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Jamil Chade: “Não há muito a esperar da eleição”

Por Gabriel Brito

Após o célebre 27 de maio de 2015, que marcou o fim de uma dinastia na entidade máxima do futebol, a FIFA terá novo presidente a partir deste final de semana, em uma eleição que envolve cinco candidatos vistos como velhos membros do desmoralizado establishment futeboleiro.

Uma semana antes, tivemos a oportunidade de encontrar o jornalista Jamil Chade, que deu uma palestra e uma breve entrevista aos presentes no restaurante Al-Janiah, recém-inaugurado no centro de São Paulo, um empreendimento animado por apoiadores da causa palestina e que emprega refugiados deste país e também da guerra da Síria.

O evento intitulado “O sequestro do futebol – como multinacionais, dirigentes, TVs e políticos corromperam o esporte mais popular do planeta” fala por si quanto ao teor da fala do jornalista, que também pode divulgar seu livro Política, Propina e Futebol, lançado recentemente, a destrinchar de forma clara as principais teias de exploração e corrupção do esporte mais popular.

“Pouco a pouco, você vai percebendo que a cobertura da imprensa sobre o futebol, digo tranquilamente, é vergonhosa. Saí de alguns jogos da seleção me sentindo sujo, por estar passando ao torcedor uma mentira, que ‘o Brasil teve um grande desafio nesta quarta-feira e se prepara para o próximo campeonato’”, começou.

O PROGRAMA FOLHA SECA #97 TROUXE TRECHOS DA FALA DE JAMIL CHADE, OUÇA

“Por muitos anos, não tive elementos pra desmentir o que eram esses jogos. Até que um dia teve um amistoso entre Brasil e Iraque (10/10/2012). No Brasil? Não. No Oriente Médio? Não. Aonde? Na Suécia. Deram a explicação de que o Iraque queria o jogo na Suécia. Ok. Mas o técnico do Iraque era o Zico e tive a chance de falar com ele. Perguntei:

– Mas por que você escolheu jogar aqui?

– Eu? Eu nem queria jogar contra o Brasil.

Aí vi que tinha muita coisa errada na história. Quem é que ganha com esse jogo? Poucas respostas, os organizadores dão suas desculpas, dizem que o local do jogo é bom pra todos se encontrarem…

Comecei a manter contato com uma pessoa que sabia das minhas indagações e começou a me passar vários e vários documentos, contratos oficiais secretos, e estes mostravam que os locais, escalação e até adversário eram de alguma forma comprados, como são a maioria dos aspectos que hoje vivemos no futebol. Aí me senti na obrigação jornalística de escrever o livro”, completou, referindo-se a um contrato que divulgou também no Estadão, jornal pelo qual cobre futebol e a FIFA há 15 anos.

Depois de uma série de matérias, artigos, gritos e manifestações de protesto contra essa nova ordem futebolística, calcada nos interesses comerciais e cada vez mais intolerante a pontos de vista tachados como “românticos”, a exemplo das discussões em torno de preços de ingressos, basta que deixemos Jamil Chade falar para vermos todas as desconfianças confirmadas em documentos, livros e, claro, prisões.

“O nosso sentimento de torcedor foi sequestrado pelos oligarcas da bola, que usaram dessa nossa paixão pra ganharem muito dinheiro. Até que veio o dia 27 de maio, no qual o FBI deflagrou a operação que levou à prisão diversos cartolas, como Marin, e o pedido de extradição de outros, como Del Nero. Não foi a vitória. Foi um dia de desabamento do império. Mas não há uma nova estrutura. Achar que a polícia sozinha vai resolver todos os problemas fazendo o trabalho dela e prendendo corruptos é a ilusão que não podemos ter”, analisou.

Antes de opinar sobre o processo eleitoral que veremos coroar o novo mandatário do futebol mundial, Jamil fez ponderações a respeito da inquietação que acomete qualquer torcedor, seja de estádio, seja de televisão.

“Não é uma denúncia contra o futebol, mas uma demonstração de que aquele futebol que crescemos vendo é mentira, não em relação ao fato de a bola entrar ou não, mas a tudo que cerca o jogo, como locais, juízes, TVs que transmitem, até a bola que será usada. Como torcedor, me senti na obrigação de contar de forma direta e transparente. Não pra dizer que não vale a pena gostar de futebol, vale sim, mas precisamos recuperá-lo”.

