Posts

Mulher do Pai (2017)

por Murilo Costa*

Após uma bem sucedida carreira em festivais brasileiros e internacionais, o longa-metragem “Mulher do Pai” desembarca no circuito comercial trazendo na bagagem importantes prêmios, como o de direção, fotografia e melhor atriz coadjuvante acumulados no Festival do Rio de 2016, além do Prêmio Abraccine na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e de exibições nos festivais de Berlim e Guadalajara. O filme, dirigido por Cristiane Oliveira, é uma coprodução entre Brasil e Uruguai e situa-se em uma pequena cidade próxima a fronteira entre os dois países.

OUÇA AQUI A ENTREVISTA DE CRISTIANE OLIVEIRA AO CENTRAL CINE BRASIL #61

No pacato lugarejo rural, o tempo passa devagar. A vida se arrasta sem pressa e sem novidades. Neste ritmo contemplativo, bem situado pela ótima fotografia de Heloísa Passos (de “Viajo porque preciso, Volto porque te amo”), os protagonistas Nalu e Ruben dividem o lar com a matriarca da família, envolvidos por uma rotina já estabelecida. Ruben é o homem da casa, mas se mostra apático e fragilizado por conta de sua deficiência visual; já Nalu é uma jovem de 16 anos, pouco à vontade em casa, mais preocupada com a escola e as amigas. Entre eles, a personagem da avó e mãe ocupa o lugar central e de domínio, como que intermediando as relações, conduzindo os dias e sendo responsável por manter o equilíbrio do lar. Sua repentina morte, ainda nos primeiros minutos de filme, precipita um conflito que se arrastará pelo resto da projeção.

Usando o personagem cego como ponto de partida, “Mulher do Pai” tem a visão como questão central. Os dois personagens principais, embora tenham vivido juntos desde sempre, de certa forma estão começando a “se enxergar” novamente, após muito tempo. É um processo de reaproximação e descoberta. O pai é obrigado a ver a garota de um novo jeito. Não apenas por necessitar de seus cuidados, mas pela convivência sem o intermédio da matriarca. Aos poucos, a filha vai se revelando também uma mulher, uma garota descobrindo a própria sexualidade e buscando sua independência. Já Nalu precisa se reaproximar do pai e ajudá-lo nas tarefas básicas do dia-a-dia, ao mesmo tempo em que passará a vê-lo também como um homem, com desejos novamente despertados e necessidades. É aí que surgem os conflitos, quando processos naturais acabam sendo apressados por essas novas circunstâncias.

No centro deste conflito, pode-se dizer que a geografia local tem importância fundamental na narrativa. A proximidade da cidade com a fronteira, sua distância dos grandes centros e sua característica rural faz com que os personagens pareçam estar em um estado de suspensão. É como se nada de novo pudesse acontecer por aqueles lados. A esperança de novidades e de novos está atrelada a cidade grande – Porto Alegre, no caso – ou ao Uruguai – seja Montevidéu ou cidades menores. Dentro dessas possibilidades, é Juan, um uruguaio de passagem pela cidade, que conquistará Nalu e abalará seu mundo adolescente e de hormônios em ebulição; enquanto para Ruben é a aproximação com Rosário – professora e amiga da filha – que forçará sua saída da letargia em que se afundou por auto-piedade e conformismo.

A pequena cidade rural, ancorada em valores masculinos de trabalho braçal, lida com animais e com o campo, não comporta as vontades de uma Nalu que está descobrindo a si mesma e ao mundo. “Mulher do Pai” tem um importante discurso feminino, com mulheres bem resolvidas, que procuram sua independência, seu lugar na sociedade. O olhar sensível, uma equipe criativa composta principalmente pelo sexo feminino e uma protagonista mulher já foram suficientes para que o filme fosse taxado de “feminista” em algumas matérias e críticas na imprensa, mesmo que o tom panfletário não pudesse estar mais distante.

