Por Marcelo Mendez, publicado originalmente no ABCD Maior
Em um domingo cinza, de tempo fechado e chuvoso, Rogério Miranda jogava futebol. Dono da camisa 5 do Itapiruna, da terceira divisão da várzea de São Bernardo, o rapaz corria em passos largos, elegantes, chamando atenção de quem o via no campo do Orquídeas. Poderia tranquilamente passar despercebido, ou atrair os olhares apenas pelo breve destaque daquele jogo contra o Moraes. No entanto, a vida de Rogério Miranda, 37 anos, revela uma história típica da bola.
“Eu jogava na escolinha do Jardim do Lago, quando um olheiro me viu e levou para as categorias de base do Vasco em 1996. Fiquei por lá durante uma semana em testes e acabei agradando. Fui aprovado e então começou minha história no futebol”, recorda.
Seguindo naquela crescente, o menino de São Bernardo logo foi visto por times de fora e o destino naquele mesmo ano inesquecível foi Portugal. Não demorou muito para que voltasse à equipe cruzmaltina. Promovido pelo técnico Antonio Lopes, Miranda faz parte do grupo do Vasco entre 1998 e 2000. Se tornou campeão da Libertadores e disputou o Mundial, vivendo o sonho de qualquer garoto que joga futebol no Brasil.
“Convivia com craques como Edmundo, Romário, Mauro Galvão, Donizete, olhava para o lado e não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo.”
Talvez não estivesse. Os seguidos empréstimos para times do interior do Rio de janeiro, depois para o Nordeste, as contusões e a perda de foco, geraram os primeiros problemas.
“Não tive ninguém do meu lado para me orientar, era muito novo, menino, deslumbrado com tudo e então começaram os problemas. Até que enquanto joguei conseguia segurar a onda. Mas, depois que parei, me perdi de vez.”
Depois de seguidas operações no joelho, sem conseguir jogar em alto nível, Rogério passa por um turbilhão de acontecimentos. A morte do pai, o ócio, desemprego, tudo isso colaborou para o desvio na vida.
“Menino novo, cabeça perdida, me deixei levar por algumas situações que me pareciam facilidades e que achei que resolveriam meus problemas. Caí para o mundo do crime, para o tráfico.”
Essa incursão no mundo do crime resultaram em consequências drásticas para o Rogério. De uma hora para outra, o jovem meia promissor deixou de habitar os gramados para morar na cela do presídio C.D.P de São Bernardo e depois Franco da Rocha – num total de um ano e três meses de reclusão.
“Pensava a todo instante no fui e no que era naquele momento. Não tinha mais os craques do meu lado, agora eram presos como eu. Doía muito, mas fui forte e dei a volta por cima. Quando saí decidi mudar de vida. Larguei as drogas, parei de beber, de fumar, nada dessa vida ficou”, garante o jogador.
Procurando ajuda, Rogério entrou no time do Itapiruna, onde se sente em casa.“Estamos falando com um pessoal de empresa que conhecemos, tentando uma colocação para ele. É mais difícil porque a vida toda apenas jogou futebol. Mas vai dar certo e ele merece”, torce Paulo Roberto, um dos dirigentes do Itapiruna.
Feliz da vida, Rogério pensa em retribuir jogando bola.
Marcelo Gross de um lado, Mauro Dahmer do outro, Leandro Iamin pelo meio e Thunderbird na cara do gol para fazer mais este podcast!
Muita música, ao vivo inclusive, e papo de experiências e carreira. Muitas memórias de MTV e opiniões de mundo e de mercado. Muita coisa boa compartilhada entre estes amigos que se encontraram para nossa sorte.
Recebi, na noite do dia 6 de Setembro de 2015, o convite do meu amigo e companheiro de terrão, Xico Malta, para escrever um artigo sobre a proibição da PM ao mosaico da Mancha Verde no clássico disputado naquela tarde. Agradeço e peço desculpas ao amigo. Desculpas pela demora na entrega do texto (a correria tá braba) e por não ser possível escrever apenas sobre essa nova proibição. O momento é de disputa para o Palmeiras. Mas essa disputa não tem nada a ver com o Brasileirão ou a Copa do Brasil.
Em primeiro lugar é preciso tomar algumas notas, algumas internas ao convívio que tenho com os “centralinos”. Já encontrei diversas vezes meus amigos Leandro Iamin e Paulo Silva Júnior nas imediações do Palestra Itália, curtindo a vida e o Palmeiras. Infelizmente, como já demonstrou com maestria o velho Cartola, minha alegria é tão mentirosa quanto o beijo que o Lucas deu no escudo do clube ao marcar o primeiro gol daquele jogo. Só que, assim como o nosso lateral, eu preciso me iludir, me enganar para viver com um mínimo de conforto mental nessa conjuntura insana.
Por alguma razão, ainda vibro e transbordo meus sentimentos futebolísticos, ainda que a Razão, substantiva, me diga o tempo todo que o futebol não é mais o mesmo. A impressão que eu tenho é que a proibição do mosaico, além de uma ironia danada visto o mosaico exibido no Lixão uma semana depois, foi apenas mais uma medida de penalização e de ataque ao torcedor nessa que é a maior disputa da história do centenário clube dos imigrantes: a do acesso ao estádio.
O jogo foi considerado o melhor do ano pela imprensa que desequilibra sua atenção e a balança de noticias positivas e negativas a favor do outro time. “Nossa, 3 a 3! Que clássico!”, bradaram os colegas.
Para nós, torcedores, uma vergonha. Vimos o nosso goleiro, que até então seguia confiante, falhar no terceiro gol do adversário, vimos um treinador que errou na escalação do time, vimos uma defesa tenebrosa e uma arbitragem desastrosa. Também vimos um líder de campeonato que até buscava o jogo, mas não oferecia perigo. Chegou três vezes e, por três vezes nossa defesa bateu cabeça. O que vimos de positivo foi um ataque que marca gols contra boas defesas e uma torcida que, restrita a pouco mais de 7 mil lugares atrás do gol norte, cantou sem parar e ignorou as telinhas e os telões.
