E aí, o clima de Copa do Mundo pegou ou não pegou? Ah, por aqui já pegou e fizemos esse podcast pensando nele, no torneio mais famoso do mundo que começa nesta quinta-feira, dia 14 de junho.
Falamos com a jornalista da Rádio Globo/CBN, Ana Thaís Matos, que está no Rio de Janeiro para ser uma das comentaristas do SporTV durante a competição. No bate-papo, a repórter falou sobre os desafios de ser mulher e ocupar espaços tão importantes dentro do jornalismo esportivo, como o de comentarista, narradora, apresentadora e etc.
Ana Thais falou como surgiu o movimento “DeixaElaTrabalhar e reforçou a mensagem de que todos nós estamos passando por uma reconstrução. “Uma colega me disse que nunca tinha sido era vítima de machismo no ambiente de trabalho. Eu achei estranho e até disse que ela era uma das poucas nesse meio. Mas depois, observando com calma, ela me confidenciou um caso claro de machismo, quando ela tinha uma informação correta para gravar um boletim, mas os chefes não a deixaram dar a notícia. Pediram para um homem checar previamente se a informação que ela tinha estava correta”, nos disse.
Ana Thaís, que comentará diariamente todos os jogos do Mundial no Troca de Passes pelo SportTV, também falou sobre suas referências femininas no jornalismo, sua Copa do Mundo inesquecível e palpitou sobre as três seleções que irão chegar longe nesse Mundial.
Às vésperas da Copa do Mundo, conversamos com o jornalista Fabrício Vitorino, que toca o blog Falando Russo, para tratar do fenômeno da violência entre torcedores russos.
Nossa bancada também debateu o surgimento dos hooligans dentro e fora do país sede, além da atuação dos brigões em outros mega-eventos no passado.
O Bundesliga no Ar está em tempos de Copa do Mundo e especialmente se chamará Alemanha na Copa: a qualquer momento, durante as gravações do Central 3 na Copa (ao vivo, às 20h, no Facebook da Central 3, e na íntegra no feed da Trivela), Gerd Wenzel chega com suas análises sobre a Alemanha no Mundial. Nesta primeira edição, às vésperas da abertura do torneio na Rússia, ele trata da chegada dos atuais campeões – quão favorita é a equipe alemã ao título da Copa?
Começou nossa cobertura de Copa do Mundo: todo dia, ao vivo às 20h, nas páginas da Central 3 e da Trivela, chegamos com uma equipe reforçada para tratar do Mundial. No feed, o programa cai diariamente na lista da Trivela – adicione no seu tocador de podcasts!
Na estreia, às vésperas da abertura da Copa, falamos de Rússia x Arábia Saudita, da demissão de Lopetegui do cargo de técnico da Espanha, da definição das sedes do Mundial de 2026 e da seleção alemã chegando para defender o título. Com Paulo Junior, Matias Pinto, Felipe Lobo, Bruno Bonsanti e Gerd Wenzel.
Filipe Figueiredo e Matias Pinto embarcam numa aventura ambiciosa: contar a História Global dos últimos cem anos, acompanhada pelas Copas do Mundo e como os torneios refletem as sociedades de suas épocas. Começamos pelo período que é chamado de entreguerras, vendo os caminhos que o mundo percorreu desde 1919 até 1939: o fim da Primeira Guerra Mundial, a crise de 1929 e a ascensão de regimes autoritários.
Depois, vamos do final da Segunda Guerra Mundial e seu legado, com o imediato pós-guerra e até o início da Guerra Fria. Junto com esses eventos, vemos as mudanças tecnológicas, científicas, culturais e sociais que acompanham a sociedade. E, claro, traçamos um panorama das primeiras Copas do Mundo, seus atores principais e vencedores.
O #VaidapéNaRua entrevistou Mônica Rosenberg, pré-candidata a deputada federal pelo Partido Novo em São Paulo e integrante do grupo RenovaBR, que busca a renovação na política e vai lançar candidaturas em todo o país.
Nos estúdios da Central3, Mônica Rosenberg falou sobre sua trajetória como fundadora do Instituto Não Aceito Corrupção e as propostas para diminuir os desvios financeiros no Estado, sua principal plataforma de campanha. Além disso, o programa debateu as propostas liberais do Novo, como a defesa da privatização da Petrobrás e de outras empresas públicas e o apoio às reformas trabalhistas e da Previdência.
