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Luganazo

Por Denis Bertin

Desde que fiquei sabendo que Diego Lugano jogaria no Cerro Porteño e não no São Paulo, fiquei muito puto, de verdade, como é possível não querer o retorno de um ídolo? De qualquer forma, vi a possibilidade de vê-lo jogar novamente, da arquibancada, afinal de contas Assunção é um pouco mais perto que Gotemburgo, e ainda poderia conhecer uma nova cancha.

A oportunidade veio através de um convite de um amigo, o Fernando, que estava de férias e queria ir à Foz do Iguaçu conhecer as cataratas.

Respondi, dizendo que iria, se ele topasse esticar a viagem até a capital paraguaia, ainda sem saber que ficaríamos 5 horas dentro de um ônibus. Após a estadia na Tríplice Fronteira, embarcamos às 0h15 do domingo (13) dia do jogo e chegamos ao hostel às 6h30, horário local.

A ideia de entrar no quarto e dormir foi por água abaixo quando fomos informados que a região toda estava sem energia, sem acesso ao computador e a recepcionista não podia localizar nossa reserva para efetuar o check-in, ela nos sugeriu que esperássemos até as 14h, assim economizaríamos uma diária. Sugestão aceita, cochilamos no hall do albergue até umas 9h30. Depois de descansar um pouco achei melhor sair pra conhecer a região e descobrir o caminho até o Defensores del Chaco, já que La Olla está em reforma.

Depois de errar algumas ruas chegamos à casa do futebol paraguaio. sem nenhuma movimentação na região, todas as bilheterias que vimos estavam fechadas, até que encontrarmos um senhor – parecia um funcionário do estádio – saindo por uma portinha. Perguntamos como comprar as entradas e ele respondeu que só a partir das 15h, na bilheteria principal. Agradecemos e antes de sair meu amigo notou que a tal portinha dava direto gramado, perguntei para o senhor se podia entrar para tirar umas fotos e ele respondeu: “Claro!”.  A “mesma” burocracia que temos por aqui.

Após fotografar conhecemos o entorno do bairro Sajona. Cruzamos um ambulante com seu varal de camisetas “paralelas”, encostei nele pra checar algum cachecol para a minha coleção. Infelizmente, ele só tinha bufandas do Olimpia – não sei por que ele tinha coisas do Decano em dia de jogo do Ciclón – mas acabei levando uma. Aproveitei para perguntar se ele achava má ideia eu assistir ao jogo vestindo a camisa do São Paulo, com o número 5 e o sobrenome Lugano às costas, e a resposta foi negativa. Ainda disse que mais tarde teria ingressos pata vender, no melhor lugar do estádio por G$ 40.000,00 (algo em torno de R$ 28,00).

Retornamos ao hostel, almoçamos, finalmente fizemos o check-in, tomamos uma ducha e estávamos prontos para voltar ao Defensores del Chaco, localizado há cerca de 3 km da nossa hospedagem.

Eu ainda não revelei, mas meu amigo é torcedor do “Mal” – pra usar a terminologia do Alexandre Giebrescht, do VVT – e queria ir com a camisa deles, fiquei meio puto, não tinha nada a ver com a ocasião. Para tentar fazer ele mudar de ideia eu questionei: “Mano, você vai aparecer com essa camisa branca e preta no meio da torcida dos caras, tá maluco?”. Sinceramente eu achei que não tinha problema, as camisas do Olimpia e do SCCP têm as mesmas cores, mas são bem diferentes, porém meu questionamento deu certo, pois ele colocou uma camisa do Cerro, que nós compramos em Ciudad del Este.

No caminho de volta à cancha, percebi que algumas pessoas ficaram olhando pra mim, certamente pelo manto tricolor. Procuramos o “seu” Ramón, o vendedor de camisas, e pedimos os ingressos. Então, ele chamou outro senhor, que parecia um cambista, mas que na real tinha autorização para a vendea, com carteirinha e tudo. Claro que o ingresso acabou ficando mais caro, pagamos G$ 50.000,00 (aproximadamente R$ 36,00).