Quanto à Copa do Mundo de 2014, Jamil é categórico em seu livro, no qual afirma que a empreitada simplesmente não valeu a pena para o Brasil e tratou-se de um grande engodo, simbolizado na famosa promessa de Ricardo Teixeira em realizar o mundial “com 90% de dinheiro privado”.

“É importante que o torcedor também seja cidadão. A grande ilustração disso é a Copa de 2014, um grande exemplo de transferência de recursos públicos para uma empresa privada, sem nenhuma consulta à população, com o lucro recorde de todas as Copas (10 bilhões de reais) e mudanças na Constituição Federal para que a FIFA não pagasse um centavo de impostos no Brasil (1 bilhão). O maior evento do futebol mundial não deixou um centavo aqui. E não foi só isso, pois tivemos de construir os locais da festa, e fui uma das pessoas que ouviu da boca de Ricardo Teixeira que não haveria dinheiro público”, reiterou.

Quanto aos estádios, tampouco é necessário dizer muito, quando o ano começa com notícias de inviabilidade econômica das caras arenas geridas por consórcios privados, queda de um pedaço de meia tonelada da estrutura interna do Itaquerão e abandono da Arena Pantanal, inclusive com direito a focos de aedes aegypti, como mostrou matéria do SporTV na semana.

“Alguém achou que o futebol seria desenvolvido em determinados locais somente pela existência do estádio? Não é o que vemos em estados como o Amazonas, onde a média de público do estadual é 640 pessoas”, criticou.

Dessa forma, Jamil é cético quanto a possíveis mudanças positivas na condução do futebol mundial após a escolha de seu novo presidente, e lembra que a estrutura de apoio a esta casta não vem somente dos ambientes esportivos.

“Não adianta só atacar os cartolas. É preciso atacar os cúmplices, seja a classe política ou empresarial, patrocinadores etc. Vale lembrar que 10% do Congresso brasileiro recebeu financiamento de campanha da CBF”, observou.

Além de afirmar como o fracasso da candidatura “outsider” de Zico serviu para mostrar quão fechado é o cerco, Jamil concluiu sua participação afirmando que, por ora, não há motivo para que se creia em alguma grande transformação no mundo do futebol.

“Quem ganhar a eleição pouca diferença vai fazer, essa é a realidade. Vai ter novo discurso, vão falar de modernidade, de se descolar do passado, mas a FIFA só vai mudar quando passar por uma grande reforma, que publique salários, contratos, critérios de escolha… E talvez uma questão elementar: publicar os elementos que fazem parte de suas ‘licitações’ – para fazer um paralelo com um preceito democrático. Pode mudar o presidente, mas se essas coisas não mudarem, não adianta absolutamente nada”.

Nota:

Para quem não leu o livro ou não pode conhecer a excelente cozinha do Al-Janiah, vale conferir o Roda Viva desta quinta-feira, 25 de fevereiro, que teve Jamil Chade como entrevistado.

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Por um pouco mais de emoção

*Por Victor Faria

Nunca mais haverá no mundo um ano tão bom. Pode até haver anos melhores, mas jamais será a mesma coisa. Parecia que o horto (o nosso horto, atarracado, modesto, humilde, cheio de altos e baixos, faixas e bandeiras) estava explodindo em beleza. E nós todos estávamos cantando, muito antes do apito inicial, passávamos o dia torcendo e cantando e logo depois desmaiávamos extasiados, contentes da vida. Até me esqueci da rotina, das coisas que mais gostava. Todos se esqueceram de tudo. Agora é hora de comemorar.

Os adversários corriam desembestados, lançavam-se como pendões e marcação intensa. Nossos jogadores explodiam em emoções de nosso sustento, num abrir e fechar de olhos. Toda a equipe parecia nos compreender, parecia compartilhar de um destino comum, em festa comum, feito gente. O continente era nosso. Que mais podíamos desejar?

