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Copa C3 | Dia 15, o pior dia da Copa

Dia 15 – O pior dia da Copa

por Gabriel Brito

Colômbia 1 x 0 Senegal – Vitória de quem quis

Começamos o diário pelo único jogo sério do dia, que antecipou perfeitamente o vazio desta sexta-feira.

Partida com a cara de uma última rodada em que ainda por cima fica-se de olho no outro jogo. Ou seja, predominantemente amarrada.

O pênalti seguido de expulsão de Carlos Sanchez logo nos primeiros minutos da rodada inaugural foi o determinante de todo o grupo H; a falta de frieza do colombiano em aceitar o gol relâmpago do Japão e jogar 90 minutos em condições de igualdade desatou o caos.

Daí em diante, nossa torcida pela classificação de uns e outros que ontem se enfrentaram em Samara estava definitivamente complicada.

Dito isso, o Senegal pagou o preço do pragmatismo reinante do futebol atual. Além de conceder os dois empates ao Japão, esperou demais o tempo passar na partida derradeira.

No fim das contas, é melhor depender de si mesmo. O Senegal, que chegou a curtir a liderança da chave durante seus últimos 90 minutos na Rússia, resolveu ir ao ataque apenas depois do gol de Mina, isto é, por 15 minutos. E criou um bom punhado de chances, diga-se.

Já o zagueiro colombiano é um monstro, o melhor da Copa ao lado do sueco Granqvist. Sua capacidade na bola aérea não encontra paralelo em nenhum outro jogador de defesa da atualidade.

Quanto ao conjunto cafetero, acertou-se a partir da segunda rodada. Uma lástima a lesão de James, mas há elenco razoável. Muriel foi bem em seu lugar e no fim das contas o time que mais se incomodou em buscar o resultado saiu com a vitória. Nosso lamento pelos Leões de Cissé é sobretudo afetivo.

Polônia 0 x 1 Japão – Que moral nós temos?

Vivemos a sociedade dos resultados, da posse, do êxito, da “eficiência”. Noções de ética se tornaram coisa de românticos, “que não entendem as necessidades básicas da vida”. Partilhar e ser feliz, em lugar de concorrer e sempre se sentir em dívida, não são exatamente as razões existenciais ou leit motiv da ampla maioria das pessoas, inclusive formadores de opinião.

Tal discurso é amplamente aplicado ao esporte. Ninguém acha que as Olimpíadas mantém alguma ideia de purismo esportivo, “o importante é competir” e outras platitudes. O atleta vai ao limite de suas condições e seu corpo é mercadoria a ser explorada até a última gota. A epidemia de doping responde por mim. E os donos do circo vinham sendo, se é que não seguem, notórios receptores de propina e amantes de uma vida fácil que só o esporte poderia lhes dar.

Dessa forma, até que ponto não somos patéticos em condenar a postura japonesa nos constrangedores minutos finais da partida contra a Polônia, quando a classificação estava na mão?

Até que ponto uma geração de atletas que nunca superou a primeira fase da Copa do Mundo deveria se preocupar tanto em satisfazer nossos pruridos ético-filosóficos? Aonde isso dá prêmio?

De certa forma, a postura polonesa em corroborar o fim de jogo tal como vimos, quando nenhum resultado alteraria seu destino, e aceitar de forma tão mesquinha uma vitória inútil é até pior.

Mas retornamos ao início: na sociedade torturada pelos números e doente por status os polacos queriam marcar no caderno: “olha, vencemos uma”. Vai que se toma o empate? Estavam eliminados do mesmo jeito, mas um joguinho de três pontos em Copa é mais uma marquinha pros currículos pessoais do futebol mais egocêntrico de todos os tempos – outro reflexo do tipo de sociedade que optamos por ser.

O argumento que mais se aproxima de constranger os responsáveis pelo simulacro de Volgogrado é aquele que lembra do torcedor que tanto esforço fez pra estar lá, tanto dinheiro gastou para ver uma Copa longe de casa. Mas não é esse mesmo o sujeito massacrado pelas cantilenas de que “é business”, “não adianta querer voltar ao passado”, “vocês têm que entender”? Quando de fato dão a palavra ao torcedor sem esse tipo de cerco, censura prévia?

No meu futebol seria tudo muito simples: você joga pra vencer e se não der, paciência, a cerveja desce igual. Infelizmente não funciona assim.