Tive a felicidade de estar presente no estádio por causa do “irmão do amigo de uma amiga minha”, que tem um plano de sócio torcedor no qual paga 100 reais por mês que lhe garante um ingresso preferencial nas cadeiras do gol norte. Ele não foi ao estádio e me repassou, através de conhecidos, o seu cartão. Isso é muito comum. A presença no estádio conta pontos para compras de ingressos preferenciais. Quem paga 100 reais mensais, por exemplo, não paga o ingresso do gol norte e, tendo mais de 80% de presença nos jogos do Palmeiras, ainda tem a possibilidade de garantir a entrada antecipadamente em relação aos portadores do mesmo plano que têm uma frequência menor. É uma estratificação extremamente complexa que gera competição entre os torcedores por ingressos e tem na mensalidade e na frequência os seus pilares. O pilar da frequência abre uma brecha, esta pela qual consegui ir ao jogo.
Minha modalidade custa 30 reais por mês. Fui obrigado a fazer em 2012, quando essa era a única possibilidade de comprar ingressos para os jogos finais da Copa do Brasil daquele ano. Sempre tive o costume de ir ao estádio, durante aquela Copa não foi diferente. A partir da final de 2012, eu acompanhei – comprando ingressos através do Avanti – as campanhas do rebaixamento de 2012, da lamentável Libertadores de 2013, a série B do mesmo ano e todo o ano de 2014, que, se eu pudesse, apagaria da memória. Pagava em média 15 reais o ingresso no Pacaembu. Eu tinha em torno de 80% de presença quando foi inaugurada a moderníssima arena.
Acontece que ao contrário do Pacaembu e do velho Palestra Itália, a nova arena do Palmeiras veio com um setor popular minúsculo. Pouco mais de 7 mil lugares vendidos a preços caros. Todos os outros setores, caríssimos. Contra o Sport, na estreia, o setor popular esgotou em 40 minutos de venda. Procurei nos outros setores. Impagável. Perdi o jogo e minha porcentagem de presença caiu. Assim sucessivamente. Com alguns jogos perdidos, já era impossível acessar o setor popular antes que ele já estivesse esgotado. Para conseguir o acesso novamente, eu teria que aumentar a taxa do sócio torcedor me filiando a um plano superior nessa estratificação e me submeter aos setores mais caros durante um período para restabelecer a minha frequência e o acesso aos ingressos do gol norte. Fora de cogitação. Não por má vontade, mas por força da realidade.
Em primeiro lugar, é um absurdo obrigar o torcedor a se fidelizar a um programa de sócio torcedor. Deveria ser possível ter acesso aos jogos sem a necessidade de um cartão especial mediante mensalidade. Todos já pagam impostos demais e acompanhar o time do coração deveria ser uma futilidade no orçamento, e não mais um sacrifício. As velhas bilheterias, os pontos de venda e a velha distribuição democrática dos setores, resolveriam.
Em segundo lugar, observei a direção do maldito telão que colocaram no estádio. As imagens variavam entre zooms da partida, replays de lances acalourados e retratos da plateia, não da torcida. Pessoas olhando para seus celulares ao lado de pessoas que olhavam para o telão, e, ao verem-se nele davam “tchauzinhos” para o mundo, contagiando todos ao seu redor com o gesto. Era fácil de localizar onde estavam, bastava olhar para os setores laterais do estádio e ver as mãozinhas tremulando. Proíbem as bandeiras, colocam “tchauzinhos” no lugar. Enquanto isso, um Dérbi centenário comia solto diante dos seus narizes. Nem um “tchauzinho” sequer partiu do gol norte. É possível diagnosticar algumas bizarrices no gol norte, como o uso compulsivo de smartphones, mas nada de “tchauzinho”.
Há uma clara escolha de público para o novo estádio, que deriva da estratificação sócio comportamental (afinal, torcer é comportar-se) gerada pelo programa de sócio torcedor. Digo isto, pois muitas pessoas têm ficado para fora do estádio, quando não encontram uma brecha no sistema. Muitas delas vão ao estádio, mas acabam ficando na esquina das ruas Turiaçu e Caraíbas, assistindo aos jogos nos botecos, restaurantes e sedes de torcidas. Neste 6 de Setembro, essas pessoas encheriam um outro gol norte. O problema é que essas pessoas não estão dispostas a pagar 150 reais para assistir a um jogo de futebol, o que as impede de ir em outro setor. Além disso, quando entram no estádio, geralmente estão mais preocupadas com o jogo do que com o telão. Em tempo: digo isso de maneira geral, sempre existem exceções.
A proibição do mosaico não está descolada deste contexto da modernização do futebol, que prevê um torcedor comportado, civilizado e aberto às diversas interferências extra campo que podem vir a serem feitas. Imagens no telão, selfies e anúncios. Há um desafio enorme que a atual conjuntura nos oferece em relação ao futebol. Há uma disputa econômica, social e cultural. Os preços exorbitantes, as cadeiras marcadas e a obrigação do uso de cartão de crédito, CPF e matrícula no programa de sócio torcedor são os principais ingredientes na seleção do púbico torcedor e na reconfiguração do seu comportamento. A arquitetura também dita comportamento. Isso é fato comprovado. Pode estimular ou inibir, libertar ou reprimir.