Os portões foram abertos e os senhores não mentiram e realmente o lugar era excelente. Entramos bem cedo e deu pra escolher o lugar tranquilamente.

Quando o setor começou a encher aqueles olhares começaram a vir com comentários, as pessoas sussurravam: “São brasileiros? Acho que sim”. Um vendedor de chipa (um pãozinho típico deles) passou por nós e disse: “Eu falo português! Vamo colabora?”. Como a grana estava contada não deu para comprar o quitute.

Meu amigo já estava mais tranquilo, tirou a camisa do Cerro, logo em seguida veio um comentário: “São Paulino e Corintiano juntos? Que legal, tem que ser assim mesmo”. Era do Walter, um rapaz paraguaio, filho de brasileiros e falava muito bem português.

Nos aproximamos dele e conversamos pra caramba. Ele contou um monte de coisas bacanas sobre o Campeonato Paraguaio, e como acompanha o Brasileirão também, até compartilhou a internet móvel comigo, para eu acompanhar o duelo de tricolores entre Grêmio e São Paulo.

Antes do apito inicial, começamos a ouvir os bumbos e os cantos das barra bravas entrando na arquibancada. La Plaza e Comando disputam o espaço atrás do gol – de forma pouco amistosa, segundo o Walter – e fazem o uma festa muito bonita apesar do restante do estádio não ter muita gente. Fiquei ansioso esperando o recebimiento ao Cerro Porteño.

Bola rolando e ai veio àquele tapa na cara chamado realidade. O nível jogo era bem fraquinho, apesar da disposição de todos os jogadores. Poucas jogadas trabalhadas e raros chutes no gol, lembrou bastante alguns jogos do São Paulo nesta temporada.

Obviamente quem chamava mais à minha atenção era o camisa 5 azulgrana. Pelo alto não perdeu nenhuma, por baixo sempre chegando firme, tomando a bola e tocando de lado, sem frescura, só tentou um lançamento e colocou a bola no peito do lateral-esquerdo, na velocidade ele ficou devendo, mas a cobertura que ele faz e o senso de posicionamento são perfeitos.

Até os 20 minutos do 2º tempo praticamente nada aconteceu, me deixando decepcionado. Viajar 1400 km pra ver um 0x0 era sacanagem. Aos 22’ Guillermo Beltrán fez 1 a 0 para o Ciclón e deu uma aliviada na tensão da galera, o jogo ficou melhor.

Aos 24’ falta pela direita para o Cerro cobrar. O camisa 17, Jonathan Fabbro – a quem o Walter comparou com o Ganso; um excelente jogador, mas que some em boa parte do jogo – colocou na área e Lugano voou por cima da defesa adversária e meteu um golaço. Um senhor ao meu lado gritou: “QUÉ CABEZAZO!”. Minha sensação foi de felicidade intensa. Naquele momento já tinha “zerado” a viagem, iria embora mais do que satisfeito.

Contudo, aos 30’ nova falta para o quadro do Barrio Obrero pela direita e Fabbro se apresentou novamente para a cobrança. Meu novo amigo me cutucou e disse: “Olha lá! Outro gol do Lugano”. Como no primeiro lance, o meia alçou a bola à área, dois jogadores disputaram pelo alto, ela sobrou na linha da pequena área para o zagueiro uruguaio, que soltou uma patada de esquerda, com gosto, sem chance para o goleiro. 3 a 0, dois gols do meu 2º maior ídolo (abaixo de Rogério Ceni, óbviamente).

