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Dibradoras #31 Mulheres Olímpicas

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As mulheres olímpicas

 

As Dibradoras falaram da história das mulheres brasileiras nos Jogos Olímpicos, e trouxeram, para isso, duas convidadas especiais: Mariana Lajolo, jornalista da Folha de S. Paulo e Esporte Final, e a professora Katia Rubio, pesquisadora referencial no tema.

O papo, com Nina Cardoso e Renata Mendonça, foi muito além de números e medalhas. Preparação, mente, o corpo das mulheres, o cuidado com as crianças, a psicologia do esporte além de, claro, analisar a realidade de muitos esportes, da ginástica ao futebol, do vôlei ao tênis, passando pelo hipismo e pela carabina deitada (esta é uma piada interna do podcast)…

As chances das atletas brasileiras no Rio-2016 também foram discutidas, com destaque para Fabiana Murer e Yane Marques, candidatas claras ao pódio nos Jogos. O judô com Rafaela Silva, o vôlei de praia e os times de handebol e basquete foram citados também neste podcast que você ouve aqui e agora.

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O Som das Torcidas #74 Leicester City

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Hark Now Hear, The Leicester Sing

Apresentamos os supporters da equipe sensação da atual temporada da English Premier League, o Leicester City FC.

Saiba mais sobre os Foxes: estádios, ídolos e rivais, embalados pelo rock and roll dos anos 6o aos dias de hoje, com a banda local Kasabian.

Conheça outras arquibancadas através do SDT

Acesse a página especial do podcast e visite também o site com a primeira temporada do Som das Torcidas em vídeo, numa turnê pelos estádios da capital paulista!

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Central Autônoma #82 Escolas Ocupadas em GO

O Central Autônoma volta ao ar junto do ano letivo. Falamos com Ana Beatriz Tavares, secundarista da primeira escola a ser atingida pela mobilização dos estudantes, que contou em detalhes o projeto de privatização/militarização do ensino público pelo governo estadual do tucano Marconi Perillo.

Na conversa, Ana Beatriz comenta as recentes 31 prisões em protesto na Secretaria de Educação, as irregularidades que marcam o processo de transferência da gestão das escolas e as ações que beiram o terrorismo por parte de governo e seus agentes públicos.

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Graciliano errou, ainda bem

“O futebol não pega, tenham a certeza. Não vale o argumento de que ele tem ganho terreno nas capitais de importância. Não confundamos. As grandes cidades estão no litoral; isto aqui é diferente, é sertão.”

Graciliano Ramos, felizmente, errou. Nessa crônica publicada em Palmeira dos Índios, o escritor alagoano se arriscou a dizer, em 1921, que essa coisa de bola não ia ser grande por aquelas bandas. Dediquem-se à rasteira, rapazes!, escreveu.

Camisa do CSA que nega o vermelho rival [Reprodução]

Camisa do CSA que nega o vermelho rival [Reprodução]

Quando lançou Caetés, em 1933, Graça vivia em Maceió e provavelmente ignorava o título estadual do CSA, o terceiro em cinco Campeonatos Alagoanos até então disputados. O CRB vencera os outros dois.

Em 1939, já convivendo com o sucesso de Vidas Secas – e com São Bernardo e Angústia na prateleira -, onde estaria Graciliano no Jogo da Sofia, o 1º de Outubro que registrou a maior goleada do clássico, os 6 a 0 do CRB sobre o CSA: conta a história que Arlindo, atacante regatiano que marcou duas vezes naquele encontro, criava uma cabra de nome Sofia; o jogador gostava de uma cantoria popular que passava pelos animais do jogo do bicho e, sempre que chegava no número seis, a cabra, ele fazia referência ao jogo histórico.

E olha que quando Graciliano veio com dois de seus petardos que mais me encantam, até os gigantes da bola parecem ter ficado assustados em Alagoas: Infância, de 1945, coincide com o primeiro ano em que o torneio local não foi vencido nem por CRB, nem por CSA – deu Santa Cruz. Já o póstumo Memórias do Cárcere, de 1953, chega junto do primeiro caneco levado para fora da capital, com o ASA, de Arapiraca, superando o Ferroviário.

Voltando ao jogo maior: o Clube de Regatas Brasil data de 1912; o Centro Sportivo Alagoano, de 1913; e o primeiro Clássico das Multidões aconteceu em 1916. São 100 anos para cerca de 500 jogos que pintam a capital alagoana de vermelho e azul, mais um deles neste domingo.

Provocação do CRB na semana do clássico [Reprodução]

Provocação do CRB na semana do clássico [Reprodução]

Que ironia constatar, dois anos depois da Copa do Mundo, que felizes são os estaduais sem arenas no padrão da toda poderosa. E num final de semana de FlaFlu em Brasília – o primeiro fora do Rio na história do Carioca, aliás -, o controle remoto passou ileso por uma avalanche de ligas francesas e espanholas e inglesas – além de um Pacaembu às moscas também – para encontrar o Rei Pelé eufórico para a sexta rodada do Alagoano. É um clichê, mas é delicioso, a tal história do campeonato à parte: CSA e CRB, em campo e invictos.