E assim foi até o momento de levantar a taça, erguê-la num espaço tão grande que nós, meninos, pensávamos que chegaríamos até as nuvens. Teríamos força para sustentar tamanho sentimento, emoção? Papai disse que só íamos ter a noção do feito depois de muito tempo, que seria justa a repercussão, que não entendíamos o resultado exato de tamanha bonança. Não faltou quem fizesse suas apostas: uns diziam que tal feito se repetiria somente nuns trinta anos, outros cinquenta, e nós sabíamos que não tardaria, que seria logo no ano seguinte.

E assim voltamos a disputar o campeonato para defender o título. Pelo caminho também fazia meus cálculos. Para mim, os que torciam contra estavam enganados. Era só o que eu pensava. Na primeira fase passamos com folga e estávamos classificados ao mata-mata. No dia do jogo, meu pai disse que podíamos ir ao estádio, saí correndo. Corri até ficar com as tripas saindo pela boca, a língua aparecendo que ia se arrastar pelo chão. Fiquei ali, onde começa o alambrado que separa o gramado da torcida. E foi ali, bem colado ao campo, que eu vi a maior desgraça do mundo: o time havia tomado o gol de empate nos minutos finais: a esperança havia desaparecido. Em seu lugar, o que havia era uma nuvem preta, subindo do chão para o céu, como um arroto de Satanás na cara de Deus.

Durante uma eternidade, só se falou nisso: que Deus põe e o diabo dispõe.

Eu vi os olhos de meu pai ficarem esquisitos, vi meu pai arrancando os cabelos com a mesma força que havia comemorado no ano anterior.

– Quem será que foi o desgraçado que planejou uma coisa dessas? Que infeliz pode ter sido?

E vi os meninos conversarem só com os pensamentos e vi o sofrimento se estampar na cara de meu pai, ele que não dizia nada, levantava o chapéu e balançava a cabeça. E via a cara de boi capado dos torcedores atleticanos e os invejosos, rivais, falando, falando, falando e eu achando que era melhor que todos calassem a boca.

Após a partida saímos do estádio e ficamos por ali mesmo, jogados. Sentado em seu lugar de sempre, meu pai era um mudo. Isso nos atormentava um bocado.

Fui o primeiro a ter coragem de ir falar com ele. Um vento leve soprava e era tudo. Quando cheguei, papai estava balbuciando.

– Ainda temos outros títulos a disputar, não temos? Ainda temos um bom time, não temos? Ainda temos jogadores capazes de ganhar, batalhar, encher o povo de glórias e conquistas, não temos? Como se diz, Deus tira os anéis, mas deixa os dedos.

E disse mais:

– Agora não se pensa mais nisso, não se fala mais nisso. Acabou.

Então eu pensei: o velho está certo.

Eu já sabia que cada vez que disputarmos o campeonato, lá estará ele, não importa a fase da equipe, lá estará ele, plantado em seu lugar, a espera de um pouco mais de emoção.

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A Vida Como Ela É #1 A mulher do próximo

*por Victor Faria

Apareceu na sinuca e fez a pergunta:

– Vocês viram a besta do Gouveia?

Um sujeito, que passava giz no taco, respondeu:

– Não vejo o Gouveia há uns duzentos anos!

Mas um outro, que chegava, indaga:

– Hoje não é domingo? – E insistiu: – Domingo é o dia em que ele se encontra com a mulher do despachante.

Então, Arlindo, que também era despachante, teve que admitir:

– “É mesmo! É mesmo!”. E, de fato, aos domingos, o Gouveia era uma figura impraticável. Desaparecia sem deixar vestígios. Mas os amigos, os mais íntimos, sabiam que ele estava em alguma parte da Zona Sul, às voltas com uma trintona que, segundo ele próprio, era sua mais recente paixão, visceral e imortal.

Largava negócios, compromissos, outras mulheres, para se meter num apartamento em Copacabana, que um amigo lhe emprestava, ou melhor, alugava, numa base de duzentos reais por vez. Mas era um big apartamento, com geladeira, televisão, banho quente e frio, vista para o mar, o Gouveia reconhecia:

– Vale as duzentas pratas e até mais!

Arlindo saiu da sinuca, furioso: – “Ora pinoia!”. Fez os seus cálculos: o romance do Gouveia com a mulher do despachante começava às quatro da tarde. Mas a partir das sete da manhã o Gouveia já não atendia o telefone, a pretexto de que o amor exige uma concentração prévia e total. Conclusão: só reaparecia, para o mundo, às onze da noite, meia-noite. Cercado de amigos, dizia:

– Vocês não se admirem se, qualquer dia, eu sair do apartamento de rabecão!

