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Lado B do Rio #67 – Roleta da Pistolagem NA COPA II
A Copa do Mundo vai chegando ao final e as notícias do mundo real, claro, começam a aparecer com mais vigor. No recente, mas já consagrado formato ROLETA DA PISTOLAGEM, o Lado B do Rio #67 fala de López Obrador, Vladimir Herzog e Victor Jara, mas também Julio Cocielo, Ricardo Amorim e Marcelo Crivella. Tudo isso junto. Mas nunca misturado.
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C3 na Copa #23 Aquecimento para as Quartas
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Copa C3 | O jogo da vida da Bélgica
Como bem disse o Bruno Bonsanti, amigo desta Trivela, como é difícil quebrar hierarquia em Copa do Mundo. Por mais que o grande assunto do último dia das oitavas fosse a possibilidade de se garantir um finalista inédito no torneio, lá foram Suécia e Inglaterra vencerem seus rivais, cada um a seu sufoco particular, para derrubar a indicação pela metade. A tabela dá uma bagunçada, parece sem chão, mas no fim podem ser três campeões do mundo nas semifinais, e tudo irá parecer mais óbvio de novo.
Não que os livros de história vençam os jogos por inércia, e nesta Copa está mais do que claro que vivemos um momento do jogo em que os grandes talvez nunca foram tão pouco grandes dentro das quatro linhas. Preparo físico e troca de informações fizeram com que qualquer Irã saiba neutralizar qualquer Espanha, para não falar da Islândia anulando a Argentina ou a Coreia vencendo a Alemanha.
O Brasil sabe que não vencerá a Bélgica de véspera, nem com a barriga. Time concentrado ao extremo, a seleção é disparadamente o time que menos deu bobeira na Rússia. Levou um golzinho e num lance que até caberia falta do suíço. Alisson, quatro jogos mundialistas, ainda não olhou fundo nos olhos de nenhum atacante, e tem seu lugar de espectador incomodado por alguns mínimos tapas na bola.
Mas outra grande história do confronto, para além da recuperação brasileira depois da semana de 10 a 1 em casa há quatro anos, é a tabela ter oferecido à Bélgica um novo jogo da vida. Há partidas em que você vai forjando a identidade, criando casca, maturando o estilo de jogo, contrastando o estilo e o repertório. Contra o Brasil num mata-mata de Copa você vence e entra para a história.
Não é preciso racionalizar demais para retomar a influência das derrotas brasileiras na memória construída do futebol internacional. Andando para trás, é só lembrar de como marcaram alemães em Belo Horizonte, holandeses em Porto Elizabeth e franceses em Frankfurt, para não voltarmos no Maracanazo ou na Tragédia do Sarriá. Pode chamar de arrogância, de soberba, de romantismo, de exagero: ganhar um jogo desses do Brasil te marca para sempre.
Porque essas intermináveis horas antes do jogo de sexta-feira já dão conta de imaginar os pontos fortes, fracos, as mudanças no time, as reações para cada combinação do rival. Dá para imaginar que a Bélgica pode oferecer o maior espaço para o Brasil até aqui, tal qual os atacantes da talentosa equipe europeia têm bola para finalmente sujar os cotovelos do goleiro brasileiro.
O que ainda pago para ver é se os belgas vão para o jogo de suas vidas, decepcionado pela atuação pobre que tiveram na queda contra a Argentina, em 2014. Se alguém acha que o chaveamento do lado de lá é mais favorável, discordo. Olha como a tabela da Copa do Mundo sorriu. Quatro jogos, quatro vitórias, melhor ataque e a maior camisa de todas pela frente. Tem caminho mais bonito? O Brasil é favorito, mas a Bélgica tem mais uma chance de se redefinir e, se para alguns essa sorte mal sorri duas vezes, talvez a terceira não chegue jamais.
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Copa C3 | Dia 20, it’s coming home?
Dia 20 – It’s coming home?
por Gabriel Brito
Suécia 1 x 0 Suíça – À moda europeia (2)
Um jogo mais legal pela sonoridade dos nomes dos países em confronto do que pelo que se espera já devia levantar suspeitas.