A diretora Cristiane Oliveira adota um tom intimista, uma narrativa sóbria, focada nos personagens. Nos papéis principais, a estreante Maria Galant faz um Nalu segura, enquanto Marat Descartes – uma das novas caras mais “onipresentes”do cinema brasileiro atual – mantém a regularidade de suas boas atuações ao viver o sisudo Ruben. O roteiro é uma mini-trama de poucos acontecimentos. A preocupação maior está no tom, na estética, na ambientação e nos atores, tudo tecnicamente bem resolvido. Os enquadramentos rigorosos, precisos, e a iluminação cuidadosa revelam um Brasil ainda pouco visto nas telas, que foge aos estereótipos que nossa cinematografia costuma exportar para o mundo. Um Brasil de interiores, cidades pequenas, vida calma, pacata; do campo, da fronteira, do sotaque gaúcho e do portunhol. E que venham mais filmes assim, mais coproduções e uma maior integração do nosso cinema ao de nossos vizinhos latinos.

*Murilo Costa é cineasta e membro do podcast Central Cine Brasil.

Posts Relacionados

Trivela #133 Montillo e Penta 2002

A equipe da Trivela fala sobre Copa do Brasil, o adeus de Walter Montillo, os 15 anos da Copa de 2002 e a conquista do Penta, a Copa das Confederações e a divulgação do Relatório Garcia, que expôs o mundo de favores e corrupção na investigação sobre as candidaturas das Copas de 2018 e 2022. Ouça!

Posts Relacionados

Cine #61 Mulher do Pai

O Central Cine Brasil #61 conversou com Cristiane Oliveira, diretora do filme Mulher do Pai. O longa, em cartaz em todo o Brasil, foi exibido no Festival do Rio 2016, onde levou os prêmios de melhor direção, melhor fotografia (para Heloisa Passos) e melhor atriz coadjuvante (para Verônica Perrotta); ganhou o prêmio Abraccine na Mostra Internacional de São Paulo; e foi exibido também na Mostra de Tiradentes, no Festival de Berlim, no Festival de Guadalajara, entre outros.

Posts Relacionados

Posts Relacionados

Dos chinelos ao vídeo

*Por Gil Luiz Mendes

 

– A bola passou por cima do chinelo.

– Não passou.

– A bola foi alta.

– Mas passo no meio das sandálias.

– Mas foi por cima.

– Não foi.

– Me dá minha bola. Vou pra casa.

***

– A bola saiu.

– Saiu uma porra.

– Olha a linha aqui.

– Que linha? Tá tudo apagado.

– Mas a linha ficava aqui.

– Mas não tá.

– A bola saiu.

– Saiu um caralho.

***

– Foi no peito, professor.

– Se afaste.

– Olhe a marca da bola na minha camisa.

– Solte a bola ou te dou cartão.

– Não pegou na mão e você sabe.

– Solte a bola e não fale mais comigo.

– Vai tomar no cu.

– Tá expulso! Tá expulso!

***

– E aí, entrou ou não?

– Espera que estamos voltando o vídeo aqui.

– Vai logo, porra. Que demora.

– Esconde a boca com as mãos que estão com a camêra fechada em você.

– E aí, fala logo.

– Espera não dá para ver direito. Tem um zagueiro tapando a imagem.

– Bandeirinha nojento. Eu achei que não entrou, mas esse infeliz levantou a bandeira.

– Segura aí que o coronel tá ligando no meu telefone. Alô…

– …

– Seguinte. Falta seis minutos para acabar o jogo. Valida o gol, dá mais cinco de acréscimo, amarra o jogo com faltas no meio de campo e depois acaba. Pode ser?

– Beleza.

– Boa sorte.

– Obrigado.

 

*Gil Luiz Mendes é escritor e jornalista e comando o Baião de Dois na Central3

Posts Relacionados

Vaidapé #09 Reggae na Rua

O #VaidapéNaRua chegou a sua edição número nove. Para tanto, o programa recebeu Pedro Ribeiro, um grande historiador e disseminador da cultura Reggae no Brasil. O convidado apresentou referências e dados que mostram que a matriz negra no Brasil, advinda da escravidão, legitima o Brasil, assim como a Jamaica, como um dos países do reggae.