A presença da pré-candidata segue a série de programas do #VaidapéNaRua para receber postulantes a cargos públicos e atores políticos para debater o processo eleitoral de 2018.
A equipe do #VaidapéNaRua contou com Xei e Gil. A coluna do Mano Próximo lembrou o Massacra de Mueda, em Moçambique, em 1960.
A coluna do grande Pae Vito aqueceu o clima para a Copa do Mundo e falou sobre o lançamento do álbum inédito do grande John Coltrane.
Escute o programa na íntegra e assine o feed do #VaidapéNaRua. Siga sintonizado também todas às quartas-feiras, a partir das 18h, ao vivo, pela Central3 e pelo Facebook da Revista Vaidapé.
Em clima de Copa do Mundo, o Paddockast #09 fala do GP do Canadá e traz a prévia das 24 Horas de Le Mans com o Rodrigo Mattar, junto de uma entrevista exclusiva com Daniel Serra. A vitória de Lucas Di Grassi e a possível aposentadoria de Dani Pedrosa também estão na pauta, além da “Copa do Mundo dos Pilotos” — quem vai ganhar essa competição?
Você que tantas vezes se vê levado a confundir a reação do oprimido com a violência do opressor. Que acredita que toda multidão ao marchar contra a polícia é de vândalos e baderneiros, que incompreende, nem percebe que quando se maltrata, se humilha, se acua, em algum momento a presa revida, parte para cima. A você, uma breve história do que ocorreu em Nova Iorque, em 28 de junho de 1969.
Era um bar chamado Stonewall. Gueto de gays e lésbicas, transexuais e travestis, que precisavam se esconder para se expressar, amar quem queriam, paquerar sem olhares escandalizados, dançar como ensaiavam no quarto. Uma fissura na rigidez, por onde se puxava oxigênio.
Não tinha luxo, falta de água uma constante, cabia menos gente do que acolhia, mas naquele aperto, de roça-roça até agradável em certos momentos, se podia ser quem se era sem a máscara tolerável do lado de fora.
Nem tudo era paraíso e abrigo, paz, sexo e amor. Visado, o bar vivia constantes investidas da polícia, que chegava prepotente, menosprezando. Estigmatizados, os frequentadores eram tripudiados, agredidos, emparelhados, baculejados, alguns escolhidos, quase em sorteio, para a chacota da noite.
Nada havia contra eles. Apenas a sentença prévia: abjetos.
Ano a ano, gota a gota, desde a abertura do bar, em 1963, a represa suportou. Certa noite, conta-se, alguém (homem ou mulher, não se precisa) foi arrastado para a rua pelos guardas. Presa, começou a ser surrado porque reclamou que as algemas a apertavam demais. Olhou para os que assistiam. Gritou: “Me ajudem!”
Estourou.
O que era submissão virou reação. O que era cabeça baixa virou voz alta: “Gay Power”. A polícia ficou perplexa. “Como assim resistência? Como assim deixaram de ser pacíficos? Cadê aqueles subalternos?”
É. Fedeu. É. Ligaram o PHoda-se. Havia sido deflagrado um dos mais históricos motins nova-iorquinos. Garrafas voaram. Pedras, moedas, sapatos, o que havia a mão.
Travestis desceram do salto, veados mostraram que descer a porrada não é privilégio único de machões. Gente de outros bares começou a se agregar, tomaram para si. O volume cresceu em igual proporção à indignação, aos insultos guardados. A batalha foi quase até o amanhecer.
É. A multidão foi dispersa. É. A polícia ganhou naquela noite. Muitos foram presos, espancados, hospitalizados. Stonewall, o bar, foi arrasado.
Mas se enganou quem pensou que as bichas, as sapatões e as travestis enfurecidas estavam apenas de piti e que morria ali. Ganharam a simpatia de diversos cidadãos. Por cinco dias, eles se reuniram e cobraram, se manifestaram. Marsha Johnson e Silvia Rivera, travestis, eram algumas líderes, que viraram ícones. Deram origem a Frente de Libertação Gay. Vieram muitas outras associações, outras passeatas, mais gente, mais LGBTs.
O preconceito não evaporou, nem o medo, nem os esconderijos. Nem todos os gays viraram leões, nem os oficiais passaram a respeitar. Mas a intolerância levou a primeira pedrada e tonteou. Veio se aguentando em pé, mostrando os dentes afiados quase sempre, por bicho perigoso que é. A subserviência idem. Entretanto, no cambaleio.