Nesse ano, a disputa dentro de campo é a menos importante para o Palmeiras. O time não está nenhuma maravilha, às vezes nos envergonha com erros grotescos, mas está lá, em torno do quinto lugar na tabela e nas quartas-de-final da Copa do Brasil. O grande desafio está nas arquibancadas. Ou melhor, nos portões de acesso ao clube. Brasileirão todo ano tem. Mas essa disputa pelo acesso democrático e popular aos estádios, se perdida, levará anos para ser retomada. Vamos na contramão de tudo, até de nós mesmos. Sempre nos gabamos de sermos uma torcida diferente – apaixonada, amalucada, nervosa e gigante, mesmo sem a ajuda dos grandes meios de comunicação – e hoje assistimos entorpecidos os ratos converterem a paixão centenária do palmeirense em montantes de dinheiro, rankings, fidelizações e lugar marcado. Tudo pré-calculado. E lamentavelmente ridículo. Quem viveu o velho Palestra, sabe.
Ana Moser, de carreira brilhante nas quadras e muito atuante fora delas, falou com Júlia, Nina e Renata sobre a gestão do esporte no Brasil, as dificuldades e desafios no ofício e muito sobre sua carreira e valores adquiridos ao longo da sua trajetória no vôlei.
O podcast também falou do mundial feminino sub-17, o começo do campeonato brasileiro, a polêmica dos níveis de Marta e Neymar no Fifa 16 e a primeira árbitra mulher de uma final masculina de US Open.
Clique abaixo e ouça a íntegra de mais este programa!
Flamengo, Flamengão, Mengô. O time da maior torcida do Brasil está na arquibancada da Central 3.
Iamin, Xico e Matias trouxeram Pedro Asbeg, homem do cinema e do Maraca, flamenguista dos mais impossíveis, para falar das canções rubro-negras no Maracanã e pela MPB. Tem Frank Sinatra e Mamonas Assassinas, Bebeto e Moraes Moreira, Neguinho da Beija-Flor, muita Sapucaí e geral, rap e samba-rock, enfim, muita coisa, muita cultura, muita potência.
Clique abaixo e cante com os flamenguistas!
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O meu pai declarou: a Islândia deve jogar como pensa. A Islândia é temperamental. Imatura como as crianças, mimada. Tem uma idade pueril. É, no cômputo do mundo, infante. Mas deve decidir a partir do erro e por isso deve soar agressiva e exuberante.
Na noite anterior dizia em metáforas particulares:
Não te aproximes demasiado da área adversária, podem ter braços que puxem a bola que em mãos inimigas morre afogada. Não pules demasiado alto, podem vir pés no vento que te queiram fazer cair. Não cobices demasiado o gol de placa, pode ser uma miragem a surgir nos olhos. Não te enganes com toda a torcida, podem ser ursos deitados à espera de comer. Tudo na Islândia pensa. Sem pensar, nada tem provimento aqui. Milagres e mais milagres, falava assim. E tudo que se pensa é o pior.
Diante da instável convicção de que as palavras salvariam, enfurecia-me por me apertar ainda o peito e a tristeza trazer a paralisação dos gestos, das ideias diante de resultados negativos.
Queria uma jogada chave, extremamente tática, uma jogada que usasse todos os jogadores e muitas vezes, até não se bastar com toques de categoria e chutes ao gol. Um lance tão feito de tudo que, quando a dita repousasse no gramado definitivamente, sem se ir embora para a que pudéssemos admirar.
O meu pai escrevia os planos táticos e fervia de se pôr na prancheta. Inventava jogadas como se não fosse o autor. Pasmava diante delas, incrédulo, com dificuldade em entender de onde surgia o começo de tudo, os passes, o trato com a bola, organização e ritmo, como era possível que o explicassem.
E eu achava que não explicavam nada. Eu queria olhar para o campo e ver Sigurdsson correr. Mais os outros. Não queria ver a aplicação tática aprumada de meu pai, a obediência, sua devoção esforçada. Queria que o campo fosse um espetáculo com seus protagonistas que nos conduzisse para longe, que abrisse janelas para a lista do mundo.
Um certo tipo de atração nos conduziria à Eurocopa.
No estádio, ajeitados devidamente para o jogo, reparávamos sempre em como as pessoas limpas. Como se tivessem, pelo jogo, se sujeitados a trabalhos mais lentos, onde se sujassem mais devagar. Estavam sempre mais bonitas. Calavam-se na rua. O oposto na torcida. As vozes tomavam o campo. Naquele pressuposto instante podiam morrer felizes. Sigurdsson já estava em campo. Pouco adiantava que tentassem convencer da integridade do adversário. Postergava a bizarra esperança.
Jogávamos em linha na defesa. Avançávamos nossos meias sem risco. As oportunidades abundavam para nossa segurança. Sem perigo em jogadas adversárias. Ao nosso favor a obediência tática e o resultado merecido. Quando um pequeno país triunfa, sobe-se em festa ao céu. Ia avisar a todos que eram um bom time. Sim, os pequenos. Ensinaram a esperar e morder na hora certa. Era como dizer que lhes ensinavam a dor de perder.
https://www.youtube.com/watch?v=Wq9ok-Rhdsg
Não lamentei o sofrimento daqueles no momento em que desfaleciam em campo. Eram maduros pra nós, talvez maduros pra eles próprios. Não era nada mais do que o modo de jogo tanto propunham. Perder era uma tarefa que devia desempenhar-se com humildade.
Esse pequeno campo, pensei, deve ser parte da história. Cada jogador. A linha de passe. Chamei meu pai. Disse-lhe que as jogadas eram sim, como aquelas contadas e imaginadas, as quais, por definição e hábito, podíamos tocar também. Adequadas ao tamanho que quiséssemos. Do que se quisesse guardar.
Adiante sonharemos novos triunfos. A glória em campo, o herói em suas batalhas. Meu pai sabia de tudo que aconteceria. Com ele e o time, tocávamos.
Dentro das quatro linhas jogavam criaturas que se matavam uma pelas outras, por seu criador ou por seus espectadores.
