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Futebol Urgente #101 Cueca do Red Bull

JOGO DURO!

Fernando Capez, segundo denúncias de investigação, roubou a merenda das crianças? Neymar, segundo a Receita Federal, sonegou mais de 60 Milhões? Nada disso ficaria de fora do Futebol Urgente. Fernando Toro mandou o abraço para a turma de lá, e, rouco de arquibancada, desfrutou do dia seguinte à vitória de seu Juventus no Canindé.

O programa apresentou a Toro a nova bola do futebol brasileiro, as manchetes francessas de Neymar, os novos hipsters malhados que agitam o mundo do comportamento, e a indefectível cueca do Red Bull Brasil, feita pela Reserva, aquela dos manequins de ponta-cabeça, a “patrocinadora oficial de cuecas do Red Bull Brasil”.

Um programa dos mais impagáveis desta história centenária e, infelizmente, cada vez mais urgente.

redbull

 

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De la Mano del Patón

Dos 11 jogadores que Edgardo Bauza mandou à cancha na noite de ontem (03/02) apenas o lateral chileno Eugenio Mena não fez parte da temporada mais BIPOLAR do São Paulo F.C. desde 1990. A intempérie que recebeu a delegação tricolor em Trujillo poderia virar a metáfora banal de “chuva de gols” se o bandeirinha validasse o cabeceio de Allan Kardec que cruzou a linha ou se PH Ganso não tivesse acertado o travessão.

El Patón é conhecido por montar suas equipes a partir da defesa, porém foi justamente no erro de marcação de Bruno (quanto custa mesmo o Buffarini?) e Centurión que o C.D. Universidad César Vallejo abriu o placar, aos 19 minutos, com o DERECHAZO de Alejandro Hohberg.

1T

O gol dos poetas transformou a etapa inicial em um sarau interminável e a pouca inspiração do tridente ofensivo formado por Ricky, Kardec e Michel Bastos fez com que os visitantes voltassem ao vestiário em desvantagem no marcador.

Após o intervalo, em uma tabela entre Ganso e Hudson, o camisa 25 quase empata a partida. Mas foi a aposta de Bauza que trouxe a igualdade; Jonathan Calleri precisou de oito minutos para mostrar parte do seu repertório – não sem antes tomar um cartão amarelo – aproveitando um lançamento longo – e contando com a indecisão de Luis Felipe Cardoza – e apenas um toque encobrir o goleiro adversário: GOLAZO!

Em busca da virada, El Patón sacou o apagado Centurión para dar lugar à Carlinhos, alterando o 4-2-1-3 inicial para o 4-1-4-1 também com a entrada de Wesley na vaga de Thiago Mendes. Houve tempo para duas chances que foram desperdiçadas – em rebote de Breno e cabeceio de Michel Bastos – resultado que daria mais tranquilidade para a partida de volta.

2T

O primeiro passo foi dado e o bom retrospecto diante de equipes peruanas foi mantido. E apesar da miopia da diretoria que triplicou o preço dos ingressos dos sócios em relação ao ano passado, a próxima quarta-feira não será de cinzas, já que milhares de torcedores devem tingir o Pacaembu de vermelho, preto e branco.

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Não existe clássico do bem

[Ale Vianna / CA Juventus]
[Ale Vianna / CA Juventus]
Na frente da bilheteria destinada aos visitantes – um único guichê, insuficiente, e que fez com que alguns torcedores perdessem todo o primeiro tempo – um repórter com microfone na mão vai fitando quem passa já com o ingresso entre os dedos. Vem em minha direção.

– Pode falar um instante? Você é torcedor?
– Não, melhor falar com quem está com camisa mesmo.
– Mas é isso que estou procurando, alguém que só veio assistir o jogo na boa.
– Não, mas não necessariamente vim assistir ‘na boa’. Sei lá, melhor falar com quem é torcedor dos times, não?
– Estou procurando quem não é. Quem só veio. Esse é o clássico do bem.
– Não, não, como assim… ah, fala com os torcedores, até mais.