Dali a 44 anos depois, a Suprema Corte dos Estados Unidos derrubou a lei que impedia que o casamento igualitário ocorresse. E Edith Windsor, de 84 anos, autora da ação contra o trecho da Doma que define o matrimônio como “união entre um homem e uma mulher”, pôde ligar a seus amigos e dizer: “Casem-se” e “Quero ir imediatamente a Stonewall”.
Lá, conheceu Thea Spyer. Lá, elas dançaram a noite toda “a ponto de furar minhas meias”. Viveram por 42 anos, até 2009, quando a companheira morreu. Casaram-se no Canadá, mas não nos EUA. “Me sentia angustiada pelo fato de que, aos olhos de meu governo, a mulher que eu amei, de quem cuidei, com quem dividi minha vida, não era minha esposa legal, mas considerada uma estranha sem nenhuma relação comigo.”
Valeu a revolta. Valeu chamar para briga. Cada avanço na ira nada planejada e desorganizada da autodefesa.
Stonewall é a constatação do escritor francês Roman Rolland: “Quando a ordem é injusta, a desordem é um pouco de justiça”. E a espora inevitável e silenciadora do jornalista brasileiro Luís Gama: “Todo crime cometido pelo escravo contra seu senhor deve ser considerado como legítima defesa”.
Stonewall virou o símbolo de orgulho de gente que desde cedo, desde sempre, é ensinada a se envergonhar de si mesma e que precisa lutar muito, inclusive contra a própria auto-opressão injetada por fora, para sair das sombras.
Stonewall foi uma marreta para abrir rachaduras e deixar escapar o sem mais condições de comprimir.
Apresentamos mais uma parte do ESPECIAL COPA DO MUNDO. E esse compilado está bom pra cacete! Histórias engraçadas, memoráveis e pra lá de curiosas.
Boa leitura!
49 – AS GAFES NA HISTÓRIA DOS HINOS EM COPAS DO MUNDO
O vídeo abaixo mostra, em 1986, o hino nacional brasileiro substituído pelo hino à bandeira antes do jogo contra a Espanha. Uma gafe inesquecível, e aparentemente fora até do protocolo da Fifa, já que o hino começa a ser tocado quando as equipes estão se preparando para bater a foto ao invés de se perfilarem – algo parecido com o ocorrido com os mexicanos na Copa de 1930, que se aqueciam em campo na hora em que o alto-falante, sem aviso prévio, executou o hino do país. Sócrates, o mais politizado daquele time, aparece na tela reprovando com a cabeça o erro da organização, que pode não ser diplomaticamente grave, mas é daquelas falhas primárias para uma competição de tal porte.
Mas não tem muito do que reclamar, o Brasil. Na Copa em nossa casa, em 1950, inventamos moda e decidimos tocar, em todo jogo, o hino brasileiro após os hinos das equipes envolvidas na partida. Era um constrangimento triplo. Já em 2014, o sistema de som do Beira-Rio pifou e negou a franceses e hondurenhos a execução dos seus hinos – a tão esperada Marselhesa não tocou. Antes o silêncio, porém, do que o erro, certo? Pois os alemães, em 1982, sentiram isso na pele. Em plena final da Copa, no lugar da canção alemã, uma música indecifrável ecoou no Santiago Bernabeu. Naquela mesma Copa de 82 a Polônia viu seu hino substituído pelo da Galícia, e, numa tentativa de conserto, executado corretamente, mas por cima do espanhol, os dois ao mesmo tempo.
Os africanos também se queixam. Togo, em 2006, teve de ouvir duas vezes o hino coreano, e nenhuma vez o seu, numa falha bizarra da organização. Já em 2010, a anfitriã África do Sul não tinha como executar seu hino completo, e isso é um problema em um país com graves fraturas sociais e raciais e cujo hino, em quatro partes, tenta agradar negros e brancos – só tocou a parte em idioma zulu, dos negros.
Não são gafes tão simples quando esbarra em questões sociais ou diplomáticas, como foi em 66: a Inglaterra, sem relações diplomáticas com a Coreia do Norte, aboliu as execuções de hinos em sua Copa, só para não ter de tocar o coreano.