Como muitos de nós latinos, exigentes de temperos que a prancheta não põe a mesa, pudemos prever o confronto entre duas medianas seleções europeias era mais um jogo condenado apenas à memória dos adictos.
Mais concentrada, a Suécia conseguiu repetir sua competente atuação contra os mexicanos e emparedou o time helvético desde o começo, com seu 4-4-2 um tanto estanque, mas que tem contado com um melhora no desempenho de alguns jogadores.
Forsberg voltou a fazer boa partida e ajudou a levar seu time adiante; a dupla de ataque Toivonen e Berg cumpre seus invariáveis papeis de pivôs e imposição física e também foi perigosa.
Aparentemente mais técnica, a Suíça ficou a ver navios com atuações apagadas de Shaqiri, Xhaka e Dzemaili. No caso do mais badalado, insistiu de forma irritante nos lançamentos.
Na área, não houve solução. Nem Drmic e nem Seferovic, que não à toa perdeu a posição durante o Mundial, deram conta de estufar as redes e o placar mínimo a favor dos escandinavos se justificou plenamente.
Num confronto repleto de obviedades, ganhou aquele que subiu de rendimento nos últimos dois jogos.
Inglaterra 1 (4) x (3) 1 Colômbia – Ay, Colombia!
No jogo que comoveu tantos brasileiros, pelos mais variados motivos, pesou, sim, a camisa. Provavelmente, foi a única ocasião em que não vimos a preferência nacional pender para o lado europeu frente a uma camisa sudaca. Pelo menos na queda de avião, o brasileirinho de bem é grato ou solidário.
Mas não me desce como se torce pelos europeus por aqui. Como bem registrado pelo amigo Biglia, deu raiva ver em Itaquera um Holanda x Chile onde a ampla maioria brasileira estava com os algozes da Copa de 2010.
Começando pelo momento final do tempo regulamentar, o gol de Mina distorceu a história real da partida.
Os ingleses não só foram melhores tecnicamente como estiveram sempre acima no aspecto mental. Neste aspecto, os cafeteiros foram um desastre. E seu reiterado destempero nos 90 minutos pendurou uma quantidade tão grande de jogadores que quando o árbitro norte-americano deu motivos para tal já não havia mais brecha pra interpelá-lo.
A falta que Trippier quase colocou na rede perto do fim do primeiro tempo já tinha sido desnecessária. O nervosismo de Barrios na barreira, quase a cabecear Henderson, foi mais inoportuno ainda. E a mesma conduta irritadiça se viu frequentemente num time que só tratou de jogar nos últimos 15 minutos, quando a água alcançava o pescoço.
Com seu esquema de três zagueiros, espaço para os alas e os criativos Dele Ali, Lingard e Sterling flutuarem à vontade por trás de Kane, a Inglaterra se impunha.
Entende-se a opção de Pekerman de povoar o meio com três volantes. Enquanto os britânicos tentavam abrir o campo, o argentino planejou dominar os duelos centrais. Faz sentido. Mas sobrecarregou demais Quintero e Cuadrado. Além do mais, Barrios, Lerma e Sanchez não oferecem armação de jogo e estancam o time.
Sánchez é um estorvo à parte. Não bastasse o insensato pênalti no início do jogo com o Japão ignorou os avisos do árbitro no escanteio que precedeu o pênalti em Kane. Daquelas penalidades discutíveis, mas não era por falta de aviso. A desconcentração em momento fatal, tantas vezes companheira de viagem dessa seleção tão querida.
E depois da abertura de placar foram pelo menos 15 minutos de reclamações, faltas duras e cartões para os colombianos.
Inteligentes, os ingleses aproveitaram. E, oh my god!, eles também fazem catimba. Todo mundo que sabe o que é vencer no futebol faz isso, trata-se de uma conduta universal. Mas nossos chatíssimos comentaristas virtuais aproveitaram a simulação de Maguire para enfiar Neymar, o ídolo compulsório, no meio da conversa. E adeus relatos da partida nos programas pós-jogo, que têm se especializado em falar de tudo depois que a bola deixa de rolar, menos do que se fez com a própria bola.