Portuguesa e Juventus fizeram um ótimo jogo na noite desta quarta-feira. Tradicionalíssimos, se encontraram apenas pela segunda vez na história pelo Campeonato Paulista da Série A-2: há três anos, deu Lusa; desta vez, o Moleque Travesso fez 1 a 0, conquistando apenas a segunda vitória sobre o rival visitando o Canindé em, agora, 23 jogos pelo Estadual na casa portuguesa – os demais pela elite do Paulistão, claro.

Logo nos primeiros minutos, deu para perceber os confrontos tramados em campo. No ataque lusitano, o grandalhão Dominic brigava por cima e por baixo com os zagueiros Astorga e Borges; do lado de lá, os rápidos juventinos Adriano Paulista e Nathan partiam para cima dos laterais Digão e Luan. E foi exatamente Adriano que saiu um pouco da ponta esquerda, recebeu mais centralizado e soltou o pé, de longe, para surpreender o goleiro Douglas e abrir o placar aos 21 minutos. Explosão da torcida grená que já cantava forte atrás do gol da Marginal.

Aí surgem os dois caras do meio-campo do Juventus que passam a dominar o jogo. Adiel, aquele, para desafiar qualquer analista tático do mundo pós-Guardiola, não joga só de 10, mas, pasmem fãs da Premier League, joga de 10 clássico. E que classe. Ensaboa a bola a cada domínio, foge das faltas, lança de chapa, de trivela, no chão, por cima, finta, passa e corre para a área. Partida grandiosa, interrompida antes da metade do segundo tempo para dar novo gás no momento de pressão adversária. E que falta faz o meia de 35 anos num campeonato de técnica tão nivelada, ainda que tenha saído empurrado pelos rivais que reclamavam de cera – e o jogo esquentando.

[Central 3]
[Central 3]
O outro é Derli. Camisa 8 de fôlego invejável e passadas largas, rouba a bola até do sobrinho em festa de aniversário. Junto do parceiro Fellipe Nunes, o 5, venceu a grande maioria dos lances que se propôs. Gigante.

A Portuguesa também criou e por pouco não empatou. No primeiro tempo, o juventino Astorga salvou bola em cima da linha; no segundo, cruzamentos na área, puxados pela torcida da casa, pararam no quase e numa defesa incrível, à queima-roupa, do goleiro André Dias. Nas escapadas do contra-ataque visitante, Léo Souza e Nathan deram trabalho, mas faltou capricho, e perna, para matar o jogo.

Já eram os minutos finais quando, numa falta na ponta esquerda, de pé de ouvido nos cantos da Setor 2, Elder Granja, aquele, que substituira Adiel, faz o tradicional gesto pedindo para sua torcida cantar mais alto, motivando as bancadas. Os juventinos seguem em bom som quando Adriano Paulista, naquelas de segurar a bola perto do escanteio para ganhar tempo, arrisca um chapéu. Ele erra um pouco no movimento, mas ainda recupera a bola, o zagueiro dá o tranco, ele se segura, rola a bola para um companheiro, que sofre a falta e é chutado no chão. Renan, capitão da Lusa, compra a briga e vai cobrar o atacante. Vai ter volta!, dá um chapéu pra cima de mim?, tá cheio de graça, hein?… dessas para baixo, imagino.

O confronto termina quente. O elenco do Juventus, duas vitórias em dois jogos, se aproxima da torcida em gestos de gratidão e reverência. Um membro da comissão técnica pula de forma eufórica, feito título. Não é para menos: na volta à Série A-2, resultado maiúsculo contra grande fora de casa, estádio com mais de 7 mil pagantes (Flamengo, Fluminense e Botafogo jogaram nesta rodada do Carioca para, somados, nem 6 mil).

Segue a comoção. E a comunhão entre o cimento, a grade e a grama. Um atacante beija o símbolo do clube insistentemente. Um zagueiro bate nas veias do braço, depois no peito. O goleiro também atravessa o campo, exausto, mas em tempo de aplaudir os torcedores. Cantando que os grandes terão de aguentar o Moleque Travesso novamente na primeira, vão deixando lentamente as arquibancadas do rival, roucos.

Para lembrar que é por isso que existem os clássicos, os grandes jogos, os tabus, as rivalidades. Por noites como essa. Sem espaço para ‘clássico do bem’.

