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Pedro Rocha, um zagueiro varzeano

Por Bruno Rodrigues

Imagine só jogar um campeonato de várzea e, pela frente, ter de enfrentar um craque do quilate de Pedro Rocha. Isso mesmo: Pedro Rocha, o uruguaio tricampeão da Libertadores pelo Peñarol nos anos 60 e ídolo do São Paulo na década de 70, cuja estreia pelo Tricolor completou 45 anos no último domingo.

Depois que se aposentou do futebol profissional, El Verdugo escolheu a capital paulista para morar e aceitou o convite de alguns amigos para fazer parte de um time de uruguaios que viviam na cidade.

A equipe, que quase sempre utilizava um uniforme parecido com o da Celeste, foi formada por membros da Casa de Uruguai, uma espécie de clube no qual os compatriotas do ex-são-paulino costumavam se encontrar. Um desses uruguaios, Roberto Managau, recorda a experiência de atuar ao lado de Pedro Rocha, seu ídolo desde a época em que ainda jovem já frequentava o Centenario para assistir ao clube de coração.

Casa de Uruguai

“Foi fantástico. Eu vi a carreira toda dele no Peñarol. Para mim foi o melhor jogador que eu vi. O Pedro jogou de zagueiro com nós, não quis jogar no meio” recorda Roberto, que hoje é gerente do restaurante uruguaio El Tranvía, localizado no centro de São Paulo.

“Eu me lembro de um jogo de mata-mata nesses nossos campeonatos, teve uma falta para nós na meia-lua e todo mundo disse: ‘Por favor, Pedro. É sua’. Um amigo nosso, uma figura, disse que queria cobrar. O Pedro deixou e falou: ‘Claro. Se tem fé, chute’. A bola foi parar lá em Montevidéu (risos)”, completa Roberto.

Outros ex-jogadores uruguaios defenderam o time da Casa de Uruguai em campeonatos amadores, como Santiago Pino, companheiro de Rocha no Peñarol dos anos 60 e depois técnico de futebol no Brasil, e Héctor Silva, meia que passou pelo Palmeiras no início dos anos 70 e que faleceu no fim de agosto passado.

Definitivamente aposentado dos gramados – e das peladas – Pedro Rocha chegou a frequentar algumas vezes o restaurante gerido pelo amigo Roberto. “Ele vinha aqui quando ainda não estava tão doente. A última vez foi com o Muricy, que o ajudou muito”, diz o gerente do El Tranvía.

Rocha faleceu no dia 2 de dezembro de 2013, um dia antes de completar 71 anos. O Verdugo lutava há anos contra complicações decorrentes de uma atrofia do mesencéfalo. A várzea será eternamente grata por esse grande zagueiro.

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Conexão Sudaca #67 Chilavert

Nossos compas receberam José Luis Chilavert que disparou para todos os lados: Conmebol, FIFA, Julio Grondona, Nicolás Maduro entre outros.

O seu começo no Sportivo Luqueño, a passagem pelo Guaraní, o ciclo vitorioso pelo Vélez Sarzfield e a orgulho de representar o seus país em duas Copas do Mundo.

No mais, os amigos que o futebol deixou e as polêmicas em que se meteu…

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Xadrez Verbal #18 Papa em Cuba

Papa Francisco esteve em Cuba, onde falou coisas que não agradaram alguns e deixou de falar outras coisas que desagradaram outros. Não entendeu? Depois ele foi para os EUA, falou no Congresso e hoje falará na ONU. Quatro conjugações do verbo “falar”. Santos e Maduro se reuniram, parece que chegaram num acordo, mas…só parece? E a Guiana também voltou a reclamar do governo venezuelano.

Tem Bolívia, Brasil, Burkina Faso, Israel, Síria, mas a notícia da semana é que a União Europeia chegou a uma resolução sobre as cotas de refugiados, que também virão para o Brasil e, segundo Kerry, serão bem recebidos nos EUA, além de um Menino Neymar cotado em Florits.

