Genova. 200, 300 ou até mesmo 400 quilômetros de uma só vez. Sob o selim, fotos de identidade eram escondidas. Ele as levava ao convento de San Quirico. Neste local, as freiras colavam as fotos em documentos falsificados. Depois, Gino pedalava para Florença até a doceira de seu amigo Emilio Berti, que por sua vez, levava os documentos para o arcebispo Elia Angelo dalla Costa e ao rabino Nathan Cassuto, que organizavam a emigração dos judeus refugiados.

Graças a essas falsificações e a dedicação de Bartali, mais de 800 judeus foram salvos da barbárie nazista.

Conheça a música de Paolo Conte em homenagem a Gino Bartali:

 

O reconhecimento

A prefeitura de Florença consagrou um “Jardim dos Justos no Mundo” onde cada árvore simboliza os homens que se dedicaram a salvar vidas.

A primeira foi plantada em homenagem ao florentino Gino Bartali.

Paolina Meyer, sobrevivente do holocausto graças às pedaladas do campeão, veio especialmente de Jerusalém para a solenidade.

Bartali também foi homenageado post-mortem com a honrosa condecoração da República Italiana a “Medaglia d’oro al Merito Civile”.

Somente em 2013, o herói italiano recebeu uma das mais importantes homenagens. Ele foi inscrito no memorial judeu Yad Vashem, em Jerusalém, tornando-se um justo entre as nações. Os Não-Judeus que salvaram Judeus durante o período do Holocausto, com risco das próprias vidas, são honrados pelo memorial.

 

As conquistas

Ginettaccio teve em seu currículo uma extraordinária lista de troféus, tornando-se um verdadeiro mito da história do ciclismo italiano. Os números confirmam: Ele ganhou duas vezes a volta da França (1938 e 1948), três vezes a volta da Itália, o famoso “Giro d’Italia (1936, 1937 e 1946), mas também a corrida Milão – San Remo (1939, 1940, 1947, 1950), três voltas da Lombardia (1936, 1939, 1940), duas voltas da Suíça (1946, 1947), quatro vezes campeão da Itália (1935, 1937, 1940, 1952), cinco voltas da Toscana (1939, 1940, 1948, 1950, 1953); três voltas do Piemonte (1937, 1939, 1951); dois campeonatos de Zurich (1946, 1948); duas voltas da Emilia Romanha (1952, 1953); duas voltas da Campania (1940, 1945); a copa Bernocchi (1935), a corridaTre Valli Varesine (1938),a volta da Suíça Romanda (1949) e a volta do País Basco(1935).

 Documentário sobre Gino (legenda em espanhol)

https://www.youtube.com/watch?v=68VVOAvY72g

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A Tragédia de Superga

Semana que vem o famigerado desastre aéreo do Gran Torino vai completar 66 anos. Resolvi republicar um post meu, do Blog do Birner, para relembrar o triste fim de um time que encantou o mundo e que até hoje marca a memória dos tifosi do time grená.

No dia 4 de maio de 1949, às 17 horas e 05 minutos, sob forte nevoeiro, o avião FIAT G212 da companhia italiana Aeritalia chocou-se contra a fachada da basílica que domina a colina de Superga, situada nos arredores de Turim.

O avião transportava a equipe e toda comissão técnica do glorioso Torino ( 31 pessoas).

Também faleceram, além de toda a delegação do clube piemontês, jornalistas esportivos e dirigentes do Torino.

O acidente ficou conhecido como a “Tragédia de Superga”.

O time grená estava voltando de Lisboa onde participara do amistoso contra o Benfica, em homenagem ao jogador português Francisco Ferreira.

A noticia do desastre repercutiu rapidamente em toda a Bota.

Vittorio Pozzo, treinador da Azzurra, vencedor das copas de 1934 e 1938, teve a dura missão de reconhecer os corpos daqueles que foram chamados “i caduti di Superga”.

500.000 pessoas acompanharam o cortejo que teve inicio na Piazza Castello e percorreu as principais ruas de Turim.

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Não foi apenas o trauma de uma tragédia envolvendo celebridades que caracterizou o luto da capital piemontesa e de toda Itália, mas o súbito e inesperado desaparecimento do time símbolo de uma época,  detentor de recordes impressionantes.