Ainda bem.

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Folha Seca #95 Ferroviária

Com o início do Campeonato Paulista, o Folha Seca #95 tratou de um importante clube do interior do Estado, retratado em grande trabalho de pesquisa de Vicente Baroffaldi que lançou na virada do ano Ferroviária em Campo – Tricampeã do Acesso 1955 – 1966 – 2015.

O livro de Baroffaldi lembra e compara esses três títulos do clube de Araraquara que está de volta à elite estadual depois de longa ausência, quando chegou inclusive a cair até a quarta divisão paulista.

O podcast, apresentado por Paulo Junior e Leandro Iamin, também falou de quadrinhos, judô, Mostra de Cinema de Tiradentes, Corinthians, Sylvester Stallone, Senna e, claro, fechou com um samba-enredo para homenagear a semana de Carnaval.

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Thunder #89 Artur Joly

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Alta Fidelidade

 

 

Artur Joly é um artesão da masterização de discos, um amante do tipo tarado quando o assunto é  sintetizadores e um tipo que tem cheiro de vinil, hálito de acetato e olhos escuros que lembram mesmo discos em duas vitrolas brancas. Foi ele o convidado da semana de Luiz Thunderbird.

Na conversa, os tempos de DJ nos verões da MTV, os improvisos nas comédias da TV e da vida, o começo e a sustentação de coleções de aparatos musicais que nem sempre soube manipular, produções mil e a volta do vinil com força ao cenário musical do Brasil.

Para quem gosta de um papo técnico, classudo e apaixonado sobre a música que se cria, fabrica, toca e escuta, este podcast está tinindo. Faça o download e nem se preocupe em virar o disco.

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Baião de Dois #03 Estaduais e Carnaval

Como bom programa de cultura nordestina, é claro que o Baião de Dois desta semana não podia ignorar o Carnaval. Mas, além da festa que a essa altura já toma as ruas de toda a região, o programa também falou de bola rolando, claro.

Na apresentação de Gil Luiz Mendes e com participação de Júnior Vilela, o podcast tratou do começo dos Campeonatos Estaduais no Nordeste: apesar dos clássicos, as torcidas andam animadas com os duelos locais?

O papo também falou do Bahia, que tem um amistoso marcado nos Estados Unidos contra o Orlando City, de Kaká; da classificação dos estádios feita pelo Ministério do Esporte – óbvio, só as pobres arenas ganharam nota máxima para o governo; e dos 102 anos do Santa Cruz.

Seguimos no ritmo nordestino aqui na Central 3 – mas é claro que só voltamos dia 16, depois da folia.

 

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Mesa Oval #03 Brasil vs Chile

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Terça de Try!

A Mesa Oval desta semana coloca em discussão a gira da seleção feminina na África do Sul e os preparativos para a estreia da seleção masculina de XV, contra o Chile, fora de casa, em seu principal torneio da história: o Campeonato das Américas.

Como convidado à mesa, João Neto, jogador do SPAC, que atuou pelos Tupis na vitória sobre o Chile, em Barueri, por 24 a 16, em Abril de 2014. Falamos sobre aquele jogo e sobre fotografia no rugby, que é o trabalho do João Neto.

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Jonathan Calleri foi apresentado oficialmente ontem (01/02) no São Paulo FC e vestirá a camisa 12, tradicionalmente reservada aos goleiros suplentes, para fazer média com a torcida do seu clube anterior. Em 1925, o Boca Juniors realizou uma turnê pela Europa e a delegação era composta por dezessete atletas, dois dirigentes, um jornalista do diário Crítica e um torcedor: Victoriano Caffarena, que foi apelidado pelos futebolistas de “El Jugador Número 12”. Setenta anos depois, a barra brava do clube que desde a década de 1960 levava o apodo dado à Caffarena, criou a Fundación El Jugador Número 12 para tentar limpar o nome da organização.

Federico Mancuello também foi apresentado na Gávea com a camisa 12, mas logo solicitou a camisa 23 em alusão ao número de vitórias do Independiente no confronto histórico diante do Racing. E no último triunfo rojo sobrou até para o ídolo blanquiceleste Diego Milito.