Não dava pra acreditar em tanta sorte, as pessoas mais perto de mim começaram a bater nas minhas costas e me cumprimentar, falavam alguma coisa boa, pelo sorriso no rosto deles e o momento, mas eu honestamente não consegui entender direito, até que o Walter virou para mim e disse: “Pô você é pé quente! Tem que vir para o clássico”. Se ele soubesse que estava no Morumbi nos jogos contra Goiás e Ceará, talvez ele não dissesse isso.

Nos minutos derradeiros o Sol de America ainda fez um gol de pênalti, nada que tirasse minha alegria. Apito final, o Walter se despediu de mim e saiu um pouco apressado do estádio, eu ainda demorei um pouco e fiquei pensando em descer até o limite da arquibancada para tentar chamar a atenção do autor do doblete.

https://www.youtube.com/watch?v=ZhYDVjm_XAE

Decidi não fazer nada, o dia já tinha sido perfeito demais. Saímos do estádio junto com alguns hinchas locais e seguimos a pé até o hostel. Já deitado na cama, tive a certeza que nunca esquecerei o Luganazo!

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Dibradoras #16 Maurine

Maurine, jogadora da seleção brasileira e supercampeã na sua bonita carreira de jogadora, falou com as Dibradoras Renata Mendonça e Nina Cardoso.

O papo passou pela preparação da seleção, o desempenho no último amistoso, as várias posições em que atua, a experiência adquirida na carreira, o início no Rio Grande do Sul e muito mais. Um papo para dar risada e conhecer mais da cabeça de Maurine.

O programa também teve áudios de Clara Albuquerque, comentarista da Esporte Interativo, e falou de Sportv, Rebeca Gusmão e a derrota para a França no amistoso do final de semana.

 

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A Cruzada das Arquibancadas

Tomislav Salopek, 31, trabalhava desde o final de 2014 para a Compangie Générale de Géophysique, sediada em Paris. Após viagens profissionais por diversos países de maioria muçulmana como Iraque, Líbia, Marrocos e Síria, o topógrafo croata foi enviado para a península do Sinai, no Egito.

Em uma de suas viagens do Sinai ao Cairo, Tomislav foi capturado no dia 22 de julho por jihadistas do grupo Wilayat Sina, leais ao autoproclamado Estado Islâmico, sendo o primeiro estrangeiro a ser sequestrado em território egípcio neste contexto. Mantido refém por vinte dias, sua vida foi negociada em troca pela liberdade de prisioneiras muçulmanas.

Contudo, as autoridades egípcias não chegaram a um acordo e Tomislav Salopek foi decaptado, deixando esposa e um casal de filhos, 48 horas após a publicação de um vídeo no qual ele aparecia ajoelhado no deserto, adiante de um soldado mascarado com farda camuflada e da bandeira do EI.

Em seu perfil no Facebookas configurações de privacidade permitem aos demais usuários verem apenas sua foto de perfil – uma selfie com a Torre Eiffel ao fundo – e a foto de capa – uma coletânea de protestos dos Bad Blue Boys, do Dínamo Zagreb. Ironicamente, os BBB foram um dos primeiros coletivos ultras da Europa a levarem estandartes com a 25ª letra do alfabeto árabe nun que é utilizada pelo EI para identificar as casas dos nazarenos, como são chamados os cristãos no Oriente Médio.

BBB

Recentemente publicamos neste Blog diversas ações de torcedores alemães para receber os refugiados – vindos, principalmente, de áreas controladas pelo EI. Por outro lado, muitas arquibancadas do Leste Europeu têm se manifestado contrariamente a presença de migrantes muçulmanos, criando simbolicamente uma “nova cruzada”.