Pedro foi um dos percussores da Associação Nacional Reggae, uma instituição sem fins lucrativos, voltada para discussão e produção de atividades culturais que contemplem as minas e manos que seguem essa cultura milenar.

A associação foi responsável por criar em 2016 um edital específico para contemplar os diversos tipos de produção e atuação realizados pelos integrantes da cultura reggae. Ouça, baixe, compartilhe e acompanhe mais um programa da casa, YÊS!

Posts Relacionados

O Som das Torcidas #112 Tigre

Assine o Feed do Som das Torcidas!

Você pode ouvir o SDT assinando o RSS ou através do iTunes e do PlayerFM.

El Matador de Victoria!

Quase no limite da Grande Buenos Aires, ao nordeste, está localizada a cidade de Tigre que viu nascer uma equipe da juventude local em 1902. Quase trinta anos depois, já na época do profissionalismo, o Club Atlético Tigre mudou-se para Victoria, na cidade vizinha de San Fernando, e tornou-se a principal agremiação da região.

Apelidado de Matador, por conta do futebol ofensivo, forma o Clásico de la Zona Norte com o Platense, além das rivalidades com Chacarita Juniors e Nueva Chicago, esta acentuada pela morte de Marcelo Cejas, hincha do Tigre, quando os azules derrotaram os verdinegros na Promoción de 2007, que completou 10 anos no último domingo (25/06).

Mas não é só de rivalidade que se alimentam os felinos, afinal existem duas amizades de longa data com o Deportivo Morón e o Independiente Medellín. Ouça essas e outras passagens da história tigrense com trilha sonora formada por sucessos da cumbia villera, já que alguns dos principais nomes do gênero declararam o seu amor pelo clube, e do pop-rock argentino.

Conheça outras arquibancadas através do SDT

Acesse a página especial do podcast e visite também o site com a primeira temporada do Som das Torcidas em vídeo, numa turnê pelos estádios da capital paulista!

Posts Relacionados

O Rugby do Brasil em 2017

*Por Virgílio Neto

Os seis primeiros meses de 2017 foram sem sombra de dúvidas os mais intensos para a história do Rugby do Brasil. Nos clubes, toda a movimentação nas categorias de base e nas equipes principais, dentro dos torneios estaduais e regionais, masculino e feminino. Nas seleções nacionais, Yaras e Tupis a rodarem o mundo para colocarem o Brasil no topo e, em casa, a darem muita alegria para a torcida.

Os circuitos estaduais femininos de rugby sevens estão com tudo! No masculino, um Jacareí jovem e ousado é resultado de um excelente trabalho com as camadas inferiores. No XV, São Paulo viu um novo campeão, a Poli. No Rio de Janeiro, o tradicional Guanabara vencedor uma vez mais. Em Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, hegemonia intocável de Belo Horizonte, Curitiba e Farrapos, respectivamente. Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste com equipes e competições mais organizadas, nomeadamente Makuxi (Boa Vista/RR) e Melina (Mato Grosso). Por todo o País, torneios infantis e juvenis cada vez mais disputados, numerosos e concorridos. Ademais, inúmeras iniciativas de rugby escolar e de participação (como em Barroso/MG) fazem a nossa modalidade crescer mais a cada dia, com bastante qualidade.

Entretanto nem tudo são flores. Vários problemas ainda existem, como a escassez de recursos financeiros e espaços para jogos e treinos, como nas grandes cidades. No entanto, os recursos humanos são surpreendentes. Percebe-se mais ação do que discurso, com os envolvidos com o rugby no Brasil trabalharem de maneira incansável para fazer a modalidade crescer e se desenvolver. Exemplo disso é o São Bento, da capital Paulista. Mas certamente há muito mais Brasil adentro.