Milito

Por falar na Academia, sua principal brava brava – La Guardia Imperial – se autodenomina La Nº1, enquanto outra torcida que divide espaço no setor popular do Cilindro é conhecida por La 95. O motivo? É o prefixo da linha de ônibus que vai de Palermo até Avellaneda.

La 95Linea 95

Do traçado urbano da Grande Buenos Aires pegamos a Ruta Nacional 1 e chegamos até a capital da província: La Plata, conhecida como Ciudad de las Diagonales. Por ser uma cidade planejada, suas vias são designadas por números. E foi no encontro da Avenida 1 com a calle 57 que o Estudiantes ergueu sua cancha no começo do século passado. Quase cem anos depois o Estadio Jorge Luis Hirschi foi demolido por questões burocráticas, mas o desejo dos pincharratas é voltar ao local onde o clube conquistou grande parte dos seus títulos.

1 y 57

Ainda em La Plata, a barra brava do arquirrival Gimnasia é a famigerada La 22, mas neste caso não é por conta de nenhum logradouro. Marcelo Amuchastegui, líder da torcida entre os anos 80 e 90, era conhecido no submundo platense como El Loco Fierro, e na Quiniela – jogo de azar popular na Argentina, semelhante ao Bicho – o 22 é o número do Loco.

La 22

Outro número famoso na Quiniela é o 14, que designa o Borracho. Por este motivo diversas barras bravas na Argentina se identificaram: Cambaceres, Lanús, Morón e, principalmente, River Plate. Ao que tudo indica a escolha da camisa por Javier Mascherano na Albiceleste e no Barcelona é por conta da proximidade do Jefecito com Los Borrachos del Tablón.

Javier Mascherano          Mundial 2006

Do outro lado da Cordilheira, quando o ídolo Esteban Paredes voltou ao Colo Colo, no começo de 2014, pediu para usar a camisa 30 sonhando com a possibilidade de conquistar o trigésimo campeonato chileno. Na ocasião, El Bendito del Área foi fundamental para o título do Clausura anotando 16 gols.

Esteban Paredes

Já no Uruguai o número 5 tem um gosto especial para os carboneros, afinal são 5 títulos da Copa Libertadores e 2 quinquênios. No último pentacampeonato nacional (1993-7), o Peñarol era capitaneado por Pablo Bengoechea e o seu gesto com todos os dedos da mão abertos virou uma estátua de bronze em Los Aromos.

Bengoechea

Recentemente, o Manya aplicou uma goleada por 5 a 0 no Bolso em partida válida pelo Clausura 2014. No ano seguinte, El Profesor Bengoechea foi contratado como treinador do Peñarol e em pouco mais de uma temporada à frente da equipe não conseguiu ganhar nenhum dos 7 clássicos (4d, 3e) que dirigiu diante do Nacional, motivo que lhe custou o cargo às vésperas da Libertadores e Clausura 2016.

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Como transformar seu dinheiro em copas

por Lucas Borges

“Colo Colo sólo tiene US$ 1,5 millones (cerca de R$ 6 milhões) para tres refuerzos”, publicou no dia 29 de dezembro de 2015 a versão chilena do diário esportivo AS, sobre o projeto orçamentário do atual e maior campeão de futebol do Chile para 2016. Meses antes, o Chilevisión decretava o elenco do “Cacique” como o mais caro do país ao custo de 380 milhões de pesos mensais, pouco mais de R$ 2 milhões por mês.

Também em dezembro passado, a Liga MX, responsável por organizar o Campeonato Mexicano, anunciava que para o início de 2016, haviam sido realizadas pelas equipes da primeira divisão local 51 transferências em um montante total de 390,5 milhões de pesos mexicanos, cerca de R$ 90 milhões. Menos do que os irreais US$ 31 milhões desembolsados somente pelo Tigres (um dos muitos times mexicanos pertencentes a multimilionários) em Gignac, Aquino, Uche e Jürgen Damm exclusivamente para a fase semifinal da Copa Libertadores (o desbunde não surtiu efeito e o Tigres acabou derrotado pelo bem mais modesto River Plate na decisão).