Naquele dia, o Arlindo tinha que resolver um assunto urgente com o Gouveia; e dramatizava: – “Assunto de vida ou morte!”. Mas o fato é que teve de esperar que o tempo passasse. Por volta das onze, aparece na sinuca. Dez, quinze minutos depois, surge o Gouveia, Arlindo atira-se:

– Até que enfim, puxa! Vamos conversar, vamos bater um papo!

Gouveia, cansado, bocejando e com sono, queria sentar-se, conversar tomando cerveja. E, então, caminhando lado-a-lado, Arlindo começou:

– Tens confiança em mim?

Admirou-se:

–Por quê?

– Tens?

– Tenho, claro.

Pararam na esquina. Arlindo puxa um cigarro e o acende, continua:

– Bem. Se tens confiança, tu vais me dizer o seguinte: quem é essa mulher do despachante? Chama-se como? Eu conheço? Fala! Tu nunca me escondeste nada! Quero saber, preciso. Pausa. Finalmente, o Gouveia balança a cabeça:

– Tenha santa paciência, não abro a boca pra falar dessa senhora. É um caso sério, muito sério, que pode acabar em tiro, morte, o diabo. Desculpa, mas esse negócio de identidade é espeto.

Arlindo respira fundo:

– Quer dizer que você não diz?

E o outro, firme:

– Não.

Arlindo põe-lhe a mão no ombro:

– Já que você não fala, falo eu. Tua distinção é inútil. Eu conheço, sei quem é a mulher.

– Sabe?

– Sei. Perfeitamente. Sei.

Nova pausa. Gouveia arriscou:

– Quem é?

E o outro, baixo, sem tirar-lhe os olhos:

– Minha mulher. Sim senhor, minha mulher, sim.

Gouveia recua, lívido:

– Não, não!

Mas já o outro, rápido, o agarra pela gola, em cólera contida, continua.

– Hoje, logo após o almoço, ela me disse que iria ao jogo, ver o Fla-Flu no Maracanã. Não sou muito ligado nessa coisa de futebol, mas já no boteco mais próximo, descobri que a partida seria disputada em Brasília. Então soube que a tal mulher do despachante era a minha. E o que o traído sou seu.

Gouveia nega:

– Juro! – E repetia: – Juro!

Quis desprender-se, num repelão selvagem. Mas o outro, muito mais forte, o subjugou, com uma felicidade apavorante. Gouveia começou a chorar. Pedia: – “Não me mate! Não me mate!”.

– Olha, seu cachorro: não vou matar ninguém, nem a ti, nem a ela. Gosto demais de minha mulher. E gosto tanto que não te mato para que ela não sofra. Mas quero que saiabas o seguinte. Estás ouvindo?

– Sim.

E Arlindo:

– Minha vingança é a seguinte: daqui por diante, sempre que te encontrar, seja onde for, vou te cuspir na cara. Começando agora.

Era tarde e a rua estava deserta. Foi uma cena sem testemunhas: como um hipnotizado, Gouveia não esboçou um movimento de fuga, nada. E, até, instintivamente, ergueu a cabeça, pareceu oferecer o rosto. Viu Arlindo afastar-se tranquilo e realizado, e ficou em pé, na esquina, com a saliva alheia a pender-lhe da face, elástica e hedionda. Saiu dali desvairado. Perguntava a sim mesmo: – “E agora? E agora?”. O que havia, no mais profundo, era a certeza de que o outro iria persegui-lo, a cusparadas, até a consumação dos séculos. Nessa noite não dormiu. De manhã, com o olho rútilo, o lábio trêmulo, recorreu a amigos comuns. Contava o episódio e pedia conselhos. Um genioso foi taxativo:

– Se um sujeito me cuspisse na cara, eu dava-lhe logo um tiro!

Gouveia replicava:

– Mas eu lhe tomei a mulher! Não compreende? A mulher!

E o amigo:

– E daí? Não serás o primeiro nem o último a dar em cima da mulher do próximo! Ninguém é perfeito, carambolas, ninguém!