Com mando de campo azulino, a torcida do CSA era, obviamente, maioria na casa cheia, e correspondeu com bonita festa nas arquibancadas: foi suspensa uma grande imagem do ídolo Jacozinho, mosaico formando o ano de fundação – 1913 – e ainda outro bandeirão com um azulão de binóculos provocando a torcida rival: Cadê você?

Mas o lado regatiano também marcou presença criativa e enfileirou centenas de escudos do CRB no momento da entrada do time em campo. Uma faixa também foi vista entre os vermelhos: Eu sei que você treme.

No início, logo aos sete minutos, a bola que veio da esquerda cruzou a área azulina e encontrou o pé direito de Bocão, que abriu o placar para o CRB. A equipe, que vinha de derrota no mesmo Rei Pelé diante do Coruripe, pela Copa do Nordeste, começava muito bem o clássico.

Mas os de vermelho recuaram em excesso, abdicaram do ataque, e Luís Soares empatou de cabeça no segundo tempo em que o CSA pressionou muito. O ataque azulino ainda acertou a trave duas vezes – uma cobrança de falta no pé do poste e um chute colocado que caprichosamente não entrou no ângulo – e viu Júlio César, o goleiro regatiano que foi a campo no intervalo, fazer uma defesa incrível, à queima roupa, impedindo um gol de Didira. Jogão terminado em 1 a 1.

Como escreveu Thalles Gomes, que muito nos ensinou em suas crônicas sobre o futebol alagoano (e também no Futebol na Terra da Rasteira, reproduzido abaixo), “domingo irei ao estádio e de lá voltarei cheirando a mijo, suor e raiva. Deitarei no sofá, assistirei aos gols da rodada e dormirei. Fedido, alienado e feliz”.

Ainda bem que Graciliano errou, e feio. Se tantos como Fabiano e Sinhá Vitória continuam a andar por esses sertões brasileiros, não raro encontram um melão rolando sobre a terra aqui e ali. E vira e mexe caem num dia como o próximo 13 de março, com mais um Clássico das Multidões no Rei Pelé.

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Travessia #05 MPB no cinema internacional

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Eles se amavam de qualquer maneira…

A premiação do Oscar concentra as atenções no mundo do Entretenimento pelos próximos dias — a cerimômia ocorre no domingo, 28 de fevereiro. Pensando nisso, a equipe do Travessia foi buscar as referências a música brasileira no cinema internacional.

Nesta edição, vamos lembrar como Carmen Miranda se transformou na brasileira mais famosa de todos os tempos (mais que Gisele Bündchen), levando o mundo a (tentar) cantar um chôro brasileiro de 1917. Em sua esteira, Aloysio de Oliveira faz Pato Donald apresentar Aquarela do Brasil para os Estados Unidos, regravada por todos os grandes nomes da música de seu tempo, de Frank Sinatra a Harry Belafonte.
O filme franco-ítalo-brasileiro Orfeu Negro, de Marcel Camus, feito sobre a peça Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes, para ganhar o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1960. É *só* o filme que mudou a vida da mãe de Barack Obama em relação aos negros.
João Gilberto aparece au passant em V de Vingança, assim Sergio Mendes em Austin Powers; em Alta Fidelidade personagem de John Cusack carrega um disco da Tropicália pra carregar uma aura de cult;.
Em Velocidade Máxima 2, Sandra Bullock reclamou que a coisa mais chata da gravação foi ouvir Carlinhos Brown cantar A Namoradapara uma cena. E Bebel Gilberto, assim como o próprio Brown e Sergio Mendes, fazem parte da trilha sonora de Rio, a premiada animação do brasileiro Carlos Saldanha.
Ouça lá!

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Charutos

Por Leandro Paulo

O futebol nordestino sempre nos brindou com nomes folclóricos dos seus jogadores, desde o piauiense Luiz Queixo de Lancha, do Cori-Sabbá, ao mítico craque potiguar Dirran. Entre as décadas de 1950 e 1970 três craques da região, cada qual no seu Estado, dividiram o mesmo apelido: Charuto.

Conheça a história destes ídolos tão nossos quanto a folha de tabaco.

Charuto Sergipano – O Canhão de Cotinguiba

Antônio Nascimento Rodrigues, o primeiro “Charuto”, foi um dos maiores jogadores que atuaram no futebol sergipano, sagrando-se campeão estadual em 1942 e 1952 e da cidade de Aracaju em 1957. O Charuto Sergipano nasceu em 1921 e com apenas 18 anos iniciou a carreira pelo extinto Palestra. Passou por Sergipe e Vasco até chegar ao Cotinguiba em 1945, ficando por lá até o início da década de 1960 com vários gols marcados. Recebeu várias homenagens por suas glórias, na literatura, no senado federal e talvez a maior delas; a estátua em frente à piscina na sede do Tubarão da Praia.