Elizabeth II estabelece o recorde da coroa d̶a̶ ̶P̶r̶e̶m̶i̶e̶r̶ ̶L̶e̶a̶g̶u̶e̶ do Reino Unido, a monarca mais tempo no cargo. Aproveitamos a ocasião para fazer um balanço da situação no país, refugiados e a renúncia na Irlanda do Norte. Também falamos da septuagésima Assembleia Geral da ONU que começa semana que vem e as disputas sobre sua agenda e a reforma do Conselho de Segurança.
A suposta presença militar russa na Síria é outro assunto importante da semana e que está no seu semanário de política internacional, completado com notícias sobre refugiados, REM, Irã, Guatemala etc.
Após 23 rodadas do Campeonato Argentino, eis que surge uma das poucas ideias aclamadas pelo público no projeto de Julio Grondona ao elevar o número de equipes da Primera de 20 para 30. O malfadado torneio inclusive leva o nome do finado presidente da AFA, seguindo a tradição recente do programa governamental Fútbol para Todos ao homenagear postumamente uma personalidade influente.
A fórmula de disputa prevê que todos os clubes se enfrentem em turno único. A novidade consiste em uma rodada extra composta por clássicos ou rivalidades locais com mando invertido. Ou seja, a equipe que recebeu o seu rival em uma partida anterior o visitará, e vice-versa, a partir desta sexta-feira quando será disputada LA 24, a mãe de todas as FECHAS.
Este modelo não é pioneiro em nosso continente, pois desde 2002 a División Mayor del Fútbol Colombiano instituiu a fecha de los clásicos. Contudo, esta rodada que serve para enriquecer as rivalidades e trazer mais público às canchas está em crise na Colômbia, visto que apenas dois clássicos de fato – vitória por 1 a 0 do DIM sobre o Nacional no clásico paisa e empate em 1 a 1 no clásico capitalino entre Santa Fé e Millonarios – foram jogados na semana passada.
Ao longo das últimas 13 temporadas camisas tradicionais do futebol colombiano foram superadas por equipes emergentes e perderam espaço na Dimayor. Sendo assim, América de Cali, Bucaramanga, Deportivo Pereira e Unión Magadlena deixaram órfãos de rivalidade, respectivamente, Deportivo Cali, Cúcuta, Once Caldas e Junior Barranquilla.
O mesmo não ocorre na Argentina, devido ao já referido inchaço da competição, e neste final de semana serão realizados 6 clássicos tradicionais e outro mais moderno, além de rivalidades regionais e outros duelos que destoam dos demais.
E cabe um adendo à visão dos hermanos sobre o termo clásico. Ao contrário do futebol brasileiro, no qual uma equipe geralmente possuí mais de um clássico (ex: Choque-Rei, Dérbi, Majestoso) na Argentina cada clube tem apenas um rival para chamar de seu – imutável, salvo raríssimas exceções – respeitando as origens “barriais”.
Prepare o choripán, ponha a Quilmes na geladeira e acesse o site do FPTpara acompanhar sete JOGÕES. Vamos a eles:
El Clásico de Avellaneda (Matias Pinto)
(Libertadores de América, sábado às 16h10)
Esta rivalidade surgiu em 1907 quando o “forasteiro” Independiente trocou Buenos Aires por Avellaneda, cidade que viu nascer o Racing Club quatro anos antes, e no primeiro encontro vitória “visitante” por 3 a 2. Já em 1928, o Rojo edificou o seu estádio a poucos metros da cancha aonde brilhou La Academia – campeã por nove vezes, sete de maneira consecutiva (1913-19) – mais precisamente na Avenida Adolfo Alsina.
Pelos títulos – os diablos conquistaram os torneios de 1922 e 25 – e pela quantidade de sócios, os clubes de Avellaneda integraram o seleto rol dos Grandes ao lado de Boca Juniors, Huracán, River Plate e San Lorenzo na transição do amadorismo para o profissionalismo. Nesta nova etapa, o Independiente foi logo bicampeão entre 1938 e 39 e deu outra volta em 1948. Já o rival passou por incômodo jejum de 24 anos até sagrar-se tricampeão (1949-51) – feito inédito no futebol argentino – enquanto remodelava a sua cancha, reinaugurando-a com o nome de Juan Domingo Perón – graças ao apoio de Antonio Cereijo, à época ministro da Fazenda – e o apelido de Cilindro.
O Racing voltou a campeonar em 1958 e 61 enquanto o vizinho fez o mesmo em 1960 e 63. Com esta conquista, o Rojo carimbou o passaporte para a então Copa Campeones de América, da qual foi campeão em 1964 e repetiu a dose já com a nova nomenclatura de Copa Libertadores de América, perdendo a final da Copa Intercontinental nas duas oportunidades para a Internazionale, de Milão.
Comandado por Juan José Pizzuti, os albicelestes foram campeões em 1966 e no ano seguinte trouxeram novamente La Copa para Avellaneda. El Equipo de José, ao contrário do lado vermelho da cidade, também conquistaram o Mundial ao bater o Celtic, de Glasgow, na partida desempate no Estadio Centenario, sendo a primeira equipe argentina a lograr tal feito.
Porém, esta foi a última glória racinguista por décadas, enquanto que o Independiente conquistou mais 7 campeonatos argentinos (Nacional 1967, Metropolitano 1970-71, Nacional 1977-78, 1983 e 89), 5 Libertadores (1972-75 e 1984) e 2 Mundiais (1973 e 84) se valendo do talento de Ricardo Enrique Bochini, meia surgido nas inferiores do clube e que jogou de 1972 a 91, apenas substituindo a camisa roja pela albiceleste da seleção argentina.
Neste período, o clube foi coroado como Rey de Copas e ainda foi o responsável direto pelo rebaixamento do arquirrival em 1983, que retornou à elite apenas na temporada 1986/7. Dois anos depois, o Racing ganhou a primeira Supercopa dos Campeões da Libertadores encerrando a seca de títulos em nível internacional.
