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Baião de Dois #53 Quem passa?

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Degola!

Tanto na Copa do Nordeste quanto na Copa do Brasil a expectativa é uma só: quais serão os classificados? Na Lampions a briga é pra saber quem serão os melhores segundo colocados e na competição nacional são poucos clubes da região que passarão à próxima fase.

Dez atacantes no elenco do Ceará e o impasse entre torcedores de ABC e São Paulo também estão na pauta!

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Fabrício e sua pipa

*Por Fagner Torres

Fabrício tem 11 anos. Ele mora na Favela do Terreirão e está no 5º ano do Ensino Fundamental. Um dia Fabrício me viu almoçando com um amigo num restaurante na boca da favela onde mora com a mãe e duas irmãs, de 6 e 15 anos.

A mãe de Fabrício é faxineira, e trabalha na Avenida das Américas, uma das principais da Barra da Tijuca, mais ou menos perto da favela onde a família mora, porém no coração dos emergentes cariocas. Ela trabalha de segunda a sexta. Nas férias, Fabrício fica sozinho com as duas irmãs, e quando a mãe chega, ela faxina também a própria casa, com a ajuda de todos.

Ao me ver almoçando, Fabrício se aproximou de nossa mesa, e com os olhos rasos d’água, fez uma pergunta desconcertante. “Tio, você precisa de ajuda?” Pensei que a aproximação se dera por conta das muletas que estavam ao meu lado – o motivo da minha presença ali – e respondi que não. Que estava conseguindo me virar com elas. Fabrício então continuou. “Eu te dou qualquer ajuda, tio. Eu quero trabalhar. Eu quero comprar uma linha de pipa!”

Após o nó na garganta instantâneo, convidei-o para almoçar conosco. Ele sentou e detonou o bife com fritas que estava à mesa. Conversamos sobre a sua vida, sobre os motivos que o levaram a pedir. Fabrício fala bem. Parece bastante articulado para o seu tamanho e idade. Gosta do Flamengo, é estudioso e bom de Matemática. Não tive coragem de dizer a ele que o estudo é tudo na vida, pois sei que as coisas não funcionam tão cartesianas assim para os meninos do Terreirão. É provável que Fabrício estude e seja ‘alguém’. Mas mesmo que esse caminho se cumpra, não consigo apostar as minhas fichas nisso.

Encerramos o almoço e ficou provado que Fabrício não tinha só fome de pipa. Meu amigo foi andar com ele para comprar o deizão de linha, enquanto aguardei no bar, com o pé imobilizado. No fim, minha torcida é para que Fabrício faça da linha sem cerol a sua própria vida: que corte todas as dificuldades que surjam, apare as oportunidades e voe o mais alto que conseguir.

*Fagner Torres é jornalista, blogueiro e apresentador do Lado B do Rio

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Mesa Oval #52 Raquel Kochhann

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Iara Catarinense!

De Pinhalzinho para o Mundo! Conversamos com a atleta da seleção brasileira, que falou da sua trajetória no esporte, desde os tempos de futebolista no EC Juventude, a apresentação ao Rugby e sua carreira atrás da bola oval.

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Judão #69 Música pra atacar Aliens, Ninjas e Zumbis

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O ASTERISCO

Talvez você se lembre dele muito mais como “o filho do Félix” da novela. Quer dizer, filho, depois irmão, depois filho de novo. Tanto faz. Mas o ponto é que o gaúcho Thalles Cabral não é do tipo que se acomoda no papel de “jovem revelação das novelas”.

No último domingo, por exemplo, estreou a série Manual Pra Se Defender de Aliens, Ninjas e Zumbis, na qual ele mergulha de cabeça num outro formato, cheio de referências pop. E até o final do mês (“se Deus quiser”), chega a sua primeira INCURSÃO no mercado fonográfico, Utopia, seu disco de estreia. E o mais legal é que o som tá longe de ser aquele pop mainstream de aspirante a galã: é um indie mais introspectivo, emocional, cheio de nuances.