Cotinguiba

Segue um trecho do livro Caleidoscópio do Professor Alencar Filho, ex-Reitor da Universidade Federal de Sergipe:

“Transferiu-se para o Cotinguiba Esporte Clube, em 13 de agosto de 1945, conforme Boletim de Transferência protocolizado sob o nº 897. O maior chutador de todos os tempos. Esta era e ainda é a sua fama. Chute forte e certeiro. Por isso seus adversários tinham um medo horrível, verdadeiro pavor de fazer barreira quando ele ia bater alguma falta. Quando ele “carimbava” um jogador, o cidadão tinha que sair de campo para ser atendido tanto pelo massagista quanto pelo médico. Ele costumava furar a rede quando fazia um gol. Os morteiros lançados por Charuto, durante um jogo realizado no vizinho Estado de Alagoas, resultaram em três gols… porém, o juiz só validou um. Pois bem, Charuto, em Sergipe, conseguia essa incrível façanha. Ele fez três gols, mas o juiz só validou um gol. Por quê? Porque o árbitro não sabia se a bola que havia furado a rede tinha entrado por dentro ou por fora, tal era a força do seu petardo”.

Em 2001, pela ocasião dos seus oitenta anos, o troféu do SERGIPÃO levava o seu nome, assim como uma rua no bairro Jabotiana, distante cerca de 10 km da sede do Cotinguiba.

Três anos depois o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) elogiou-o em uma sessão do plenário “exemplo a ser seguido pelas novas gerações”. Segundo Valadares, Charuto se destacava como artilheiro de chute forte e certeiro, algo que intimidava qualquer adversário.

“Ele detinha no futebol o chute mais forte de Sergipe e, quiçá, o mais forte do futebol brasileiro. Eu o vi jogar pelo Cotinguiba e pela seleção sergipana, e gostaria de parabenizar esse atleta e grande jogador, hoje com 83 anos, funcionário público aposentado, pai de três filhos, exemplo de chefe de família e atleta.”

Todavia a maior homenagem ao jogador foi feita pelo escrito João Ubaldo Ribeiro em seu premiado livro Sargento Getúlio (vencedor do Prêmio Jabuti como autor revelação em 1972). João Ubaldo passou boa parte da sua infância em Aracaju, justamente no auge do Cotinguiba e de Charuto.

Apesar de sempre declarar-se torcedor de Confiança, Vasco da Gama e Vitória-BA, o escritor descreveu o motorista Amaro (personagem cuja interpretação no filme de 1983 rendeu ao ator Lima Duarte o prêmio de melhor ator no festival internacional de Gramado) da seguinte maneira:

“Amaro ou fala de mulher ou fala de Charuto do Cotinguiba. Fala no pontapé de Charuto. É um chute, fica dizendo. Cada chute. Furou a rede do time da Passagem, deixou a marca ali. Furou a rede de diversos, fez e aconteceu. Ora, Amaro, an-bem, não gosto do Cotinguiba, em primeiro lugar, não gosto de Socorro, que é uma terrinha mirrada, cheia de pivetes fugidos da Cidade de Menores, em segundo lugar não gosto de time azul, em terço lugar não acho que Charuto, com aquelas pernas de jaburu e aquele nariz de ponta possa ser bom chutador, em quarto lugar cale essa boca arreliada da gota, aviu, time é o Olímpico, aviu. Bom. Nunca nem vi direito a camisa do Olímpico, só me alembro daquelas rodas enroscadas umas dentro das outras nos peitos dos jogadores, mas não posso que não ficar falando, que mais se pode fazer. Nos princípios, vem raiva de Amaro, os buracos nos dentes e a fala mole de muribequense, mas depois o tempo é tão grande e nada mais se ouve senão as vacas de curral e a quentura abafa tanto e nada mais se ouve, que fiquemos ali, só falando por falar, por meio dumas grandes paradas na conversa, enquanto espiemos o ar. Deitado numa tarimba velha, de noite,também sem dormir, tem uma conversa mansa. Que mais? E Amaro só Charuto isso, Charuto aquilo, porque Charuto, porque isso e mais aquilo”.

Após encerrar a carreira exerceu vários cargos na direção do clube. Era fã de Orlando Silva e passava todos os domingos escutando sua imensa coleção de discos do Cantor das Multidões.

Charuto Cearense – O Rei do PV

Luís Ferreira de Moura nasceu em 1937, filho de Vicente Faúna ex-jogador que tornou-se uma espécie de “faz tudo” no Estádio Presidente Vargas, cujas paredes eram coladas à sua residência. Seus irmãos mais velhos (Novíssimo, Ninoso e Pedro) também seguiram os passos do pai.

O Charuto Cearense começou sua carreira aos 14 anos no time do seu bairro, o extinto Gentilândia, mesma camisa pela qual o humorista Renato Aragão declarou ter defendido como zagueiro quando jovem. Tornou-se profissional em 1953 e no ano seguinte foi transferido ao América. Quando completou 18 anos foi levado pelo diretor Mozart Gomes para o seu clube de coração, o Fortaleza.

Seu apelido foi dado por amigos em virtude da semelhança física com Charutinho, meia do Ferroviário que fez sucesso no futebol cearense.Estreou pelo Leão do Pici em um amistoso contra o Riachuelo no PV. Charuto empolgou a torcida, fazendo três gols na vitória por 4 a 2. Apesar de sempre ter atuado na meia-esquerda, ao lado do irmão e lateral-esquerdo Ninoso, Charuto era destro. O seu chute aliava força e precisão. Ele explicava que desta maneira, sempre ficava em melhores condições de chutar em direção ao gol das equipes adversárias.