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Raíces de América

Por Marcelo Mendez

Aconteceu muita coisa em 1981.

No Brasil, o Pelé descolou uma namorada loira, muito bonita com um apelido estranho, “Xuxa”, o Queen inaugurou a rota de shows internacionais no Brasil tocando no Morumbi, do outro lado da Dutra tentaram explodir o Rio Centro e no mês de Junho, chegou por aqui um revolucionário brinquedo chamado “Cubo Mágico”. Mas nem ele, o brinquedo, me interessava.

Com 11 anos de idade, minha vida era jogar futebol, ouvir futebol, ler futebol e assistir futebol, tanto em estádios, como na televisão, na qual o Flamengo que contava com feras como Leandro, Mozer, Junior, Andrade, Adílio, Tita, Nunes, Lico e nosso herói Zico toda criança queria ser o “Galinho de Quintino” – dava bailes de bola. Em suma, o Mengão arrebentava.

Após ter sido campeão brasileiro em 1980, o “Mais Querido” carimbou o passaporte para a Libertadores do ano seguinte chegando à final, na qual enfrentaria um time chileno que a gente nunca tinha ouvido falar por aqui, um tal de Cobreloa, que ficava numa cidade de nome ainda mais estranho para nós, Calama.

Na partida de ida, placar magro (2 a 1) e um caminhão de gols perdidos. Faltava cruzar a Cordilheira para a volta e aí começa a história que por mim será contada…

21 de Novembro de 1981, a Batalha de Santiago

Posso assegurar que para nós, até aquele momento a Libertadores da América era um campeonato que não tinha grande importância. O Santos havia vencido duas vezes, o Cruzeiro outra. Era o que sabíamos sobre a competição. Quanto ao jogo do Flamengo no Chile, parecia uma conveniência.

O rubro-negro daria umas trombadas até que a bola parasse no chão e então, com Andrade Adílio e Zico na meia cancha, tocaria a criança até que finalmente metessem uns gols e trouxessem o caneco. Mas não. Um duelo copeiro nessa época, era disputado em varias outras esferas além das quatro linhas.

A ditadura sanguinária comandada por Augusto Pinochet completava oito anos e vivia seu esplendor. Todo mundo quieto, quem atrapalhava era preso e torturado e caso não bastasse assassinava-se o sujeito e pronto. A banalidade da violência dos regimes ditatoriais na América do Sul raiava o absurdo pleno.

Hoje se sabe que ao todo foram mais de 40 mil vítimas entre 1973 e 1990. Um verdadeiro massacre deixado como herança dos anos de chumbo, que começavam a ser questionados mundialmente no começo dos anos 80. A ditadura chilena precisava mudar essa imagem e como é comum nesses casos abraçaram o menino futebol.

A propaganda foi maciça. O jogo seria em Santiago, no Estádio Nacional – o mesmo palco que servira de masmorra para torturas e assassinatos naquele famigerado setembro de 1973. Ao todo, 1534 quilômetros separam Calama da capital do país. Uma mobilização populista criou um clima absurdamente bélico para o jogo. A Conmebol, incumbida de fazer sua parte, escalou um emérito árbitro caseiro pra coisa; Ramón Barreto, apitador uruguaio, de “bons” serviços prestados, foi o escolhido. E todo o Chile entendeu que o Flamengo era um inimigo de uma pátria boa, ordeira e humilde. O resultado foi clamoroso…

Logo na chegada da delegação rubro-negra, testemunharam-se coisas estranhas.

“Chegamos e vimos um corredor polonês formado por guardas de escudos e cassetetes. Ao entrarmos, eles estreitaram o corredor e ali mesmo já tomamos uns dois ou três pescoções cada um” Relatou Adílio, muito tempo depois em entrevista para o Globo Esporte. A coisa já começou fervendo.