Não há histórias, dramas, decepções, explicações para as atuações de um e outro lado. Julgam-se condutas que sempre vão ocorrer enquanto o vídeo não destruir o jogo, memes pra todo lado, opinião de famosos que não estão nem aí pra futebol e daí pra baixo.
Dito isso, quando perceberam que os ingleses não iam entrar na pilha e já acariciavam a classificação, os colombianos enfim acordaram no jogo. Pena não terem posto em prática seu bom futebol desde o início.
Muriel entrou bem (pena que Pekerman sacou o ótimo Quintero pra isso), Mojica cresceu na esquerda, Cuadrado fez sua parte e, quando tudo parecia perdido, Yerri Mina novamente mostrou seu gigantismo e achou a maravilhosa testada do empate. Monumental.
O crime ficou desenhado. Em choque e também sem Dele Ali e Sterling, os ingleses entraram acéfalos na prorrogação com a qual não contavam. Os primeiros 15 minutos de tempo-extra foram o verdadeiro bom momento sul- americano em campo. Quase veio a virada que faria o estádio do Spartak vir abaixo, tomado que estava de amarelo.
E alguém pode explicar o que foi a anulação da cobrança de lateral que contou com a distração de Maguire e podia dar no segundo gol colombiano? Notem que o bandeira evitou que a segunda bola voltasse ao gramado e corre pra seguir a jogada. Um paizão, Mike Geiger mandou voltar.
Já no segundo tempo, cruzamento de Cuadrado foi claramente desviado a escanteio. O ianque deu tiro de meta. E onde estão os sopradores do vídeo pra resolver um lance de tamanha simplicidade? Pena que aí os colombianos já tinham gastado todas as suas reservas de queixas.
Pra completar, novamente parabenizamos a Conmebol por achar tudo certo em ver um estadunidense apitar um jogo de seus comparsas anglófilos. Não desconfiamos da idoneidade de Mike Geiger, mas há afinidades culturais e psicológicas que podem interferir em algumas interpretações num caso como este. O lance da segunda bola que não entrou no campo foi uma camaradagem daquelas.
No segundo tempo extra Southgate acertou o time de novo e as ações se equilibravam. Pênaltis. Ainda bem, pois não havia mais energias nem mesmo neste que vos escreve. E entre dois times com pouca ou nenhuma mística copeira neste rubro nada era possível de prever.
A paulada de Uribe quando podia colocar o 4-2 que tornaria tudo definitivamente desesperador para os britânicos é para o eterno muro das lamentações. Dava pra ser mais frio, o momento era “nosso”. Ou que soltasse a paulada no meio. Mas não. O resto foi água abaixo de quem em momento algum soube ser grande, por mais que nos doa admitir.
Quatro europeus e quase nenhum sal disputarão uma vaga na final. E os ingleses têm uma chance enorme de retornar a uma decisão e fazer valer o jargão ufanista local “it’s coming home”, válido tanto para o projeto de sediar uma Copa quanto para a rara expectativas de levantar uma taça.
A la mierda.
Fora de campo
Sempre poupada dos grandes noticiários, a Colômbia passou por eleições presidenciais que podem marcar um novo rumo na vida do fraturado país.
Há cerca de 70 anos em estado de guerra civil, o segundo maior país da América do Sul tenta conciliar os diferentes setores da sociedade. No entanto, não é fácil.
Com a vitória do ultradireitista e liberal Ivan Duque, os Acordos de Paz correm risco e os setores oligárquicos e paramilitares ganharam novo fôlego. A mídia lixo local fez sua parte e instigou todo o medo possível na população, a fim de eleger um representante que desagrada até a setores dominantes.
De toda forma, a votação de Gustavo Petro, herdeiro de movimentos reconciliadores e democratizantes como a Marcha Patriótica – isso pra não voltar aos anos 80 – foi histórica e pela primeira vez em décadas a esquerda se fez presente na disputa pelo poder central do país recordista no número de refugiados internos no planeta.