Jorge Vieira

Sagrou-se bicampeão cearense em 1959-60 e vice campeão da Taça Brasil no mesmo ano. Na decisão contra o Palmeiras, o Tricolor de Aço venceu a partida de ida na capital cearense por 2 a 1. Na volta, os leoninos foram derrotados por 8 a 2. Charuto abriu e encerrou o marcador na goleada do Verdão. O seu companheiro em campo, Sapenha encostou em Charuto e disse: “pelo amor de Deus, não vai mexer com os homens, se não eles enfiam uns 16 na gente” e também advertiu Ninoso, que tinha dito após o jogo do PV que o Julinho, atacante do Palmeiras, não era de nada: “Está aí o que você queria, foi atiçar o cara e ele fez esse destroço na gente, era melhor ter ficado com o bico calado”.

Durante as finais, o meia-esquerda se casou com Albaniza – sua esposa por quase cinquenta anos – contrariando a vontade dos dirigentes do Fortaleza que temiam que a cerimônia atrapalhasse o planejamento da equipe. De todos os companheiros de Charuto, apenas o centroavante Bececê fugiu da concentração para comparecer à festa.

Suas atuações o credenciaram como o melhor jogador nordestino pela imprensa carioca, sendo muito cogitada sua contratação pelo América FC, que era o atual campeão carioca. Jorge Vieira, treinador do Mequinha, já havia trabalhado com Charuto na seleção cearense e por diversas vezes tentou levar o craque para o Rio de Janeiro, tendo inclusive visitado o hotel que o clube estava hospedado em São Paulo. Entretanto a negociação acabou sendo barrada pela direção do Fortaleza.

A tensão entre jogador e cartolas forçou a sua transferência para o Fluminense de Feira de Santana, porém ele atuou pela equipe do Recôncava Baiano por apenas três meses. A rivalidade existente entre Ceará e Fortaleza incentivou o Vozão a trazer Charuto novamente para o futebol cearense. O dirigente alvinegro Elias Bachá determinou ao treinador ohúngaro Janos Tatray que o trouxesse “de qualquer maneira”.

Em Porangabuçu, permaneceu por seis temporadas, sendo tricampeão estadual entre 1961-63. Ao se aposentar declarou que achou estranho jogar no arquirrival, mas reconheceu que foi no Ceará que obteve o melhor salário da sua carreira. Em 1969 foi emprestado para o Guarany de Sobral, sendo um dos artífices da campanha que culminou com a subida do Cacique do Vale para a elite do futebol cearense.

Abandonou os gramados, ao constatar uma contusão no joelho direito, que lhe causou sequelas para o resto da vida, somada à insistência dos dirigentes rubro-negros em obrigá-lo a jogar mesmo contundido, alegando “corpo mole”.

Charuto não abandonou os estádios, tornando-se administrador dos bares no Castelão e Presidente Vargas. A desorganização nos clubes em que atuou fez com que ele, a exemplo de muitos outros ex-jogadores, perdesse todos os anos como atleta profissional para efeito de aposentadoria junto ao INSS.

Charuto Alagoano – O Rebelde

Durante os anos 60, surgiu o maior rebelde do futebol brasileiro; Etelvino Domingues Ribeiro da Silva. Saído dos juvenis do Santa Cruz, tornou-se ídolo no CSA, em uma equipe que ainda contava com o zagueiro Zé Cláudio (o futuro “coronel” do Capelense). Brigador dentro e fora de campo, resultado da mistura de álcool e estimulantes antes e depois das partidas. Os jogadores adversários tinham pavor de jogar contra ele. Qualquer finta era motivo para briga. Em um clássico contra o CRB intimidou os adversários dizendo que daria um soco em quem driblá-lo. Em suas confusões em campo, Zé Cláudio fazia a “escolta” do atacante.

Charuto

Sua valentia em campo cativava a torcida, principalmente ao marcar um gol na final do estadual de 1963 contra o CRB. Todavia o seu comportamento irritava os dirigentes azulinos, especialmente o presidente Coronel Nilo Floriano Peixoto, que também era comandante da Polícia Militar de Alagoas. Por indisciplina, rescindiram seu contrato com o Azulão no começo de 1965.

Foi jogar no Sergipe, sendo campeão estadual em 1967, mas novamente acabou expulso do Alvirrubro por conta da “rebeldia”. Perambulou por clubes alagoanos e no interior de Minas Gerais. Seu corpo e sua mente já sofriam as consequências dos coquetéis.

Uma matéria do Jornal de Alagoas, em 1980, assinada por Lauthenay Perdigão – extraordinário cronista esportivo, pesquisador e diretor do Museu dos Esportes no estádio Rei Pelé – nos revela como foi conturbada a carreira de Charuto:

A torcida alagoana, em particular a do Centro Sportivo Alagoano, lembra muito bem do atacante Charuto. Dentro de uma equipe bem entrosada e que chegou a ser Campeã em 1963, Charuto tinha certo destaque. Jogava no juvenil do Santa Cruz do Recife, quando soube que o presidente do CSA, Vicente Bertolini, estava contratando jogadores amadores de Pernambuco para o clube azulino.