Na década seguinte, o Diablo conquistou seu 15º título argentino (Apertura 1994) além do bicampeonato da Supercopa (1994-95). Na outra ponta da calle Italia, La Acadé antecipou a crise financeira na qual a Argentina seria absorvida e decretou falência em março de 1999. A hinchada literalmente abraçou o clube, impedindo que a sede social fosse arrematada e lotou o Cilindro de Avellaneda mesmo com o time sendo impedido de jogar. No ano seguinte os dirigentes do clube optam pelo projeto empresarial da Blanquicelete S.A. que passou a administrar a entidade.
Com a virada do milênio, o Racing encerrouos 25 anos de fila ao conquistar o Apertura 2001, no final do ano mais turbulento da política argentina, no qual o país teve 6 presidentes diferentes no intervalo de uma semana e mais de trinta vítimas fatais em protestos populares.
O Independiente conquistou seu último título local (Apertura 2002) na temporada posterior, com destaque para Daniel Montenegro, jogador que em suas três passagens pelo clube jamais perdeu um clásico (12j, 6v, 6e) para o arquirrival. Ao contrário de Diego Milito que tem um retrospecto negativo (9j, 2v, 3e, 4d) no confronto, mas foi decisivo na última edição do mesmo, ao converter a penalidade que deu a vitória mínima para os donos da casa, e também na conquista do Transición 2014.
Falando em números, o Independiente leva vantagem em quase todos os quesitos: maior quantidade de vitórias na Primera (71 x 49), maior diferença de gols (288 x 241), maior goleada (7 a 0 no campeonato de 1940) etc. Contudo, no presente o Racing leva vantagem ocupando a 4ª posição com 43 pontos – aguardando a decisão do Tribunal em relação à vitória parcial sobre o Godoy Cruz – 5 a frente do rival na 6ª colocação.
El Clásico de Barrio más Grande del Mundo (Leonardo Lepri)
(Tomás Ducó, sábado às 18h10)
Se você enxerga no clásico platense a prova cabal de que o mundo sempre tende a inclinar para um lado, o histórico dos confrontos envolvendo Huracán e San Lorenzo reforça sua suposição de forma EXPLICITAMENTE PORNOGRÁFICA.
Em franca decadência, apesar de algumas conquistas recentes, o Globito foi perdendo protagonismo ao longo dos anos e ficou sem forças para sustentar o pesado mote de SEXTO GRANDE. Os quemeros se habituaram ao exercício da inveja sem escrúpulos e passaram a espiar por cima do muro como a grama do vizinho é mais verde.
Já o San Lorenzo se acostumou às manchetes muito antes de Francisco desembarcar em Roma. Os de Boedo ousaram e souberam conquistar sua primeira – e única até aqui – Copa Libertadores no ano passado. Há quem arrisque dizer que aquela derrota do Nacional Querido pelos pés do carrasco Ortigoza sepultou um cancioneiro popular imensurável. E junto com isso foi-se também um pouquinho do orgulho de Parque Patrícios, que nunca chegou nem sequer perto de arranhar LA COPA, mas que entrava em êxtase apenas por assistir o rival de toda la vida encontrar os mais trágicos destinos na competição continental.
O clássico ganhou tanta fama por ser o mais portenho entre todos de Buenos Aires. O Huracán originalmente é de Nueva Pompeya, mas construiu o inigualável Palacio Ducó em Parque Patrícios, bairro vizinho a Boedo, onde o Ciclón foi muito feliz jogando no Viejo Gasómetro (ainda que naqueles anos a região pertencia a Almagro, daí o nome San Lorenzo de Almagro, e hoje manda suas partidas no Nuevo Gasómetro, em Bajo Flores). Portanto, trata-se de mais um confronto enraizado nas origens de bairro, local de milongas, tradicional ponto de encontro de boêmios e tangueros.
Mas antes de perder-se pelos caminhos entre Boedo e Parque Patrícios, voltemos às justas injustiças desse mundo. Segundo levantamento feito pelo canal de esportes TyC, o San Lorenzo leva 33 jogos de vantagem sobre o rival. Ou seja, o Huracán precisaria vencer todos os clássicos pelos próximos 15 anos para equilibrar a balança e empatar as aterradoras estatísticas.
Pese a isso, houve um dia, um jogo que ambos perderam. No Apertura de 1997, o clássico estava marcado para acontecer no Nuevo Gasómetro. Os quemeros que chegavam em bom número e foram emboscados próximos à Ciudad Deportiva, já nas imediações do estádio azulgrana. No meio da confusão, disparos e um corpo já sem vida no chão. Nem mesmo a morte de Ulises Fernández, 27 anos e torcedor do Huracán, cancelou a partida que começou pontualmente às 19h15.
Do lado visitante, arquibancadas vazias. Nada de tirantes, trapos ou banda. O clima era estranho quando, de repente, entrou a torcida do Globo e de imediato rompe em outro confronto, agora com a polícia. O tumulto forçou a paralisação do jogo aos 22 minutos do primeiro tempo. O capitão quemero naquela tarde, Pedro Barrios, foi até o alambrado para tentar acalmar a situação, mas percebeu que a pacificação era impossível.
Os minutos que faltavam nunca mais foram recuperados assim como a vida de Ulises. Nem naquele dia e nem em nenhum outro. A AFA decretou a derrota dos dois clubes, de fato o que realmente aconteceu naquele fim de tarde de dezembro.
El Clásico Rosarino (MP)
(Gigante de Arroyito, domingo às 15h10)
Fue una ciudad siempre mansa
Donde nunca hubo batallas
Salvo fieros combates
Entre leprosos y canallas
“La Leyenda de Rosario” de Enrique Llopis
Abrindo a jornada dominical, temos o duelo mais peleado do futebol argentino. Rosario está praticamente dividida entre Central e Newell’s Old Boys. A ferrovia com destino à Cordoba marca os limites geográficos entre auriazules ao norte e rojinegros ao sul. Caminhando pela avenida Avellaneda, o visitante pode se localizar pelos diversos muros pintados com as cores dos rivais rosarinos.