De todos os conselhos recebidos, o mais ponderado foi de seu tio. Eis que sugeriu o velho: “Emigra, rapaz! Vai pra China, Arábia! Se não tens coragem de reagir, a solução é partir!”.

Bem que gostaria de fugir, desaparecer. Mas era um fascinado. Sempre que via o rival, plantava-se no meio da rua e o impulso da fuga morria nas profundezas de seu ser. O outro vinha e, publicamente, cumpria o castigo, sem que Gouveia, ao menos, baixasse a cabeça ou desviasse o rosto. Mas o pior foi um velório de um amigo em comum: Arlindo apareceu e, sem menor respeito pela cerimônia, veio em sua direção.

Gouveia ainda tentou apelar:

– Aqui, não! Aqui, não!

Mas Arlindo, implacável, cuspiu-lhe ainda uma vez. Era demais. Alucinado, Gouveia correu de lá. Mais tarde, em casa, meteu uma bala nos miolos.

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Queixas do Bandeneón

Por Felipe El Biglia de la Gente Dominguez

Boedo e Parque Patricios. Assim como a vizinha Nueva Pompeya, bairros de tango y arrabal.  Foi então, que esta cálida noite porteña se desnudou na zona sul de Buenos Aires para ver a estreia copera de San Lorenzo e Huracán. Seus cafés, ora habitados por poetas, malevos y atorrantes , amargavam junto a seus habitués de plantão o triste desenlace de ambas pelejas, como sempre ao ritmo das notas de Quejas del Bandoneón  tocadas por Aníbal Troílo e sua Orquestra Típica.

Copa Patón Bauza – LDU 2 x 0 San Lorenzo

Ciclón voltava à Casa Blanca, em Quito, cancha da LDU. Reminiscências transbordavam com melancolia tanguera na retina azulgrana. Foi ali que o time de Ramon Diaz viu o sonho da Libertadores se esvair em pleno ano do centenário. em 2008, ao cair nas quartas-de-final. Um San Lorenzo que acabava de eliminar o River na jornada de todos os tempos, calando o Monumental com Gonzalo Bergessio imparável.

No banco dos mandantes estava ele, o intrépido Edgardo Bauza. O Libertador das Américas, que 6 primaveras depois traria la Copa para San Juan y Boedo pela primeira vez. Aquela LDU tinha um esquadrão e tanto, destacando-se Claudio Bieler, Damian Manso, Joffre Guerron e Patricio Urrutia até a conquista no Maraca frente ao Fluminense. Eis que, como naquele documentário de Pino Solanas, o San Lorenzo demonstrou um futebol opaco, pobre até a médula.

A esperança de um futebol agressivo e moderno são as premissas defendida por Pablo Guede em seu novo ciclo. Neste começo de noite na capital equatoriana vimos pouco e nada nessa primeira apresentação continental. Um time perdido, impreciso como os pés de Fernando Belluschi e Sebastián Blanco. Os albos dominavam, com campo e bola à disposição. Brahian Aleman, Diego Morales e José Cevallos eram senhores do meio-campo, acionando sempre o inoxidável Carlos Tenorio. O ex-vascaíno rompia a marcação de Marcos Angeleri e Matías Caruzzo com seu corpanzil, obrigando um par de intervenções de Sebastián Torrico. A ideia de Guede era ter o controle do jogo para evitar correria e a fadiga da altitude de Quito. Adiantou Néstor Ortigoza para a linha de armadores, deixando Franco Mussis como único carrapato no engessado 4-1-4-1. Um tiro pela culatra neste primeiro tempo que teve a LDU com 60% de posse e 10 arremates à meta de Torrico.

LDU 2 x 0 San Lorenzo

Na etapa complementar, Guede sacou o irreconhecível Belluschi. O ex- Newell’s e River havia sido a figura na goleada frente ao Boca pela decisão da Supercopa Argentina, em Cordoba. Em seu lugar ingressaria o lateral-direito Gonzalo Prosperi, deixando Julio Buffarini com liberdade para auxiliar Blanco, Ezequiel Cerutti e Ortigoza na meia cancha. Sem tempo para milongas e uma eventual recuperação do San Lorenzo, o meia argentino Cachete Morales vestiria o traje de herói, com uma jogada memorável, limpando todo o lado direito da defesa rival, dando justiça ao melhor futebol da LDU.