Veio a Maceió, apresentou-se ao dirigente do clube, realizou um grande treino e foi contratado. Mas, seu gênio temperamental e difícil de ser compreendido fez com que ele não demorasse no Mutange. Como jogador de futebol, não era um craque excepcional, contudo se encaixava bem no time azulino. Como homem, seu temperamento nunca o ajudou a ter um relacionamento muito bom com a torcida, dirigentes e até companheiros.

Seu grande mal talvez tenha sido o vício com os estimulantes. Só jogava dopado e tinha uma vida irregular fora dos gramados. Fazia coisas que uma pessoa normal não poderia fazer. Certa vez, usou o nome do próprio presidente do CSA, Coronel Nilo Floriano Peixoto, para adquirir uns óculos e duzentos cruzeiros. Fez uma farra daquelas e somente depois de alguns dias voltou a treinar no CSA. O presidente já tinha rescindido o seu contrato.

Foi para Aracaju e ingressou no Sergipe. Foi Campeão e, na festa do título, pegou a taça, foi ao banheiro e devolveu o troféu aos dirigentes todo melado. Não é preciso dizer que Charuto saiu às pressas da cidade para nunca mais voltar. Depois, viajou para o interior de Minas e terminou retornando para Maceió.

Jovem, ainda, foi obrigado a deixar o futebol. Problemas começaram a surgir na sua vida. Sem amigos, não soube como fazer. Sua família, ele não soube construir. Seu casamento foi um desastre. Enfim, sozinho, ele enfrentou a dura realidade da vida. Quem planta o vento, colhe tempestade. Quando voltou para Maceió, chegou com sérios problemas nas pernas. Mal podia andar, bem diferente daquele jogador que corria o campo todo quando vestia a camisa do CSA.

O doping, que tomava quando jogava futebol, minou o organismo. As bebidas ingeridas para comemorar as vitórias ou afogar as mágoas nas derrotas lhe atacaram o fígado e destruíram o pâncreas. Quando jogava, tudo estava bem com ele. Somente depois, e não muitos anos depois, é que os prejuízos começaram a aparecer.

Está sofrendo em vida as penas do inferno. Hoje é um jovem velho internado em uma casa de saúde, longe de uma torcida que ele nunca soube compreender. Charuto está na pior. Doente, sem amigos e não sabe a quem recorrer para ajudá-lo. Sua vida desregrada serve de exemplo para os jovens de hoje. Nunca mais soubemos noticias do Charuto.

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Futebol Urgente #102

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Demitido!

O treinador do Derby County foi demitido por estar levando sua equipe ao acesso antes da hora; Neymar fez propaganda no McDonalds na Arábia e foi censurado por injúria religiosa; time curdo da Turquia usa lona com fotos para substituir torcedores suspensos; Cesar Tralli busca tarracha de brinco de moça da previsão do tempo ao vivo; radinho de pilhas, mas só s de pilhas grandes, estão proibidos nos estádios catarinenses.

Isto acima é um tanto, mas não tudo, que foi discutido no Futebol Urgente desta semana. Fernando Toro, nosso Asterix endiabrado, bateu na Cielo, nos Iluminattis e no capitão do Corinthians, que virou as costas para a própria torcida. Bateu na filha do Maradona, na cidade de São Paulo, em tudo, em absolutamente tudo.

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O cinturão

por Victor Faria

As minhas primeiras relações com a atual Copa Libertadores da América foram dolorosas e deixaram-me funda impressão. Eu devo ter quatro ou cinco jogos no ano, por aí, e já figuro na qualidade de vítima. Certamente já me haviam feito representar tal papel, mas ninguém me dera a entender que seria tão cruel. Bateram-me porque podiam bater-me, e isto era natural.

Os golpes que recebi me pareciam a disputa de um cinturão, puramente físicos, exacerbavam psicologicamente a dor. Lembrei-me que certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me pintou as costas de manchas sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas lanhos vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com água de sal – e houve uma discussão na família. Minha avó condenou o procedimento da filha. Irritada, feria-me à toa. Não guardei ódio a minha mãe: o culpado era o instrumento, o nó. Não fosse ele, a flagelação me haveria causado menos estrago. E estaria esquecida. O soco de Velasco, que veio anos depois, avivou a memória.

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CORINTHIANS VENCE NO DESERTO CHILENO

Roger Machado estava em frente ao banco de reservas, parado na linha lateral. Tudo é nebuloso. Arquibancadas extraordinariamente lotadas, rede infinita de torcedores, os colegas de time longe, e o técnico a observar, levantando-se de mau humor, batendo com os pés no chão, a cara enferrujada.

Naturalmente lembro com dificuldade de sua feição, da voz áspera, do tempo que ele consumiu rosnando exigências. Sei que estava zangado, e o golpe me trouxera uma covardia habitual. Desejei vê-lo dirigir-se a outros atletas, grandes jogadores, que não levaram pancadas. Tentei ansiosamente fixar-me nessa esperança frágil. A força de meu treinador encontraria resistência e gastar-se-ia em palavras.

https://www.youtube.com/watch?v=j3Bq5rNYTlE

Incapaz de revide ou defesa, fui encolher-me num canto do campo, pra lá das linhas adversárias. Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me do gramado. Devo ter pensado nisso, imóvel, dentro das quatro linhas. Só queria que os outros jogadores surgissem de repente, me livrassem daquele perigo.

