Copa C3 | Dia 11, o começo da saudade

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Dia 11 – O começo da saudade

por Gabriel Brito

Inglaterra 6 x 1 Panamá – O folclore ainda existe

Na última manhã com três horários de jogos, o que já começa a dar aquele aperto, mais uma abertura regada a gols no grupo que ao lado do A foi o mais desigual.

O primeiro tempo da estreante seleção caribenha foi o maior vexame em Copas desde… A última semifinal, quando um certo país-sede desceu aos vestiários com o mesmo 0-5 nas costas.

É, o 7 a 1 continua a impressionar a cada vez que tentamos dimensioná-lo e o colocamos em perspectiva.

Mas aqui falamos de um time amador que foi curtir o passeio e cada minuto de sua passagem pela Rússia que ainda renderá filmes, livros e entrevistas na TV no dia em que os membros de sua delegação se tornarem tiozões de bairro.

Até a questão disciplinar do time destoou do padrão, com destemperadas reclamações ao juiz a todo momento.

A Inglaterra foi fazendo os gols porque sim, qualquer forçada era meio gol. Terrível na bola aérea e lento na leitura, os panamenhos fizeram a festa dos artilheiros da tarde, o grande matador Harry Kane e o zagueiro Stones.

O english team, mesmo ciente da facilidade, manteve sua nova linha de 5 e um jeito de jogar que começa a animar o país – mesmo assim, estão todos cientes de que a prova de fogo só virá daqui dois jogos.

Nervoso na estreia, Dele Ali deu lugar a Loftus-Cheek, cujo nome representa uma nova faceta das sociedades modernas, mais uma daquelas coisas interessantes que só fico sabendo graças ao futebol: a geração do sobrenome composto representa os filhos de casais não casados, que por vezes sequer moraram juntos. Mas com uma peculiaridade que por aqui causaria rejeição em muita gente de bem, no caso, a equiparação dos sobrenomes de pai e mãe, sem a primazia do progenitor. Oxlade-Chamberlain, cortado por lesão, é outro exemplo que me ocorre.

Devaneios

Mais um dado curioso do jogo foi o replay que validou o terceiro gol de Harry Kane. Aparentemente impedido, fiquei realmente cabreiro com a linha de impedimento apresentada pela turma do vídeo. Diante da farra que era a partida, parece terem ficado com preguiça de ver centímetros pra lá ou pra cá e anular a bolinha na rede que tanto gostamos.

Conversando a respeito, eu e o amigo Tiago Zau entramos numa digressão: a considerar que ver impedimentos milimétricos ainda é um belo de um inferno mesmo com toda essa aparelhagem atual, não parece absurdo imaginar que logo mais o atacante que tiver qualquer pedaço do corpo na mesma linha do defensor seja considerado habilitado. Algo parecido com a saída de bola, que se tiver um só centímetro sobre a linha de cal é tida como em jogo.

Não parece um absurdo tal mudança na regra. Afinal, se a máquina de Marty Mcfly viesse à realidade e pudéssemos viajar no túnel do tempo do futebol, a ver todos os gols decisivos pela linha da defesa, descobriríamos que metade da história do futebol é uma farsa, convenhamos (tentei pensar em qual gol histórico eu me poria a marcar no lugar do protagonista real, mas não consegui me decidir).

Dito tudo isso, o gol do Panamá foi o desconcerto que anula a crítica: dada a enorme comemoração até do técnico, devemos ignorar todas as análises depreciativas deste precário time ao longo de seus 180 minutos e 9 gols sofridos.

Lembrou-me da primeira vez que assisti a uma partida entre Brasil e Venezuela. Eliminatórias para a Copa de 1994, o Brasil sob muitas críticas visitava a vinotinto em San Cristóbal. Quando já estava 4-0, um chutão do arqueiro local foi até o outro lado da cancha, Taffarel e Marcio Santos se enrolaram e um tal Gomez aproveitou o quique da bola para marcar. A comemoração foi a mesma que o tento de Felipe Baloy gerou nos panamenhos.

Não é mal que ainda vejamos essa faceta mais que romântica, amadora, dar as caras de vez em quando.

De resto, os europeus que já liquidaram a chave chegam leves para um jogão entre ambos que não cortará na carne de ninguém. O que deve evitar que seja um jogão.

Senegal 2 x 2 Japão – Bravo, Japão

 Ótima partida a do meio dia. Senegal e Japão atuaram como dois times que se medem de cima a baixo e pensam consigo: “dá pra nós”.