Fundado em 1906, o Torino conheceu suas primeiras glórias com a conquista de dois campeonatos italianos, um em 1927, título esse retirado por denúncia de corrupção (mais adiante irei abordar esse caso em outro post) e outro em 1928.

Entretanto, foi o pequeno industrial piemontês Ferruccio Novo, eleito presidente em 1939, que construiu o “Grande Torino”, graças as contratações do centroavante do rival Juventus, Gabetto e dos dois craques do Venezia, Mazzola e Liok.

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O Torino ganhou o titulo de 1943, e já no pós guerra, conquistou quatro scudetticonsecutivos, de 1946 a 1949, sendo que esse último lhe foi entregue como título póstumo.

Durante esse período, o Torino dominou o futebol italiano e seus principais rivais, Juventus e  Inter.

A equipe de Turim terminou a temporada de 1946-1947 com uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo colocado, Na temporada anterior, a diferença foi de 16 pontos.

Seu jogo ofensivo ia de encontro com a tradição do futebol italiano (naquela época já defensivo), iniciada pela Juventus, já no início dos anos 30. Os jogadores do Torino adoravam placares dilatados como, por exemplo, a goleada histórica sobre a Roma, 7 a 1, fora de casa e o 5 a 0 contra a Inter, durante a temporada 1947-1948.

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Embarque para o Brasil em 1948

Todo esse sucesso estava inscrito dentro de um contexto histórico difícil, que era o da reconstrução de uma Itália derrotada, deuma cidade que padeceu com os bombardeios aliados e vivenciou as atrocidades da ocupação nazista.

As conquistas do Torino e seus recordes ajudavam a esquecer, de certo modo, as dificuldades do momento e os horrores de um passado recente e alvitrava uma imagem otimista sobre o futuro da Itália.

Os sucessos do Grande Torino reforçavam junto aos operários da capital piemontesa a áurea granata (grená) de uma equipe que lhes permitiam, duas vezes ao ano, se vingar do time do patrão: a Juventus da Fiat.

Logo após a tragédia, os cadutti foram homenageados em todo planeta.

A FIFA ordenou um minuto de silencio nos campos de futebol do todo mundo.

Na Argentina, o River Plate fez alguns jogos em beneficio às viúvas e órfãos das vitimas do desastre.

No Brasil, não foi diferente, como ilustrou, com propriedade, Antonio Roque Citadini em seu site: “Em 8 de maio, no Estádio do Pacaembu, o Corinthians jogou com a Portuguesa e a renda foi destinada às famílias dos jogadores vítimas da tragédia. O Pacaembu lotado refletia a solidariedade dos paulistanos. O presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians, Sr. Maximiliano Ximenes, fez um discurso que provocou lágrimas na platéia. Na fila olímpica formada pelos atletas uma novidade que elevou a tensão no estádio: os jogadores do Corinthians vestiam o uniforme grená do Torino”.

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As glórias:

5 títulos italianos 42/43, 45/46, 46/47, 47/48 e 48/49.

Pontuação máxima na tabela 65 pontos (1947/48)

Vitória em casa com maior placar 10-0 Alessandria (1947/48)

Vitória fora de casa com maior placar 7-0 Roma (1945/46)

Vitórias em casa 19 – 20 (1947/48)

Números de pontos conquistados em casa 39 de 40 (1947/48)

Número de gols marcados 125 (1947/48)

Recorde de jogadores na seleção italiana – 10 jogadores 11/05/47 Italia-Hungria 3-2

Turnê no Brasil em 1948:

18/07/1948 – ESTÁDIO DO PACAEMBU
TORINO 1 X 1 PALMEIRAS
Arbitro: Ermano Silvano (Italia). Publico: 40.872
Gols: Gabetto 29? (T), Lula 43? (P).

Torino: Bacigalupo, Ballarin, Tomà, Grezar, Rigamonti, Martelli, Menti, Loik, ( 65? Martelli), Gabetto, Mazzola, Ossola. Técnico: Mario Sperone.