Ninguém veio, o árbitro da partida descobriu-me acocorado e sem fôlego, e arrancou do bolso abruptamente um cartão, ocasionando a expulsão do adversário. Sopapos trocados valeriam tal qual um íntimo cinturão? Eu não saberia, difícil de explicar. Atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar com o motivo da raiva. Os modos brutais de Velasco, coléricos, atavam-me; os sons duros da arquibancada, vaias da torcida, ecoavam, desprovidos de significação.

Não consigo reproduzir toda a cena. Juntando vagas lembranças dela a fatos que se deram depois, imagino os berros do treinador, a zanga terrível, a minha ternura infeliz. O assombro gelava-me o sangue, escancarava-me os olhos.

Devia eu revidar? Pessoalmente numa disputa de cinturão? Impossível responder. Ainda que o juiz o tivesse expulsado, ele ainda permanecia em campo. Me achava apavorado. Situações deste gênero constituem os maiores danos de minha carreira, e as consequências certamente me acompanharão.

Os gritos da torcida mexicana me entravam na cabeça, nunca ninguém se esgoelou de maneira semelhante.
Em campo não posso ouvir uma pessoa a falar mais alto. O coração bate-me forte, desanima, como se fosse parar, a perna emperra, a vista escurece, uma cólera doída agita as coisas adormecidas cá dentro.

[Divulgação - Toluca]
[Divulgação – Toluca]

Um soco valeria minha honra? A pergunta repisada ficou-me na lembrança: parece que foi pregada a martelo.

A fúria louca dos torcedores ia aumentar. Conservar-me-ia ali parado, encolhido, movendo os pés frios, os passes trêmulos e despretensiosos. Se algum moleque da base ou outro jogador entrasse em campo, talvez as vaias se transferissem. Qualquer um seria inocente, mas não se tratava disso. Responsabilizando qualquer atleta, o técnico me esqueceria, deixar-me-ia esconder na beira do campo ou outro canto qualquer.

Aperto na garganta, o estádio a girar, o meu corpo a movimentar-se lento, torcedores de todos os lados enchendo-me os ouvidos – e, nesse zunzum, a covardia medonha.

O ar rarefeito, e não percebi direito os movimentos de meu agressor. A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio do campo, o soco fustigou-me o rosto. Uivos, alaridos inúteis. Já então eu deveria saber que rogos e adulações exasperavam-me como algoz. Nenhum socorro. Junto de mim, um homem furioso, segurando-me um braço, açoitando-me. Talvez os socos não fossem tão fortes e deveria ter revidado seguindo as cartilhas de competições continentais. De nada valeria. Certamente minha esquiva, as tentativas de escapar do confronto, eram menos um sinal de dor que a explosão do medo reprimido. Estivera sem bulir, quase sem respirar. Movia-me em total desespero.

O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a mortificação do golpe: o olho duro a magnetizar-me, os gestos ameaçadores, um grito rouco a mastigar uma interrogação incompreensível.

Antes do apito final, cansado, vi o treinador dirigir-se aos colegas de time, sentar-se e logo se levantar. Resmungou e ficou a zanzar agitado na área técnica. Tive a impressão de que ia falar-me, mas baixou a cabeça, a cara amarrada serenou, os olhos esmoreceram, procuraram refúgio onde me abatia, aniquilado.

Não se aproximou: conservou-se longe, rondando, inquieto. Depois de afastou.

E ali permaneci, miúdo, insignificante.

Foi esse o primeiro contato com a atual Copa Libertadores da América.

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Da fé e da alma

por Kadj Oman

Eu confesso: sinto falta do Corinthians. De estádio. Já são quase dois anos sem ir. Desde que se tornou impraticável e desconfortável. Desde que passaram a gritar “bicha” no tiro de meta e tirar selfie nos escanteios.

Não sei de onde vem essa falta. Quem não gosta de futebol sempre pergunta, “como?”. Não sei. Como os gatos nascem sabendo mijar na caixa de areia – e porque os cachorros não? Como a maioria da população de São Paulo vota no Alckmin? Tem coisas que vão pra além da lógica, do racional e da razão. Sendo assim, sou Corinthians, nunca deixarei de ser. De certa forma, com todos os absurdos, a gente olha pra trás, vê uma história que começou antes do mundo e sabe que essas coisas todas passam, mas o Corinthians fica. Fica porque ainda tem sua gente.

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GRÊMIO PERDE PARA O TOLUCA NO MÉXICO

Ontem, entretanto, não era jogo em casa. Era jogo fora, era dia de assistir na TV. E assim como no estádio, assistir na TV também tem seus rituais. Eu nunca fui de assistir jogo em bar. Também nunca curti muito assistir em galera. Sempre sentei no sofá com meu pai, no máximo mais alguém, e concentrei tudo na tela, olhos, cabeça, coração. Sou daqueles que não quer levantar pra ir mijar porque tem medo de perder o gol – mas que, quando o jogo tá difícil, tá duro, vai dar aquela mijadinha da sorte. Odeio quem liga durante o jogo. Odeio pedir pizza e ter que descer pra buscar no meio do jogo. O futebol é a fé do ateu, ou pelo menos deste, e ele tem seus rituais.