Cifras ainda são artigo raro nas manchetes da mídia esportiva latino-americana, bem menos influenciada pela tendência europeia à monetização da cobertura jornalística do que a imprensa brasileira. Mas o site alemão Transfermarkt dá mais elementos para a comparação entre as agremiações do Brasil e seus vizinhos.

Segundo a página eletrônica, 400 mil euros (menos de R$ 1,5 milhões pelo câmbio atual) é a cifra correspondente à compra mais cara já realizada por um clube de futebol da Bolívia em toda história. Em 2007, o The Strongest pagou esta quantia ao Cerro Porteño pelo meio campista paraguaio naturalizado boliviano Pablo Escobar.

O Atlético Nacional, mais tradicional representante da Colômbia na próxima Copa Libertadores, tem elenco avaliado em 12,4 milhões de euros, informa ainda o Transfermarkt, sendo que nenhum dos seus atletas custa mais do que um milhão de euros – um dos mais caros é o meia Macnelly Torres, antigo desejo de times brasileiros, que valeria exatamente um milhão de euros. Em um número semelhante – 12,60 milhões de euros – é estimado cada um dos grupos dos gigantes uruguaios Nacional, do zagueiro Diego Polenta, cotado em 1,75 milhão de euros, e Peñarol, do jovem meio campista Nahitan Nández, avaliado em 1,5 milhão de euros.

Concorrência desleal

Eis alguns dos tópicos das últimas semanas na agenda financeira dos clubes brasileiros que disputarão a próxima Libertadores: Paulo Nobre, presidente do Palmeiras, cogitava elevar em mais de 10% a folha salarial do Alviverde, já estimada em R$ 7 milhões por mês em 2015. Ao contratar oito novos atletas neste ano – depois de ter adquirido outros 25 na temporada anterior – o “capo di tutti i capi” do Palestra Itália provavelmente cumpriu sua meta.

Assolado por um maremoto chinês que levou quase todo seu meio-campo, o Corinthians cogitava se recompor pagando ao Al-Nassr, da Arábia Saudita, R$ 16 milhões por Marquinhos Gabriel, ex-Santos. Depois de passar quase dois anos emprestado ao São Paulo – período durante o qual o Alvinegro arcou com metade de seu ordenado –, Alexandre Pato poderia assentar de vez no Parque São Jorge recebendo R$ 800 mil.

Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians 31/01/16
[Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians 31/01/16]
O Atlético-MG estudava aumentar em sete vezes a verba para contratações neste ano após acumular R$ 253 milhões em 2015 (maior entrada de dinheiro da história do Galo), dispondo R$ 16 milhões para o técnico uruguaio Javier Aguirre. Parte da verba foi usada para levar o meia equatoriano Juan Cazares, pertencente ao Independiente del Valle e até 2015, atleta do Banfield. Mais discreto, o Grêmio pagou R$ 7 milhões para contar em definitivo com o volante Maicon, do também moderado São Paulo, que concentrou reforços na volta do experiente zagueiro Diego Lugano, no Cerro Porteño.

Os números, registrados em tempos de crise da economia brasileira, ilustram o abismo financeiro entre a América Espanhola e o “Mais grande do mundo”, como os vizinhos hispânicos costumam se referir em tom irônico ao único país de língua portuguesa do continente.

US$ 2,375 trilhões era o valor do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2014, segundo o Banco Mundial, o sétimo maior PIB do mundo. Bolívia e Paraguai, os países mais pobres da América do Sul, por exemplo, beiram os US$ 30 bilhões de PIB. Não é preciso pinçar os extremos para evidenciar esta diferença. O segundo maior PIB da América Latina, do México, é de US$ 1,2 trilhão.

Nem mesmo a Argentina, grande concorrente regional brasileira na bola e nos negócios, com o terceiro maior PIB continental (US$ 579,2 bilhões), faz frente. Ainda que possua em seus quadros a megaestrela Carlitos Tevez, o Boca Juniors, por exemplo, tem elenco inferior a oito times do futebol brasileiro. Avaliado em 60,43 milhões de euros, novamente segundo o Transfermarkt, o elenco xeneize superaria apenas um dos cinco participantes brasileiros na Libertadores, o Grêmio. O escrete do Corinthians (antes da devassa à qual foi submetido) valeria 96,1 milhões de euros, o do Palmeiras, 81,1 milhões, o do Atlético-MG, 66,75 milhões e o do São Paulo, 60,7 milhões.