A origem dos clubes nos leva ao século XIX, quando a presença inglesa ainda era bastante acentuada. Em dezembro de 1889, cerca de setenta ferroviários decidem formar o Central Argentine Railway Athletic Club para rivalizar com o aristocrático Rosario Cricket Club. Na passagem do século, os associados decidem expandir suas atividades para além dos empregados da empresa e adotam o nome castelhano de Club Atlético Rosario Central, em 1904, que se mantem até a atualidade.
No ano seguinte, a renomeada instituição se filia à Liga Rosarina e enfrentam pela primeira vez o Newell’s Old Boys, concebido dois anos antes por ex-alunos do Colegio Anglo Argentino. Os veteranos decidiram homenagear o professor Isaac Newell, inglês oriundo de Kent que chegou à Argentina em 1884 para lecionar sua língua materna.
Contudo, reza a lenda que a rivalidade só atingiu os contornos atuais na prévia de um amistoso em benefício ao Hospital Carrasco, que combatia o surto do Mal de Hensen durante a década de 1920. Aparentemente os dirigentes do NOB se entusiasmaram com a ideia, que foi rechaçada pelos seus pares do CARC, episódio que cunhou os apelidos de leprosos e canallas, respectivamente.
O primeiro passo rumo à profissionalização do futebol na cidade foi a criação da Asociación Rosarina de Fútbol, em 1931, consonante ao que se passava em Buenos Aires. No final da década, os rivais solicitam à AFA a participação no Campeonato Argentino, quebrando a primeira barreira das equipes do Interior em relação à Capital Federal e adjacências.
O clássico de estreia na nova categoria terminou empatado em 1 a 1. Por sinal, a igualdade é o resultado mais comum neste confronto, registrado em 73 oportunidades contra 49 vitórias do Central e 42 triunfos do Newell’s. Logo em sua terceira temporada na elite, os canallas são rebaixados e tão logo conseguem o ascenso voltam a cair em 1950, só retornando à Primera na temporada subsequente.
Os leprosos também sentiram o gosto amargo da B ao término de 1960 e tal qual os rivais conseguiram o acesso na primeira tentativa. Porém, por conta de uma acusação de suborno, o clube só conseguiu retornar ao seu lugar por direito após dois anos de disputas fora de campo.
Os anos 70 foram o auge para o futebol rosarino. A começar pela semifinal disputada entre os rivais pelo Nacional de 1971, em pleno Monumental de Núñez, na qual o Central saiu vencedor com o recordado gol de palomita anotado por Aldo Poy. Na decisão, a equipe comandada por Ángel Labruna sagrou-se campeã ao bater o San Lorenzo por 2 a 0. Em 1973, novamente o San Loré foi o coadjuvante da festa canalla, após o empate por 1 a 1 na última rodada do quadrangular final, disputado com Atlanta e River Plate.
Já o Newell’s devolveu a derrota de três anos antes, quando Mario Zanabria igualou o marcador no Gigante de Arroyito em 2 a 2, faltando 10 minutos para o final da partida decisiva do Metropolitano de 1974.
O Rosario Central também participou da primeira Final del Interior quando bateu o Racing, de Córdoba, pelo placar global de 5 a 3. Contudo, o clube voltaria a ser rebaixado em 1984 e tão logo voltou à Primera, conquistou o seu quarto título argentino na temporada 1986/7, cujos destaques foram dois remanescentes do Nacional 1980: Edgardo Bauza e Omar Palma.
Diante da superioridade do rival, o NOB deu a resposta ao ganhar o torneio seguinte, com a afirmação de nomes como Gerardo Martino, Juan Manuel Llop e Norberto Scoponi, peças chaves na Era Bielsa, quando os leprosos alcançaram os canallas em número de taças (1990/1 e Clausura 1992). E com a conquista dos torneios Apertura 2004 e Final 2013, o placar virou para 6 a 4.
Internacionalmente, o Central ostenta o título da Copa Conmebol em 1995 enquanto o Newell’s se orgulha das duas finais (1988 e 92) disputadas pela Copa Libertadores. Ambos se enfrentaram também na fase doméstica da Copa Sul-Americana, em 2005, gerando diversas ocorrências pela cidade, antes e depois do gol solitário de Germán Rivarola para o CARC.
Um novo rebaixamento auriazul em 2010, fez com que os rivais não se enfrentassem por três anos. Contudo, os rojinegros desconhecem o sabor da vitória desde o retorno do clássico. São quatro derrotas consecutivas, algo inédito no confronto, e que somadas aos três empates anteriores à queda do Central fazem com Newell’s amargue um tabu de sete jogos.
El Clásico Platense (MP)
(Estadio Único, domingo às 16h)
Julho de 2009, na mesma semana em que o Estudiantes conquistava o seu quarto título da Copa Libertadores, o Gimnasia precisava de um milagre para manter a categoria pela promoción, após ser goleado por 3 a 0 em sua visita ao modesto Atlético Rafaela. Este cenário demonstra quão desigual é a rivalidade em La Plata.
O Club Gimnasia y Esgrima surgiu em 1887, apenas 5 anos após a fundação da nova capital da província de Buenos Aires, idealizada pelo governador Dardo Rocha. Porém, o clube mais antigo em atividade no futebol argentino só foi tomar gosto pelo esporte bretão com a construção da Plaza de Juegos Atléticos, no primeiro ano do século XX, onde hoje se encontra um dos prédios da Universidad Nacional. Mais adiante, a equipe passou a jogar no Club Belgrano até concluir a sua cancha, em 1924,na intersecção das calles 60 e 118 na região do Bosque. Nesta época, a rivalidade com o Estudiantes já estava consolidada.