De violão em punho, o Thalles, aquele que “canta alegre uma letra triste”, foi o nosso convidado da semana no ASTERISCO, fazendo um som ao vivo no Estúdio Sócrates Brasileiro, da Central 3 e falando sobre seu trampo no Projac, sobre fama, sobre a tristeza dos quartos de hotel, sobre referências, sobre cagadas em serviços de streaming, sobre aquela banda dos anos 80 que tá faltando, sobre a volta dos emos…

E como não podia deixar de ser, ainda deu tempo de falar sobre esta história do Matthew Vaughn como diretor do próximo filme solo do Superman (não tem nada fechado, mas estamos empolgadíssimos!) e resumir em DUAS PALAVRAS Punho de Ferro, a nova série do Netflix.

Aperta o play e vem com a gente!

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Dibradoras #71 Jonas Urias

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Cazá, Cazá, Cazá!

O Brasileirão começou neste final de semana e, para aproveitar o início do campeonato, falamos com Jonas Urias, ex-treinador do Centro Olímpico de São Paulo e, que desde janeiro, comanda o time feminino do Sport.

Jonas nos revelou um pouco sobre o projeto da equipe pernambucana e as ambições do clube para a temporada. “O Sport é um clube sem dívidas e demonstrou interesse em investir pra valer na modalidade. Não posso revelar valores, mas as meninas têm carteira assinada, alojamento, alimentação e toda a estrutura para que possam jogar bem”, afirmou o técnico que tem como meta fazer a equipe passar para a segunda fase do torneio e chegar entre os finalistas do Campeonato Pernambucano.

Na estreia, as rubro-negras empataram com o Audax em 1 a 1, em São Paulo. Segundo Jonas, a ansiedade atrapalhou: “As meninas sentiram o nervosismo da estreia, mas é normal. Fizemos um bom jogo e o empate fora de casa não é de todo mal”. O próximo desafio das leoas será contra o Grêmio, na Ilha do Retiro e a equipe espera o apoio dos torcedores.

Conversamos também Bruna Cotrim, zagueira da equipe, que aos 20 anos coleciona passagens por clubes como Santo André, São Bernardo, Foz Cataratas e Centro Olímpico. Bruna, que tem como exemplo Bruna Benites, Mônica e Rafaelle, já vestiu a camisa da seleção sub-20 e nos disse que vive a melhor fase da carreira. “Meus pais incentivaram minha vinda para Recife porque aqui eu tenho tudo que preciso pra jogar”.

No mais, comentamos os demais jogos da 1ª Rodada e palpitamos o Paulista sub-17, uma ótima iniciativa da FPF para fomentar o futebol feminino de base em São Paulo e servir como exemplo para outros Estados.

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Trivela #119 Dudu, um ídolo em campo

Golaço de Dudu é mais um capítulo da grande relação do atacante com a torcida do Palmeiras. uma história que começou a mudar a sorte do Palmeiras. Além de um jogador decisivo, se tornou uma referência e um líder em campo. Foi o grande destaque do clássico com o São Paulo, com uma confortável vitória do Palmeiras.

O programa ainda passa pelo patético erro de arbitragem em Juventude x Internacional, mais um da nossa arbitragem. Tem também uma passada pelo Goiano, que teve goleada do pequeno Goianésia contra o grande Vila Nova. Também tem Copa do Nordeste, que chega à última rodada com muitos destaques. Por fim, tem também o Barcelona e a semana de altos e baixos, depois de uma classificação improvável contra o PSG e uma derrota para um dos últimos colocados no Espanhol.

Vem com a gente!

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O mundo das boas intenções

Por Leandro Iamin

A pauta urge. Falta o profissional realmente bamba o suficiente para conquistar a confiança da turma. O círculo é fechado e a premissa original, chamada “fé”, une pessoas e, por consequência, ideias na mesma medida que afasta sem tolerância os observadores céticos, jornalistas inclusos.

Chamar o grupo de Atletas de Cristo não é, após 33 anos de vida, muito exato. Os Atletas de Cristo fazem parte de uma espécie de folclore do futebol brasileiro dos anos 90, e conseguiram, de fato, a lealdade de muitos esportistas sem, no entanto, terem suas intimidades impublicáveis desnudadas. O mundo mudou bastante dos anos 90 pra cá, e, embora a fé continue despertando a mesma sensação de proteção aos que a encontram, a prática é um pouco mais sofisticada e, ao mesmo tempo, intimista.