Pelo título brasileiro de 2015, R$ 10 milhões foram pagos ao Corinthians pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) como premiação. “Na Argentina não há orçamento”, explica o jornalista portenho Diego Huerta, dos sites Cultura Redonda e Martí Perarnau. “Com a mudança dos direitos de transmissão do futebol do grupo Clarín para o governo em 2009, isso acabou. O Boca, ao ser campeão neste ano, teve prêmios de seus patrocinadores, mas não da AFA (Associação Argentina de Futebol) e da TV. Os direitos de transmissão de televisão aumentaram muito com a participação estatal, mas esse dinheiro antes passa pela AFA, que decide o quanto passa aos clubes.”

Quando a moeda não ganha jogo

“Tamanha fortuna para que nos deixassem desfrutar das últimas duas copas”, bradaria em tom de broma um torcedor albiceleste sobre o destino das duas Libertadores passadas. De fato, a despeito do cenário descrito acima, San Lorenzo e River Plate venceram os mais recentes troféus, aumentando para sete (24 a 17) a diferença entre argentinos e brasileiros no palmarés do torneio.

Sem deixar margem para poréns, cuervos e millonarios passaram por brasucas em seus caminhos. O San Lorenzo eliminou Grêmio e Cruzeiro no mata-mata antes de encontrar Bolívar e Nacional-PAR e finalmente se sagrar campeão. O River despachou o mesmo Cruzeiro de forma acachapante nas quartas de final, aplicando 3 a 0 na Raposa em pleno Mineirão depois de ter perdido por 1 a 0 no Monumental de Nuñez. “Vendo esse jogo, muitos de nós nos perguntávamos se esse Cruzeiro poderia estar entre as cinco primeiras equipes da Argentina”, conta Diego Huerta sobre a avaliação dele e de seus conterrâneos dos então bicampeões brasileiros.

Bruno Cantini/Atlético MG
[Bruno Cantini/Atlético MG]
Ao Norte do Prata, um aficionado verde-amarelo alegaria que a Libertadores passou a ser prioridade por aqui a partir dos anos 1990. De 1992 para cá, somam-se 12 conquistas brasileiras contra nove argentinas – mais uma paraguaia, com o tradicionalíssimo Olimpia, uma colombiana, com o ultradefensivo Once Caldas, e uma equatoriana, por meio da estruturada LDU.

Mauro Cezar Pereira, comentarista dos canais ESPN, rebate: “Tem que olhar aí não só a questão dos títulos conquistados. Nos últimos anos, a Argentina andou quebrada. O país estava falido, viveu situação econômica caótica (chegou a trocar quatro vezes de presidente em menos de quatro anos). Nem se compara com as turbulências vividas no Brasil hoje. É até assustador pensar como a folha salarial de San Lorenzo e River está longe da dos brasileiros. A exceção talvez seja o Boca, com grande influência política do Macri [Mauricio, ex-presidente xeneize e recém-nomeado presidente da Argentina], que utilizou muito o futebol. Eventualmente aparece um time da Colômbia, mas ai é coisa de mecenas, como já teve até dinheiro do narcotráfico.”

O jornalista tem na ponta da língua uma série de motivos para a ineficiência do dinheiro brasileiro. Deficiência tática, falta de informação, empáfia, desatualização dos treinadores locais. À distância, Huertas concorda. “No econômico [o Brasil] é superior, mas no tático e técnico podemos discutir. E no plano dos treinadores estou seguro de que é muito inferior ao futebol argentino, muito inferior. Os planteis brasileiros podem ser ricos, mas essa diferença pode ser reduzida por um bom trabalho tático, um bom treinamento e formação de equipes muito sérias.”