Guede ainda tentou buscar o puntito inteligente com as entradas de Nicolás Blandi e Pitu Barrientos, configurando um 4-3-1-2 tipicamente argentino. Os cuervos pobres de ideias, forçavam cruzamentos, buscando Blandi e Cauteruccio. O time de Bichi Borghi no conciso 4-2-3-1 seguia com domínio conceitual, porém abusando de preciosismo para ampliar o marcador. Eis que, numa nova ação maradoniana, Morales, deu fim ao cotejo com outro golaço agônico. No parelho Grupo 6, Grêmio e San Lorenzo sentiram o rigor de Toluca e LDU como mandantes, remando contra a maré e dando pouca margem de erro no restante da Libertadores.

Huracán 0 x 2 Nacional de Medellín

O que esperar de um time que viu a morte de perto e duas semanas depois está de volta ao Palacio Ducó para receber o atual campeão colombiano? Sem Diego Mendoza e Patricio Toranzo – os principais afetados pelo terrível acidente de Caracas –  El Globo debutava na fase de grupos da Libertadores sob comovedor alento em Parque Patricios. O começo de jogo foi favorável ao quadro dirigido por Eduardo Dominguez. pressionando alto e forçando os constantes erros na saída verdolaga. Vale destacar que o Nacional de Reinaldo Rueda pouco lembra o time que encantou o continente sob a batuta de Juan Carlos Osorio. Aquele futebol envolvente, de possessão e jogo posicional, deu lugar a um 4-4-1-1 especulativo, que se fechava para o contra-ataque com ligações rápidas dirigidas aos ponteiros Andrés Ibargüen e Jonathan Copete. Não fosse a atuação segura de Franco Armani, o Huracán teria uma singela vantagem na primeira etapa. Pouco para um time que conta com Alexander Mejía, Daniel Bocanegra e Vicor Ibarbo  – três peças que fazem parte do ciclo de José Pekerman na Selección Colombia.

Huracán 0 x 2 Nacional de Medellín

A defesa na cobrança de falta de Rolfi Montenegro foi digna do herói na decisão da última Liga Águila frente ao Junior de Barranquilla. Foi então que apareceu o jovem Marlos Moreno. Na única estocada paisa na etapa inicial, o ponta de lança ganhou na velocidade do veterano Matias Fitzler, até fuzilar o arco defendido por Marcos Diaz. O placar adverso trouxe um sabor amargo e injusto no sul de Buenos Aires. Um duro golpe para uma equipe repleta de veteranos, que sentiu o rigor do tempo e o jogo físico do Nacional. O zagueiro Federico Mancinelli ainda seria expulso faltando menos de 20 minutos do tempo regulamentar, por uma machadada no camisa 29 adversário.

Antes disso, o Nacional mostrava sua melhor versão com Copete, Ibarbo e Moreno entrando com facilidade na última linha argentina.O segundo tento colombiano é para aplaudir de pé, com o verdadeiro selo cafeteiro del buen pie. São 6 toques da intermediária ao meio de campo, eclipsado por um passe cirúrgico de Marlos Moreno nas entrelinhas para Orlando Berrio; o ponta-esquerda parafraseando Jorge Ben” só não entrou com bola e tudo porque teve humildade em gol”. Uma dura queda para o Huracán após o acidente em Caracas. O conjunto antioqueño, com uma nova filosofia de jogo, tem um elenco vasto para brigar com Peñarol e Sporting Cristal pela liderança do Grupo 4.

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Judão #17 Clara & Luisa

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Que encontro!

Clara Averbuck está lançando seu sétimo livro, Toureando o Diabo. Luisa Micheletti está tirando de cartaz, ao mesmo tempo e por enquanto pra sempre, duas peças — Fantasmas e O Balcão. E nós recebemos as duas no Estúdio Sócrates Brasileiro em mais um PoOOoOooODCAST! que deveria ter tido umas OITO horas de duração. 😀
Filosofia, astrologia, as dores e as delícias de se produzir conteúdo independente e falar diretamente com os JOVENS, a bad que é visitar o nosso próprio passado, o fato de que, ULFA, ainda bem, a gente envelhece e tanta coisa mais que não coube… 😀
Puxe uma cadeira e vem participar da conversa com a gente. 🙂
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Toureando o Diabo
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Lugar de Mulher

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Folha Seca #97 Jamil Chade

O Folha Seca #97 é especial: trazemos trechos da fala de Jamil Chade, que debateu seu novo livro ‘Política, Propina e Futebol’ no último 18 de fevereiro, no restaurante Al Janiah, em São Paulo. A apresentação é de Paulo Junior, com produção de Gabriel Brito, jornalista do Correio da Cidadania e da Central 3, e áudio cedido pelos colegas do Jornal GGN.