A omissão internacional se explica. Signatária de tratados de livre comércio e protagonista da falida guerra às drogas, a desastrosa democracia local nunca é alvo de sanções e críticas internacionais. No entanto, seus índices de violência – foram mais de 200 mortos na campanha eleitoral deste ano, que incluiu os municípios – são absurdos e nos últimos anos pelo menos 15 mil lideranças indígenas, sindicais e comunitárias foram assassinadas.
Ontem mesmo, aos 10 minutos de jogo, Luis Barrios foi assassinado diante da família em Palmar de Varela, no departamento caribenho de Atlantico, cuja capital é Barranquilla. O mesmo se passou com Felicinda Santamaria, presidente de uma associação comunitária do departamento de Chocó. Outros sete camponeses também foram mortos em Argelia, departamento de Cauca. Tudo isso ontem.
Em 7 de agosto, movimentos pela pacificação do país, convocados também por Petro, irão à rua mais uma vez rogar pelo fim da violência que encontra paralelo em pouquíssimos lugares do mundo.
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C3 na Copa #22 Lá vem quartas
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Vaidapé #52 Douglas Belchior
O #VaidapéNaRua entrevistou Douglas Belchior, pré-candidato a deputado federal pelo PSOL em São Paulo e coordenador da UneAfro, cursinho popular que promove educação libertária para a população negra em todo o país.
Nos estúdios da Central3, Douglas Belchior falou sobre sua trajetória, as eleições de 2014 e 2016 em que não conseguiu se eleger, e a estrutura popular de sua candidatura, que ele define como de resistência. Ele ainda apresentou suas ideias sobre educação, pauta em que milita há mais de 20 anos; segurança pública, com um projeto que combata o genocídio da população preta e sobre a necessidade de democratizar os meios de comunicação.
A presença do pré-candidato segue a série de programas do #VaidapéNaRua para receber postulantes a cargos públicos e atores políticos para debater o processo eleitoral de 2018.
A equipe do #VaidapéNaRua contou com Xei e Gil. A coluna do Mano Próximo lembrou a Guerra pela Independência da Argélia, que durou de 1954 até 62 e combateu o imperialismo francês.
A coluna do grande Pae Vito chegou em clima de Copa do Mundo trazendo músicas populares da França, que está na disputa pelas quartas-de-final da Copa.
Escute o programa na íntegra e assine o feed do #VaidapéNaRua. Siga sintonizado também todas às quartas-feiras, a partir das 18h, ao vivo, pela Central3 e pelo Facebook da Revista Vaidapé.
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Com a caneta, Hazard
Por Leandro Iamin
Sucede que afirmo sem remorso que a Copa do Mundo, tecnicamente, está ruim. Não interfere no quanto curto o mês mundialista. Sigo assistindo todos os jogos, alguns teipes, repercutindo e acordando ansioso como uma criança. A linha emocional não sabota a racional neste espaço, as duas convivem bem, inclusive, e olha, puxa, já me dói o coração pensar que nunca mais veremos um grupo de 4 times e que daqui 12 dias amar o futebol e usar camisas de clubes e seleções voltará a ser atividade estranha, discriminada, excêntrica.
Então Paulo Júnior, este meu irmão de jornada, avança na concordância de minha impressão sobre o nível técnico da Copa com uma observação muito interessante: quantos times negaram fogo nos seus jogos mais importantes, ou seja, aqueles em que era preciso ver bola e provar algo? Vários, eu digo. A explicação para isso caminha para todos os lados e é possível até acreditar que o tamanho de uma Copa do Mundo, tão midiática e mobilizadora, engole alguns atletas que em outros tempos conseguiam jogar “só uma partida de futebol” mesmo quando era Copa. Alguma coisa une suiços e colombianos, espanhóis e mexicanos, times que, quando o mundo sentou e falou “agora eles vão”, eles não foram. E tem a Bélgica.