Um time de futebol tem sua ala evangélica, ou cristã, ou alguma denominação derivada destas. Essa ala tem seu próprio grupo, vamos dizer assim, de Whatsapp. E neste grupo está lá o representante da fé, o profissional da palavra, o estudioso dogmático. Ali, na mesma telinha onde, noutros grupos, estão o empresário e a família. Nas viagens da vida da bola ou nas frestas da rotina dos treinos, esse grupo se reúne pessoalmente e este “novo” personagem do esporte é ouvido com mais atenção que o próprio técnico dos atletas. E na mão dele, argumentos irrefutáveis se unem a práticas de exibição da fé. A concorrência é potente a qualquer voz contraditória e, em casos extremos, o contraditório minoritário fica sem espaço no vestiário.

Jogador de futebol se torna rico, muito rico. Se cerca, portanto, de tentações medonhas, falsos amigos, energias negativas, inveja e o escambau. É preciso guardar o dinheiro, menino, e aplicar uma parte. Não jogue fora nem divida o que fatura. Ele, o dinheiro, não aceita desaforo. Feche-se em sua família, não deixe que rompam ou invadam seu cinturão familiar de oração e conforto. Pense neles, não vale a pena nenhuma loucura que ponha em jogo o futuro deles. Orientações que servem, claro, igualmente ao jogador pobre, que também reforça estas fileiras. Com alguma interpretação a mais, é possível enxergar o próprio futebol, essencialmente um jogo de difícil compreensão emocional e cercado de contradições e salamaleques, como uma tentação medonha. Desfrutar este esporte pode desdizer muito do que é, vá lá, o correto.

Foi de repente, poucos anos atrás, que a comemoração “todos de joelhos após os abraços” pipocou pelo país. A mais recente é aquela apontada para o peito e depois para o céu, dizendo “não fui eu, foi Deus”. A hora do gol é a hora que o patrocinador mais quer aparecer, dá até cartão amarelo ocultá-lo nesta hora. Entre os negócios e a gratidão religiosa, tudo ao redor do autor do gol está protegido com um gesto neutro para um, devoto para outro. O tal do staff, tal qual aquele arroz que abraça o feijão, complementa a lista de valores que os homens da fé colocam na dieta do atleta: não se meta em confusão política, não fale verdades inconvenientes, não se torne alguém muito diferente do seu rebanho, mas seja diferente o suficiente para caber em um contrato bom, fale bem, mas não muito, faça o bem, mas não muito, que a linha tênue que te põe numa polêmica te ameaça sempre, pegue até uma doença, mas nunca pegue um apelido pejorativo.

Estão todos munidos de boas intenções. A palavra certa, o conselho positivo e a disciplina estimulada em uma linguagem de fé que cabe na cabeça de quem ouve já ajudou e até salvou muitas carreiras, e é legal saber que um jogador rico sustenta e paga bem outras famílias. É, entretanto, uma questão simples de valores – e não escrevo com coração ateu/comunista, mas, sim, com coração de torcedor – o incômodo com tantas cercas, ainda que bem-intencionadas, entre um jogador e uma arquibancada, que, paradoxalmente, hoje em dia nem precisam mais de alambrado no Brasil para se separarem, mas nunca estiveram tão longe entre si. Pois que uma cola pegajosa do discurso de qualquer fé envolve medo ou culpa, ao passo que a rigidez do pensamento econômico mesquinho subverte a possibilidade da espontaneidade como propaganda boa, e o resultado disso é o fim do jogador errante. E sem esse personagem o futebol deixa de ser uma representação metafórica da vida.

Resistem em grupos de Whatsapp igualmente ativos mas certamente menos numerosos os jogadores adeptos da boemia e da picardia. Suspeito e quero crer que alguns tomam decisões para a carreira levando em conta a badalação da cidade, a relação com a camisa ou uma chance de revanche, segunda chance ou coisa do tipo. Sem forçar a mão na tinta cinza, pode ser até que haja a intersecção, sujeitos que transitam nos “dois mundos”, alvos de desaprovação de um lado e deboche do outro, e que legal, gente rica não devia se levar tão a sério mesmo. Urge, a pauta e toda pauta que nos ajude a entender o que estão se tornando os jogadores de futebol de ponta. São figuras esquisitíssimas e incrivelmente frágeis. Uma caricatura, daquelas de jornal antigo, cheia de aumentativos, do que nossos abrigos espirituais, pecuniários, físicos e mentais podem fazer de nós.