Jamil Chade, correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, é talvez a principal referência brasileira na cobertura da política do futebol. Vivendo na Europa e acompanhando de perto os bastidores da Fifa na Suíça, ele fala sobre a compra do futebol por parte dos interesses privados, a desconfiança do viés esportivo sobre amistosos aleatórios na Europa e o que espera da eleição da Fifa que acontece nesta sexta-feira, dia 26.

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Raíces de América VI

Por Marcelo Mendez

São muitas as analogias que podem ser feitas da América do Sul dos anos 70. A que mais gosto é aquela que diz que nosso continente era uma espécie de “um churrasco com cerveja em cima de um barril de pólvora. Uma hora ou outra alguém vai dispensar uma bituca de cigarro acesa, ou um faísca outra que botará fogo na parada toda”. E no meio disso tudo havia futebol e a Copa Libertadores da América.

Na volta de Raíces de América, esta coluna falará de um confronto que será reeditado hoje, a partir das 21h45.

Noticias de um Continente em Chamas

Não dá para dizer que a América do Sul era um lugar dos mais hospitaleiros em 1978. Uma onda nefasta de ditaduras, repressão e totalitarismo varria o continente. Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Peru, Uruguai… Quase todos os países tinham um generalzinho a açoitar qualquer arremedo de liberdade que se ousasse ter.

Já a Colômbia havia acabado de eleger o liberal Julio Cesar Turbay Ayala, o sujeito que fez com que o país mergulhasse em um período obscuro, afundada em tortura, repressão, violência extrema contra movimentos sociais e grupos rebeldes e a franca expansão do poder do narcotráfico de drogas e seus cartéis.

Enquanto que os argentinos sobreviviam ao apogeu da Guerra Sucia, comandada pelo assassino Jorge Videla. A base de desaparecimentos e terror, o caudilho governava a nação, calando a imprensa e fazendo a ufanista propaganda do país vitorioso através do futebol. Meses antes, a Argentina havia sediado e ganhado a Copa do Mundo.

Naquela época não havia outra rede social que não fosse o abraço, outra forma de interação que não fosse a conversa. E por mais dura que fosse a realidade do período, essas coisas resistiam a truculência por profissão de fé e encanto. Assim se fez o verso e dele a poesia sudaca possível daqueles tempos.

Em meio a todo esse cenário descrito, La Copa aconteceu até que de maneira tranqüila. Não vivíamos o boom das grandes campanhas televisivas, as comunicações se limitavam basicamente ao rádio e a Libertadores ainda era cobiçada apenas por orgulho de ser soberano dentro do continente ludopédico. Nada muito surpreendente, mas a campanha do Deportivo Cali chamou atenção.

O quadro colombiano saiu vitorioso de um grupo que tinha seu compatriota Junior Barranquilha, o bom time do Danúbio e o gigante Peñarol. Passando para as semifinais – que na época eram disputadas em dois triangulares com os vencedores dos grupos mais o campeão da edição anterior – os azucareros bateram Alianza Lima e Cerro Porteño.

Já o Boca, teve uma trajetória mais curta, mas não menos árdua, enfrentando o Atlético Mineiro e seu grande rival, River Plate. Os xeneizes ganharam do Galo por 2 a 1 em BH e 3 a 1 na Bombonera. Contra os millonarios foram duas batalhas épicas; 0 a 0 em La Boca e 2 a 0 em Núñez calando o Monumental. Campanha de respeito, credenciando-os para a decisão.

Na primeira partida da final, em Cali, o Boca sabia que enfrentaria um adversário mateiro, comandado por um técnico conhecido em La Bombonera, Carlos Salvador Bilardo, que contava com a habilidade de Ángel Landucci e o letal atacante Néstor Scotta, artilheiro da competição.