Dentro de campo, a marcação também foi cerrada. O Cobreloa era um bom time. Tinha bons meias, marcadores implacáveis como Eduardo Jiménez e Enzo Escobar, e ambos chegavam junto à vera mesmo. Mas o absurdo aconteceu aos 24 minutos do 1º Tempo; rebote de um chute de Nunes, Adílio vai atrás da jogada e recebe uma pancada no rosto. Imediatamente sai do lance e reclama com o árbitro.

“Desde o começo do jogo a gente viu que ele estava com uma pedra na mão. Não entendia porque daquilo. Dali então, na primeira bola que dividimos eu descobri o porquê” Disse o camisa 8.

Com uma braçada, Mario Soto acerta a pedra no rosto de Adílio e abre o seu supercílio. Nada fora marcado e a pancadaria seguiu comendo solta.

“O Flamengo precisa se impor. Tudo que é um grande time e veio aqui pra jogar futebol, mas se a coisa ta desse jeito, precisa se defender” Dizia na transmissão da Globo, o comentarista Gerson, o “Canhotinha de Ouro”. Mas o Mengão não se defendeu.

O jogo seguiu com o Cobreloa sentando a bota e nenhuma atitude por parte de Ramón Barreto. Héctor Puebla, atacante do quadro laranja, pisou em Junior no chão; Armando Alarcon, em um carrinho por cima, abriu a canela de Mozer; Zico, não passava uma disputa de bola sem tomar um tapa na cara ou uma pegada no tornozelo. Na beira do gramado, o clima seguia igualmente tenso.

Em uma tentativa do técnico Carpegiani de passar uma instrução, foi imediatamente coibida por um policial que avançou com seu cachorro, um pastor alemão, para cima do comandante rubro-negro.

“Sentá, weón!”

O Flamengo “sentou”. Sem poder de reação à pancadaria, ainda viu Lico sair de campo com uma orelha cortada e dois dentes a menos. A reclamação também era contra Mario Soto. Com Baroninho em campo o clube carioca conseguiu segurar o Cobreloa até os 34′ da etapa complementar, quando Ramon Barreto inventou uma falta alegando toque de mão da zaga visitante. Na cobrança de Victor Merello, a bola desvia em Mozer e entra. Festa em Santiago.

Jogadores, torcedores, repórteres, fotógrafos, policiais, gandulas, uma massa entra no campo para comemorar o gol derradeiro. Daí pra frente ficou fácil para os zorros.

Contando com a boa vontade do juizão, o Cobreola consegue adiar a decisão para o terceiro jogo uma semana depois. A partida seria realizada em campo neutro, no Estádio Centenário em Montevidéu, onde o Flamengo, além de vencer o jogo por 2 a 0, contou com o “Murro Cívico” de Anselmo em Mario Soto.

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Central Autônoma #73 – Maxx Frömming

 No programa desta semana, falamos com Maxx Frömming, cobrador de ônibus demitido após a paralisação dos serviços numa cidade praticamente entregue às traças. Maxx conta que a parada se deveu ao medo da violência que acomete Porto Alegre, afetada por forte recessão econômica, o que, além de ensejar greves em diversas categorias, faz com que a Brigada Militar reduza sua atuação.

No âmbito interno da categoria, Maxx fala do assédio moral sofrido pelos trabalhadores que ainda pretendem se mobilizar por melhores condições de trabalho, retratando mais uma situação em que a categoria não se sente representada pelos seus dirigentes, no caso, da Força Sindical.

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Futebol Urgente #87 Placar

A Placar, horrenda, está nas mãos de Fernando Toro. É como revirar lixo, mas a gente falou da última edição da dita cuja. É estarrecedor.

O programa também falou de New Libertadores, o médico SUPER HONESTO do Madureira e outras patacoadas que, infelizmente, alguém tem que falar, e este alguém, aqui, é Fernando Toro.

