As melhores músicas do meu ano

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Por Luiz Felipe de Carvalho

Eu ouço discos, não ouço músicas. Bem, é claro que ouço músicas também mas, enfim, acho que deu pra entender. Também não ouço os discos do ano no próprio ano, porque já me antecipo à impossibilidade de ouvir tudo, e deixo pra depois. Vou ouvindo o que compro, muitas vezes coisas antigas que ainda não conheço, porque uso aquela máxima que acho que a Pauline Kael disse sobre os filmes, e que também vale para a música: se eu não conheço, é novo. Por isso o título desse texto. São as melhores músicas que ouvi em 2018 e que ainda não conhecia, mas que não são de 2018 (com uma honrosa exceção).

Ouvi exatos 59 discos “novos” esse ano, dos quais 35 nacionais e 24 internacionais. Como bom virginiano, minha ideia era fazer um “Top 10” das músicas, mas cheguei a doze e não conseguia tirar mais nenhuma. Aí pensei “são doze meses no ano, doze músicas, tá certinho!” (virginiano sempre arruma um jeito de adequar o mundo ao seu metodismo – curioso que eu nem ligo pra astrologia, mas arrumei esse jeito místico de desculpar minhas idiossincrasias).

Chega de papo que tem muita música pra ouvir, e ainda tem um papinho antes de cada uma, então melhor eu parar logo de escrever aqui.

1 – Dissonantes – Artista: Lia Paris – Composição: Lia Paris – Álbum: Lia Paris (2015)

Antes de falar da música, o disco: pop até os fundilhos, sem qualquer tipo de concessão a assuntos sérios ou complexidades. Para mim é um mistério que não tenha feito sucesso nacional. Tem parcerias com Marcelo Jeneci, com samuel Rosa, tem produção de Carlos Eduardo Miranda, tem Pupillo e Kassin tocando, ou seja, tudo redondinho pra estourar. Talvez essa nem seja minha música preferida do disco, acho o começo meio chato e talz, mas o refrão…ah, o refrão é irresistível. E acaba sendo bom que o resto da canção seja um pouco entediante, porque quando ele entra é como uma ave do paraíso a enfeitar um céu cinza, pra depois ir embora e volta de novo – como em toda boa música pop.

 

2 – (Girl We Got a) Good Thing – Artista: Weezer – Composição: Rivers Cuomo – Álbum: Weezer (The White Album, 2016)

O disco todo é uma homenagem aos Beach Boys, a começar pelo clima solar, praiano, mas com uma melancolia perpassando as melodias e letras. Há referências descaradas, como a primeira música, California Kids (em oposição ao clássico California Girls) e outras um pouco mais sutis. Esta escolhida é a mais “beachboyniana” na melodia e nos arranjos, embora eles não se atrevam a tentar emular as harmonias vocais criadas pro Brian Wilson e sua turminha. Mas é uma delícia de música.

 

3 – Do Avesso – Artista: Paulo Carvalho – Composição: Pecker/Paulo Carvalho – Álbum: O Amor É uma Religião (2013)

Nesse disco que tem como palavra chave a delicadeza, até mais do que o amor que está no título, esta canção se destaca no arranjo bonitinho e no jeito de cantar que me fez lembrar muito do Luiz Tatit. E entre outras tantas que gostei no álbum, essa tem um refrão que não saia da minha cabeça, com apenas duas frases que pedem basicamente ousadia e amor: “vamos girar a chave ao contrário/ Vamos beijar antes do ato”.

 

4 – Tropsicodélico – Artista: Dom Pescoço – Composição: Gabriel Sielawa/ Luiz Felipe Passarinho/ Rafael Pessoto/ Dom de Oliveira – Álbum: Tropsicodelia (2018)

Olha aí a honrosa exceção! A única música dessa lista que vem de um disco lançado em 2018. O motivo é simples: eu precisava ouvir logo o disco da banda do meu amigo Dom de Oliveira. E ela entrou na lista por méritos próprios, nada de favorecimento ao amigo. Verás que é uma bela mistura de rock com música brasileira e com alguns experimentalismos, tudo isso sendo também a tônica do álgum, explicitado no refrão “Nem Tame Impala/ Nem Jethro Tull/ Vem todo mundo tomar Tom Zé”.

