A estupidez que começa na lei e acaba no hospital

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Antes de comentar o caso ocorrido no jogo entre Sport e Santa Cruz, permita-me apresentar-lhe o personagem da foto.

Ao lado da caneta está um sinalizador do tipo que costumava ser usado nos estádios brasileiros.

Foi proibido a partir de 2013, depois da aprovação de uma PL apresentada pelo deputado Décio Lima (PT-SC). O uso desse artefato se tornou crime passível de dois a quatro anos de prisão, mais multa.

De lá até cá é recorrente a situação de problemas envolvendo o uso de sinalizadores, gerando inclusive conflito entre torcedores do mesmo time, uma vez que tem se revertido em punição aos clubes (jogo de portões fechados ou longe do estádio de origem).

Nunca se soube de uma morte, ou mesmo lesão, causada pelo uso desse tipo de sinalizador. Seja ao seu portador, seja a outros presentes nos estádios.

O texto de apresentação da PL se valia de um caso ocorrido na Bolívia, que vitimou uma criança, a partir do uso irresponsável de um “sinalizador naval”, artefato muito maior, quase inexistente no Brasil e raramente usado em estádios de futebol.

O “sinalizador naval” em questão é um artefato que se projeta, como um rojão, mede 30 cm e pesa meio quilo. Medidas muito diferentes de um sinalizador do tamanho e peso de uma caneta.

O deputado Décio Lima nunca teve relação com o futebol, nem como torcedor, nem como dirigentes, nem como estudioso. É de Blumenau, cidade cujo estádio não cabe mais de 5 mil torcedores, e diz muito sobre seu conhecimento acerca de eventos de massas.

No dia 7 de março, no jogo entre Sport e Santa Cruz, na Ilha do Retiro, esse artefato voltou a ser motivo de polêmica. Ao que constam a maioria dos depoimentos, o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar de Pernambuco se dirigiu à arquibancada da torcida visitante de modo a coibir o uso de um sinalizador (não um naval, mas o do tamanho de uma caneta).

Com procedimento de praxe do destacamento, a abordagem violenta assustou torcedores, que tentaram fugir do tumulto, gerando um efeito de bola-de-neve, típico de situações de pânico em eventos de massa – quando não se sabe a origem ou a razão do tumulto e busca-se sempre se afastar a todo custo.

O resultado foi o ferimento de mais de 70 torcedores do Santa Cruz, incluindo fraturas expostas, crianças machucadas e desmaios. Dois torcedores internados em estado grave.

O que vem depois desse ocorrido é uma situação de descontrole de proporções incalculáveis. Torcedores revoltados jogavam objetos na PM; policiais incapazes de compreender a situação reprimiam torcedores já machucados que tentavam acessar o campo para serem atentidos pelas equipes de socorro; e, o mais grave de tudo: o jogo não apenas não foi suspenso, como voltou a acontecer com os feridos ainda em campo.

O procedimento geralmente adotado em caso de sinalizadores acesos em estádios é a interrupção do jogo, pelo juiz, até que os artefatos sejam apagados. Um único sinalizador tende a durar cerca de 3 minutos quando aceso, sendo que o jogo já estava se encaminhando para o intervalo, portanto não atrapalharia a partida.

Mas para a além da abordagem policial desnecessária e irresponsável, fora dos padrões de solução de problemas do tipo, e da culpabilização criminalizadora das torcidas organizadas em um caso em que a torcida não teve qualquer culpa; segue a pergunta: Por que diabos ainda não se explicou que esses sinalizadores são inofensivos?

Praticamente nenhum outro país da América do Sul se deu ao trabalho de reprimir o uso de sinalizadores, apenas o Chile, em um plano mais amplo de criminalização das barras. No Brasil, sua proibição tem causado muito mais problema do que a liberação. Os sinalizadores continuam inofensivos.

Aos tantos colegas de imprensa que se apressaram em condenar as torcidas organizadas como causadoras do tumulto ficam as perguntas: quem disse que foi um membro da Inferno Coral que acendeu o sinalizador? Como é possível acreditar que uma abordagem minimamente humana não causaria tamanho desastre? Para que piorar uma situação cujo começo, meio e fim são sabidos por todos?

E para todos os torcedores: para que manter tal proibição se a única finalidade dos usuários de sinalizadores é fazer a festa nos estádios?

Talvez seja porque a fumaça, caso entre em campo, pode atrapalhar a visibilidade do jogo e comprometer a transmissão televisiva, atrasar o jogo e prejudicar a grade da progamação. Mas pode ser apenas suposição minha. Talvez. Até porque essa suposição nunca é colocada nas mesas redundantes dos intermináveis debates de jornalistas homens brancos da imprensa esportiva brasileira.

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3 comentários em “A estupidez que começa na lei e acaba no hospital”

  • Bruno Mendes disse:

    Excelente reflexão, uma pena esse assunto não ser debatido com honestidade. A proibição é mostrada para a opinião pública como uma verdade inquestionável, “cumpra-se” e ponto final. Aliás, sinalizador é problema pra quem? Parabéns pelo texto.

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