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Trivela #29 Rafinha e Libertadores

Felipe Lobo, Ubiratan Leal, Leandro Iamin e Paulo Júnior falaram, na edição 29 do Podcast Trivela, sobre o pedido de dispensa da seleção de Rafinha, que reabriu a discussão sobre naturalizações, duplas cidadanias e as escolhas dos jogadores na hora de atuar por uma seleção.

O time Trivela também falou da proposta de expansão e modificação da Taça Libertadores. É polêmica e divide opiniões, e vale a pensa ser analisada com carinho.

Então clique abaixo e ouça a íntegra de mais este podecast!

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Folha Seca #81 Antony Curti

O Folha Seca #81 conversou com Antony Curti, comentarista da ESPN e editor do The Concussion, que junto da Editora Simonsen trouxe para o Brasil o livro Tire os Olhos da Bola, de Pat Kirwan, obrigatório para o fã de NFL.

A obra é a primeira de uma série de edições traduzidas sobre o futebol americano: a próxima é O Melhor Quarterback de Todos os Tempos?, de Sean Glennon, que já está em financiamento coletivo no site Kickante –http://www.kickante.com.br/…/o-melhor-quarterback-de-todos-…

O podcast também falou de Cristiano Ronaldo, Lance Armstrong, poker e Ray Charles.

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O Pirotécnico Breno


Por Victor Faria

Raras são as vezes que numa roda de amigos ou de pessoas conhecedoras do esporte, não surja a seguinte pergunta. Teria morrido para o futebol o pirotécnico Breno?

A esse respeito as opiniões são divergentes. Uns acham que estou apto para o jogo, outros, mais supersticiosos, acreditam que minha situação pertence ao rol dos fatos consumados e o indivíduo a quem andam chamando de Breno não passa de um ex-jogador em atividade, envolvido por um pobre invólucro humano. Ainda há os que afirmam de maneira categórica o meu fim e não aceitam o cidadão como sendo Breno, o atleta pirotécnico, mais alguém muito parecido com o dito cujo.

Uma coisa ninguém discute: se Breno morreu para o futebol, seu corpo não fora enterrado.

A única pessoa que poderia dar informações corretas sobre o assunto sou eu. Porém, estou impedido de fazê-lo porque alguns companheiros de profissão ainda fogem de mim, tão logo me avistam em campo. Quando apanhados de surpresa, ficam estarrecidos e mal conseguem articular uma jogada.

Em verdade, me ausentei dos gramados, o que vem de encontro à versão dos que creem no meu fim. Por outro lado, também não estou morto, pois faço tudo que antes fazia e, devo dizer, com mais agrado do que anteriormente.

Sem o futebol jamais quis viver. Jogar, cansar bem os músculos, correr pelos estádios cheios de gente, autênticos torcedores.

A tarde estava clara. Vagarosamente as nuvens, filamentos brancos, não tardariam a cobrir o céu. Caminhava pelo campo do Estádio da Ressacada, perto da entrada da área adversária. O marcador adversário escorregara e ali, perto do gol, havia somente sombra e silêncio. O passe não viera de longe e quando a bola chegou aos meus pés não enxergara mais nada. Simplesmente porque naquele instante o branco do céu desceria até a terra.

Os moços que vinham do banco deram gritos histéricos e não se demoraram a extravasar. Os rapazes falavam alto, curaram-se de qualquer desconfiança e logo se puseram a discutir qual seria meu destino a partir daquele lance.

Do lado adversário havia silêncio, sombras e silêncio, porque os jogadores não podiam acreditar em tal feito. Discutiam sobre a falha na marcação, mas dosavam as gírias e reclamações.

O ambiente da torcida também repousava no mesmo espanto e silêncio do campo. Não protestavam contra o ocorrido, apenas aguardavam o reinício da partida.