A Bélgica não foi um fiasco em 2014. Chegou entre os oito, tá razoável, mas sua partida eliminatória contra a Argentina, derrota por 1×0, foi fria, insossa, um gol no começo do jogo e 80 minutos de uma impotência resignada. Já achávamos a Bélgica forte como hoje ainda é. Veio a Euro de 2016, e a seleção belga começou o caminho cheia de otimismo em vão. Derrota acachapante para uma Itália aguerrida, outra atuação fria e murcha de um time previsível e estático. Tudo bem, era fase de grupos, a tabela do mata-mata não estava difícil e, nas quartas, era vencer o País de Gales. Que nada: mais uma atuação abaixo de qualquer crítica, uma derrota incontestável, um novo vexame – chamo de vexame porque recuso o paternalismo com um time que considero de primeiro nível técnico.
Então, os belgas trocaram de técnico, e mais uma vez trilharam o caminho das vitórias quando as vitórias não eram assim tão assistidas e incríveis, em amistosos e eliminatórias. Novo modelo de jogo, louvável postura ofensiva, e novo desembarque para disputa de uma Copa com tudo em cima. Como era previsto, tudo andou bem até o momento dos jogos grandes. O que aconteceu no segundo tempo de Japão x Bélgica merece que recorramos aos vexames pregressos desta que é talvez a mais técnica geração de jogadores deste país. Tal qual o México abraçou a sina de não conseguir fazer o maldito quinto jogo de um Mundial, a Bélgica tem, sexta-feira, em Kazam, a missão de evitar que suas derrotas virem uma incômoda e constrangedora sina. Afinal, se mexicanos perdem porque seus times são limitados, os belgas negam fogo por qual razão?
Modric, saindo do gramado domingo após a Croácia eliminar a Dinamarca, afirmou que aquele tinha sido o principal jogo de sua geração. Mesmo sem ser o melhor, foi o principal, o que muda a delimitação, troca as palavras do livro de história, transforma a promessa em algo efetivamente realizado. A Bélgica de Hazard tem uma tarefa bastante ingrata de superar o Brasil, mas é assim o jogo, né? Sair da Copa sexta-feira não será um vexame para eles, a menos que voltem a jogar um futebol frio e sem brio. No entanto, não haverá nada que possamos fazer pelo menos até 2020: o muro é alto, mas conseguir passar por ele ou não é determinante para que lá no futuro falemos da Bélgica desta ou daquela maneira. Na Copa das atuações frouxas nas horas decisivas, ninguém sofre a pressão que os belgas sofrem.
Não é crueldade. É só a história sendo escrita. Com a caneta, Hazard.
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Fronteiras Invisíveis do Futebol #61 Copa do Mundo 1994-2010
Matias Pinto e Filipe Figueiredo partem do fim da União Soviética e da Guerra Fria, uma era de otimismo nos anos 1990, com preocupações ambientais, o início da chamada Globalização, a expansão da internet, roupas coloridas, Saddam Hussein, a democratização no leste europeu, a União Europeia, a consolidação chinesa e, principalmente, Street Fighter II.
Visitamos as memórias afetivas das Copas do Mundo de 1994 até 2010, virando o século enquanto observamos mais um aumento do número de participantes, estreantes, artilheiros e a consolidação do modelo de mega-evento. Daí, finalmente entramos no século XXI, que começava promissor, mas tudo mudou no dia 11 de Setembro de 2001. A Guerra ao Terror colocava o Choque de Civilizações na mentalidade internacional, assim como o medo do terrorismo e de pandemias. Ao menos foi o início do podcast!
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Copa C3 | Dia 19, leis da natureza
Dia 19 – Leis da natureza
por Gabriel Brito
Brasil 2 x 0 México – Apenas o óbvio
De um lado aquele que ainda permanecerá como o maior campeão do mundo. Do outro, um time historicamente incapaz de converter o talento em glória, ainda que seja ótimo em aprontar contra grandes times. E que parara nas mesmas oitavas de final nas seis (SEIS!) Copas anteriores, em alguns casos de maneiras inacreditáveis.
É preciso fazer essa contextualização histórica para compreender que a vitória brasileira sobre os astecas cumpriu um daqueles protocolos quase imutáveis no futebol. Por mais que os tempos permitam mais equilíbrio entre times díspares, e este Mundial seja pródigo nisto, ainda há algumas ordens que dificilmente são subvertidas no futebol.