Tunísia 2 x 1 Panamá – Mudemos de assunto

Os leitores que me desculpem. Esse foi o único jogo que de fato não olhei nada, só gols à noite. Aparentemente, deu a lógica e o time mais experiente em grandes competições, e que por pouco não arrancou ponto da Inglaterra, volta pra casa com uma vitória pra contar história.

Fiquemos com o extracampo, portanto.

Pioneira nas revoltas que ficaram conhecidas como Primavera Árabe, a Tunísia de fato é o país mais bem sucedido da região após o esfriamento dos levantes.

Apesar das dificuldades (e políticas de austeridade), respirou ares democráticos e um alto nível de engajamento político da população. O país patina na economia e precisa lutar pela manutenção da estabilidade institucional.

Neste ano, diversos jornalistas e organizações de direitos humanos disseram-se preocupados com uma possível ruptura e retorno a tempos autocráticos, dada a perseguição, ainda que menor do que em outros tempos, a opositores e violência contra protestos.

Vale lembrar que o atual presidente, o nonagenário Béji Caïd Essebsi, era ministro das Relações Exteriores do antigo ditador Habib Bourghiba, que governou o país de 1957 a 1987, sucedido por Zine Abdine Ben Ali. Este, esteve no comando até a chamada Revolução dos Jasmins de 2011.

Após um tempo fora do país, onde seguiu sua carreira de advogado, retornou à Tunísia para o novo período e foi eleito.

Bachir Amroune, jornalista que escreve para o Deustche Welle, faz o seguinte diagnóstico do atual momento:

“Há anos, os supostos amigos europeus da Tunísia a têm deixado na mão. Na realidade, eles só cuidam, meticulosamente, de seus próprios interesses; garantem para si um lucrativo acesso ao mercado de consumo e de trabalho tunisiano, sem retribuição real. Em vez disso, exigem mais engajamento no combate à migração ilegal para a Europa. Como se o país já não tivesse problemas suficientes!

Diante de tal hipocrisia, é preciso os tunisianos se darem conta de que só podem confiar em si mesmos. O governo precisa finalmente abandonar o modelo econômico ultraliberal, que persegue desde a independência nacional, em 1956. Ele aposta apenas em exportações baratas para a Europa e turismo de massa barato para os europeus, e investe exclusivamente na região litorânea, mais lucrativa por ser de acesso mais fácil”.

Quanto ao Panamá, chamou atenção a entrevista do experiente técnico Hernán Darío Gómez. Irritado com uma pergunta sobre o desempenho desta que foi a pior seleção de todas, deu uma explicação altamente estruturalista sobre os porquês. Em suma, comparou não só as condições econômicas do futebol local e sua capacidade de formar jogadores frente a países muito mais poderosos como foi taxativo em relacioná-las a outros aspectos da organização social panamenha.

Dessa forma, fica a recomendação da fantástica matéria de Fernando Moura sobre o bairro Chorrillo, celeiro de jogadores num país onde nem os atletas – por aqui tão acima do bem e do mal – escapam da barbárie.

Bélgica 1 x 0 Inglaterra – treino de luxo

Pra fechar o dia mais difícil em prestar atenção nas quatro linhas, um treino de luxo entre os dois europeus classificados.

Como dito pelo amigo André Baiano, um encontro de fim de ano de estrelas da Premier League.

Ambos fizeram o que mandava a cartilha e sacaram todos os atletas pendurados ou com o mínimo risco de lesão.

Não só pelo resultado, mas pelo desempenho, ficou a impressão de que a Bélgica tem mais elenco e, de fato, um belo leque de jogadores.

Na conta do chá, fechou o grupo com 100% de aproveitamento, tal como em 2014. Mas agora é que são elas, para ambos.

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Lado B do Rio #66 – Lado B na Copa!

Em tempos de Copa do Mundo, os panelistas fogem da realidade e comentam a fase de grupos do Mundial da Rússia e os jogos que marcaram suas vidas. Mas, como não só de gritar gol vive o brasileiro, também comentam a ignorância e o machismo que a classe média tupiniquim exportou para a terra de Lênin, Trotksy e Stálin.

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NBA das Mina #10 Do draft ao NBA Awards

Vocês pediram e nós atendemos! O episódio 10 do NBA das Mina chega para discutir o resultado do draft 2018.
Sabemos que ainda é cedo para conclusões, mas chamamos o Vítor (Two-Minute Warning) para desabafar com a gente suas percepções sobre as principais e mais esperadas escolhas desse último draft. Falamos de escolhas que podem dar muito certo e também falamos daquelas que podem não ter sido as melhores opções possíveis. Se estamos certos, só o tempo irá nos dizer, mas vocês já podem nos contar se concordam!