A ideia inicial, logo rejeitada, consistia em paralisar o jogo ou encerrá-lo com a premissa de um feito inédito de superação na vida de um jogador profissional. Mas havia o inconveniente de todo um segundo tempo a ser disputado e um campeonato sujeito às regras das confederações e direitos televisivos.

Um dos árbitros – sim, há diversos deles em campo = se impressionara com o feito, mas logo se ocupara de sua função e propôs que retomassem a partida. Meus companheiros não deram a importância necessária e se prolongaram na comemoração, o que talvez tivesse se refletido no resultado final, mas sendo isso o menos importante.

O juiz notou a pouca atenção dada pelos jogadores e pôs-se a apitar, mesmo que encabulado, para que todos retornassem ao centro do gramado. Não pude evitar minha imediata simpatia por ele, afinal o jogo é mais importante que um determinado momento de euforia e glória.

Policiais que anteriormente decidiram por meu futuro. Consideraram que me lançar ao precipício da solidão, um fundo precipício, seria a resolução mais adequada ao caso. Lógica cabível aos oficiais, sempre ávidos em achar o cárcere como solução imediata dos problemas.

Não, eles não podiam roubar de mim ou fazer se esconder essa vontade de retornar aos campos de futebol.

Sempre tive confiança na minha faculdade de compreender os planos táticos, os nossos e os adversários. Não sei se pela força da lógica ou se por um dom natural, a verdade é que, em vida, eu vencia qualquer disputa dependente de improvisação segura e irretorquível.

Meu afastamento não extinguira essa faculdade. Após alguns embates, nos quais expus com clareza minhas qualidades, os que apostavam em minha derrocada ficaram indecisos, sem encontrar uma resposta que atendessem tal procedimento. Para tornar mais confusa a situação, sentiam a impossibilidade de dar mérito a um defunto que não perdera nenhum dos predicados geralmente atribuídos aos vivos.

Havia certa relutância em acreditar na reabilitação de um companheiro. Concordavam todos (companheiros de profissão, comissão técnicas, especialistas esportivos, psicólogos e torcedores) que ele fora fraco e não soubera enfrentar com dignidade a situação. Portanto era pouco razoável que se perdesse tempo fazendo considerações sentimentais acerca de seu futuro. Havia muito ainda que se provar.

Nos anos anteriores, quando alguém me perguntava onde eu desejava ficar, logo respondia e insistia que meu lugar era nos campos. Respondiam ser impossível até que eu pagasse a sentença de meus atos. Repeti diversas vezes a palavra gol. Quem sabe nem chegasse a repeti-la, mas somente movesse os lábios, procurando ligar as palavras às sensações de meu delírio policrômico.

Por muito tempo se prolongou em mim o desequilíbrio entre o mundo exterior e os meus olhos, que não se acomodavam à paisagem estendida em minha frente. Havia ainda o medo que sentia, desde aquela noite, quando constatei que a morte penetrara meu corpo.

Não fosse o ceticismo dos homens, recusando-se a aceitar-me vivo ou morto, eu poderia abrigar a ambição de construir novamente minha carreira.

Haveria de lutar contra o desatino que, às vezes, se tornava senhor dos meus atos e obrigava-me a recordar, o desenlace de minhas antigas decisões, todo o mistério que cercava meu afastamento.

Fiz várias tentativas para estabelecer contato com meus antigos companheiros e o resultado, à época, fora desencorajador. Eles eram a certeza do quão real fora meu fim.

No passar dos meses, tornou-se menos intenso o meu sofrimento e menor a minha frustração ante a dificuldade de convencer os colegas que o Breno que corre pelos campos é o mesmo jogador de outros tempos, com a diferença de que aquele era promissor e este não mais.

Só um pensamento me oprime: quais acontecimentos o destino reservará a um jogador dado como morto se os vivos respiram uma vida breve e agonizante? E a minha angústia cresce ao sentir que a minha capacidade de jogar é bem superior a dos seres que por mim passam ainda assustados.