Nas últimas semanas, foram registrados diversos episódios neste sentido. Na República Checa, torcedores do Viktoria Plzeň levaram uma faixa com os dizeres “Europe Wake Up”, enquanto os seus pares do Jablonec estenderam a seguinte charge: 

Jablonec

Os vizinhos poloneses não deixaram passar batido a efeméride de 12 de setembro de 1683, marco da Batalha de Viena, na qual forças da Liga Santa, aliança entre o Sacro Império Romano-Germânico e da Comunidades de Duas Nações (Grão-Ducado da Lituânia e Reino da Polônia), comandadas pelo rei Jan III Sobieski derrotaram o cerco de dois meses do Império Otomano à cidade imperial. Seguidores do Lechia Gdańsk levaram essa faixa como lembrança aos “invasores”:

Lechia Gdañsk

Pela Liga Europa, o Lech Poznań recebeu o Belenenses no moderno INEA Stadion – uma das sedes da Euro 2012 – e apenas 7.934 assentos, de um total de 43.269, estiveram ocupados, por conta de um boicote de boa parte dos torcedores em relação à UEFA, que destinaria 1€ de cada ingresso vendido em ajuda humanitária aos refugiados.

Lech Poznan

Israel está localizado geograficamente no Oriente Médio, porém futebolisticamente está inserido na Europa. E os adeptos do Maccabbi Tel Aviv fizeram questão de seguir a conduta apontada nos três parágrafos acima ao exibirem o slogan “Refugees Not Welcome”, sendo questionados pelos rivais do Hapoel Tel Aviv na penúltima rodada, em hebraico mesmo, “Quem não é um migrante aqui?”.

Tel Aviv

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Conexão Sudaca #66

Leonardo Lepri Ferro e Matias Pinto viveram uma situação típica da comédia clássica Esperando la Carroza, ao levarem um “cano” do convidado da semana e estarem desfalcados de Biglia e Gabri.

Nossos muchachos deram conta do recado e fizeram um balanço de LA 24, repassaram os confrontos das oitavas-de-final da Copa Sula-Americana, além de saudarem a obra de Tanguito e a chegada da Primavera.

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Xadrez Verbal #17 Relógio de Ahmed

Um menino fazer um relógio para a feira de ciências do colégio é algo bom, certo? Depende. Do quê? Imagina. Falamos do garoto Ahmed que vai conhecer Obama, após ser preso de forma surreal. Tratamos novamente do Japão, seu crescente armamentismo e a porradaria entre os seus senadores ao discutirem sobre o envio de tropas ao exterior. E, claro, o documento JENIAU do seu ministro de “educação” sobre as ciências humanas.

No Xeque da semana, discutimos os confrontos em regiões consideradas sagradas em Jerusalém e os riscos envolvidos, com alertas da ONU e do rei da Jordânia. Crise política em Burkina Faso, ativação de um reator nuclear na Coreia do Norte, Mauro Vieira visita o Líbano, ratos “cabos armeiros” em Moçambique, terremoto no Chile e um sensacional Menino Neymar cortesia do tradutor virtual.

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Só queremos que eles sintam o mesmo

É claro que todos nós gostaríamos de estar do lado de lá do alambrado. Apesar de todo comprometimento e responsabilidade que cumprimos religiosamente no papel de torcedor, dentro de campo tudo seria mais possível. Correríamos, suaríamos e nos entregaríamos como ninguém mais seria capaz de fazer. Aposto! E se nos deixassem escolher onde jogar então, aí é que a felicidade seria completa. A preferência sempre pelas cores que trajamos semanalmente no já santificado futebolzinho com os amigos. Até porque ali, mesmo sem valer nada, para nós já vale muito.

Porém, pelota al piso. Nós não alcançamos o profissionalismo. Eles sim. Nós temos direito à irresponsável passionalidade. Eles não.

É o que dizem os mais prudentes.

E talvez tenham razão nessa frieza descarada. Na teoria…

Porque terminada a APOCALÍPTICA fecha 24 do Campeonato Argentino, os gols foram um artigo de luxo. Salvo a saraivada que o Independiente aplicou no Racing no clássico de Avellaneda, o equilíbrio tirou o fim de semana para passear de cancha em cancha nos principais confrontos que, se não acabaram em bucólicos empates, tiveram vencedores tímidos e que precisaram cruzar o deserto levando um camelo nas costas para conseguir uma vitória suada e com diferença mínima.