Sempre em busca do gol, a partida alternou momentos de velocidade com bola no chão, um pouco de acordo com o estilo de cada um, mas acima de tudo porque em momento algum o empate foi visto como bom negócio – e na verdade foi.

No impulso de um time que chega forte pelos lados, Sadiou Mane empurrou o rebote de Kawashima com a canela. Outro gol pra conta do pinball. O campo é cada vez menor e as rebatidas, voluntárias ou involuntárias, já são marca deste Mundial.

O Japão empatou em lance evitável pelo lado direito, que o bom ponta Inui igualou. Do mesmo jeito ele quase virou.

No grande lampejo individual da partida Senegal voltou à frente do placar através do lateral Wague, que constava no projeto catariano de formar uma seleção de futebol do mesmo jeito que um clube.

Impressiona esta matéria do Trivela a explicar o funcionamento da academia Aspire, financiada pelo reino que comprou o direito de sediar a próxima Copa do Mundo, a mais distópica de todas.

De todo modo, um dia a renda do petróleo acaba. Se não for pra formar uma grande seleção de futebol, todos os esforços servem ao menos para realizar e renovar essa imensa acumulação de capital de outras formas: “independente de potenciais motivos escusos, espalhar dinheiro ao redor da África é condizente com o projeto do Catar de transformar o dinheiro do seu petróleo em relevância na economia, na cultura, na educação e, claro, também no esporte”, resume a matéria de Bruno Bonsanti. Na Europa o serviço se encontra em estágio bem mais avançado.

Veremos se 2022 será um canto do cisne, a laranja chupada até o bagaço. Fico curioso pra saber como andará nossa paciência com tudo isso até lá.

O tempo que levei pra escrever essas últimas linhas foi mais ou menos o mesmo que os japoneses precisaram para descobrir novo caminho para o empate.

Numa Copa de grandes barreiras físicas e defensivas, buscar a igualdade duas vezes na mesma jornada não é fácil.

E apesar da nossa declarada simpatia pela representação africana, se o jogo pendeu para um lado na reta final foi para os nipônicos, agora muito bem posicionados para avançar às oitavas.

Colômbia 3 x 0 Polônia – bailá conmigo

Fechando a segunda rodada, isto é, a primeira metade do total de jogos, mais um bom jogo no movimentado grupo H.

Grande favor os poloneses fizeram ao amesquinhar sua preparação para a Copa acumulando amistosos contra times inferiores e, dessa forma, fabricar uma posição de cabeça de chave no ranking da FIFA – que por isso mesmo se reafirmou como algo entre o ridículo e o inútil.

Quem fez outro grande favor ao mundo e também ao país foi Jose Pekerman, que devolveu Yerri Mina e James Rodriguez ao time titular.

O primeiro engoliu Lewandowsky e voou lindamente para anotar o primeiro gol. O 10 foi senhor do campo, distribuiu bolas suculentas aos seus colegas, a exemplo daquela que abriu o marcador, e colocou os polacos para correr atrás da redonda, do jeito que nos ensinavam quando éramos pendejos.

A partir daí, os poloneses tiveram de buscar o empate com tudo, o que deu todos os espaços possíveis ao time cafeteiro. O segundo e terceiro gols emolduraram um baile para a memória desta Copa.

Só tapa, só golaço, linda vitória colombiana. Declarando minha torcida, a Polônia podia fazer mais uma gentileza ao sul do mundo e ajudar numa classificação de colombianos e senegaleses. Não é a cara, mas vou ficar quieto.

Dito isso, que uniforme terrível da Colômbia. Como Adidas e Nike andam fazendo mal aos nossos apegos estético-futebolísticos. E como a FIFA faz questão de se mostrar cretina com sua idealização de times monocromáticos em campo, ou divididos entre claros e escuros. Como bem diz meu grande amigo e editor desta Central3, Leandro Iamin, daqui a pouco vira judô e teremos sempre um time azul e outro branco em campo.

O que haveria de mal na Colômbia de amarelo? Faltou anotar no diário de ontem esse detalhe da indumentária sueca. Os nórdicos jogaram contra a Alemanha com seu velho uniforme dois, simples inversão do principal, a tolerar calções e camisas de cores distintas. “Heroico” nestes tempos de padronização até da rede do gol.

Consegui assistir aos 32 jogos da Copa. Eu não deveria ter orgulho disso.

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