Aproveitamos para reclamar um pouco do balde água fria que é o NBA Awards acontecer somente após o draft, e se vocês não lembram porque alguns nomes levaram os prêmios, esse ep é sua salvação. Ainda selecionamos os melhores momentos para fechar de vez a temporada 2017-18.

Esperamos que gostem do resultado e que tenham se divertido conosco com esse ep que reúne, no fim das contas, os melhores outfits da temporada.

Nesta edição:

Ana Caroline Carmo – @carolinescarmo

Nathália Pandeló – @nathaliapandelo

Sabrina Araújo – @sabsdenada

Convidado:

Vitor Camargo (Two-Minute Warning): @tmwarning

 

Para dúvidas, sugestões, críticas ou elogios (que amamos), vocês nos encontram também em nossas redes sociais ou pelo nbadasmina@gmail.com.

Twitter: @podnbadasmina
Instagram: @nbadasminapod
Blog: nbadasmina.wordpress.com

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Central 3 na Copa #16 Restam 16

O Central 3 na Copa desta quinta-feira passa a régua na primeira fase da Copa do Mundo com a definição dos últimos dos 16 classificados ao mata-mata. Com Paulo Junior, Leandro Iamin, Felipe Lobo, Leandro Stein e Bruno Bonsanti.

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Copa C3 | Dia 14, nada como um dia após o outro

Dia 14 – Nada como um dia após o outro

por Gabriel Brito

Alemanha 0 x 2 Coréia do Sul – um grande time nasce, cresce, ganha o que precisa e morre

Um dia para a memória coletiva das Copas do Mundo esta quarta-feira, 27 de junho de 2014. Não há outro lide possível: quatro anos após o maior absurdo da história do futebol a Alemanha cai eliminada na primeira fase e o Brasil vence bem uma partida que lhe confere a liderança de sua chave.

Deitada na glória, a seleção germânica já tinha mostrado um pouco menos de fome que o habitual na semifinal da Euro-2016 contra a França, quando Griezman anotou duas vezes e selou um triunfo relativamente fácil em Marselha.

Ontem, em Kazan, vimos o desfecho de uma campanha constrangedora, a igualar as decepções brasileira em 1966, francesa em 2002, italiana em 2010 (emendada em 14 e 18) e espanhola em 2014, campeões mundiais que pegaram o caminho de casa muito mais rápido do que supunham as bolsas de apostas.

E foi completamente merecido. O fim de ciclo é inerente a qualquer grande equipe de qualquer grande esporte. Joachim Low falhou em não manter a fome de glórias em alta na sua equipe.

Não é recomendável resumir derrotas à “falta de vontade” ou “pegada” e até elogiamos a atitude da equipe em se lançar com tudo ao ataque nas duas partidas anteriores.

A questão é que ao se contabilizar a terceira partida e registrar que os tetracampeões do mundo ficaram à frente no placar apenas por um minuto significa.

Estranhamente, no embate contra os bravos coreanos Low foi recorrentemente infeliz nas opções. Sem Boateng, não quis escalar Rudiger ao lado de Hummels. Khedira já mostrara sua obsolescência contra o México e Gundogan foi desperdiçado. Draxler e Muller parecem ter sido queimados e o limitado Timo Werner ganhou nova chance. Por fim, vale lembrar do lastimável descarte de Sané por não estar ainda à altura “do automatismo da máquina”, como justificara o comandante.

Em campo, um time que todos queriam bater jamais conseguiria encontrar soluções para abrir defesas, no que a ausência do ótimo ponta do Manchester City se revela ainda mais incompreensível.

Pra completar o pacote, um Toni Kroos que tentou assumir o papel de Schweinsteiger, mas falhou. Errou o passe que permitiu à Suécia contra-atacar para o gol de Toivonen e ontem não só errou o passe que gerou o ataque seguido de escanteio do primeiro gol coreano como ainda deu a assistência involuntária para o gol de Kim.

Não só foi miseravelmente eliminada como não esteve muito longe de sair da Rússia com três derrotas. A insanidade de Neuer que terminou no segundo tento asiático é a moldura da foto.