No fim das contas, a Fifa, para dar tempo de tudo bonitinho, decidiu, de forma controversa, limitar as execuções dos hinos a 90 segundos cada. Sua tentativa de agilizar o jogo causou um belo efeito, consagrado de vez na Copa de 2014: as torcidas e os jogadores fazem questão de cantar seus hinos até o final, e não há outra saída a não ser esperar que assim o façam. O resultado é quase sempre muito bonito e catártico. A torcida cantando seu próprio hino é a forma mais segura de não haver gafe com as execuções dos ditos cujos.
48 – UMA DECEPÇÃO TRIPLA CHAMADA COSTA DO MARFIM
Em março de 2006, a Costa do Marfim confirmou as suspeitas sobre si: venceu a Espanha em solo espanhol, 3×2 com atuação exuberante. Os campeões africanos de 1992 estavam tardiamente, mas enfim, classificados a uma Copa do Mundo, e eram, na ocasião, muito mais que um azarão africano. A seleção já tinha atletas consagrados, o capitão já era Didier Drogba, e de Pelé ao Bolão da Firma, todos acreditavam naquela forte equipe que se propunha a representar a ginga africana com uma maturidade europeia que, dizem os detratores, faltaram noutras seleções similares. O que faltou mesmo foi um grupo mais acessível.
Tendo que brigar com Argentina e Holanda, ficou difícil, e os marfinenses voltaram pra casa cedo e sem culpa. O tal do grupo da morte absolveu a turma de Drogba, que voltaria em 2010 com uma seleção mais encorpada e experiente. Porém, novamente o sorteio foi padrasto, e os elefantes tiveram de encarar brasileiros e portugueses. Outra vez os “mais talentosos do continente” ficaram na primeira fase. Com o Mundial em solo africano, agora a esperança era maior, e a frustração foi inevitável, ainda que, outra vez, houvessem os descontos – empatou com Portugal na primeira rodada, e a seleção lusitana contou, na rodada final, com a pouca fome dos brasileiros para empatar e eliminar o time africano.
Chega a Copa de 2014. É a última chance de uma geração que já começa a ser substituída aos poucos. Drogba já caminha para o desfecho de sua carreira de alto nível, e agora a sorte diz sim: Colômbia, Grécia e Japão são os adversários. Passar de fase parece ser o mínimo, ainda mais quando, na estreia, vencem os japoneses de virada em Pernambuco. Coube ao time grego, na rodada final, contar uma outra história sobre aquela Costa do Marfim: era um time soberbo e frio desde sempre. Precisava do empate, tinha mais time, teve os espaços e as chances, mas era, mesmo com toda a história de Drogba e tantos outros, um time de indivíduos que nunca mereceram, juntos, sorte muito melhor, mesmo. Deram a vaga no último minuto com um pênalti bobo.
A grande história africana em Copas do Mundo ainda está para ser contada, acredita este editor que tanto confiou na Costa do Marfim. Camarões de 1990 continua sendo a mais digna campanha, e a talentosa geração marfinense que não deu em nada só contribuiu para esta impressão.
47 – A TURQUIA DE 2002 E A ILHA DE REALIDADE CERCADA DE FRUSTRAÇÕES POR TODOS OS LADOS
Duas participações em Copas do Mundo é pouco demais para quem gosta tanto de futebol quanto o povo turco. Mas, pelo menos, aproveitaram bem a última chance que tiveram: em 2002, 48 anos após o 7×2 sofrido que os despacharam do Mundial da Suiça, os turcos chegaram para o Mundial sentindo o perfume do sucesso clubístico de dois anos antes, outro feito inédito no país, quando o Galatasaray de Hagi e Taffarel – mas de tantos turcos – foi campeão europeu. Coincidência não podia ser, e a Turquia, em um grupo acessível, tinha todos os motivos do mundo para chorar após a estreia contra o Brasil, na qual saiu vencendo, jogou bom futebol e só foi derrotada no fim, com um pênalti inexistente e sequente atuação teatral de Rivaldo.
Depois, a Turquia passou por Costa Rica, China, Japão e Senegal. Nada fenomenal, né, mas o outro time anfitrião, na outra chave, avançava com apoio do apito e da torcida, enquanto Senegal, que já tirara o atual campeão do mundo, era dono de futebol pra lá de atraente. Aquela Turquia que atingiu a semifinal da Copa e pegaria de novo o Brasil, onde outra imagem entraria para o imaginário afetivo da bola: Denílson sendo perseguido por quatro defensores turcos, raivosos com o jeito desdenhoso, molenga, engraçado com que o atacante tratava seus 15 minutos de cancha. A imagem até que retrata bem o caráter daquela seleção turca, enérgica, fervente e solidária. Foram recebidos como campeões em Istambul.