Feito o registro, agora segue outro. Parece que o que mais chamou atenção da imprensa local foi o fato das rivalidades terem sido disputadas a níveis acirradíssimos. Muitos meios de comunicação condenaram algumas atitudes dos futebolistas. Os colegas jornalistas alegaram que os jogadores deveriam dar o exemplo em um futebol cada vez mais açoitado pela violência, principalmente, fora de campo.

Discordo e dou os meus motivos.

Se há algo que não se pode extirpar do sujeito é o sentimento de pertencimento. Muitos classificaram as atitudes como tribuneras, apenas com objetivo de “jogar para a torcida”. Mas quem é quem para julgar o que realmente acontece no coração do outro?? E vou além. A entrega total: não é isso que realmente pedimos de cada um daqueles seres humanos que vestem as cores que nós só ousamos em um joguinho sem importância (?) perdido no meio de semana?

São eles que realizam na prática o que nós apenas imaginamos. Quantas vezes eu não pensei em reunir os meus no túnel de acesso do vestiário visitante, em uma corrente de abraços apertados, enquanto sentimos o cheiro do gramado molhado de um estádio que não somos habituais, e dizer aos jogadores tudo que eles deveriam escutar antes de ver a cara do contrário. E eu também retrucaria, nem que fosse com um simples – e provocativo – gesto, aquele torcedor rival que, colado no alambrado, insulta minha família, meus companheiros e o meu clube.

De tudo que aconteceu no último fim de semana de clássicos, condenaria apenas a maneira como o jovem Espinoza, do Huracán, encontrou para “guardar” a flâmula do San Lorenzo antes do jogo começar no Palacio Ducó. O desrespeito com o símbolo de um clube é completamente injustificável. Até mesmo do maior rival. Não se pode chutar aquele pedaço de pano sagrado, que guarda tantas lágrimas de alegria e de tristeza, escadaria abaixo.

O resto é balela.

E ainda bem que nós temos jogadores que parecem se importar. Gente que está lá e que reage como nós reagiríamos. Que são terrenos e se permitem reações humanas em um futebol, mais do que violento, puramente mercadológico.

Nós só queremos que eles sintam exatamente o que nós sentimos, apesar da enorme distância de um alambrado que nos separa.

https://www.youtube.com/watch?v=dtKOGl1-Akk

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Uma Tarde em Vallecas com os Bukaneros

Por Felipe El Biglia de la Gente Dominguez

Madri nos convida para a primeira epopeia futebolística. São 19h de uma segunda feira ensolarada. Caminhos pelas ruas do bairro de Tetuan, reduto de imigrantes chineses, dominicanos e indianos. Desço pelas escadas da estação Estecho rumo a Vallecas. Confesso que parto com a ilusão de ver uma torcida diferente. A linha 1 do metrô liga Pinar de Chamartín a Valdecarros, passando por todo o centro histórico da cidade. Logo no caminho paramos na estação Atocha, marcada pelo ataque terrorista de Março de 2003, onde há um lindo memorial para as vítimas. Não há como ficar imune. Rayo Vallecano e Deportivo La Coruña se enfrentam pela terceira rodada de La Liga. Chegando a estação de Portazgo é possível observar uma grande comunhão entre as duas aficciones: “somos todos amigos. aqui só vi atritos com os ultras do Real Madrid, Real Betis e Valencia” diz um rayista já passado de álcool. Os bares da Avenida de La Albufera estão tomados; um punhado de torcedores desfrutam de uma boa caña – o chopp espanhol – acompanhado de tapas e outras iguarias. “No hay quien pueda, no hay quien pueda, con la gente marinera” ecoa da garganta dos torcedores do Depor, neste que é um tradicional cancioneiro da Galícia, região noroeste da Espanha.