Engraçado notar a comoção até de quem estava mais contra que a favor do Brasil em 2014. Nem meu pai resistiu e logo torpedeou um “chupa Alemanha! VEXAME HISTÓRICO!” em nossas conexões pessoais.

Vamos evitar os debates pseudoestruturais que inundam redes sociais, com falsas retóricas a opor interlocutores imaginários, tanto aqueles que ressaltaram o projeto alemão (que existiu) como os que sempre bradaram contras as mazelas da CBF (que seguem) ou ainda as apreciações destes ou daqueles jogadores.

Ficamos com a conclusão do amigo Paulo Junior sobre este que é, acima de tudo, mais um time que fez história e chegou ao fim, às vezes com direito a uma queda espetacular no final:

“Apesar das ponderações, do envelhecimento, da precária forma física e do mau momento técnico de um ou outro, quem sou eu para não considerar favorita a espinha de Hummels e Boateng, Kross e Khedira, Ozil e Muller? Juntam-se a eles jovens promissores, boas campanhas em torneios secundários – Copa das Confederações e Olimpíada -, o retorno de Reus e o frescor de quem acaba de ser campeão mundial. Difícil ver a Alemanha em campo e não recordar aqueles seis minutos à beira da Pampulha.

Mas, enfim, no juízo final mundialista, é hora de se despedir definitivamente daquele time, que na prática não viajou à Rússia. A zaga não transmitiu a mesma segurança, os novos líderes não supriram a ausência de Lahm e Schweinsteiger, as bolas que cruzaram a área não se encontraram aos pés de Klose. Todo mundo jogou pior – incrível. E o comandante, refém de uma história de quatro anos atrás, se viu preso nessa expectativa sobre o passado, aquele que não voltará nunca mais”.

Suécia 3 x 0 México – Se for ver, era muito esperado

No outro jogo da chave, o México não poderia ser mais fantástico. Não poderia ser mais México. Depois de duas vitórias categóricas, inclusive aquela que tonteou os alemães, uma derrota que até reverteu o saldo de gols. Avançou de fase porque os deuses do futebol já tinham deliberado antes de as imagens nos revelarem.

Irresistível ignorar as místicas que rondam a seleção asteca. Quando parece que vai, cai de forma bizarra, e daí por diante.

No entanto, a tricolor de fato encarou um time que lhe impôs limites. O segredo das vitórias anteriores passava também pelo enorme espaço que alemães e coreanos permitiram aos velozes armadores da equipe.

A torrente de contra-ataques da estreia dispensa comentários. Na segunda rodada, novamente um time que saiu para buscar a vitória e lhe concedeu campo aberto, tanto que há gols praticamente idênticos nessas partidas.

Ontem, foi diferente. Uma Suécia organizada pra atacar em bloco e sem jamais se atirar ao ataque como se não houvesse amanhã tirou o que Layún, Lozano e Vela mais aproveitaram.

Sem construir alternativas, o México foi sendo colocado nas cordas e se fosse Ochoa o placar já estaria aberto no primeiro tempo.

No segundo os merecidos gols escandinavos foram saindo naturalmente – ainda que o de pênalti tenha registrado mais uma simulação 2.0; alguém precisa avisar aos juízes de que os criminosos sempre aprendem um jeito de subverter a lei ou corromper aparatos de segurança.

De resto, a Suécia é um time repleto de jogadores discretos que vai somando importantes resultados diante de camisas respeitáveis. E tem um confronto de oitavas plenamente acessível.

Suíça 2 x 2 Costa Rica – Quanto menos compromisso, melhor

De rabo de olho, o que já era heroico, acompanhamos um confronto onde a Suíça claramente teve de desempenhar um papel que lhe incomoda: mandar e resolver o jogo.

De outro lado, mais um eliminado que entrou disposto a voltar pra casa com alguma boa lembrança. Em 10 minutos e duas bolas na trave já tinha superado toda sua produção ofensiva acumulada.

Até pela vontade dos Ticos em irem à frente, os suíços foram se criando e a bem da verdade foram prejudicados por erro daquilo que segue demasiado humano.

Se no primeiro pênalti assinalado o árbitro fez uso do VAR para voltar atrás, no segundo preferiu ir por sua conta e comprar a cavada (fora da área!) de Campbell.

E os idiotas da objetividade ainda deram o gol de Bryan Ruiz para o azarado goleiro helvético. Quem foi ao estádio de Nizhny Novgorod deve ter se divertido.