Tudo transcorreu como um analista frio poderia prever: momentos de ousadia e desenvoltura mexicana, solidez defensiva e pouca loucura no início da partida dos comandados de Tite. A seguir, abertura de brechas, conforme os times já tinham tomando nota o bastante do que havia do outro lado.
Como manda o figurino do gaúcho, nada de se atirar demais ao ataque no começo. O importante é entender o repertório de jogo adversário e bloquear os caminhos do gol.
Mais conservador na formação, com o volante Rafa Marquez no lugar do habilidoso Layún, o México foi incisivo no começo, achou bons espaços com Lozano e Vela, botou aquela correria esperta que dá um pouco de calafrio. Mas mal finalizou de forma efetiva.
Ainda apegado a um modelo de jogo estabelecido nas Eliminatórias, o Brasil gastou o primeiro tempo tentando fazer suas jogadas de manual. Neymar variava a individualidade com a conexão com Coutinho e Gabriel, William se virava sozinho na ponta direita e Paulinho se lançava a seu gosto em todas as vezes.
Assim, o time canarinho perdeu o meio campo, por vezes deixando Casemiro quase sozinho no combate. Paulinho chega até a ficar de costas para o gol adversário, como se fosse um meia adiantado, na ânsia de acelerar o jogo, o que deixa o início da jogada nos pés de defensores e do solitário cabeça de área.
No segundo tempo, Osorio cometeu a ousadia que lhe custaria caro. Tirou o experiente volante, que curiosamente não era muito encarado por Coutinho, e retomou a formação mais ofensiva da primeira fase.
Não levou dois minutos para um Brasil com leves ajustes criar uma jogada que aproximou seus atacantes justamente por onde estaria o recordista de participações em Copas, William invadir a área e bater para o carrinho de Neymar.
O Brasil inteiro preferia que Gabriel Jesus tivesse alcançado a bola antes e desencantasse.
Dito isso, a partida estaria praticamente decidida, ao menos de acordo com os preceitos da titebilidade e sua capacidade de manter placares.
O México tentava, assediava, fazia uma partida boa tecnicamente, mas simplesmente não entrava. Alisson não era exigido, tal como no primeiro tempo.
Quando tudo era desespero e a visão dos tricolores já se turvava na busca insana do gol salvador, veio o contra-ataque que Fernandinho armou e Firmino, melhor reserva até aqui, completou.
Mais um 2-0 cirúrgico, com pouco ou nenhum risco. O coletivo supera as individualidades largamente. Cada pecinha cumpre seu papel, ocupa seu espaço de campo corretamente, troca os passes, faz as recomposições que se pedem e vai minando o rival de forma sutil, sem alarde, como se vê no baixíssimo número de faltas cometidas pelos brasileiros.
De volta às quartas de final, e com pinta de favorito, o Brasil mostra uma grandeza ainda um tanto imune às intempéries que nos desiludiram nos últimos anos.
No fim das contas, ninguém chega tão naturalmente a esse estágio quanto o time das cinco estrelas. E ninguém cai tão honrosamente em oitavas de final como os mexicanos.
Fora de campo
Um dia antes da partida, o México elegeu António Manuel López Obrador, do Movimento de Regeneração Nacional (Morena), para a presidência de sua República tão destroçada por acordos de livre comércio e seu legado de Narco-Estado.
A chatice da politização fora de hora, aquela que adora encaixar discursos e preferências ideológicas na hora do nosso deleite futebolístico como se os próximos 47 meses não fossem suficientes, diz que pelo menos fora de campo o México venceu, enquanto o Brasil estaria derrotado de antemão em outubro.
Quem dera. Mas o candidato identificado à centro-esquerda promete não tocar fundo em nenhum aspecto que realmente incomode o deus-mercado. Privatizações, como a do petróleo, não serão revertidas e o discurso contra a corrupção no aparato de Estado foi uma das tônicas.
