Aquela Quarta, 13

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No reino do efêmero em que (também) está se transformando o futebol, não é tão simples retomar assuntos de dias ou semanas passados, ainda que não estejam longe no tempo. De toda forma, parece oportuno voltar àquela quarta-feira, 13 de agosto.

Um capítulo não tão inédito para quem se lembra de outra quarta, 4 de maio de 2011, aquela em que Cruzeiro, Inter, Grêmio e Fluminense foram enxotados da Libertadores da América nas oitavas de final, dentro de casa, fora de casa, por goleada, por placar mínimo, para time grande, time “pequeno”…

Antes que entendam mal, aprecio profundamente as vitórias das equipes consideradas menores ou tecnicamente inferiores. E longe de ser por questões de zombaria ou folclore.

Porém, no atual momento, é impossível não relacionar as quedas de Fluminense, São Paulo e Internacional na Copa do Brasil (para América-RN, Bragantino e Ceará) ao momento do futebol brasileiro: o pior, e mais endinheirado, da história.

Pela circunstância que envolveu cada eliminação, pode-se elencar uma razoável síntese de todo o declínio que testemunhamos nos últimos anos: futebol opaco e previsível, descompromisso com a camisa, venda de mando de campo, campeonato cuja eliminação precoce dá vaga para outro torneio, declarações de atletas completamente fora da realidade…

Além disso, cabe lembrar que a data foi a mesma que marcou o título do San Lorenzo de Almagro na Libertadores, cuja edição pela primeira vez em trocentos anos não contou com nenhum brasileiro sequer nas semifinais.

Parte da mídia verde e amarela preferiu renovar seus votos de preconceito e ignorância a respeito do futebol sul-americano, achincalhando o nível do torneio e os finalistas, sem conectar a menor crítica aos clubes brasileiros.

Vale registrar que a potência econômica do subcontinente enviou três representantes ao Nuevo Gasometro e nenhum deles foi capaz de estufar a rede sanlorencista, inclusive aquele que ganhou o último Brasileirão de braçada e ameaça repetir a dose neste ano, com seu ataque considerado o mais arrasador do país.

Retomando, a coisa já começa mal quando se suspeita do caráter das surpreendentes derrotas. Pelo fato de a CBF ser dirigida por gente simplesmente ridícula, o aumento da Copa do Brasil, novamente com clubes participantes da Libertadores, trouxe junto o critério de classificação para a Copa Sul-Americana ao término da terceira fase, visto que não se permite a ninguém jogar as duas competições.

Algo como um time ser proibido de jogar a Liga Europa por ainda estar na Copa de seu país… Coisas de quem se dá muito bem na vida ocupando certos cargos, mas não sabe armar um calendário, paciência.

Como visto no ano passado, através de Ponte Preta e Coritiba, alguns times flagrantemente entregaram suas vagas desde que se estabeleceu tal critério. Em nome da panaceia de “internacionalizar a marca”, uma das várias pegadinhas bem sucedidas dos novos “especialistas” em gestão e marketing que desembarcaram no futebol, com seu imenso dicionário de obviedades pronunciadas em linguagem profissional. Mas deixemos essa turma do MBA pra outra hora.

De toda forma, não foi o caso. São Paulo e Flu venceram, e com ótimos placares, a primeira partida, de visitante, e seus técnicos foram categóricos em evitar essa muleta da entregada. Já o Inter, creio, desanimou com o mau resultado do Beira Rio, visto que não vence uma taça nacional desde 1992, enquanto conseguiu acumular glórias internacionais nos últimos tempos.

E aqui temos elementos que preencheriam ao menos um mês de pauta para o nosso colega Fernando Toro e seu Futebol Urgente, porta-voz da santa fúria do “ódio eterno ao futebol moderno”.

Primeiramente, o Bragantino incorreu na indecente venda de mando. Abriu mão de seu velho alçapão para jogar no vazio Santa Cruz de Ribeirão Preto. Priorizou um troquinho, ao invés da vantagem esportiva. E repetirá a dose contra o Corinthians. Resta saber o que ganha o futebol quando um time abre mão de sua casa e torcida, apesar de muita gente cegada pela balbúrdia mercantil achar sensata tal atitude.

Ainda assim, foi premiado com a virada no Morumbi. Graças a um adversário com figuras de referência que vivem num mundo paralelo, facilmente tragadas pelo elogio fácil e com a apatia de quem tem a vida ganha cedo demais.

A entrevista de Ganso após a derrota, negando um vexame, repetindo frases de manual de media training e falando “em foco no clássico de domingo” é de indignar até os nãos são-paulinos.

Perde-se uma vaga de forma patética em casa, contra um time cuja folha de pagamento inteira não supera o salário de uma estrela do clube grande, com a postura mais bunda mole possível, e tudo bem, “foco no próximo jogo”.

Pior de tudo é ver que uma ou duas vitórias no Brasileiro já fazem a mídia voltar a incensar os “craques”, “maestros” e “ídolos”, o que só ajuda na manutenção do atual estado de coisas, carente de reflexões sérias sobre nossa superestrutura.

E depois teremos a cada vez mais incessante publicidade futebolística reafirmando que, sim, são mesmo uns craques. Ô vida fácil!

Na sequência, o Barcelona acena contratar Douglas. Nocaute para qualquer mente sã, não tem jeito.

Já no Maracanã, talvez mal acostumado a acumular vitórias sem jogar, o Fluminense conseguiu sair de um 2-1 para um 2-5, sendo os últimos três gols potiguares num espaço de 15 minutos, o último nos acréscimos, com direito a tentos em que simplesmente nos perguntamos onde estava o sistema defensivo e como se toma um gol decisivo, em casa, no último instante, sem que adversários fossem minimamente incomodados pelos marcadores. Isso num clube que parece ter um dos técnicos promissores da nova geração, dos mais estudiosos e atualizados, o que só serve pra confundir ainda mais nossas cabeças.

Mas, tudo bem, “foco na Sul-americana”. Lá na frente, veremos time reserva na referida competição, ou muita reclamação a respeito do acúmulo de jogos junto do Campeonato Brasileiro, o que servirá como desculpa para futuras atuações decepcionantes.

Vamos parar por aqui, pois é cansativo reiterar diuturnamente a inversão de valores que tomou conta do futebol brasileiro. Até porque os acontecimentos que preenchem o texto parecem uma biribinha no meio da Faixa de Gaza no momento em que Dunga, um empresário e outro técnico medíocre comandam a “reformulação” e o “novo ciclo” da ex-seleção. Claro que já se referiram ao processo alemão zilhões de vezes, apesar de todos os atos apontarem na direção oposta.

 

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