Inspirados pelo Alumni, equipe histórica dos primeiros anos do amadorismo, alguns muchachos que jogavam na mesma praça que os gimnasianos decidiram formar a sua própria equipe. Como a maioria deles estudavam no Colegio Nacional decidiriam nomear o clube surgido em 1905 com a sua ocupação social. Não tardou para os pincharratas encontrarem sua combinação de números pelas ruas de La Plata. Em 1912, foi construída a primeira tribuna coberta da Argentina no cruzamento das diagonais 1 e 57.
Desde o advento do profissionalismo, a cidade sempre esteve representada por um dos seus clubes. Da mesma forma que os demais clássicos apresentados até aqui, pinchas e triperos nunca se enfrentaram pela B, e no confronto direto o Estudiantes supera o Gimnasia em 10 vitórias (55 x 45).
Coube ao León a primazia de ser o primeiro clube a quebrar a hegemonia do “Clube dos 5” e conquistar o primeiro título entre os chicos, sagrando-se campeão do Metropolitano 1967 sob o comando do polêmico Osvaldo Zubeldía. El Zorro também foi o treinador no tricampeonato da Libertadores (1968-70) e no título mundial (1968) ao bater o Manchester United, somando a malandragem de Carlos Bilardo e o talento de Juan Ramón Verón.
Quando o Lobo foi rebaixado, em 1979, pela quarta vez em sua história, logo em seguida o Doctor Bilardo, agora treinador, aplicou outro pinchazo no rival ao ganhar em sequência o Metropolitano 1982 e o Nacional 1983.
Entretanto, nos anos 90 foi a vez do Gimnasia rir da desgraça do Estudiantes, quando este foi rebaixado em 1994, mesmo ano da única taça do palmarés tripero na era profissional: a Copa Centenario.
Na segunda passagem do Pincha pela segunda categoria do futebol argentino, um sobrenome conhecido voltava a vestir a camisa do clube como titular. Nos referimos à Juan Sebastián Verón, que herdou o apelido e a técnica do seu pai.
La Brujita devolveu o Estudiantes à Primera e praticamente deu a volta ao Mundo até voltar as suas raízes 11 anos depois. E no ano do seu retorno é registrada a anedota mais emblemática deste clássico desigual. Os pincharratas estavam disputando o Apertura 2006 rodada a rodada com o Boca Juniors e quando os xeneizes visitaram o GELP, em 10 de Setembro, um grupo de barras invadiu o vestiário do árbitro Daniel Giménez e forçaram a suspensão da partida, quando a equipe local vencia por 1 a 0. No mês seguinte, o León devorou o Lobo por 7 a 0, registrando a maior goleada do clássico.
Os 45 minutos restantes foram disputados em 8 de novembro e segundo contam pelos lados do Bosque, a barra brava ameaçou os próprios jogadores do caso eles… VENCESSEM. Os comandados de Ricardo La Volpe não tiveram dificuldades para golear o desinteressado adversário por 4 a 1, sendo que o primeiro gol foi anotado por Martín Palermo, de passado pincharrata.
Mesmo ajudado pela “entregada” a equipe azul y oro perdeu o fôlego nas últimas rodadas, sendo alcançada pelo Estudiantes e ambos dividiram a ponta ao término do campeonato. No desempate, Verón e companhia viraram o jogo por 2 a 1, com gols de Palermo, José Sosa e Mariano Pavone.
El Clásico Santafesino (MP)
(Cementerio de los Elefantes, domingo às 16h40)
A 170 km ao norte de Rosario, seguindo as margens do rio Paraná, está localizada a capital homônima da província de Santa Fé. Herdeiro do pioneiro Santa Fe Football Club, surge em 15 de abril de 1907 no centro da cidade o Club United, que seria rebatizado posteriormente para Club Atlético Unión. Por sua origem privilegiada, os associados da equipe passaram a ser chamados pejorativamente de tatengues, que na gíria local designa os bon vivants.
Ao contrário do arquirrival, o Colón foi formado em 1905 por um grupo de adolescentes que passavam o tempo em um terreno baldio nas proximidades do porto, sendo futuramente apelidados de sabaleros, em alusão ao sábalo (chamado no Brasil de curimbatá ou papa-terra) peixe comum na região. Todavia, o clube só foi fundado formalmente em 12 de outubro de 1912 – día de la raza, que marca a chegada de Cristóvão Colombo ao continente – quando se filiou à Liga Santafesina, estreando com derrota para o Unión mas com o passar dos anos se tornou a equipe mais vencedora da cidade.
Em 1940, o Unión disputou a Primera B, organizada pela AFA, seguindo o exemplo dos clubes rosarinos, enquanto o Colón tardou mais oito anos para seguir o exemplo dos albirrojos, pois estava erguendo o seu estádio em um aterro na zona sul de Santa Fé. A cancha ficou pronta em 1946, quando o então vice-campeão Boca Juniors derrotou os donos da casa por 2 a 1. Porém, o estádio que foi primeiramente batizado com o nome de Eva Perón e depois alterado para Brigadier General Estanislao López, caudilho da província no século XIX, ficou eternizado com o mote de Cementerio de los Elefantes, pois diversas equipes tradicionais foram derrotadas no bairro Fonavi, inclusive o Santos de Pelé, em 1964.
Se coube ao Tate a primazia de ser o primeiro clube santafesino a se filiar a AFA, o Negro, por sua vez, conseguiu o primeiro acesso à Primera em 1965, sendo acompanhado pelo rival na temporada seguinte. Foram 46 clássicos disputados na elite e o equilíbrio é notável, com 21 empates, 13 vitórias do Unión e 12 triunfos do Colón.
Mas, a partida mais memorável aconteceu na definição do octogonal da B Nacional em 1989, quando os tatengues derrotaram os sabaleros por 2 a 0 no Cementerio, mesmo palco do clássico deste domingo. Inclusive, o atual treinador do Unión, Leonardo Madelón, esteve em campo naquela ocasião.
