Um Fim de Semana como Outro Qualquer

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1-0, 1-1, 1-0, 0-0, 2-1, 1-0, 0-1, 0-0. Os aficionados dos tabelões vão se lembrar. Essa era uma clássica sequência de placares do Campeonato Francês no jornal de segunda-feira – aquele certame chatíssimo, que por causa de uns dois milionários virou atração imperdível.

Enfim. Bons tempos em que a escassez era problema dos outros. Agora, tal qual uma torneira de bairro periférico, ela é nossa.

Vocês viram, não preciso enumerar. 15 gols em 10 jogos na terceira rodada do Brasileirão Bocejão 2015.

Não bastasse, onde nasce uma flor, logo vem uma bota esmagá-la. Num espasmo de futebol de verdade, Bruno Henrique, atacante do Goiás, ousou driblar, trombar, romper a zaga e o goleiro do Palmeiras, ir à linha de fundo, recuperar o ângulo, cruzar pra trás e provocar o gol contra que definiu a vitória de seu time.

Momento épico para o jovem atleta, que não quis se furtar de festejar o feito, diante do maior público da rodada, com seus poucos e bravos seguidores que vibravam no setor dos visitantes.

“Rua, meu velho. Aqui não tem essa bagunça de comemorar gol como bem entende”.

Devem ter sido essas as palavras que o inominável árbitro-policial da partida dirigiu ao atacante, premiado com um cartão vermelho por seu momento de glória. Afinal, somos modernos e cumprimos regras inúteis à risca.

Vai ver é uma armação bem engendrada. Sabedores da quantidade de jogos insuportáveis que permeiam o torneio, nossos donos da bola promovem deliberadas estripulias, a fim de alimentarem as cada vez mais fatídicas mesas redondas do fim de rodada, repletas de “lances polêmicos” a serem debatidos à exaustão e preencherem a grade.

Pois vejam bem. Não há uma rodada que passemos sem falar desses senhores. Não bastasse nossa má fase geral, temos de lidar com pessoas que se dedicam a “interditar” os jogos.

Que o diga o próprio palmeirense, sabotado em sua ansiada final de Paulista contra o Santos. Por causa de uma treta que não existiu, Dudu e Geuvânio foram excluídos da decisão, por razões que Leandro Iamin descreveu perfeitamente.

Dias antes, Sandro Ricci fizera o mesmo num São Paulo x Corinthians em que queríamos faíscas pra todo lado. Na primeira alteridade, rua para Sheik. Na segunda, rua para Mendoza e Luis Fabiano. Pronto, jogo brochado, todos pra casa sãos e salvos, ainda mais com um resultado que convinha a ambos.

Perdón, Edgardo Bauza. Sei que você ficou indignado com o não jogo que deixou seu time fora da Libertadores. Mas te reitero: aqui temos interventores de campo, no sentido mais literal, que trabalham como se estivessem num eterno cruzamento da Paulista com a Brigadeiro em dia de dilúvio e semáforos queimados. Todo e qualquer movimento e interação entre os atletas é tratado de forma doentia.

E depois do fim de mais uma rodadinha miserável, eles dobram a aposta, voltam de terno, gravata e requintes de crueldade. Hora dos julgamentos, nova atração dos programas esportivos, agora ao vivo e a cores pra animar uma tarde de terça-feira.

Com tanto holofote, é claro que haveriam de foder de vez o ano do Dudu. Porque sentiu o calor do jogo, a ânsia pela taça, a santa fúria de quem representava a avidez pelo título de toda uma coletividade. Pecado capital. Até o ano que vem, pois em terra de Marin, Del Nero e tapetão preza-se muito pela disciplina.

Mas como eu disse, é possível que eles estejam certos, com o olhar à frente do nosso tempo. Sabem como ninguém como acabamos dentro de campo, portanto, precisamos criar novas maneiras de manter o campeonato atrativo.

Ou vamos falar do time que tem um Serra Dourada à disposição, mas preferiu vender seu mando para Brasília – aliás, que gramado de merda, dona arena – e receber o Botafogo ante meia dúzia de funcionários públicos?

Ou de duas belas camisas que se encontraram no Pacaembu por uma dessas mal tratadas divisões de acesso, diante de outra meia dúzia de malucos que insistem em projetar seus sonhos de mundo naquele quadrilátero esverdeado?

Ou de quem esperou 30 anos pra retornar à primeira divisão e ao estrear em casa teve de encarar um grande rival sem o apoio daqueles que o carregaram de volta à Série A, por conta de outra dessas punições tão mesquinhas quanto inócuas?

Melhor é admirar pela televisão a decisão do último acesso à Premier League que levou 85 mil pessoas a Wembley numa segunda-feira, suponho. Ou o eterno futuro campeão do mundo daqui a 20 anos. “Viram a liga deles? Esses sim sabem fazer o show. Precisamos imitá-los melhor”.

1-0, 1-1, 1-0, 0-0, 2-1, 1-0, 0-1, 0-0. É. Eles devem estar certos. Talvez seja hora de pautarmos novas questões de relevo, tipo “juiz da rodada”, “auditor do ano”, “craque da gestão”, “melhor advogado do futebol brasileiro” e animar um pouquinho a vida desses tristes trópicos.

Twitter: @gabrimafaldino

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