Um sonho que pode até ser real

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Por Fernando Toro

Estávamos todos juntos, ninguém maior ou menor do que outrem, no mesmo barco – desta vez, vai sem aspas, pois se trata mesmo de um grande barco, esta nossa casa navegantemente cósmica. Vejo velhos irmãos e irmãs espirituais e carnais: Amacu, Porpetta, Breno Blóde, Cronos, Juma, Pimentinha… Todos prontos para a tão esperada batalha – a derradeira, que quebrará esta corrente da ignorância, do desperdício, do dia te enojando. E estávamos em uma festa! Sim, era hora de festejar – sempre almejando com a batalha, não importasse quão bêbados estivéssemos. Mas em determinado momento, em meio à música alta, abraços e risos intermináveis entre nós, percebe-se que não havia mais o que esperar – creio que fora Cronos quem nos alertou. “Urra!”, berros de alegria, danças enlouquecidas, êxtase pela libertação, pelo nascimento, não havia como segurar.

Partimos para a batalha, com a absoluta certeza da vitória, apenas para cumprir a missão. Breno quis se destruir junto, pediu bombas e um endereço oportuno. Ninguém duvidava, mas todos quiseram segurá-lo, confortá-lo, os mais próximos o abraçaram apertadamente. E, antes que o primeiro pudesse falar, ele se antecipou: “Certo! Não o farei. Não há mais por quês. Não é mais necessário, honroso, nada! Apenas mais loucuras. E esta loucura criada por homens sobre homens cessou. Estes que, por deter o poder, agem com covardia, injustiça, todos desnecessários! Não mais! O sol do amanhã será o da vitoria!…” Nisso, Breno mirou Porpetta que, como todos ali, sem exceção (nenhum a menos!), brilhava com a verdadeira luz que nos compõem, e com contagiantes áureas de confiança e alegria, por se sentirem vivos, na luta e festa, agora há horas da vitória. A energia fluía naturalmente, me perdi na nebulosa e, antes mesmo de lutar, acordei do sonho… “Aí, fodeu”, podia dizer, para ser engraçado. Mas, como disse o autônomo Mano Chao, me sinto curado, anestesiado. Além da interpretação que misturei ao sonho, há o fato de que sinto que o mundo já esta pronto para a grande mudança, as cortinas caindo para a última batalha desse tipo que, definitiva e verdadeiramente (não apenas em pedaços de papéis, guardados em museus), libertará o homem de si mesmo.

Não há mais o que esperar. Assim como a vida de um ser humano, a deste planeta parece ter atingido um ponto de onde não se pode esperar mais para vivermos, todos juntos, o respeito, o auto conhecimento, o compartilhamento, o conhecimento dos verdadeiros valores e cuidados que requer a maravilhosa liberdade, a renuncia quando necessária, a bronca em igual, a aceitação das coisas que estão fora de ti e que pertencem a liberdade de outrem, e viver este limite interpessoal com prazer e não pesar – o homem adulto, a Terra adulta. Estas pequenas e irrefutáveis leis universais já estão em nosso domínio mental, e através delas outras tantas virão, naturalmente, se as vivermos, na prática. Era tão legal, o futebol mostrava isso perfeita e deliciosamente – não o faz mais. Era uma fagulha do contrario do mundo exterior, de liberdade, de poder de gozo. E só naturalmente, porque a ordem é contrária. Hoje vivemos a era em que se fala e mostra-se muito – de forma cada vez mais grotesca, burra, mas festiva – e faz-se pouco, de fato, pelos erros do “mundo”. A capa da revista Época, da editora do senhor Roberto Marinho, que pretende servir como guia de tal Copa, mostra isso e toda a sujeira que permeia a mente dos homens e os destroem por elas mesmas. Além das informações esperadas para o evento, que antes me fascinavam e hoje compõem apenas mais sujeira, dão dicas de “como fugir das confusões” (leia-se protestos, “malditos ‘black-blocks’”, etc, etc, etc). A alternativa do mundo Globo é fugir, claro, por que quem luta contra eles é inimigo, “merece apanhar”, como disse o Nazareno do futebol. De fato, quem esta nesta luta, se sente impelido a estar ali, não é brincadeira. Mas este é o real e irresponsável tratamento de um mundo que “se pinta” de sério, com revistas sérias para formarem suas opiniões e, cada vez mais, uma realidade insana para se manipular.

E atrás da locomotiva dos Marinhos, seguem os demais vagões da subserviência: a revista Veja lança uma edição sobre o Brasil moderno que surgiu do Brasil de 1950 para cá, claro que ignorando os verdadeiros “problemas modernos” que surgiram desde então e nos grandes meios de comunicação, de um modo geral, a demonização dos protestos segue a pleno vapor, enquanto a realidade brasileira nos empurra a uma guerra civil – afora uma penca de jornalista em cima do muro, cada um deles se afirmando a favor de “protestos, mas quando a bola rolar será um espetáculo”. Um jornalista que no meio do seu pensamento, deixa de pensar, chega ate a metade da certeza e da razão. E a vida segue ignorante, controlável. Só mesmo neste mundo de homens de poder covarde, onde meu sonho sempre pertenceu ao mundo dos sonhos. Deverá ser por pouco tempo mais, já passamos por muito. É uma realidade tão lamentável quanto estimulante a lutar contra. A própria revista não pode mais esconder os protestos, tamanha sua urgência. De repente, naquele velho e delicioso guia das Copas de minha infância, o mundo “lá de fora” se misturou, e o envenenou. Futebol, além de morto, nem teu cadáver pode ser o “outro lado da vida”, agora. Até o Nazareno Ronaldo, talvez muito pelo seu envolvimento com políticas, já tem sua legião de críticos! Como eu os queria comigo, em 1996… Esta “Copa”, talvez pelo alarde do caos técnico que vive o jogo há décadas, mas pela sujeira toda envolvida, fez muito ficar mais exposto ainda, mesmo para quem vivia dormindo. A revolução posta à mesa e a vitoria como prato principal, a todos. Eu creio no antídoto, no “sangue, suor e lágrimas”, sou um incorrigível otimista e humanista, por isso amo tanto o futebol e odeio sua ausência no mundo. Sigo, pois, sonhando acordado, esperando o próximo sono merecedor de um sonho que eu queira viver amanhã.

 

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