Palmeiras: Oberdan, Caieira, Turcão, Og.Moreira, Túlio, Waldemar Fiúme, Lula, Arturzinho, Bóvio, Lima ( 61? Oswaldinho), Canhotinho. Técnico: Cláudio Cardoso.

21/07/1948 – ESTÁDIO DO PACAEMBU
TORINO 1 X 2 CORINTHIANS
Arbitro: Ermanno Silvano (Italia). Publico: 45.946
Gols: Baltazar 43? (C), Colombo 71? (C), Gabetto 81?(T).

Torino: Bacigalupo ( 43? Piani), Ballarin, Tomá, Martelli, Rigamonti, Castigliano (Grezar), Menti, Loik, Gabetto, Mazzola, Ferraris. Técnico: Mario Sperone.

Corinthians: Bino, Rubens, Belacosa, Palmer, Hélio, Newton, Cláudio, Baltazar, Severo ( 65? Edélcio), Ruy, Colombo. Tecnico: Jorge Gomes de Lima.

25/07/1948- ESTÁDIO DO PACAEMBU
TORINO 4 X 1 PORTUGUESA
Arbitro: Alberto da Gama Malcher (Brasil). Publico: 30.000
Gols: Mazzola 16? (T), Pinguinha 42? (P), Gabetto 59?, 81? (T), Castigliano 61? (T)

Torino: Bacigalupo, Ballarin, Tomá, Martelli, Rigamonti (Rosetta), Castigliano (Grezar), Menti, Loik (Castigliano), Gabetto, Mazzola, Ossola. Tecnico: Mario Sperone.

Portuguesa: Caxambu, Lorico e Nino (Sapolinho), Luizinho, Silveira, Helio, Renato, Pinguinha, Nininho, Pinga, Teixeirinha (Djalma). Técnico: Conrado Ross.

28/07/1948 – ESTÁDIO DO PACAEMBU
TORINO 2 X 2 SÃO PAULO
Arbitro: Mario Gardelli (Italia). Publico: 42.500
Gols: Gabetto 11? (T), Ponce de Leon 15? (S), Menti 33? (T), Lelé 57? (S).

Torino: Bacigalupo, Ballarin, Tomá, Martelli, Rigamonti ( 52? Roseta), Grezar, Menti II, Castigliano ( 56? Piani), Gabetto, Mazzola, Ossola. Técnico: Mario Sperone.

Sao Paulo: Mario, Saverio, Mauro, Rui, Bauer, Noronha, Antoninho, Ponce de Leon ( 56? Lelé), Leonidas, Remo, Teixeirinha. Técnico: Vicente Feola.

Fontes: Archivio Toro e www.ilgrandetorino.net

 

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Outros derbies “intramuros” da Itália

No continente europeu, a Itália é o local com mais rivalidades de times de uma mesma cidade. Atualmente há cinco derbies intramuros na Serie A. Os clássicos de Turim, Genova, Milão, Roma e Verona. No entanto já existiram outros ao longo da história do calcio. Alguns com certa importância e outros para dar inveja aos nossos cartolas e empresários do futebol brasileiro.

Importante ressaltar que até o ano passado o futebol italiano estava estruturado da seguinte forma: Serie A, Serie B, Serie C1, Serie C2 e Serie D. As series C1 e C2 (eram a primeira e segunda divisão da Lega Pro desde 2008) se juntaram, ficando somente uma terceira e única divisão profissional chamada simplesmente de Lega Pro.

 

Nápoles

É a terceira maior cidade da península e não possui nenhum derby local. Em contrapartida, os clubes profissionais e semiprofissionais da periferia estão na Serie B e Lega Pro. Precisamos voltar um século para ver duas equipes da capital do sul se enfrentarem. O Napoli e a Internazionale Napoli, a segunda sendo o fruto de uma cisão da primeira …. dez anos depois de se uniram para dar vida ao que conhecemos hoje, o grande SSC Napoli. Estas duas equipes tiveram a oportunidade de se enfrentarem nas fases preliminares do campeonato italiano. O balanço é bem igualitário, cinco vitórias pra cada lado e dois empates.