Enfim, o modelo econômico liberal de periferia será mantido e, de certo modo, seria muito difícil reverter isso após décadas de um neoliberalismo que já destroçou a integridade das instituições, abriu caminho para a afirmação de poderosíssimos grupos criminosos que rateiam o país entre si – e com as corporações que exploram recursos naturais – e fazem da violência barbárica o pão de cada dia. Não menos importante, um Estado que já concedeu avançada segurança jurídica para os ditames do mercado.
São mais de 20 anos de vigor do NAFTA, com resultados socialmente trágicos e muito êxodo para o vizinho imperial. De resto, um racismo institucional que se equipara ao brasileiro, se não supera. Todos os candidatos competitivos, num país de maioria indígena ou mestiça, eram brancos (15% da população);
Já a candidatura que aliou os indígenas e os zapatistas, representada por Maria de Jesus Patricio Martínez, a Marichuy, terminou impugnada, por excessos burocráticos que os partidos dominantes impuseram. Entre outras coisas, para colher o mínimo de assinaturas e registrar uma candidatura independente era necessário ter um aplicativo num celular que nem sequer todos os aparelhos podiam suportar. Não precisa explicar muito mais.
Ainda assim, Marichuy, que percorreu quase todos os estados do país em caravana repleta de percalços, colheu cerca de 300 mil das mais 800 mil exigidas. Mais de 93% consideradas válidas, disparado o maior índice de veracidade se comparamos com os demais “independentes” – entre aspas pois todos eram representantes relegados pelos partido tradicionais, como Margarita Zavala, esposa do ex-presidente Vicente Fox. Édgar Ulises Portillo Figueroa teve sua candidatura aceita mesmo com 2,63% de veracidade das firmas. Todos contaram com fortes máquinas e aportes financeiros para obter a alta cifra de assinaturas.
Dentro de toda essa farsa, dizem que López Obrador é uma barreira ao projeto neoliberal mexicano. Resta saber se havia como aprofundá-lo. Como diz o poeta, o país continuará tão longe de deus e tão perto dos Estados Unidos (e seu muro).
Bélgica 3 x 2 Japão – A frescura deu lugar à força
No jogo que fechava o dia, mais uma prova, não tão fumegante, para os badalados belgas.
Ninguém imaginava vitória japonesa, ainda que tenha ficado na mão no começo do segundo tempo.
O primeiro tempo foi todo dos vermelhos, que mais uma vez esbarraram no próprio preciosismo e concentração abaixo do nível dos grandes campeões. Uma cavada de Hazard para De Bruyne no final de um primeiro tempo onde o zero persistia simboliza a atitude do time.
A pouca decisão de Vertonghen na bola que deixou passar e terminou no gol de Haraguchi foi outra demonstração de que aos belgas falta um pouco de faca nos dentes. Witsel e De Bruyne, como bem disse Mauricio Noriega no Sportv, pareciam esperar o jogo começar de novo, tamanha a passividade após o 2-0 do bom Inui.
O técnico Roberto Martinez percebeu que faltava noção de urgência e colocou Fellaini, muito menos jogador do que alguns creem. Recado claro, um pouco mais de força e menos frescura. E, com a ajuda também do acaso que traiu Kawashima, vieram dois gols rápidos, pelo alto e na marra.
Quando a prorrogação já era tida como certa, os japoneses voltaram a validar todos os preconceitos a respeito de “ingenuidade” que ouvimos por aí. Tentar a sorte na última bola beleza, tá certo. Mas não dava pra não prevenir o contra-ataque com jogadores encostados em todos os belgas que ficassem fora da área. Courtois apanhou a bola e o crime se desenhou. Os nipônicos nem tiveram como chegar perto de quem tinha a bola e um inacreditável gol de desempate ceifou o sonho de uma quarta de final que esteve a um passinho.
Impressionante, um desfecho como em tempos onde o futebol de fato se jogava de forma menos paranoica. Os belgas livraram a cara, mas deixaram a impressão de que na hora que o chicote estalar mais alto fraquejam. Cabe aos discípulos do pastor gaúcho comprovar o que os galeses já conseguiram.