Falando em jogo duro, ontem foi duro. Duro de assistir. Vi muitos jogos na várzea melhores que Cobresal x Corinthians. Vão falar do começo de temporada, da altitude, “a bola corre mais” e blablabla, mas o fato é que o apagão não foi só nos refletores, foi também técnico. Dois times bem estruturados e minimamente organizados, mas acertando quase nada em termos de passe. A bola mal parava no chão. Na casa da minha mãe, para onde resolvi ir já que em casa não tenho sinal de TV, admito que por horas foi mais interessante observar as arquibancadas (que saudade de arquibancada, viu), pensar sobre o deserto e maquinar paralelos entre El Salvador, o Cobresal e o futebol moderno.

Uma cidade de mineiros, fundada para abrigar trabalhadores. No meio do deserto do Atacama. Ali germina um clube de futebol, como em tantas outras cidades e bairros de trabalhadores pelo mundo. Um clube modesto, um clube pequeno, como a cidade. Trinta anos atrás, um sonho: jogar a Libertadores. Seis jogos e nenhuma derrota – mas só uma vitória. E mais trinta anos até se classificar pra jogar de novo.

De 1986 pra 2016, muita coisa mudou: o estádio, que antes lotava, ainda que com capacidade para humildes 20 mil pessoas, agora tem mais vagas do que torcedores – quase três vezes mais do que o número de habitantes da cidade. A mina está no fim, e com ela se vai aos poucos o futebol. Nada mais simbólico: no meio de um deserto, onde vivem apenas 7 mil almas, sobrevive um estádio – enquanto as determinações econômicas permitem. Ainda que em direções diferentes, El Salvador e o futebol caminham para a extinção: aquela pela falta de dinheiro, este pelo excesso dele.

Em campo, por todo o primeiro tempo de 65 minutos, o goleiro Cuerdo só tomou um susto: quando Lucca baixou o espírito de Marcelinho e pareceu colocar com a mão a bola a centímetros de seu ângulo direito. Passou perto, e foi tudo. Do lado do Cobresal, não muito mais: Benítez corria pela esquerda e cruzava no segundo pau, e a zaga cortava pra escanteio.

A segunda etapa voltou com os times ainda mais iguais em campo. Ninguém conseguia criar nada, e seus meias abertos pela esquerda (Lucca e Benítez) eram as duas únicas almas com alguma inspiração. Pior para o Cobresal que, após disputa pelo alto com Fágner, Benítez tenha caído e sofrido uma horrível fratura no braço direito – que a televisão chilena fez questão de reprisar inúmeras vezes. Com o melhor do adversário fora de jogo e o cansaço em campo dos dois lados, o Corinthians conseguiu pressionar no finalzinho e ganhar um gol de presente depois de Lucca cruzar rasteiro e o zagueiro Escalona desviar contra.

[Divulgação - Corinthians]
[Divulgação – Corinthians]

Da janela, vieram vários gritos de felicidade. Primeiro estranhei: moro numa área de palmeirenses onde era difícil sobreviver em casos de derrota quando adolescente. Depois raciocinei: o bairro passa por um processo de gentrificação gritante, assim como o Corinthians. Os novos-ricos da Vila Romana são também novos-Corinthianos.

Voltei aos olhos pra tela e já estávamos nos acréscimos. A câmera focalizou Lucca. Do alto dos seus 26 anos, cansado, correndo com a cabeça levantada, o cara que apareceu em um vídeo do YouTube quando moleque sendo zoado pelos amigos por conta do rebaixamento do Corinthians deu um sorrisinho de canto de boca. Um sorrisinho de satisfação, de quem sabe que foi o melhor em campo, de quem parecia estar genuinamente feliz de marcar um gol fora de casa na Libertadores e dar a vitória ao time. E de quem sabe também que foi pura sorte – e se sente abençoado pelos deuses do futebol.

No lance derradeiro, o goleiro Cuerdo foi pra área. Assim como durante todo o jogo, deu pra ouvir os gritos das comissões técnicas e dos jogadores orientando os times. Junto com a torcida, de onde vinha um frisson de expectativa típico de um estádio, por alguns instantes me pareceu que o futebol respirava, enquanto eu prendia a respiração. E assim que o jogo terminou e a câmera enquadrou o estádio inteiro deu pra entender por quê: o deserto, o lugar, a arquitetura, as arquibancadas, o clima, a sonoplastia, tudo ao redor parecia transportado de décadas atrás. Parecia Libertadores. Parecia várzea – e por isso parecia futebol.

Pra ser mesmo, faltou só a alma. E, por mais ateu que eu seja, sei muito bem não tem fé que sobreviva sem alma.

Eternamente em vossos corações,

Kadj Oman

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A certeza da estreia

por Gil Luiz Mendes

Marcos Rocha cruza da direita, Patric se enfia entre dois zagueiros, fica de frente para o goleiro do Melgar e mete a bola de canela nas alturas. Somado aos 2.300 metros do nível do mar da cidade de Arequipa, no Peru, a bola deve ter chegado a vários cinco mil metros de altitude. Passam-se cinco minutos e a jogada se repete. Exatamente igual em distâncias e personagens.