 

Catania

Conhecemos bem o Catania. Time que permaneceu dez longos anos na Serie A, antes de cair para a B na temporada passada. Mas também existe na bela cidade siciliana o Atlético Catania que foi o principal time da cidade, depois da falência temporária do rival no ano de 1993. Os dois clubes possuem quase as mesmas cores. O vermelho em comum, azul claro pra um e escuro para o outro. Pequenas nuances. Os dois se enfrentaram uma dezena de vezes na Serie C1. Depois de uma falência em 2002, o Atlético é hoje um time amador.

Vale ressaltar que o Atletico Catania foi fundado em 1986 e refundado em 2005 por conta da decretação de sua falência.

 

Bergamo

Fundando ao mesmo tempo que a Atalanta, o Virescit Boccaleone (um bairro da cidade lombarda) desapareceu e reapareceu ao longo dos anos e acabou somente se afiliando à federação em 1970. 14 anos mais tarde e depois de uma ascensão progressiva, o desconhecido time de Bergamo alcançou a Serie C2, depois a C1 e quase alcançou a Serie B se não fosse a derrota para o Reggina em 1988! No entanto, o derby aconteceu um ano mais cedo, pela Copa da Itália com a vitória de 2 a 1 para os famosos Nerazzurri. O Virescit fusionou em seguida com o Alzano e reencontrou a Atalanta na Serie B na temporada 1999/00. Atualmente o clube está sediado em Alzano Lombardo, cidade próxima de Bergamo, porém em outra comuna.

 

Vicenza

No ano passada a bela cidade de Vicenza podia se orgulhar de ser a sexta cidade italiana a ter dois clubes profissionais. O Vicenza é bem conhecido, vice-campeão italiano em 1978 e semifinalista da Copa das Copas vinte anos mais tarde após ter conquistado a Copa nacional. O outro time da cidade veneta se chama Real Vicenza. Mesma cores, mesmo estádio e uma ascensão fulminante até chegar no profissional. Com o desaparecimento da C2, o time caiu automaticamente para o terceiro nível do calcio onde também se juntou a ele o rival Vicenza, um ano depois. Porém não teve derby, já que este último passou pela repescagem para a Serie B onde ambos poderão se encontrar pela primeira vez já, que o Real tem chances de promoção.

 

Florença

Como em Nápoles, várias equipes florentinas se enfrentaram nos primórdios do calcio. Porém os jogos aconteceram em campeonatos regionais, nunca no nível nacional. Aos poucos, todos estes pequenos clubes foram desaparecendo e se fundiram para a criação da Fiorentina em 1926. 20 anos depois, nascia a AS Rondinella. Com camisas listradas de vermelho e branco, ela alcançou o profissionalismo em 1979 chegando até a Serie C1, lá permaneceu de 1982 até 1987. Infelizmente, nunca se enfrentaram a não ser em amistosos. Por pouco, pois a Rondinella deixou a C2 em 2002 quando chegou a Fiorentina logo após a sua falência. Vale lembrar que a Rondinella foi o clube formador do campeão mundial Barzagli.

 

Vercelli

Na cidade piemontesa de Vercelli, existiu um time que teve a audácia de colocar em perigo a supremacia do lendário Pro e seus sete títulos de campeonato italiano! Em 2006, em Belvedere, bairro de Vercelli, nascia o Pro Belvedere Vercelli graças a fusão com um time da cidade de Trino Vercellese. O início fora discreto na Serie D. Um estágio acima se encontrava o Pro Vercelli. O Belvedere precisou de três temporadas para alcançar o tradicional time da cidade e deste modo inaugurou o primeiro derby da história. No fim da temporada, o Belvedere caiu mas conseguiu permanecer no tapetão graças a quatro falências, dentre elas a do Pro Vercelli. Com isso, ambas as equipes se encontram e dois anos mais tarde, o Pro voltava a Serie B depois de longos 64 anos.