Amanhã o dia parecerá mais claro, o sol brilhará como nunca brilhou. Nessa hora os homens compreenderão que, mesmo à margem da sociedade, ainda vivo, porque minha existência se transmudou em cores e o grito da torcida invade o campo para o exclusivo deleite dos meus ouvidos.

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Judão #00 É Piloto, e Tá valendo!

No primeiríssimo PoOOoOooODCAST! da nova fase do JUDÃO, a gente fez um piloto. Sabe como é essa história né? É um teste, para ver como é, pra sentir se funciona. Ninguém nem sabia se ia ao ar mesmo. Ninguém nem sabia qual nem quais eram os temas! Mas foi pro ar. E tá aí, pra vocês. Porque, como disse o nosso apresentador, o Borbs, a gente se encarou olho no olho e se soltou. “Se permitam”, como disse ele, inspirado no filósofo Luiz Maurício Pragana dos Santos, o glorioso Lulu.
Nosso cardápio de cultura pop neste episódio zero foi farto e variado. O editor-chefe Borbs e os editores Renan Martins Frade e Thiago Cardim receberam a Gabi Franco, que já é colaboradora do site e ainda uma das cabeças pensantes do coletivo feminino MinasNerds. Como a Gabi já é “de casa”, a gente se soltou ainda mais. E um programa que era “sobre nada” acabou sendo sobre muita coisa.
Falamos sobre música – sobre o Rock in Rio, sobre o Metallica e seu show repetitivo, sobre o Queen, sobre as pessoas que não têm paciência para conhecer novos sons, sobre cartazes e lambe-lambes, sobre punks do ABC e tiozões de Santos.
Falamos sobre quadrinhos – sobre a nova roupa do Homem-Aranha 2099, sobre a tendência do consumo digital, sobre a Panini, sobre as versões infantis dos personagens DC na escola, sobre colecionismo.
Em resumo, a gente falou sobre um monte de coisa. E a gente quer muito que você ouça. Porque falamos com muito carinho e amor no coração. Com aquele carinho que você lê diariamente no site. Nos permitimos, basicamente. 🙂
LINKS!
Sobre o primeiro final de semana do Rock in Rio (direto do nosso sofá)
Sobre o novo cenário do ComiXology
Sobre como funciona a tal da distribuição de HQs no Brasil
Sobre a Secret Hero Society
Sobre o novo uniforme do Aranha 2099
E para conhecer as MinasNerds
E o JUDÃO, claro. 😀

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Thunder #73 Cereto e Rennó

De um lado Iara Rennó, um instrumento musical e muito estilo. Do outro, Carlos Cereto, nada nas mãos e nem tanto estilo assim. Mas a dupla se entrosou a tempo de fazer um belo Thunder Rádio Show! Teve música ao vivo, papo de alto nível sobre música, e bastante futebol com Cereto e sua carreira de Itapira para a tela da sua televisão.

Um programa beeeem divertido, que você curte clicando acima.

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Luganazo

Por Denis Bertin

Desde que fiquei sabendo que Diego Lugano jogaria no Cerro Porteño e não no São Paulo, fiquei muito puto, de verdade, como é possível não querer o retorno de um ídolo? De qualquer forma, vi a possibilidade de vê-lo jogar novamente, da arquibancada, afinal de contas Assunção é um pouco mais perto que Gotemburgo, e ainda poderia conhecer uma nova cancha.

A oportunidade veio através de um convite de um amigo, o Fernando, que estava de férias e queria ir à Foz do Iguaçu conhecer as cataratas.

Respondi, dizendo que iria, se ele topasse esticar a viagem até a capital paraguaia, ainda sem saber que ficaríamos 5 horas dentro de um ônibus. Após a estadia na Tríplice Fronteira, embarcamos às 0h15 do domingo (13) dia do jogo e chegamos ao hostel às 6h30, horário local.