A Copa do Mundo de 2002, tecnicamente, talvez tenha sido a pior de todos os tempos, e isso respinga nos turcos, mas sem manchar. Outra vez deram trabalho para o Brasil, finalista com um 1×0 de respiração presa sobre os vermelhos. Suaram, junto de água, cultura de futebol, e é disso, também, que se trata o jogo. Não é muito diferente do que o Uruguai fez em 2010 ou a Irlanda fez em 1990. Na disputa de terceiro lugar, o gol mais rápido da história dos Mundiais, e vitória sobre a Coreia – sim, os turcos venceram os dois anfitriões. Mais um ciclo de brilhos continentais viriam pela frente para os turcos, junto de um doloroso e insuficiente 4×2 contra os suiços em 2005: mais um gol, e a Turquia jogaria a Copa na Alemanha, onde milhões de turcos moram e onde construiriam atmosfera inesquecível.
A vida das seleções medianas é assim, mesmo. Um ou outro momento para se lembrar, e tantos momentos inesquecíveis que não aconteceram por pouco. O time de 2002 conseguiu virar realidade,e isso, para os turcos, não é pouco.
46 – DAVID BECKHAM, A SEXTA SPICE GIRL, A DIANA SEM CORÔA E UMA DÉCADA INESQUECÍVEL NA INGLATERRA
Se a década de 90 do futebol inglês começou com o contraste harmonioso entre Gary Liniker, um lorde, e Paul Gascoigne, um desajustado, logo ele foi tomado pelas circunstâncias do país, como costuma ser quase sempre. Neste caso, as circunstâncias da Inglaterra da década de 90 pediam, quase em desespero, o fim daqueles tempos carrancudos, severos e opressivos de Margaret Thatcher, cujo mandato (com ares de reinado) terminara, após 11 anos, em 1990. Coisas novas precisavam chegar naquele país.
Do ponto de vista da bola, a Premier League era o fato novo a ser festejado, e, dele, emergiu um personagem ideal: David Beckham era a Lady Diana do futebol, o sexto membro das Spice Girls do mundo pop, e era muito, muito bom de bola. Atleta símbolo de um Manchester United que traduzia em títulos como deveria ser o novo futebol inglês, tinha no fundinho de seu jogo um pouco do estereótipo do futebol inglês: cruzava bolas como ninguém. Não era Liniker, não era Gascoigne, não era nada que já tivesse acontecido antes. E era o dono de metade dos outdoors na Inglaterra em junho de 1998.
Porém, um lance bobo, tolo, um revide fraco a troco de nada, deu a Beckham o cartão vermelho no jogo que eliminou a Inglaterra daquela Copa, justo contra os inimigos argentinos. Lady Diana morrera um ano antes, o mundo ouvia as Spice Girls, mas só Beckham praticava uma atividade que envolvia cartão vermelho, disputa em pênaltis e derrotas amargas. No ano seguinte, ainda com o carimbo de VILÃO na testa, Beckham casa com uma das Spice Girls. Sua imagem vai sendo restaurada, mas o jogo continua sendo o jogo. Beckham faz um gol antológico em 2001, que põe a Inglaterra na Copa de 2002. E fratura o pé pouco antes do Mundial.
O país abraça com empatia sua luta e torce pela recuperação. Ele fica pronto a tempo de enfrentar novamente a Argentina, e, quando o árbitro marca pênalti para os ingleses, não era apenas um camisa sete de nome Beckham que iria cobrá-lo, mas todos os sentimentos de uma década inesquecível de um país difícil de interpretar, tão preso e orgulhoso de seus hábitos tão conflitantes entre si. Beckham faz o gol da vitória, a esposa, ex-Spice Girl, aplaude na arquibancada, e a Inglaterra amanhece mais ou menos igual todos os dias – a Inglaterra é, ou finge que é, mais ou menos igual todos os dias.