Brasil 2 x 0 Sérvia – A titebilidade se manifestou

Chegou a primeira grande prova brasileira. E o time de Adenor Leonardo Bacchi aprovou.

No entanto, é preciso fazer pontuações e, para aqueles que se importam com o hexa, convocar ao realismo.

Em primeiro lugar e a despeito do placar final, o roteiro do jogo foi praticamente o mesmo verificado na estreia. Um Brasil mais dono da bola tratou de pressionar, buscar furos nas bem organizadas linhas defensivas do adversário, mas as dificuldades se impunham.

Outra semelhança é que o responsável por abrir a muralha oposta foi Philippe Coutinho.

Veio o segundo tempo e tivemos outras reiterações: pressão, razoavelmente consentida, dos sérvios, que por milagre não terminou no gol de Mitrovic; a mesma falha de bola aérea que deixou Fagner no mano com o enorme camisa 9 eslavo, quando um dos zagueiros deveria ter se deslocado para trás; retomada da ofensividade na segunda metade da etapa. Neste caso, o final foi feliz e o Brasil – merecidamente, diga-se – faturou a primeira posição do grupo F.

Agora vamos justificar o intertítulo: para aqueles que viveram tantas tardes e noites de Pacaembu e Itaquera vários acontecimentos são reconhecíveis: o primeiro gol realizou a fantasia do homem surpresa que todos sabem como joga e, num brilhante passe de Coutinho, Paulinho apareceu para marcar. Vale destacar que tal movimentação se deu pelo menos três vezes na etapa inicial, trata-se de uma alternativa realmente procurada.

Pragmático, Tite tem a lucidez de planejar que por pelo menos 15 minutos qualquer adversário digno de nota vai dominar a partida e jogar um pouco mais que seu lado. Hora do famigerado “saber sofrer”, isto é, todos marcando e, se der, um contra-ataque.

O mais difícil de elucidar é o momento da estocada final. Mas os times de Tite sempre tratam de chegar inteiros no quarto final da partida, quando desatenções ou falências pouco visíveis são corriqueiras num contexto onde a maioria dos jogadores está cansada.

E como eu disse pro meu pai quando seu camisa 15 fez o famoso gol de cabeça contra o Vasco aos 42 do segundo tempo: “quantos gols do Paulinho depois dos 30 do segundo tempo a gente já viu aqui?”. Esse é o gol de Thiago Silva.

Vitória no bolso, do jeito que o comandante gaúcho não só gosta como já desenha de véspera. E, no frigir dos ovos, três jogos que guardam mais semelhanças do que diferenças nesta primeira fase bem sucedida.

Espero ter dado minha contribuição para que se ignorem fanfarronices e euforias midiáticas. É muito mais difícil do que parece.

Notas:

De novo Neymar fez um jogo normal. Até bom, mas normal. Incomoda como ele e Gabriel, magros e baixos perante zagas (ainda que não seja o caso mexicano) altas e fortíssimas, simplesmente não buscam uma tabela. Ainda se atrapalharam por fome demais em dois momentos.

O 10 é importante, mas a real é que em três jogos não estraçalhou nenhum. Tem tudo pra contribuir e decidir em momentos cruciais. No entanto, além do que vimos na Rússia, o chato aqui lembra que pouco ou nada jogou nas oitavas e quartas de 2014. É urgente tratá-lo como apenas mais um.

A zaga vai bem, obrigado. Segura e técnica. Os laterais, mais humildes que os pretensos titulares Daniel e Marcelo, só querem fazer o certo, sem inventar. Pode ser ótimo, ainda mais se lembramos 2006.

Casemiro se tornou um puta jogador, que coisa. E Philippe Coutinho é, de longe, o melhor e mais produtivo do time na soma dos três jogos.

Dito isso, se nos últimos 10 minutos de ontem não deu pra testar um Taison ou Fred, quando será a hora? O banco preocupa.

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Copa C3 | Dia 13, sob a mão e a brisa de Dios

Dia 13 – sob a mão e a brisa de Dios

por Gabriel Brito

França 0 x 0 Dinamarca – mais um naquela lista

E o primeiro placar em branco desta Copa foi um jogo sabotado. Lamentavelmente, voltamos a ver europeus em clima de marmelada a garantir uma vaga que já estava na mão, pois no jogo que corria paralelo toda a dignidade do mundo dava as cartas.