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Conexão Sudaca #120 Lívia Laranjeira

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Ni Una Menos!

A jornalista paulistana falou sobre o começo da sua carreira, a cobertura da Chapecoense antes e depois da tragédia e a presença feminina na imprensa esportiva. Ainda sobre o acidente da aeronave LaMia 2933, nos emocionamos com a narração do primeiro gol da Chape em La Copa na voz de Rafael Henzel, um dos sobreviventes.

Também comentamos a primeira rodada da Fase de Grupos da Copa Libertadores, além de inaugurar um novo quadro: Rádio Bogotá espaço para questionar a soberba de certos jornalistas brasileiros em relação aos clubes da vizinhança. No mais, relembramos a origem do Dia del Hincha de Racing, celebrado desde 1999 no dia 7 de março.

Como acompanhamento musical, ouvimos o primeiro álbum da banda argentina Kumbia Queers, que completa dez anos, e fechamos o programa com a rapper chilena Ana Tijoux rimando contra o patriarcado.

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Xadrez Verbal #86 Malasia

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ATUALIDADES EUROPEIAS, POSSE DE ALOYSIO NUNES

Semana de tensão no Leste da Ásia! Enquanto a Coreia do Norte admite exercícios militares em retaliação a sua vizinha e EUA, a Malásia deporta norte-coreano ligado ao caso Kim Jong-nam, provocando a expulsão dos respectivos embaixadores em Kuala Lumpur e Pyongyang.

Atravessamos os Montes Urais e demos um giro pela Europa, onde teve renuncia de porta-voz conservador na França, troca de farpas entre Alemanha e Turquia, criação de imposto único e “Bolsa Família” na Itália, aprovação de lei contra asilados políticos na Hungria e o anúncio de um comando militar unificado da UE. Também analisamos o discurso do novo chanceler brasileiro e suas primeiras ações a frente do Itamaraty em mais uma edição deste motherf*cking podcast!

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Dias de Abandono

*por Paulo Junior

O treme-treme do celular pendurado na saída do ar-condicionado indicava a próxima passageira de nome Mercedes, a esperar na Alameda Santos num fim de tarde de manual na cidade mais entupida do país, de sexta-feira são vinte minutos para contornar aqueles 700 metros, garoa delicada para se desculpar por atrasos esperados, a voz que aponta vire à direita engolindo a narração da rádio trânsito, mas essa rádio só fala de trânsito mesmo?, só, e quando não tá trânsito?, então.

Dona Mercedes aparenta uns 65, tem uma mala de viagem daquelas de rodinhas, mas a carrega suspensa com a mão direita sofrendo para equilibrar as pernas, recusando ajuda enquanto o motorista abre a porta traseira, deixa que eu pego, obrigado!, e quando entram no carro o Roberto aperta do botão verde que confirma o início da corrida, 5h40 do destino, apareceu cinco e horas e quarenta minutos, tá certo isso aqui, senhora?, Avenida Vieira Souto, Ipanema, Rio de Janeiro?

– Isso.
– Mas não é melhor a senhora ir de avião, ou pegar um ônibus, porque eu precisaria falar com minha esposa, uma corrida para o Rio de Janeiro, assim, do nada, a gente vai chegar lá meia-noite e pouco, e eu não conheço a cidade para rodar de noite também.
– Vou chamar outro então.
– Não, calma, se eu cancelar a viagem eu perco minhas cinco estrelas.
– Que estrelas?
– A avaliação aqui, pega mal.
– Então prefere me levar?
– Não sei.
– Ué.
– Vamos.
– E as estrelas?

Roberto ligou para a Clara, que disse achar bom e ruim, bom porque ia render uma grana legal e eles estavam precisando, ruim porque ficava preocupada, ir até o Rio de Janeiro, voltar sozinho, essas coisas.