Metro

Vallecas, bairro obrero da capital espanhola, tem no Rayito a sua fiel expressão. Os Bukaneros, desde o começo dos anos 90 a principal força das arquibancadas, distribuía panfletos para explicar uma medida radical, a ser tomada justamente naquela ocasião. “Diante das medidas repressoras que os torcedores e sócios do Fondo Wilfred Agbonavbare – a arquibancada popular do estádio – sofrem desde a temporada passada, os Bukaneros anunciam que se iniciará uma greve de incentivo dentro do estádio de forma indefinida. Assim, como a nossa renuncia a viajar a outros campos para animar o nosso time. Nossa finalidade, que é animar a La Franja, é impossibilitada e dinamitada por uma direção que se apega a uma interpretação e aplicação da lei que vai muito além de suas recomendações. Após o assassinato de Jimmy – torcedor do La Coruña, assassinado por membros da Frente Atlético em 2014 nas cercanias do Vicente Calderón – a LFP iniciou uma caça às bruxas que afeta a todos os torcedores e coletivos que vão em contra a seus ditados. Desde o nosso clube, diferentemente de outros, não se fez outra coisa senão seguir suas diretrizes, quando não, ultrapassar-las; proibindo nossos símbolos e elementos: bandeiras, bumbos, faixas, megafone e outros materiais. Isso causa um enorme prejuízo para o ambiente no estádio. Além disso existe uma enorme perseguição aos nossos integrantes, somada a proibição de entrada de nossas camisetas ou cachecóis com os dizeres dos Bukaneros ou lemas anti-racistas. Durante os últimos meses buscamos respostas do clube, que negou o dialogo e se escondeu na aplicação de uma lei bastante questionável. Esta atitude omissa da gestão do presidente Martín Presa, nos leva ao limite. O que fazemos quando nos proíbem uma faixa de denúncia social, e logo o clube se apropria imoralmente dessa luta? A finalidade dos Bukaneros é animar ao Rayo Vallecano, seguir-lhe até o final do mundo, envergar La Franja com o orgulho de uma criança que fala de seu pai. Eis que, chega um momento no qual temos que dizer basta. Com a atenção de todos rayistas, os membros dos Bukaneros esperam que entendam, respeitem e apoiem as razões que nos levaram a tomar esta dura decisão” Bukaneros 1992, contra o racismo, a repressão e o futebol negócio.

Animar a tu Equipo

Clima pesado no setor popular do Estadio de Vallecas que homenageia o goleiro nigeriano Wilfred Agbonavbare. Willy defendeu a meta franjirroja em 177 ocasiões e veio a falecer em janeiro aos 48 anos, em decorrência de um câncer ósseo. Além do anuncio da greve, os Bukaneros armaram uma convocação para o protesto contra a família real espanhola, que será realizado no dia 27 de setembro em frente a Puerta del Sol, no centro de Madri. “Monarquia não é democracia, é ditadura e corrupção, arrecadando 7.778.040 euros anuais, sendo que a partir desse ano passará a abonar 8.028.650 euros. Felipe VI recebe com honras ao golpista egípcio Al-Sisi. Um povo com dignidade merece iniciar  os processos constituintes que tragam igualdade, democracia e liberdade. Sem esquecer a relação dessa monarquia com o franquismo, chegando a ser Juan Carlos de Borbón cúmplice do ditador, em seus últimos fuzilamentos. Por isso convocamos a todos para saírem as ruas contra esse panorama e ao grito: Jaque al rey!!!”