 

Rimini

O AC Rimini faliu e foi rebaixado para a Serie D em 2010, três anos depois de ter disputado a Serie B, terminando na quinta posição. Ele reencontrou o time de Riccione, outra cidade balnearia da costa Adriática. Por motivos obscuros, este último mudou de nome e de cidade, transformando-se em Real Rimini. O verdadeiro Rimini venceu duas vezes o “rival” e rapidamente alcançou a Lega Pro. O Real chegou na oitava posição, mas pagou caro pela sua arrogância no ano seguinte. Acabou em decimo oitavo lugar com 5 empates, 29 derrotas e zero vitórias. 16 gols marcados e 107 tomados. Um ano depois o time desapareceu.

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Mamma mia

As arquibancadas do mundo já tiveram dias melhores. Fato!

Mas nem sempre tudo foi festa. Além do lado lúdico, festivo e democrático dos estádios, não podemos esquecer seu lado sombrio e cruel. Neste ambiente libertino, o ser humano sempre teve espaço para revelar o seu pior instinto. Nem tudo é festa na plateia do futebol, o ódio sempre esteve presente, dissimulado no pretexto da rivalidade. Homofobia, racismo, preconceito regional e outros predicados da bestialidade humana encontram seu lugar de honra nas arquibancadas do planeta.

Na Itália, onde a rivalidade histórica e secular se apoderou do futebol, os ultras das curvas (assim é chamada a parte popular atrás dos gols) se aproveitam deste pequeno universo para promover toda a sua aversão ao inimigo regional.

A Itália que já fora o centro de um dos maiores impérios da história, transformou-se por séculos em uma colcha de retalhos. Ela fora estuprada por inúmeros invasores formando vários pequenos burgos com identidade própria. Há um famoso ditado que explica o sentimento regionalista da península: Cada pequena cidade acredita que a sua torre é maior que a do vizinho. Estamos em 2015 e nada mudou desde então. Este sentimento atemporal dos italianos sempre será a sua maior riqueza e também o maior entrave para quem sonha transformá-la em uma nação uníssona e reta.

Dentre as inúmeras rivalidades históricas existentes na velha bota, as cidades de Roma e Nápoles levaram consigo a animosidade para o futebol, mais especificamente entre os times: Roma e Napoli, no chamado “Derby del Sole”. A rivalidade consiste no confronto entre as duas maiores cidades do sul, de um lado a capital administrativa “rica” e do outro o povo napolitano conhecido por seu espírito de contra poder histórico, representado na figura da Camorra.

Neste último final de semana, o estádio olímpico recebeu mais um derby do Sol. Tensão no mais alto nível entre os tifosi e as forças policiais. Um fato importante aumentou ainda mais o perigo neste último domingo. Há um ano, um jovem torcedor do Napoli fora assassinado por Danilo De Sanctis, famoso ultra da Roma, apelidado de Gastone. O homicídio ocorreu no dia da final da Copa da Itália de 2014, em Roma, entre Napoli e Fiorentina. Ciro não resistiu aos ferimentos e morreu 50 dias depois.

No derby deste domingo, a curva sul não poupou críticas à mãe do jovem assassinado. Uma faixa foi estendida com a seguinte mensagem:

faixa

“Que coisa triste… Lucro com o funeral… livros e entrevistas”.

Os ultras da Roma acusam a mãe de Ciro de aproveitar da morte do filho para ganhar dinheiro com livros e entrevistas.

A mãe, transtornada, logo explicou que o dinheiro obtido na venda dos livros iria para fundação “Ciro vive” e seria destinado aos hospitais de todo o mundo.

Mas não parou por ai, uma faixa com o rosto da atriz e apresentadora Sandra Milo foi exposta. Uma ironia pra lá de maldosa.

sandra-milo-ciro-curva-sud

A foto da apresentadora foi uma alusão a um episódio que ficou marcado na memória da televisão italiana. Durante o programa “L’amore è una cosa meraviglosa”, de 8 de janeiro de 1990, uma telespectadora telefonou dizendo que o filho de Sandra Milo, também chamado Ciro, fora vítima de um grave acidente automobilístico. Tudo não passava de uma brincadeira, no entanto, a apresentadora ficou transtornada e abandonou o estúdio aos prantos gritando “Oddio chi parla? Oddio chi è? Chi? Ciro? Dove? Noooo! Oddio!!” (Assista o fatídico episódio no vídeo abaixo)

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