Com mudanças no time, o time de Deschamps pôs pra rodar seu elenco, o qual consideramos o melhor do Mundial. Até aí tudo certo, ótima hora.

Do lado escandinavo, vimos um bom começo, de time interessado na vitória, pois nada era garantido àquela altura. Inclusive, o time nórdico com mais negros que já vimos na vida esteve melhor na primeira etapa.

Porém, a partir do primeiro gol peruano a partida começaria a entrar em progressiva operação tartaruga.

Veio o segundo peruano lá no outro jogo e a mesquinharia só se ampliou: a Dinamarca, aparentemente, passou a se contentar com o segundo posto por considerar o chaveamento que esperava o vencedor do grupo mais impiedoso.

E assim vinte e duas tiriças arrastaram os intermináveis minutos do segundo, sob merecidas vaias do público.

A Dinamarca, no duro, não mereceu nenhum dos cinco pontos que conquistou. E a França terá de mostrar a que veio num confronto contra um time abençoado por um Deus não muito convencional, do tipo com que podemos nos identificar e adorar.

Peru 2 x 0 Austrália – Gostinho merecido

Depois de dois jogos no topo de suas capacidades, com a melhor torcida da Copa oferecendo um lindo apoio, realmente de arrepiar, o Peru entrou em campo ainda em clima de decisão.

Vencer era preciso. Não se poderia sair da Rússia sem somar uma vitória, sem ir às redes, sem desafogar um pouco da mágoa que Cueva e Guerrero certamente carregarão pra sempre e, claro, dar uma alegria a torcida mais marcante desta Copa, uma daquelas que não precisam, como bem dito por aí, de assessoria de imprensa pra criar musiquinha com base em vídeos de youtube.

Tínhamos certeza que não daria para os australianos. Quanto fogo no peito carregaram os peruanos.

Guerrero para Carrillo, golaço. Os socceroos ainda responderam com sua entrega e organização que também são dignas de respeito. Mas pararam no bom goleiro Gallese, na própria limitação e dureza das pernas.

Cueva para Guerrero, caixa. Partida liquidada, para alegria dos compadres que cessavam fogo no outro jogo do grupo.

Festa peruana, comoção dos jogadores em campo, uma grande comunhão entre time e torcida. Repito: não adianta fabricarem o mesmo sentimento por aqui. Como dito pelo editor desta Central3, a questão não é a musiquinha da moda; a questão é que precisamos nos identificar com aquele jeans sujo pelo cimento e a poeira que consumiram boa parte dos nossos sentimentos e energias nesta terra.

Uma pena a participação dos incas não se estender.

Croácia 2 x 1 Islândia – Chega de uh!

Muito simpática a Islândia, país menor que Itaquera que atingiu o socialismo, mas abdicou de avisar ao mundo para que todos esqueçam deste pequeno povoado polar e os deixem em paz.

Mas ando farto de ver europeus de 1,90m se dando bem jogando mais um handebol sobre a grama do que propriamente futebol. E não estou aqui a querer a imposição de um modo, uma estética, de se praticar o mais apaixonante de todos os esportes – justamente por ser o que mais variáveis permite na maneira de organizar uma equipe e buscar o resultado.

Obrigado, Croácia. Argentina e Nigéria tinham de ficar com pelo menos uma vaga.

Se cabe um comentário dessa partida vista de esguelha, foi um clássico confronto da leveza contra a força física. Fico com a primeira, a muerte.

Campanha exemplar dos adriáticos. Mas na Eurocopa não foi muito diferente e na hora das grandes decisões o time axadrezado não passou da primeira prova.

Veremos como será desta vez. O adversário é acessível.

Argentina 2 x 1 –  Por una cabeza

Pra fechar o dia que mereceu a visita do padrinho de Ana Cecília, o próprio Leandro Iamin, acompanhado de uma bela peça de picanha, o grande tango da Copa do Mundo.

A atual seleção argentina e seu interminável descaminho, a refletir a balbúrdia no futebol interno, quema en una hoguera todo mi querer, como diria Gardel.

Pois na era do profissionalismo total, apesar de algumas nuances negativas que não cabem neste breve relato, se os ricos e premiados jogadores europeus chegam para o serviço futebolístico nacional e se encontram com uma estrutura como a que a AFA oferece, tem-se meio caminho andado para o precipício.

Estão com as vidas ganhas demais para se submeter a caprichos de velhos compadres e caudilhos que levaram o glorioso futebol nascido na beira do Rio da Prata a essa quadra histórica de sangria e descrença.