Willy

Dentro de campo, a equipe dirigida por Paco Jémez buscava sua primeira vitória na temporada. O quadro de Vallecas arrancou com um empate sem gols em casa diante do Valencia, além de uma derrota por 3 a 0 em sua visita ao Celta de Vigo, enquanto o Deportivo La Coruña vinha de dois empates consecutivos. Logo nos primeiros minutos, os galegos abriram o marcador com gol de cabeça do meia Borges. O Rayo conseguiu o empate aos 27 minutos, em estocada do ponteiro Embarba, que bateu na saída do goleiro argentino Germán Lux. No lance seguinte os blanquiazules voltariam a estar em vantagem, após clamorosa falha da dupla de zaga do Rayo. Um jogo interessante, dinâmico e de razoável atributo técnico. Paco Jémez passara a semama reclamando do gramado, que dentro dos padrões brasileiros, parecia em bom estado. Os Bukaneros seguiam calados, emitindo apenas gritos contra a direção do clube “OLE OLE OLE OLE, PRESA VETE YA, PRESA VETE YA, PRESA VETE YA”.

Partido

No intervalo, os Riazor Blues, coletivo ultra do Depor, localizados no alto do estádio entonavam: “ole ole ole ole Rayo Rayo” devidamente aplaudido pelo público local, sendo que cerca de 90% dos assentos estavam ocupados. Na volta do intervalo, o La Coruña dominou ainda mais as ações anotando o terceiro com o centroavante Lucas, que não festejou devido ao seu passado rayista. Pra piorar o cenário, o meia Ebert foi expulso por reclamação. Mesmo assim, a torcida do Rayo aplaudiu o jogador, assim como ao zagueiro Amaya, cúmplice em dois gols dos visitantes.

Bufandas

Por fim, todos de volta aos bares, sem antes uma ovação aos jogadores mesmo após uma dura derrota em casa – contra um dos times que brigou na última temporada pela permanência. Fica a sensação de ter visto uma torcida realmente diferente, com postura crítica e muito sentimento pelo bairro e suas causas. Viva el Rayo, Viva Vallecas!

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Ouça o Som das Torcidas sobre o Rayo Vallecano

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Central Autônoma #72 – Grécia/Brasil

Uma entrevista detalhada e necessária. O programa da semana conversou com a auditora fiscal Maria Lucia Fattorelli, do grupo Auditoria Cidadã da Dívida, que trabalha pelo cumprimento de uma premissa fundadora da Constituição Federal: a investigação dos papeis que obrigam o país a gastar quase 50% de seu orçamento público com uma dívida até hoje obscura.

Convidada pelo parlamento grego, Fattorelli contou como foi seu trabalho na Europa e os fortes indícios de fraudes na dívida que sufoca o povo que disse “não” em recente referendo sobre as políticas de austeridade. Quanto ao Brasil, lamenta a imensa censura em torno do tema e as consequências que a dívida traz à sociedade, especialmente em um ano de severos cortes nas verbas e direitos sociais.

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Futebol Urgente #86

O Futebol Urgente da semana vem com Napster no Coringão, david Luiz na seleção e o garoto espetacular que toca George Michael no saxofone e faz embaixadinha ao mesmo tempo. Tem jogadora proibida no irã, Lugano de bem com a vida no Paraguai e algumas epifanias extras e aleatórias.

Na mesa, Leandro Iamin, Gabriel Brito e, claro, Fernando Toro, nosso homem urgente.

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Trivela #28

Nesta semana, Felipe Lobo e Ubiratan Leal falaram bastante de marketing esportivo, e para isso entrevistaram Sid Vasconcelos, responsável pelo setor no Sport Recife, clube que ganhou destaque recente com boas ideias no tema.

A convocação da seleção brasileira e a rodada de contusões e arbitragens ruins na Europa também foram destaque no podcast que contou, também, com Leandro Iamin e o apresentador Paulo Júnior.

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Folha Seca #80 Avaí

O  Folha Seca #80 conversou com KK de Paula, autora do livro Indomável Leão – A Mística do ‘Faz Coisa’, uma narrativa sobre o acesso do Avaí à Série A no final de 2014.

O programa também falou de Eduardo Sacheri, Palmeiras, Atlético-MG, Ayrton Senna e Victor Jara.

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