Não por acaso, São Paulo (que trocou o colombiano Juan Carlos Osorio pelo argentino Edgardo Bauza) e Atlético-MG (do uruguaio Diego Aguirre, que antes já havia passado pelo Internacional) serão comandados por estrangeiros na próxima Copa Libertadores. O Palmeiras, hoje de Marcelo Oliveira, recentemente esteve nas mãos do argentino Ricardo Gareca e o Corinthians de Tite foi gerido pela lenda Daniel Passarela em 2005, sucedendo no cargo o mesmo Tite, então em sua primeira passagem pelo Parque São Jorge – o gaúcho de Caxias, aliás, é uma das raras referências de técnico moderno no país. O intercâmbio de maestros não tem mão dupla.

Huertas vai além no diagnóstico das deficiências do vizinho. Nem tudo que reluz é taça ou ouro. “Os clubes argentinos hoje aceitam que o futebol brasileiro é o mais forte da região e que nessa competição vai ganhar sempre. Quando fazem uma proposta por um jogador jovem, não vão tentar segurá-lo negociando um contrato melhor. Mancuello (ex-Independiente) foi para o Flamengo, Centurión (ex-Racing) foi para o São Paulo, Allione (ex-Vélez Sarsfield) foi para o Palmeiras”, diz ele, para quem a diferença financeira começou a se aprofundar com a chegada dos anos 2000, tendo como marco a compra dos cobiçados Javier Mascherano e Carlitos Tevez pelo Corinthians e sua parceira MSI, em 2005.

“Ao mesmo tempo, nos perguntamos se os brasileiros efetivamente compram os melhores jogadores quando chegam à Argentina. Muitos atletas daqui partem para centros como Portugal, França ou mesmo clubes pequenos da Espanha e da Itália e poderiam passar pelo Brasil se os brasileiros tivessem a óptica de analisar a fundo o futebol argentino. Todos os anos, dez ou 15 jogadores explodem e aparecem. E no início da carreira eles custam menos. Mas o Brasil vira as costas e não aprofunda essa diferença econômica.”

Para Mauro Cezar, essa diferença tampouco se converterá em amplo favoritismo na próxima Libertadores. “O Palmeiras gasta muito em quantidade e talvez fosse mais interessante gastar em qualidade. O Atlético tem feito muitas loucuras financeiras nos últimos anos e a conta vem mais tarde, como já veio para o Corinthians.”

Drama oriental

Mexicanos não se decidem se norte ou sul-americanos, dividem-se entre Concacaf e Conmebol e não passam do vice na Libertadores (já são três, com Cruz Azul, em 2001, Chivas, 2010, e Tigres, 2015). Paraguaios desafiam a limitação orçamentária com bravura guarani, mas não superam raros surtos de sucesso. Colombianos e equatorianos logram glórias ainda mais esparsas e chilenos não traduzem no campo das copas o êxito recente de sua seleção.

E além de todos esses, uma terceira força costumava fazer frente a argentinos e brasileiros até os anos 1990, quando a chama simplesmente minguou. O Uruguai, resumido nos místicos Nacional e Peñarol, esteve presente em nada menos que 16 de 28 decisões de Libertadores de 1960, quando a competição foi criada, até 1988, quando o Nacional venceu a última de suas três taças continentais – foi vice em outras três oportunidades. Dali em diante, os orientais só voltariam a brigar pelo caneco em 2011. Neste ano, o Peñarol (do técnico Diego Aguirre) acumulou seu quinto vice-campeonato e desperdiçou o hexa continental perdendo para o Santos de Neymar.

Lucas Uebel/ Grêmio FBPA
[Lucas Uebel/ Grêmio FBPA]
“É um pais pequeno, que depende de vender seus jogadores jovens para sobreviver”, afirma Mauro Cezar Pereira. “Isso acontece hoje na Holanda, que consegue montar uma seleção terceira colocada de Copa do Mundo [no Brasil-2014], mas que tem clubes figurantes. É um país muito desenvolvido, cuja população vive extremamente bem, mas que no futebol não consegue acompanhar o pique desses números malucos da Europa. O Uruguai [terceiro colocado da Copa do Mundo anterior, na África do Sul-2010], mal comparando, vive uma situação parecida.”