Mas ainda é possível resolver tudo dentro das sagradas quatro linhas. E um time comandado pelo melhor jogador desta década ainda deve ter seus pruridos de honra e amor próprio.

Dizem que Mascherano escalou o time. Não sei. Mas está claro que de fato a formação, óbvio 4-1-4-1 que serve para organizar qualquer bando no atual estágio do futebol, foi uma panela dos amigos de Messi.

O famoso Fernando Niembro vaticinara após a debacle frente aos croatas: “Messi não é esse craque todo sem entender de futebol. É claro que entende. Então não me importa que seja o técnico. Só peço que não escale só seus amigos”.

Não foi assim, mas o começo prometeu ares revolucionários. Banega encaixou um bonito passe por trás da zaga e Messi mostrou seus dons divinos ao dominar a bola como só os mestres podem fazê-lo, deitá-la gostosamente no relvado e bater de direita, inapelável. Golaço, la alegria volvió, viva la revolución!

Mas não é bem assim.

Enzo Perez é consciente, mas nunca teve brilho, muito menos agora, já na curva descendente da carreira. Di Maria e Higuaín são caricaturas dos jogadores que um dia foram. No entanto, é difícil questionar quem vale milhões no maravilhoso mundo do futebol europeu. Pipita é impressionante: foi comprado pela Juventus por uma fábula inacreditável e parece um atacante do ascenso quando veste a albiceleste.

Aguero e Dybala, a panela que perdoe, podem e devem ser titulares.

Veio o segundo tempo e os argumentos huevo e corazón começaram a se esgotar. A Nigéria achou o empate no pênalti de um já curtido e cansado Mascherano. Este, apesar de uma postura sempre digníssima, não é mais o mesmo, errou variados passes e a verdade é que não era jogador para quatro Copas seguidas na titularidade de uma seleção deste tamanho.

O jogo ficou ao feitio do time de Musa, mas o ligeiro camisa 7 não é muito bem acompanhado. Onde foram parar aqueles brilhantes jogadores que vestiram a camisa das SuperÁguias na década de 90? Não dá pra ter o destruidor Obi Mikel como camisa 10 em duas Copas seguidas, para ficar apenas em um exemplo. Ighalo, o 9, perdeu duas chances que outros artífices deste futebol de lindas fruições não deixariam passar.

Mas não podemos esquecer daquela fresta de sol que iluminou o rosto desse deus tão pagão quando do primeiro gol argentino. A brecha para a intervenção divina estava aberta. Apesar dos grondonas, tapias, tinellis e que tais que assolaram tanto o futebol vizinho, ainda há a mística, a camisa que pesa na hora agá, a loucura que faz um zagueiro canhoto se atirar à área rival e achar um golaço de pé direito.

Tudo certo, nada resolvido. Solidarizamo-nos com a insanidade de Maradona nas arquibancadas, disparado o melhor em campo e responsável por, no frigir do ovos, nossa adesão ao mambembe projeto de autogestão da seleção argentina, que mandou Sampaoli dormir no quarto de hóspedes e na fria cama de solteiro.

A crônica de Douglas Ceconello a este respeito é antológica, maravilhosa. Que dios lhe dê razão. De toda forma, essa campanha já está na antologia do futebol argentino e suas idiossincrasias que misturam rebeldia com loucura, peito aberto com desatinos.

Agora o sábado reserva uma chance de dar razão aos sublevados. Ou atirá-la na fogueira dos ressentimentos populares de forma irreparável.

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C3 na Copa #15 Alemanha fora, Brasil dentro

O Central 3 na Copa desta quarta-feira fala das classificações de Brasil, Suíça, Suécia e Méxic, além da histórica eliminação da Alemanha na primeira fase da Copa. Com Paulo Junior, Leandro Iamin, Felipe Lobo, Bruno Bonsanti, Vitor Birner e Gerd Wenzel.

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Fronteiras Invisíveis do Futebol #60 Copa do Mundo 1978-90

Matias Pinto e Filipe Figueiredo retornam ao final da década de 1970, ponto de partida para o fim da segunda Guerra Fria e da União Soviética: o ano dos três Papas, a invasão soviética do Afeganistão, a eleição de Reagan, a morte de Brejnev e a ascensão de Mikhail Gorbachev, tudo isso acontecendo ao mesmo tempo da Revolução Iraniana, da Guerra das Malvinas e do lançamento de Thriller.