43 – A COPA DAS MANIFESTAÇÕES E O MUNDIAL AMANSADO
Curiosamente, o Brasil jogou todas as Copas das Confederações até a edição do ano passado, e é o maior campeão deste torneio cuja ideia é até legal. O feito mais importante do Brasil em relação à “Confederations Cup”, no entanto, foi fora dos gramados. A edição disputada no Brasil, em 2013, foi marcada pelos potentes protestos nos lados de fora dos estádios, que refletia um movimento nas ruas do país sem precedente para toda uma geração. Depois distorcida por interesses narrativos, as manifestações de junho de 2013 certamente assustaram e preocuparam os mocinhos da Fifa que imaginaram um país ajoelhado diante de suas gravatas.
A “Copa das Manifestações” fez alguns jogos cheirarem o gás lacrimogêneo soltado pela polícia nos arredores das arenas, cujos preços, para não falar das escolhas arquitetônicas, afastou um público que sempre sustentou emocionalmente o futebol no país. O ponto de saturação chegaria, e chegou, sociedade frustrada do lado de fora, corte econômico opressivo do portão para dentro, prato cheio para um embate para Thiago Leifert nenhum ignorar.
Na final, por exemplo: Brasil x Espanha jogariam no Maracanã, mas duas manifestações juntaram cerca de 15 mil pessoas em protestos não apenas contra os gastos públicos para a construção dos estádios, mas também, no caso específico do Rio, contra as remoções de moradores afetados pelas obras para a Copa do Mundo. Antes de Espanha x Taiti, na primeira fase, cerca de 300 mil manifestantes andaram entre o centro e o estádio que um dia foi o Maracanã – covardemente reprimidos por uma polícia com alto grau de criatividade para a violência. Se torcedores dentro do Maracanã não tivessem sentido os efeitos dos sprays da polícia, a ação teria sido considerada um sucesso.
Das manifestações de 2013 para o “Ei Dilma, vai tomar no cu” da abertura da Copa, muito trabalho foi feito no sentido de amansar as vozes que realmente reivindicavam algo contra a violação brutal de rotina que a Fifa impôs às suas escolhidas políticas como cidade-sede ca Copa. A Copa do Brasil, a tal da “Copa das Copas”, foi uma leve brisa que mal movimentou a gravata de quem desejava chutar, o quanto antes, o nosso traseiro. A Copa do Mundo como evento absolutamente alheio à realidade do país onde finca os pés deveria ter, em 2014, seu capítulo mais crítico, radical, responsivo. Não foi. Vem aí a Copa do Qatar.
42 – OBDULIO VARELA, O DEUS DO FUTEBOL URUGUAIO, UMA RIFA POR UMA CASA E A VELHICE AMARGURADA
Obdulio Varela era “centromédio” do Peñarol e o principal jogador da seleção uruguaia que, em 1950, conquistou sua segunda Copa do Mundo, ou o quarto título mundial na conta deles, que consideram os Jogos Olimpicos pré-Copa como tal. O “Chefe Negro”, asmático, de família humilde, marcador implacável e dono de retidão inquebrantável, liderou greve de atletas um ano antes do Mundial e liderou a Celeste na tarde do Maracanazzo.
Quando Friaça abriu o placar, 1×0 pra nós, Obdúlio encarnou um espalhafatoso ator, mesmo convicto de que seu esforço seria em vão – mas não seria: seu objetivo não era convencer o árbitro de impedimento no lance, mas retardar o reinício da partida o suficiente para que a ensurdecedora gritaria dos duzentos mil brasileiros diminuísse de volume. Palavras dele: “Jogador tem que ser como o artista: dominar o palco. Como o toureiro, dominar a arena e o público, senão o touro vem pra cima”. Sua leitura, no fim da tarde, não só fazia sentido como havia funcionado.
Obdulio Varela, campeão do mundo, bebeu em Copacabana naquela noite, como anônimo. Conta que só assim, testemunhando, percebeu o quanto aquela partida era importante para os brasileiros, a quem ofertou, de coração, solidariedade sem, no entanto, revelar sua identidade, profundamente conhecida em solo uruguaio: sempre duro na queda, foi, aos poucos, se tornando um arrependido por defender quem defendeu, não o seu povo, mas os dirigentes por trás da seleção, os quais ficaram até com sua medalha de campeão. Uma campanha, com rifas, daria uma casa a Obdulio em 1954, mas muita gente enriqueceu com a fraude que tal campanha se tornou: Varela, sem ganhar casa alguma, envelheceu amargurado com o pouco reconhecimento e com os rumos de um futebol muito distinto daquele que um dia o encantou.