 

5 – Pecado, Rifa e Revista – Artista: Tom Zé – Composição: Tom Zé – Álbum: Correio da Estação do Brás (1978)

Falando em Tom Zé, olha ele aqui. Esse ano tomei contato com boa parte da obra do artista lançada na década de 1970. Uma coisa que me impressionou muito foi o quanto o trabalho dele lembra o de seu conterrâneo, e contemporâneo, Raul Seixas. O mesmo sarcasmo, as mesmas ironias, o mesmo deboche, a mesma inteligência. Acontece que Raul não se furtou a fazer música popular, radiofônica, mesmo não deixando de incorrer em alguns experimentalismo aqui e ali. Já Tom Zé tem uma obra menos popular, mais intelectual, pode-se dizer. E acho que esse sambinha é uma grande mostra de como Tom Zé, se quisesse, poderia ter sido tão popular quanto Raul.

 

6 – Trevo (Tu) – Artista: Anavitória – Composição: Ana Caetano/Tiago Iorc – Álbum: Anavitória (2016)

Calma, calma. É certo que eu já tinha ouvido a música aqui e ali, talvez um trechinho na TV, ou ouvido de um músico de bar. Mas nunca tinha parado pra ouvir e prestar atenção. Pois prestei atenção não só nessa, mas no disco todo das meninas, produzido com acertado minimalismo por Tiago Iorc, parceiro de Ana Caetano nessa música. Essa menina, compositora de quase todas as canções, “tem os dom” da canção pop. “Trevo (Tu)” é uma esmeralda. Meu desejo é que elas não se acomodem, que acrescentem um pouco de dor às suas letras, e tenham um pouco mais de ambição lírica. Muitos bons caldos podem vir daqui (inclusive nem sei se já vieram, porque não ouvi mais nada do que elas fizeram, a não ser, talvez, aqui e ali, daquele jeito, sem prestar muita atenção).

7 – American Tune – Artista: Paul Simon – Composição: Paul Simon – Álbum: There Goes Rhymin´Simon (1973)

Este ano conheci com mais profundidade os primeiros trabalhos solo de Paul Simon, onde encontrei essa feiúra. Existe alguma imprecisão em dizer que essa composição é de Paul. Várias pessoas ao longo do tempo se aproriaram da melodia, dentre essas um tal de Johann Sebastian Bach, conhece? Se o mestre alemão já tinha copiado de outro, quem poderá culpar Paul Simon de não dar crédito a ninguém pela composição? O que importa é que Paul lhe deu uma bela letra, estendeu a melodia e a transformou nessa beleza, provavelmente a música mais bonita que eu conheci nesse ano. Aí abaixo coloco a versão de estúdio de Paul Simon e logo abaixo um trecho da melodia de “St. Matthew Passion”, o trecho de coral de Bach que usa a mesma melodia.

8 – Sem Pressa – Artista: Lulu Santos – Composição: Antônio Pedro/Lulu Santos Álbum: Bugalu (2003)

À época do lançamento desse álbum, cds ainda vendiam bem. Ainda assim, foram apenas 51 mil cópias vendidas. Difícil entender. É o pop perfeito que Lulu sabe fazer e faz como poucos. Ele mesmo diz sobre o disco, em entrevista para o Terra: “Adoro esse disco (…) é divertido e bem feito”. De fato ele acertou na mosca na definição. Essa música não deve nada a nenhum dos maiores sucessos do artista em sua fase mais pop. Começa com um guitarrinha suingada, depois entram as batidas eletrônicas do DJ Memê. Quinze anos depois, parece ainda moderna. Um feito em tempos de mudanças tão rápidas.

9 – Rumba Louca – Artista: Gal Costa – Composição: Moacyr de Albuquerque/Tavinho Paes – Álbum: Baby Gal (1983)

Em contraste à canção anterior, essa tem um arranjo, feito por César Camargo Mariano, um pouco datado, bem anos 1980. Mas é delicioso, cheio de camadas de teclados, sintetizadores e pianos, além de muita percussão. A voz sem arestas de Gal plana sobre tudo isso, e a letra falando de sexo, mas com muita elegância, apenas faz companhia pro ritmo empolgante. O instrumental, exceto os pianos e sintetizadores tocados por Cesar Camargo Mariano, é todo feito pelos músicos do Roupa Nova.