E se a cidade de Santa Fé ainda não celebrou uma conquista em nível nacional, ela pode se orgulhar dos inúmeros jogadores revelados por albirrojos e rojinegros que fizeram história com a Albiceleste: casos de Leopoldo Jacinto Luque, Nery Pumpido e Pedro Pasculli.
El Superclásico(LL)
(Monumental de Núñez, domingo às 18h15)
A tarefa de escrever um texto sobre o Superclásico só encontra comparação possível no trabalho desempenhado por Sísifo. Sempre que o autor esboça um pretensioso sorriso ao ver o texto acabado, “otro Boca-River que termina a las piñas arrañando el final” e aquele amontoado de palavras despenca montanha abaixo.
Mas como não poderia ser diferente, nem bem o texto foi publicado e o até então desconhecido Panadero borrifou uma espessa cortina laranja em todo material de pesquisa que, de tão desatualizado que ficou, fez Leonardo Ponzio chorar copiosamente em pleno gramado da Bombonera (?).
Mas onde foi que Sísifo encontrou essa bola de mármore que deve carregar uma e outra vez incansavelmente até o topo? É bem provável que seja mais do mesmo documentar aqui, nestas linhas, a origem dos dois maiores rivais do futebol argentino. Ambos compartilham as mesmas raízes, e daí a explicação para muita coisa. Seja como for, para quem ainda não sabe, vale reforçar o registro histórico e informar que o River Plate também nasceu no famoso bairro de La Boca e antes mesmo que os xeneizes (CARP em 1901 e o CABJ em 1905). Os dois tinham seus estádios bem próximos, a escassos metros e localizados na Dársena Sud. O River só foi se instalar definitivamente no lugar onde hoje se apresenta imponente o Monumental de Nuñez em 1938, depois de ter perambulado por outras canchas.
Pois então, de fato, essa rivalidade foi potencializada pelo local de origem dos clubes. Como conta o jornalista Diego Estévez em seu livro 320 Superclásicos, até 1957, o último campeonato vencido pelos millonarios antes de uma seca que durou 18 anos, o clube tinha o costume de festejar seus campeonatos tanto em Nuñez, o bairro de adoção, como também percorria as ruas de La Boca, já que havia deixado muitos torcedores por lá também.
O primeiro jogo oficial data de 24 de agosto de 1913, mas pesquisadores e historiadores encontraram registros amistosos anteriores a esta data. Daí pra frente, o resto é história conhecida por todos…
El Clásico del Sur (LL)
(La Fortaleza, domingo às 21h30)
Fechando a nossa programação temos o duelo que talvez seja aquele considerado clássico mais recentemente, e em grande parte pela influência da imprensa.
Seguindo os conceitos geográficos, tão básicos na hora de compreender essas rivalidades, Lanús e Banfield encontram motivos para se odiarem. Estão separados por apenas quatro quilômetros. O Banfield no município de Lomas de Zamora, e o Lanús no município de mesmo nome. Apesar disso, os primeiros registros testemunham encontros amistosos e que ainda não possuíam uma carga tão grande de tensão e responsabilidade com o resultado.
Até mesmo porque os dois clubes concentravam a atenção em terceiros. O Talleres de Remedios de Escalada era a cara-metade do Granate, enquanto o Los Andes funcionava como inimigo número um do Taladro. Porém, ao longo dos anos 80, quando estes dois times do sul da grande Buenos Aires começaram a se encontrar frequentemente na B Nacional, os duelos aumentaram não apenas em quantidade, mas também em qualidade.
O grande BOOM no chamado Clásico del Sur acontece na década seguinte com o ascenso definitivo do Lanús em 1992, quando 30 mil seguidores se despediram de vez da B, sendo acompanhado pelo Banfield um ano depois. Na virada do milênio, cada qual conquistou um torneio curto: Apertura 2007 e Apertura 2009, respectivamente. A diferença está nos confrontos diretos (31 x 22 para os verdes) e nas conquistas internacionais (1 Copa Conmebol, 1 Copa Sul-Americana para os grenás).
Novamente, as greves voltam a ser assunto do Central Autônoma. Conversamos com Mario Guimarãoes Jr, da Federação dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior (Fasubra), representante de uma das categorias dos servidores públicos federais paralisados, tanto por melhores condições de carreira como também por políticas de investimento em educação.
Num ano marcado por drásticas reduções de orçamentos das pastas sociais, a educação é uma das mais afetadas, como Mario conta na detalhada entrevista que nos concedeu. E, apesar da longa duração da greve, que já passou dos 100 dias, ele afirma que ainda faltam condições mais concretas para que se possa pensar em greve geral e explica como vão as difíceis negociações com o governo federal.
Sabe, às vezes a gente se questiona. Será que vale a pena continuar com este podcast? Adianta pregar no deserto?
As pautas chegam, nunca acabam, não aliviam, não deixam a gente se calar. Fernando Toro não tem oq ue fazer: mais clipes transados, mais uniformes maneiros, mais notícias surreais e bizarras.
Com bolo de aniversário para Neto e Skhuravy e relatos tenebrosos de visitas às arenas fantasmagóricas.
Na edição 27 deste podcast, a equipe da Trivela, representada por Felipe Lobo e Ubiratan Leal, falaram dos amistosos da seleção brasileira e trouxeram como convidado o jornalista Adalberto Leister Filho.
No papo, que contou também com Leandro Iamin e Paulo Júnior, falamos da força da equipe, o apelo popular refletido na audiência, as novidades, a comparação entre os amistosos de hoje e de outrora e os pontos positivos, dentro de campo, vistos – ou não – nas duas vitórias contra Costa Rica e Estados Unidos.
Falamos também de estaduais, da especulação sobre Sul-Minas e mais.