“Se tivesse que jogar outra vez aquela final, faria um gol contra. A única coisa que conseguimos ao ganhar esse título foi dar brilho aos dirigentes. A mim castigaram muito e não aguento. Não vale a pena pôr a vida em uma causa que está suja, contaminada”. Em 1993, Mário Magalhães entrevistou Obdulio varela para a Folha de S. Paulo antes de Brasil x Uruguai pelas eliminatórias da Copa. Não é exatamente uma entrevista. Mas o ótimo Magalhães consegue nos mostrar o retrato de um gigante deprimido. Leia você mesmo, abaixo. Obdulio varela, titular absoluto de qualquer seleção da história das Copas do Mundo.
41- OS DESFALQUES DE SUPERGA, O MEDO JUSTO DO AVIÃO E A ITÁLIA SEM GRAÇA NO PACAEMBU
Hoje é aniversário da tragédia de Superga, que, 69 anos atrás, matou 31 pessoas em um acidente aéreo. O desastre vitimou toda a equipe do Torino, principal time da Itália, pentacampeão nacional e base da seleção italiana que, no ano seguinte, tentaria o tricampeonato na festejada volta da Copa do Mundo. É possível que, diante do controverso bicampeonato de uma seleção italiana na contramão de um espírito político-esportivo desejável no mundo na década de 30, a tragédia e os consequentes desfalques da Azurra não tenham sido tão sentido pelos amantes do futebol, dispostos de antemão a torcer contra o tricampeonato daquela seleção. Além do mais, por motivos logísticos, financeiros ou políticos, haviam outras seleções se recusando a jogar a Copa no Brasil.
A Itália, traumatizada e desfalcada, veio, por via de qualquer dúvida, ao Brasil de navio. A estreia, no já clássico Pacaembu, foi contra a Suécia, campeã olímpica de dois anos antes, mas desfalcada de seus principais jogadores, que atuavam, ironicamente, no futebol italiano e não foram convocados por política sueca de não chamar quem atuava fora do país. Um jogo mais lembrado, portanto, pelos desfalques do que pelos titulares, vencido, por 3×2, pela Suécia. O outro jogo dos italianos, de novo no Pacaembu, terminou em vitória inútil por 2×0 sobre o Paraguai. Já eliminada, a Italia colocou o time quase todo reserva na ocasião, pegando o navio de volta com frustração na bagagem e a lembrança dos mortos de Superga nas negativas manchetes.
Foi uma Itália comum, discreta, em solo brasileiro, assombrada pelo time que não vimos existir em um Mundial, fosse no de 46, quando a Copa nem aconteceu, fosse no de 50, que chegou tarde demais para eles. No aniversário de morte daquele esquadrão grená, uma lembrança a todos os grandes times, e personagens, que a Copa não viu – alô Heleno de Freitas, salve Friedenreich, viva Adolfo Pedernera, que pena, Di Stefano, faltou pouco, George Best. A Copa, que sempre rende lindas imagens em embarques e (principalmente) desembarques após belas campanhas, ainda não rendeu, ufa, nenhuma história triste envolvendo transporte de seleções. Dennis Bergkamp, após viajar pra (e dentro da) Copa de 1994, decidiu que nunca mais entraria em um avião, algo que colocou em contrato ao assinar com o Arsenal no ano seguinte. E a Copa, sabem os torcedores e turistas, se transformou, nas últimas edições, no paraíso (ou no inferno) do deslocamento: por exemplo, o Uruguai, em 2014, meu deus, foi pra Fortaleza, depois pra São Paulo, e depois foi pra Natal para em seguida voar para o Rio – haja milhas. Mas aí eu já estou divagando muito.
Recebemos Paulinha Ishibashi, que terminou em 2018 um ciclo de 14 anos pelas Yaras. A atleta analisou esta nova fase, além de visões e opiniões sobre a modalidade no Brasil!
Grande Lirinha! Raiz forte do Cordel do Fogo Encantado, ele veio visitar Thunderbird e falar de carreira, música, o começo de tudo, a poesia, as incursões no cinema, a parceria com o inesquecível Miranda e, olha, muito, muito mais – de Copa do Mundo a Faustão!
A Série D entra nas oitavas de final enquanto a Série C vai para o returno da Fase de Grupos. Esses foram os dois temas principais do programa dessa semana, que também abordou a primeira derrota do Fortaleza na Série B e o Sport brigando pelas primeiras posições no Brasileirão. Tudo isso já embalado pelo ritmo do São João.