Um diálogo urgente e preciso

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Por Luiz Felipe de Carvalho

Noite. Interior de um bar com diversas mesas, quase todas vazias. Em uma delas conversa um casal de amigos, Leonardo e Beatriz.

BEATRIZ – Não conheço.

LEONARDO (incomodado) – Como assim não conhece?

BEATRIZ (pegando mais uma batata, sem olhar muito para Leonardo) – Não conheço, ué.

LEONARDO – Nem “Lua e Flor”?

BEATRIZ (sorrindo e ajeitando o queixo sobre a mão, como se prestes a ver algo que a diverte) – Canta um pedaço pra eu ouvir.

LEONARDO (contrariado) – Você adora me ouvir cantar, é uma coisa de louco. Vá lá: “Eu amava, como amava algum cantor, de qualquer clichê, de cabaré, de lua e flor”

BEATRIZ (sorrindo) – Eu já tinha lembrado só de você falar o nome. Mas sempre me surpreendo por você não conseguir cantar uma nota afinado!

LEONARDO (sorrindo ironicamente) – Muito engraçado realmente. Então você conhece o Oswaldo?

BEATRIZ – Não, eu não conheço o Oswaldo Montes Claros…

LEONARDO (interrompendo) – É Montenegro…

BEATRIZ – Que seja. Não conheço, catzo. Por que tenho que conhecer esse cara?

LEONARDO (resignado) – Não é que tem que conhecer. Sei lá, é que a relação que eu tenho com ele é um pouco diferente, então eu não sei o que significa não conhecer o Oswaldo Montenegro, sabe?

BEATRIZ – Por que diferente?

LEONARDO (se animando) – Vou tentar te explicar. Eu tenho uma tia que quando tinha uns 20 anos gostava dele de um jeito assim…como explicar…imagina uma fã do Luan Santana. Era tipo isso. Ela se descabelava, chorava, comprava os discos assim que saíam, ia em quase tudo que é show. Então pra mim o Oswaldo tinha uma aura um pouco mística, saca? Na minha adolescência eu fui em alguns shows dele, e também em peças de teatro – ele escreveu e montou várias peças. E havia uma magia, acho que essa coisa do artista em cima do palco, que me marcou demais. Olha, eu até me emociono um pouco ao falar disso. Enfim, é por isso, meio resumidamente, que o que eu tenho com ele é diferente do que quase todo o resto da população. Fora que eu adorava as músicas, desde as animadas até as mais melancólicas. Mas não vou ficar te enchendo o saco falando delas, muito menos vou cantá-las para seu êxtase…

BEATRIZ (subitamente tirando as duas mãos do queixo e tentando fingir não estar hipnotizada) – Não, não precisa. Acho que com essa explicação deu pra entender um pouco porque sua relação com ele é diferente. Vi até uma lagriminha aí em algum momento. Acontece que as fãs do Luan Santana muito provavelmente vão se envergonhar da idolatria no futuro. E sua tia, como é a relação dela com o Oswaldo hoje em dia?

LEONARDO – Ela continua quase do mesmo jeito. Mas é diferente, ela idolatra um cara que compõe suas próprias canções e que diz coisas como “olhe bem nos meus olhos, olhe bem pra você, o fato é que a gente perdeu toda aquela magia” e não, sei lá, qualquer coisa que cante o Luan Santana, deve ser tudo ruim.

BEATRIZ – Se você não conhece nada do Luan Santana, como sabe que é ruim? Não tem lógica.

LEONARDO – A lógica insiste em guardar no seu pote a mais linda palavra que eu ia dizer.

BEATRIZ – Que é isso?

LEONARDO – Um trecho de uma letra do Oswaldo.

BEATRIZ – Ah, gostei! Concordo, quero que a lógica se dane, o pensamento é banal.

LEONARDO (impressionado) – Eita porra!

BEATRIZ (curiosa) – O quê?

LEONARDO – Isso que você falou também é uma frase do Oswaldo! E de uma música que quase ninguém conhece. Como assim?

BEATRIZ (tentando desconversar) – Sei lá, oras. Coincidência. Acabei de pensar na frase. Deve ser culpa da solidão nos bares que a gente frequenta…

LEONARDO (desacreditando) – Cê tá de sacanagem, né? Esse finalzinho também é Oswaldo. Beatriz, o que tá acontecendo?

BEATRIZ – Não sei, Leonardo. Tudo que eu pensei saber ainda é mistério. A chave do amor é uma risada ou é um jeito sério? Me desculpe, ou melhor, não, me abraça e comemora, que a rasura que foi feita foi perfeita na sua hora. E no fundo é sempre uma escolha entre ser calma e ser feliz. Espero, mesmo, que a paixão saiba cuidar de nós. Porque mesmo que já fosse muito tarde, pus as sombras da minha vida sobre as linhas de tuas mãos. Porque antes de te conhecer eu já era o que sou agora, mas agora gosto de ser. Tô te vendo aí, com seu olhar de tela, sempre perguntando o que eu pensava. Ah, Leonardo, deixe que a insípida lógica ceda pra mágica o seu turbilhão! Me peça alguma coisa louca, só pra eu poder dizer que sim! E entenda que, durante toda a minha vida, eu amei como um pescador que ama mais a rede do que o mar. Eu amei como jamais poderia se soubesse como te encontrar…

LEONARDO (em silêncio, chorando e extasiado)

BEATRIZ – Eu te amo, Léo.

LEONARDO – Eu também te amo, Bia.

Cai o pano. Fim.

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