Os visitantes, por sua vez, mantiveram a base vencedora com o goleiro Hugo Gatti, o capitão Roberto Mouzo, o meio-de-campo formado por Ernesto Mastrángelo, Mario Zanabria e Rubén Suñé, além de Hugo Perotti no ataque. Contudo, o placar não saiu do 0 a 0 no Pascual Guerrero.

28 de novembro de 1978

A primeira vez que estive na Bombonera pra torcer contra o Boca foi em 2000, quando meu Palmeiras tentava o bicampeonato da Libertadores. Fui aquecido pela poesia épica ao entrar naquele estádio em uma noite fria.

Era esta atmosfera que o Deportivo Cali encontrou quando se deparou com 60 mil bosteros que lotaram as arquibancadas. O clima daquela noite pintou de azul e amarelo o caneco de La Copa desde o primeiro minuto. Foi um baile!

O Boca contou com uma atuação endiabrada de Perotti, autor de dois gols, mais um de Mastrángelo e outro de Salinas.

O Boca Juniors chegou à final no ano seguinte, quando começou a sua freguesia para o Olímpia, encerrando o ciclo de Juan Carlos Lorenzo no clube. A seca “libertadora” só terminaria em 2000, diante do Palmeiras, mas, aí é outra história que logo mais contaremos. Pra minha tristeza…

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Thunder #91 Rafael Castro

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Muita música!

Rafael Castro é vanguarda. É talento inventivo, é ousadia com um pingo de deboche, é virtuose espirituosa, criatividade e originalidade na medida certa, e é bom, foi bom, tê-lo no estúdio da Central 3 ao lado de Luiz Thunderbird para uma hora inteira de música ao vivo e papo sobre os cenários musicais do Brasil, Caetano Veloso, a chegada a São Paulo, as 14 bandas que faz parte, e festivais, e gravadoras, e tal e coisa.

Você conhece vida e obra de Rafael Castro clicando abaixo e se divertindo com Thunder em altíssimo astral. É pra já!

OSMIOLpA

 

 

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Baião de Dois #05

A quinta edição do Baião de Dois falou dos principais clássicos nordestinos que ocorreram no último final de semana. Destaque para Sport x Santa Cruz, clássico que completa 100 anos em 2016.

O rubro negro Maurício Targino e o tricolor Gil Luiz Mendes relembraram jogos marcantes desse confronto. Nesse programa também teve a novidade de torcedores falando seus times direto das suas cidades, DeOliveira Júnior, Wawrinck Gomes e João Carlos falaram respectivamente de Natal, Aracaju e São Luís.

O programa também falou de técnicos nordestinos, promessa de Daniel Alves de encerra a carreira no Bahia e a seleção brasileira jogando na Sexta-Feira da Paixão em Recife.

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Mesa Oval #05 Mundial de Sevens

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Mundial de sevens!

Nesta edição, Victor Ramalho e Virgílio Neto analisam a segunda etapa do circuito mundial de sevens, realizada na Arena Barueri, dias 20 e 21 de Fevereiro. Falam também do Campeonato das Américas, em que o Brasil viajou até o Canadá e foi derrotado, além das expectativas do confronto diante dos EUA no próximo sábado (27), na Arena Barueri. A Mesa discute o início do Campeonato do Nordeste de Rugby XV, além do 6 Nações europeu e as notícias que mexeram com o rugby nacional e internacional por esses dias.

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Trivela #46 Machismo no futebol

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Com a palavra, elas

Felipe Lobo e Bruno Bonsanti escancararam as portas do podcast para Renata Mendonça e Nina Cardoso, das Dibradoras, falarem sobre este tema que, por vias tortas, veio bem a calhar na última semana: o machismo no futebol.

Sucede que o lançamento do uniforme novo do Atlético-MG aonteceu “faltando” partes do dito cujo, e as modelos mulheres foram o alvo da polêmica: qual é o interesse do clube em expor mulheres de biquini em um evento deste? Qual é o tratamento dado às mulheres torcedores no futebol brasileiro?

O debate contou também com Leandro Iamin e o apresentador Paulo Júnior, e você ouve clicando abaixo. O podcast também passeou pelos estaduais no Brasil, as arenas em xeque e a conjuntura nada alviçareira deste começo de 2016 por aqui.

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