O contraste realmente sugere uma disputa tão desigual quanto a proporcionada por magnatas norte-americanos, árabes ou asiáticos na Europa. Atualmente, os participantes da primeira divisão do Uruguai recebem US$ 29 mil pelos direitos de transmissão de televisão dos seus jogos. No Brasil, em 2016, Corinthians e Flamengo devem ganhar R$ 170 milhões cada um pelos direitos de TV da Série A.

Mas o jornalista uruguaio Andrés Reyes apresenta uma visão mais particular da derrocada celeste no estrangeiro. “Creio que o fator econômico incida, mas que não seja decisivo. Atualmente, os grandes do Uruguai, Nacional e Peñarol, pagam salários importantes e manejam orçamentos que se não se aproximam dos principais clubes da Argentina e do Brasil, são semelhantes ou até maiores que os de equipes como Olimpia, Nacional-PAR, Once Caldas e todos os demais ‘não poderosos’ que definiram a Libertadores nos últimos anos. Inclusive o Defensor Sporting [também uruguaio], que teve mais participações que Nacional e Peñarol com orçamentos muito mais baixos.”

Segundo Reyes, a Libertadores deixou de ser uma prioridade na capital Montevidéu a partir do momento em que a rivalidade entre Nacional e Peñarol ganhou proporções obsessivas e transformou o campeonato nacional em uma disputa pessoal. “Quando em 1997 o Peñarol consegue ser campeão durante cinco anos seguidos, o campeonato passou a ser uma luta entre ambos pelo título ou até para evitar que o rival seja campeão.”

“Chegamos ao extremo de o Nacional, na Libertadores de 2014, jogar com reservas a partir do terceiro jogo da fase de grupos, priorizando o torneio local. Até o final dos anos 1980, era o contrário. Nesse processo, as redes sociais exerceram grande influência: tanto Nacional como Peñarol têm uma pressão constante para ganhar todos os campeonatos nacionais e os clássicos e se perdem, o povo pressiona para que o técnico seja demitido. Por isso as equipes menores, como Defensor e River [do Uruguai], em geral têm campanhas melhores na Libertadores. O Peñarol chegou à final em 2011 sem planejamento, quase por casualidade. Quando os grandes do Uruguai se convencerem de que a glória autêntica se obtém fora das fronteiras e pensarem no torneio nacional como um passo prévio, o problema começará a ser revertido. Por enquanto, estamos longe.”

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Trivela #44 Transferências

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Transferências!

A janela de transferência chega ao fim, e a Trivela fez, como de costume, uma cobertura completa desta movimentação. No podcast da semana, com Felipe Lobo, Leandro Iamin e Paulo Júnior, você confere as últimas da janela e as opiniões da equipe Trivela.

Ramires sai do Chelsea e vai para a China. Os brasileiros estão aceitando aquilo que ninguém no mundo aceita? E quais são os outros destaques, de Barcos a Guarín, passando pela transferência de Pato para o Chelsea?

Outra pauta do podcast foi o anúncio de Guardiola, que sairá de Munique para treinar o Manchester City a partir da temporada 2016/17. O que esse anúncio representa para as partes?

Deu tempo de falar também do começo da Libertadores, que acontece nesta semana e pode trazer emoções para o São Paulo, e o início dos estaduais pelo Brasil.

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O Som das Torcidas #73 San Lorenzo

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Y San Lorenzo Ya Volvió!

Na abertura da quarta temporada do podcast mais longevo da casa, Leandro Iamin e Matias Pinto retornam à Boedo para ver como está a torcida do San Lorenzo após três anos intensos.

A conquista da Libertadores, a volta para a casa e a assunção do Papa Francisco são as principais novidades, enquanto as antigas rivalidades com Boca Juniors, Huracán e River Plate seguem sendo cantadas pela hinchada más ingeniosa em ritmo de murga y carnaval, além das parcerias musicais com a cantora Mimi Maura e a banda La Mosca Tsé-Tsé

Conheça outras arquibancadas visitadas pelo SDT

Acesse a página especial do podcast e visite também o site com a primeira temporada do Som das Torcidas em vídeo, numa turnê pelos estádios da capital paulista!

 

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