O Brasil é muito grande, suas desgraças

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Sabe quando a manchete indica que o outro time perdeu, e não que o seu time ganhou? Então, é sobre isso

*Por Irlan Simões

Não se trata de vitimismo ou corrida desesperada por algum protagonismo. A verdade é que isso tudo cansa o torcedor da banda de cima do mapa.

A ignorância da qual vamos falar passa pouco de mera questão de preguiça – logo esse problema que tanto nos imputaram, principalmente quando precisavam explicar as discrepâncias econômicas causadas pela concentração política que marca esse país muito antes do futebol chegar aqui – nessas bandas subdesenvolvidas do globo terrestre.

Essas discrepâncias econômicas, se não tudo, explicam parte considerável das desigualdades geográficas e financeiras que atingem nosso futebol. Porque há de ser muito raso o sujeito que realmente acredita que “grande” e “pequeno” são valorações formadas por alguma vibração sobrenatural emanada pela torcida ou construída pelas forças místicas dos estádios-santuários do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Tudo não passa de uma questão básica: cidade é lugar de empilhamento de carne de gente, ferro de máquina e pedra de prédio. Quanto maior a cidade, mais dinheiro circulando em atividades centrais e respingando para atividades secundárias, como o futebol.

O “grande” clube apenas nasceu no lugar certo, no período histórico certo e contou com a ajuda política necessária para que enfrentasse os concorrentes locais. E na pirâmide das metrópoles nacionais, a relevância do poder local fez-se presente para garantir o apoio estatal crucial para a sobrevivência dessas relevantes instituições. Sim, seu time foi ajudado pela Ditadura Militar em algum momento. Caso não fosse, estaria de portas fechadas.

É apenas isso que explica quem é grande e quem é pequeno. Se você não acredita, boa sorte, volte a ler crônicas esportivas como retratos da realidade. Mesmo sabendo que um amigo pessoal de Nelson Rodrigues já tenha revelado ao mundo que sua miopia não permitia enxergar o que acontecia no meio do campo do imenso Maracanã. Era tudo inventado.

Mas sigamos. Essa valoração fictícia tem efeitos reais no funcionamento das coisas. Concentra maior público e mais dinheiro, atrai mais anunciantes, justifica cotas televisivas sete vezes maiores entre um clube e outro, justifica patrocínios estatais seis vezes maiores entre um clube e outro, mobiliza mais meios de imprensa, agita discussões e, principalmente, interfere na organização do próprio futebol em si.

É isso que mais preocupa o torcedor “do Norte”. Porque mesmo quando superadas todas as questões externas ao campo do jogo, ainda vamos encontrar outros tantos tipos de problemas. A começar pela exposição do erro de um arbitro, e a pressão que isso acarreta nos seus trabalhos futuros.

Por que? Experimente observar a repercussão de um erro da arbitragem num jogo entre clubes ditos médios do futebol nacional, como Sport, Coritiba ou Goiás (para deixar de tratar apenas do Nordeste). Pergunte aos torcedores desses clubes se alguma vez, desde que absolutamente todos os jogos do certame nacional passaram a ser transmitidos ao vivo, algum juiz ou bandeirinha levou o famigerado “gancho” por ter cometido algum erro num jogo dos seus times.

Se você torce para algum dos grandes clubes do Rio e SP, você já viu isso acontecer com erros cometidos contra o seu time. Já viu, sim. Nós todos sabemos, porque observamos. E isso igualmente não ganha repercussão porque é assim que as coisas costumam funcionar no futebol brasileiro. É a pauta.

 

*Irlan Simões é jornalista e pesquisador do futebol. Comenta no Baião de Dois, aqui na Central 3. É autor do livro “Clientes versus Rebeldes – Novas culturas torcedoras nas arenas do futebol moderno” (www.facebook.com/clientesversusrebeldes).

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