Ela imaginou que poderiam ficar anos sem se ver, a história da esposa cujo marido motorista pegou uma corrida para o Rio de Janeiro e resolveu fazer outra corrida na noite carioca, e outra até de manhã nas avenidas à beira da praia, e quando viu ficou uma década sem dar notícia, dizem que se casou por lá e tem dois filhos que puxam o sotaque como se fossem os sambistas do sofá da Regina Casé, e ela ficou imaginando um reencontro, porque nas primeiras noites madrugadas em claro Clara amaria Roberto como se não houvesse amanhã, até que um dia capricharia no vestido mais bonito e iria descer no samba da Casa Verde como se já estivesse tudo bem, é que quando se perde alguém a única certeza que se tem é que haverá um futuro pela frente, uma sequência de acontecimentos onde o rastro da memória está o tempo todo lhe fazendo tropeçar como aquela brincadeira de criança em que uma se agacha atrás de você e a outra te empurra para você se desequilibrar e levar um tombo daqueles, porque não basta cair, tem horas que parece que tem que ser A Queda, de cinema, inesquecível, e voltando à história da certeza o que deixava a Clara mais aliviada é que o futuro não ia ser tão ruim assim, não pior que o passado, imaginou, de onde vem essa dor de estômago, afinal?

– Alô, meu bem?
– Oi, amor, chegou?, tá no Rio?
– Tô, tô sem sono e tô voltando.
– Chega que horas?
– Umas seis.
– Te amo.
– Até já.

A máquina parou de bater, e Clara colocou a mais bonita camisola esperando o abraço de Roberto ainda antes do dia acordar, mas acabou surpreendida por um sono pesado onde só despregou os olhos às dez, a Marginal Tietê raiando, o celular com uma mensagem não lida.

– Fui trabalhar direto.

Tem um lugarzinho na varanda, são cadeiras de praia, nem as costas alinhadas à janela-porta emperrada, nem viradas totalmente às paredes, tem um lugarzinho meio torto, dá para ver a mesa carretel, um rastro do banco improvisado, o vaso pedindo mais água, as bitucas de palha se empurrando, um isqueiro azul bebê, um cinzeiro cor marrom, tem um lugarzinho que vez ou outra pinta uma tesoura de cortar fita, um martelo procurando dedos, um pincel seco sem tinta, migalhas de biscoito barato, tem um lugarzinho que é o preferido da Clara, torto como eles são, um pé no chinelo e outro apoiado na madeira, porque ela quer ver a mesa, o banco, o vaso e quer fingir ao imaginário fotógrafo desavisado que está sentada ali para esperar pelo pôr-do-sol, mas tem um lugarzinho torto onde ela quer mesmo é ver se tem alguém subindo a escada que vem da rua, ou se tem alguém invadindo a sala chegado da cozinha, quem sabe descendo dos quartos, tem um lugarzinho ali fora (ou seria dentro?), que vão cabendo todos os carinhos e lembranças do Roberto, aquelas que apoiam os dias inesquecivelmente difíceis, porque no fundo um casal não quer ser um quadro na parede, é vivo que às vezes nem aguenta, transborda, atravessa.

– Chegando?

Sem resposta, começou a ler Elena Ferrante, que começa com uma tarde de abril, logo após o almoço, meu marido me comunicou que queria me deixar. Lembrou das oficinas de contos, aqueles exercícios às quartas-feiras onde repetiam em semi-círculo os mantras da narrativa curta perfeita, a força da primeira frase, o desfecho-nocaute, a história oculta, aquelas frases ótimas como um conto é tudo aquilo que você chama de conto, pensou que seria muito mais fácil começar aquela história com uma frase definitiva dessas, que abriria o leque para uma saga de reafirmação e solidão num apartamento da zona norte de São Paulo, era um fim de tarde e meu marido foi para uma corrida no Rio de Janeiro e nunca mais apareceu, imaginou, mas a Olga, em Dias de Abandono, varia entre o vazio e a potência, é claro que o luto da perda faz parte do jogo, mas o barato é o contraste com a faísca do renascimento, alguém lhe disse que toda dor causa também uma delícia, vai ver é assim mesmo, e voltou para o livro da cabeceira, só havia perdido algumas lascas, de resto estava bem, porque quando alguém te pergunta se está tudo bem, está, no fim das contas, está.

– Na rua de casa.

Encantada pelo susto que não houve, foi esperá-lo encostada no batente da porta, copo de café na mão, ontem foi sexta, hoje é sábado, não sabe se a noite foi longa ou curta demais, jamais saberá, vai ver é o tempo, acho que sim, quanto tempo, amor!, tempo?, tempo!, tempo.

*Paulo Junior é jornalista, cineasta, escritor e o responsável por alguns podcasts da casa

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