A ideia de entrar no quarto e dormir foi por água abaixo quando fomos informados que a região toda estava sem energia, sem acesso ao computador e a recepcionista não podia localizar nossa reserva para efetuar o check-in, ela nos sugeriu que esperássemos até as 14h, assim economizaríamos uma diária. Sugestão aceita, cochilamos no hall do albergue até umas 9h30. Depois de descansar um pouco achei melhor sair pra conhecer a região e descobrir o caminho até o Defensores del Chaco, já que La Olla está em reforma.

Depois de errar algumas ruas chegamos à casa do futebol paraguaio. sem nenhuma movimentação na região, todas as bilheterias que vimos estavam fechadas, até que encontrarmos um senhor – parecia um funcionário do estádio – saindo por uma portinha. Perguntamos como comprar as entradas e ele respondeu que só a partir das 15h, na bilheteria principal. Agradecemos e antes de sair meu amigo notou que a tal portinha dava direto gramado, perguntei para o senhor se podia entrar para tirar umas fotos e ele respondeu: “Claro!”.  A “mesma” burocracia que temos por aqui.

Após fotografar conhecemos o entorno do bairro Sajona. Cruzamos um ambulante com seu varal de camisetas “paralelas”, encostei nele pra checar algum cachecol para a minha coleção. Infelizmente, ele só tinha bufandas do Olimpia – não sei por que ele tinha coisas do Decano em dia de jogo do Ciclón – mas acabei levando uma. Aproveitei para perguntar se ele achava má ideia eu assistir ao jogo vestindo a camisa do São Paulo, com o número 5 e o sobrenome Lugano às costas, e a resposta foi negativa. Ainda disse que mais tarde teria ingressos pata vender, no melhor lugar do estádio por G$ 40.000,00 (algo em torno de R$ 28,00).

Retornamos ao hostel, almoçamos, finalmente fizemos o check-in, tomamos uma ducha e estávamos prontos para voltar ao Defensores del Chaco, localizado há cerca de 3 km da nossa hospedagem.

Eu ainda não revelei, mas meu amigo é torcedor do “Mal” – pra usar a terminologia do Alexandre Giebrescht, do VVT – e queria ir com a camisa deles, fiquei meio puto, não tinha nada a ver com a ocasião. Para tentar fazer ele mudar de ideia eu questionei: “Mano, você vai aparecer com essa camisa branca e preta no meio da torcida dos caras, tá maluco?”. Sinceramente eu achei que não tinha problema, as camisas do Olimpia e do SCCP têm as mesmas cores, mas são bem diferentes, porém meu questionamento deu certo, pois ele colocou uma camisa do Cerro, que nós compramos em Ciudad del Este.

No caminho de volta à cancha, percebi que algumas pessoas ficaram olhando pra mim, certamente pelo manto tricolor. Procuramos o “seu” Ramón, o vendedor de camisas, e pedimos os ingressos. Então, ele chamou outro senhor, que parecia um cambista, mas que na real tinha autorização para a vendea, com carteirinha e tudo. Claro que o ingresso acabou ficando mais caro, pagamos G$ 50.000,00 (aproximadamente R$ 36,00).

Os portões foram abertos e os senhores não mentiram e realmente o lugar era excelente. Entramos bem cedo e deu pra escolher o lugar tranquilamente.

Quando o setor começou a encher aqueles olhares começaram a vir com comentários, as pessoas sussurravam: “São brasileiros? Acho que sim”. Um vendedor de chipa (um pãozinho típico deles) passou por nós e disse: “Eu falo português! Vamo colabora?”. Como a grana estava contada não deu para comprar o quitute.

Meu amigo já estava mais tranquilo, tirou a camisa do Cerro, logo em seguida veio um comentário: “São Paulino e Corintiano juntos? Que legal, tem que ser assim mesmo”. Era do Walter, um rapaz paraguaio, filho de brasileiros e falava muito bem português.