(abaixo da versão em estúdio está uma versão ao vivo de Gal, em um espetáculo chamado “Baby Gal”. Me chama atenção o contraste com as produções de nossas cantoras atuais, muito puxadas pro estilo americano, cheio de efeitos especiais, luzes, dançarinos, etc. Aqui é Gal e sua banda, e uma performance de palco minimalista. Ah sim, claro, tem a voz também)

10 – Inoportuna – Artista: Jorge Drexler – Composição: Jorge Drexler – Álbum: 12 Segundos de Oscuridad (2006)

Os encartes dos discos do Jorge Drexler tem uma coisa interessante (ao menos os dois que eu tenho): ele indica exatamente onde estava e que dia compôs aquela canção (achei que eu fosse metódico). Esta, por exemplo, foi feita numa viagem de Jaén (cidade espanhola) a Madrid, em 18/07/2005. Não importa tanto quando e onde foi feita, e sim que é a música que eu mais gostei esse ano, e está no disco que eu mais gostei esse ano, vindo do país (Uruguai) que eu mais gostei de visitar esse ano (tá, foram só dois países). A letra é supimpona, fala de como fazemos planos, pensamos, e a vida caga e anda pra gente e faz o que ela quer (“a vida não para, não espera, não avisa”). Emoldurada numa melodia bonita e bem humorada ao mesmo tempo, é um combo perfeito.

Obs: O vídeo tá sem a letra, mas nos comentários do YouTube eu coloquei a dita cuja. É só clicar em “mostrar mais” que ela aparece inteira. Caso queira, né?

11 – Canción Para Uno – Artista: La Vela Puerca – Composição: Teysera – Álbum: Érase…(2014)

Mais uma que veio na mala uruguaia. O disco tem uma arte muito legal, com a capa vazada, e o encarte por trás compondo o desenho. “Érase…” significa “Era uma vez…” em castelhano, e o álbum é meio conceitual, dividido em capítulos. Beleza, mas não valeria nada se as músicas não fossem boas – e são. Destaco aqui a que mais gostei, porque melodia é meu jogo, mas há outras com um pouco mais de peso. “Canción para uno” tem um tema meio filosófico, de alguém que sai pra caminhar e deixa o caminho lhe guiar, e aproveita esse tempo pra pensar na vida. Quem nunca? Pra ajudar, o clipe é uma pequena obra-prima em animação.

 

12 – Viajando Sin Espada – Artista: No Te Va Gustar – Composição: Emiliano Brancciari – Álbum: El Tiempo Otra Vez Avanza

Outra direto do Uruguai. O nome da banda significa algo como “Você não vai gostar”. A história é genial: diz que ia rolar um festival e a banda ainda não tinha nome. Aí dois integrantes inventaram um qualquer e foram contar pro baterista. Disseram “temos um nome…você não vai gostar”. O baterista na hora falou “legal, gostei!”. Sabe-se lá o que tem de lenda nisso, mas na dúvida imprima-se a lenda. Apesar do nome engraçado, é uma banda bem séria, que toca em temas fortes, intensos, sem muito espaço para o humor. Me lembrei muito de nossa Legião urbana. Minha escolha mais uma vez foi movida pela bela melodia da canção, ajudada pelos violões e pela slide guitar, e pela letra falando de liberdade e da inércia nossa de todo dia: “a toda velocidade me mantive parado”. O clipe parece meio violento, mas tem um “plot twist” no final.

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3 comentários em “As melhores músicas do meu ano”

  • Regina Aurea Pereira disse:

    Adorei sua trilha sonora de 2018. Gosto muito da Gal e do Lulu. Conheço um pouco de Tom Zé, Paul Simon me lembra a juventude. Curto Tiago Iorc e Dom é um querido da saudosa Carolina Senegal. O castelhano tem uma sonoridade que me agrada muito.

    Mas a minha música preferida é Do avesso de Paulo Carvalho. O jeito dele cantar me lembra Luiz Felipe.

    “Vamos virar a chave ao contrário”! Amei!

  • Edna Cristina Bernardes de Souza disse:

    Que texto delicioso e sensível.
    Amo música e amo também músicas novas, nunca ouvida por mim.
    Hoje conheci algumas canções novas…adorei.
    Conheço o Dom , ele canta bonitinho demais.. minha música preferida é a dele.
    Já coloquei todas as canções na minha playlist do spotify .
    Obrigada Felipe por esse presente.
    Parabéns!!!

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