Nesse mesmo momento, no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, o atleticano toma de uma vez só a sua dose de Seleta e pensa: “Por isso que em Porto Alegre ninguém gosta desse Aguirre. Não passa de um professor pardal. Onde já se viu colocar um lateral direito ruim para jogar de ponta-esquerda? E ainda mais na estreia de uma Libertadores?”

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CORINTHIANS VENCE NO DESERTO CHILENO

Ficou claro que a competição mais catimbeira e truncada do mundo tinha começado para parte alvinegra de Minas Gerais quando com menos de três minutos de jogo Arismendi já estava com a cabeça enfaixada. Para o atleticano que já bebericava a sua segunda dose no pequeno copo de vidro a Libertadores começou com o gol de Osmar Fernandes. Típico gol que o Galo toma em competições sul-americanas. Chorado, sofrido e com falha dos zagueiros.

O pensamento do atleticano, enquanto bicava a sua terceira dose de aguardente, estava em Robinho e na dúvida de quando ele vai estrear com o manto preto e branco e colocar Patric no banco para nunca mais sair de lá. A realidade voltou enquanto ele gritava para Rafael Carioca, da intermediária, colocar a bola na área. Lucas Pratto de alguma forma cabecearia aquela bola. O volante alvinegro ignorou o apelo do distante torcedor, chutou de fora e marcou um gol mais bonito que qualquer sonho de estreia de um atleticano.

https://www.youtube.com/watch?v=XOhsWfPrkr0

Antes da quarta caninha, Patric tinha virado craque inquestionável. São poucos os jogadores no mundo que mantinham uma frieza daquela em frente a um goleiro. Driblar ele e um zagueiro de lambuja para tocar com calma para redes. “Patric, eu te amo!”, berrou. Era a virada, 2 a 1.

Ainda faltavam alguns elementos para o atleticano ter certeza que o que via pelo monitor de 29 polegadas, naquele típico boteco mineiro, era uma partida do seu torneio favorito. Todos vieram no segundo tempo. O craque Patric sendo xingado por conta da cor da pele pela torcida adversária, plaquinhas de substituição de madeira no lugar daqueles trambolhos digitais erguidos a cada troca de jogador, volante brasileiro perdendo a cabeça e dando pontapé em gringo, e São Victor do Horto, sempre ele, garantindo mais uma vitória e suportando o tradicional sufoco de fim do jogo que o Galo tradicionalmente toma nessas partidas.

Subindo a ladeira e voltando para a casa, com cinco doses de cachaça na cabeça, o atleticano voltou a matutar: “Robinho talvez seja bom pro Galo, mas pode esperar. Temos o melhor lateral direito ponta-esquerda desse hemisfério. E o nosso técnico? Que visão de jogo, que visão de futuro! Tem algo nele que me lembra o Cuca…”

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Festa na Kantuta

Segundo o Consulado-Geral da Bolívia em São Paulo, cerca de 100 mil bolivianos residem na capital paulista. Extraoficialmente este número pode chegar à 350 mil. Sendo assim, não foi surpresa nenhuma que o setor de visitantes do Pacaembu recebeu uma grande quantidade de stronguistas no começo da noite de ontem (17/02).

O público mandante também era bom, apesar do horário ingrato e da desorganização da PM tumultuando a entrada pelo Portão Principal. Na descida da rua Itajobi, ouvi a torcida gritando o nome de Ganso e dei um sprint de fazer inveja ao camisa 10. Chegando nas imediações da Praça Charles Miller estavam sendo executados os últimos acordes do Hino Nacional.

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Encontrei o Biglia de la Gente – meu parceiro de Conexão Sudaca – e só conseguimos entrar com 15 minutos de bola rolando, perdendo a primeira boa chance do The Strongest de quebrar o jejum de 35 anos sem ganhar fora da Bolívia pela Copa Libertadores, quando bateu o Técnico Universitário, em Ambato. O domínio do São Paulo FC era nítido, mas novamente o setor ofensivo vacilava no último toque e tampouco aproveitou os DEZ escanteios que teve ao longo da partida.

Ao conjunto gualdinegro bastou uma jogada ensaiada no corner em seis toques para Matías Alonso abrir o marcador aos 17 minutos da etapa complementar e fazer sonhar a multidão que transformou o Portão 22 na Praça Kantuta.

https://www.youtube.com/watch?v=0FVNyfGwIak

Edgardo Bauza já havia sacado Hudson para a entrada de Calleri na volta do vestiário e queimou as duas últimas substituições, após o golpe, ao trocar Centurión e Alan Kardec por Rogério e Kieza.

O nervosismo só foi aumentando e o experiente Daniel Vaca mal teve trabalho para garantir a vitória pelo placar mínimo, mas o MÁXIMO para o futebol boliviano. Pela primeira vez uma equipe desce o Altiplano e vence uma equipe brasileira.

Gritos de “Que saudade, quando o São Paulo jogava com vontade”, “Time sem vergonha”, “É Milton Cruz” (!!!) e ofensas à Michel Bastos foram ouvidos no setor da Torcida Independente. O pressionado Patón sabe que para ganhar La Copa tem que se fazer forte em casa e sua equipe já começa a fase de grupos tendo que somar, no mínimo, três pontos fora dos seus domínios. Ao longo da sua carreira de treinador, Bauza só ganhou quatro partidas como visitante na Copa Libertadores em nove edições disputadas.

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