Acompanhamos as Copas do Mundo de 1978 até 1990, passando pelo aumento do número de participantes, estreantes, artilheiros e invasões do gramado por xeique cheio da grana. Também observamos as tentativas de reforma do Bloco Soviético e consequente (e rápida!) desintegração dos regimes do leste europeu e reunificação da Alemanha, junto com a década perdida na América Latina, o hip-hop e o impacto cultural da pandemia do vírus HIV.

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A vaia e a posteridade

Por Leandro Iamin

 

Não é matemático o sentimento de quem se propõe a passar duas horas contemplando um latifúndio gramado. Seria muito fácil, manda avisar a turma de estudiosos que se pauta em critérios técnicos e em exemplos lógicos que não será tão simples assim cercar este objeto de pesquisa. Quando inventaram o futebol, colocaram um gol em cada extremidade do campo, e é o número de vezes que a bola passa dentro destes gols que define quem ganha e quem perde, mas, olha, a gente não ficaria tão vidrado nessa coisa toda se fosse só essa a questão. É ao concluir isto, que o amante do jogo não está interessado só em saber quantos gols cada time fará, que abrem-se as portas da percepção da importância de um jogo bem jogado, de um caráter competitivo profundo, da tentativa de ser em campo mais que um robô utilitarista.

Isto posto, vejamos a terça-feira da Copa do Mundo, dia 26, última rodada, Grupo C. Em Moscou, a Dinamarca se classificava para as oitavas de final, e recebia, pela forma com que conseguiu o resultado, uma sonora, estrondosa e inesquecível vaia. Ao mesmo tempo, em Sochi, o Peru, eliminado, dava volta olímpica e recebia aplausos e lágrimas de todo o estádio, tomado por conterrâneos daqueles que, afinal, deveriam, na ótica tecnicista, estar tristes. Você há de ponderar que tudo depende da expectativa que precede a realização, que as coisas são diferentes para cada país na Copa de acordo com seu tamanho no mundo da bola, e até que os latinos são assim mesmo, mais apaixonados. Que nada. É fácil fazer o torcedor, dependente emocional do jogo, de bobo. Mas tem limite.

Pois chegou um momento dos jogos simultâneos de ontem em que, para a Dinamarca, dava na mesma empatar ou perder. Mantendo o 0x0 ou perdendo de 0x1, 0x2, 0x3, estaria classificada do mesmo jeito. Então por qual motivo abdicou de jogar futebol? De onde concluiu que era esse o papel que lhes cabia? Ah, claro, alguém irá dizer que a lógica da coisa era se poupar, não acender duas velas quando uma só já ilumina, que o importante é o próximo jogo. Discordo. Primeiro, porque me dou o direito de achar que a Dinamarca preferiu, maliciosamente, não atacar a seleção francesa para não correr o risco de vencê-la e, assim, se tornar a primeira colocada do grupo, o que, teoricamente, lhe colocaria numa parte mais complicada do chaveamento final. E segundo porque o mundo tá vendo e isso importa sim.

Importa porque na hora de falar bonito sobre o quanto o futebol movimenta milhões, bilhões, e mobiliza pessoas de todos os cantos, é tudo lindo, pauta boa, números altos, sucesso econômico, comercial, é o novo futebol. Acontece que este mesmo critério protege quem pagou caro, caríssimo, por viagens, hotéis, ingressos e cervejas, e tem o direito de contemplar algo diferente de um jogo de cartas marcadas. Se é essa a regra do jogo na hora de muito engravatado enriquecer, é essa também a lógica da coisa quando muito torcedor comum é esportivamente enganado, como foi o caso de Dinamarca 0x0 França, o primeiro zero-a-zero da Copa, e um zero-a-zero proposital. Vergonhoso.

Resta a este que escreve o desejo pela redenção tardia, pautada na certeza de que o jogador de futebol, quando se aposenta, guarda na memória sensações, não números de placar. A vaia que os jogadores da Dinamarca tomaram continuará nítida em seus ouvidos, assim como os peruanos nunca vão se esquecer da volta olímpica que deram eliminados. É o que fica. A mente preserva estes contrastes de emoção com muita categoria. O time dinamarquês desperdiçou uma chance de agradar o torcedor, o consumidor e o financiador do futebol e da Copa do Mundo, mas fez algo pior para a posteridade de seus personagens: esta parte da história eles não vão contar para os netos.

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