Nos aproximamos dele e conversamos pra caramba. Ele contou um monte de coisas bacanas sobre o Campeonato Paraguaio, e como acompanha o Brasileirão também, até compartilhou a internet móvel comigo, para eu acompanhar o duelo de tricolores entre Grêmio e São Paulo.

Antes do apito inicial, começamos a ouvir os bumbos e os cantos das barra bravas entrando na arquibancada. La Plaza e Comando disputam o espaço atrás do gol – de forma pouco amistosa, segundo o Walter – e fazem o uma festa muito bonita apesar do restante do estádio não ter muita gente. Fiquei ansioso esperando o recebimiento ao Cerro Porteño.

Bola rolando e ai veio àquele tapa na cara chamado realidade. O nível jogo era bem fraquinho, apesar da disposição de todos os jogadores. Poucas jogadas trabalhadas e raros chutes no gol, lembrou bastante alguns jogos do São Paulo nesta temporada.

Obviamente quem chamava mais à minha atenção era o camisa 5 azulgrana. Pelo alto não perdeu nenhuma, por baixo sempre chegando firme, tomando a bola e tocando de lado, sem frescura, só tentou um lançamento e colocou a bola no peito do lateral-esquerdo, na velocidade ele ficou devendo, mas a cobertura que ele faz e o senso de posicionamento são perfeitos.

Até os 20 minutos do 2º tempo praticamente nada aconteceu, me deixando decepcionado. Viajar 1400 km pra ver um 0x0 era sacanagem. Aos 22’ Guillermo Beltrán fez 1 a 0 para o Ciclón e deu uma aliviada na tensão da galera, o jogo ficou melhor.

Aos 24’ falta pela direita para o Cerro cobrar. O camisa 17, Jonathan Fabbro – a quem o Walter comparou com o Ganso; um excelente jogador, mas que some em boa parte do jogo – colocou na área e Lugano voou por cima da defesa adversária e meteu um golaço. Um senhor ao meu lado gritou: “QUÉ CABEZAZO!”. Minha sensação foi de felicidade intensa. Naquele momento já tinha “zerado” a viagem, iria embora mais do que satisfeito.

Contudo, aos 30’ nova falta para o quadro do Barrio Obrero pela direita e Fabbro se apresentou novamente para a cobrança. Meu novo amigo me cutucou e disse: “Olha lá! Outro gol do Lugano”. Como no primeiro lance, o meia alçou a bola à área, dois jogadores disputaram pelo alto, ela sobrou na linha da pequena área para o zagueiro uruguaio, que soltou uma patada de esquerda, com gosto, sem chance para o goleiro. 3 a 0, dois gols do meu 2º maior ídolo (abaixo de Rogério Ceni, óbviamente).

Não dava pra acreditar em tanta sorte, as pessoas mais perto de mim começaram a bater nas minhas costas e me cumprimentar, falavam alguma coisa boa, pelo sorriso no rosto deles e o momento, mas eu honestamente não consegui entender direito, até que o Walter virou para mim e disse: “Pô você é pé quente! Tem que vir para o clássico”. Se ele soubesse que estava no Morumbi nos jogos contra Goiás e Ceará, talvez ele não dissesse isso.

Nos minutos derradeiros o Sol de America ainda fez um gol de pênalti, nada que tirasse minha alegria. Apito final, o Walter se despediu de mim e saiu um pouco apressado do estádio, eu ainda demorei um pouco e fiquei pensando em descer até o limite da arquibancada para tentar chamar a atenção do autor do doblete.

https://www.youtube.com/watch?v=ZhYDVjm_XAE

Decidi não fazer nada, o dia já tinha sido perfeito demais. Saímos do estádio junto com alguns hinchas locais e seguimos a pé até o hostel. Já deitado na cama, tive a certeza que nunca esquecerei o Luganazo!

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