“O Rugby Brasileiro assombra o mundo”. Vocês se lembram desta frase, dita em comercial de TV há uns anos, com o apresentador sentado em uma poltrona no meio do campo? Não é mais exagero dizer isso. As equipes nacionais têm nos enchido de orgulho! Nos gramados do mundo, as Yaras venceram Inglaterra e Rússia, por exemplo. Fizeram frente às fijianas e deram muita dor de cabeça para as melhores seleções. Já os Tupis neste ano venceram, diante da nossa torcida, nada mais, nada menos que Chile, Canadá e Portugal. Há menos de dois anos tiraram o Brasil da 45a. colocação e o puseram na 29a do ranking mundial. Daniel Danielewicz, o Nativo, que se aposentou da amarelinha depois da – maior de sempre – vitória sobre o Paraguai, por 57 a 6, deixará saudades. No entanto, sobe uma geração faminta pela glória e que irá conduzir o rugby nacional ainda mais para o topo.

E este caminho é longo, intenso, com altos e baixos. Nada que o rugby Brasileiro não saiba, porque tem percebido – mais do que nunca – que tudo isso é fruto de muito valor, de muito empenho, dedicação e trabalho. Por isso ainda há muito para se ver, aprender, fazer, ensinar e transmitir. Vamos a isso.

Posts Relacionados

Thunder #152 Gal Costa em pauta

ASSINE O FEED DO TRS!

Você pode assinar o feed do TRS via RSS ou ouvir o podcast através do iTunes ou Player FM.

Gal!

Dandara Ferreira, documentarista que trabalhou firme, duro e muito bem no registro biográfico de Gal Costa, visitou Thunderbird e tivemos, assim, uma hora inteira de papo sobre uma de nossas maiores artistas.

Conheça um pouco deste trabalho, rodado para a HBO e que já nasceu clássico, documento necessário para conhecer, compreender e aplaudir a gigante Gal!

Posts Relacionados

Baião de Dois #68 A Final, Afinal!

ASSINE O FEED DO BAIÃO DE DOIS

Através do RSS ou receba o podcast com sotaque nordestino pelo DeezeriTunesPlayerFM ou Pocketcast.

Hiato!

52 dias depois da partida de ida, finalmente o Estado mais chiliquento em linha reta do Brasil conhecerá seu campeão. Mas não é só isso: novo imbróglio na Copa do Nordeste, mata-mata na Série D e vultosas cifras que podem tirar um dos craques da região também têm lugar em mais uma edição do BD2. Ouça agora!

Posts Relacionados

Mesa Oval #67 Binha

Assine os feeds do Mesa Oval!

O seu podcast de rugby já está no iTunes e PlayerFM ou assine o RSS e não perca mais nenhum episódio.

Yaras!

Recebemos Angélia Gevaerd, mais conhecida como Binha, atleta com mais de 10 anos de rugby e quase o mesmo período na seleção brasileira, desde os históricos jogos de XV em 2008 na Holanda até a medalha de Bronze nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, em 2015.

Acompanhe o Portal do Rugby!

Entre no site oficial e curta também as páginas de FacebookInstagram e Twitter da equipe.

Posts Relacionados

Judão #82 Diferenças criativas

Assine o Feed do Judão!!!

Para assinar o feed do Judão, basta clicar aqui. Você também pode ouvir o podcast via iTunes e Player FM.

O ASTERISCO

Com a terceira trilogia do Homem-Aranha prestes a estrear nos cinemas de todo o mundo, começam as conversas sobre o futuro do personagem nos cinemas — pra uns, um futuro brilhante, sensacional, cheio daquilo que o Universo Cinemático da Marvel tem pra oferecer. Pra outros, um futuro que se mistura com Venom, Gata-Negra, Kraven e tudo aquilo que a Sony quer oferecer há anos.

Enquanto isso, numa galáxia não tão distante assim, a LucasFilm mandou os diretores Chris Miller e Phil Lord embora do set do filme solo… do Han Solo, colocando a culpa nas tais diferenças criativas, aquele velho “não é você, sou eu” que, olha só, as vezes pode acontecer mesmo.

Em mais essa edição do ASTERISCO, o programa, podcast, talk show, o que você quiser sobre cultura pop e adjacências do JUDAO.com.br, convidamos a Mell, do canal Yada Yada, pra conversar com a gente no Estúdio Sócrates Brasileiro da Centrl 3 sobre a cultura pop que não foi, mas poderia ser… Y otras cositas más. 🙂

Vem de play!

Posts Relacionados