C# na Copa | Dia 23 – Veias abertas (2)

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Por Gabriel Brito

Uruguai 0 x 2 França – O melhor sul-americano

Se a fase de grupo lhe foi leve, os cruzamentos foram bem o oposto para a brava celeste olímpica.

Depois de tanto suar para eliminar seu similar europeu, e ainda perder Cavani justo no dia de sua melhor partida com a camisa da seleção, encarar o melhor elenco do Mundial era um muro e tanto a saltar.

Se não foi bailado como a Argentina, o Uruguai perdeu para um time que tem absolutamente tudo. Se não vai na inspiração, pode ser na força, se não é a solidez do meio campo, podem ser os habilidosíssimos atacantes; se não é nem um nem outro defensores de enorme potência podem resolver, no jogo aéreo ou até num chutaço, como Pavard em seu antológico gol nas oitavas.

O time francês é assim: bom por cima, por baixo, na velocidade, na cadência, na habilidade ou na força física. O pacote mais completo da Copa do Mundo, e com gás pra mais duas.

Tabarez armou o time que podia para jogar sem o grande parceiro de Suárez, congestionou seu combativo meio campo e viu seu onze colocar a pierna fuerte que a ocasião obrigava.

Mas, como dito, se não vai de um jeito tem tudo pra ir de outro para os franceses. Varane apareceu por cima e abriu o placar como não se esperava. Cáceres quase respondeu antes do fim do primeiro tempo, mas Lloris mostrou que debaixo dos paus seu lado também é muito bem servido.

O frango de Muslera é daqueles que os mais críticos sempre esperaram do goleiro outrora inseguro. Outrora, não em sua terceira e melhor Copa de todas.

Aí era demais. Não havia mística capaz de subir tanta ladeira.

Ainda assim, das eliminações sul-americanas a dos bicampeões olímpicos e mundiais é de longe a menos deprimente. O Uruguai parece ser o único time do continente que realmente apresenta tudo aquilo que lhe é possível, com limitações aceitas de antemão e por todos conhecidas.

A importância de Oscar Tabarez nesta reabilitação da Celeste é inegável, como bem mostra a matéria de Leandro Stein no Trivela. E o sentimento de unidade que recobre as relações deste pequeno país é outro ponto invejável se comparamos com os dois vizinhos que parecem expor todas as vísceras nacionais a cada fracasso futebolístico.

Gracias, Maestro.

 

Brasil 1 x 2 Bélgica – Aonde estamos?

A partida de Kazan era a primeira hora da verdade para a seleção brasileira, considerando que até sem técnico ou qualquer comando respeitável a camisa amarela pode aparecer numa semifinal, erguer uma taça, trazer velhas ilusões de volta.

E também era a grande hora da verdade para os europeus, repletos de atletas bem sucedidos nos seus clubes, mas famosos por não jogarem à altura das grandes circunstâncias com a camisa vermelha.

Pois bem. A Bélgica, que esteve a poucos metros de uma eliminação para o Japão, passou sua grande prova. Ganhou um jogo pra história, que servirá de argumento para uma geração corretamente questionada ao acumular decepções quando já era bem cotada.

Já o lado titeano, reprovou. E não se trata de lidar apenas com o resultado consumado. Trata-se de reconhecer erros que não por acaso custaram a eliminação. Foi exemplar nas Eliminatórias e rápida reorganização de um time em profundo desencanto. Mas se apegou demais ao que foi feito 12 meses antes do que interessava.

Desastroso contra os japoneses, era evidente que o meio campo belga mudaria. Martinez sacou o atacante Mertens, colocou Fellaini, importante naquela virada, ao lado de Witsel e liberou De Bruyne para jogar como um velho camisa 10. Enfim, haveria mais gente no meio campo.

Enquanto isso, o Brasil manteve os hábitos. No fim das contas, beirava aquele velho 4-3-3 de peneira de garotos, com dois meias e três atacantes lááá na frente, a jogar sem olhar pro retrovisor.

Paulinho foi o homem de uma nota só. Um homem “surpresa” que se manda ao ataque do mesmo jeito em todas as posses de bola do time. O que nos faz questionar tal definição.

É grave. Pois um camisa 8 que nunca está ao lado do volante para a construção de jogadas também afasta o lateral do jogo ofensivo e sobrecarrega William, muitas vezes isolado e obrigado a buscar a solução individual, que desta forma perde o caráter de imprevisibilidade.

Coutinho sofre para ser um organizador que no clube não é, na prática é quase outro atacante. Pra completar, tudo isso gira em torno da estrela Neymar, que simplesmente não se apresenta à altura do cartaz. Alertamos aqui após o martírio contra a Costa Rica: talvez seja hora de tratar o camisa 10 como apenas mais um. Talvez seja mais saudável para o próprio. Talvez fosse.

Fica pra história que aos 26 anos Neymar não é tão grande como poderia ter sido. E já coloco no passado, pois seria insuportável que na próxima Copa do Mundo vejamos essa egocêntrica e mimada figura novamente no centro das atenções e com a 10 nas costas.

Ok, há vários pequenos detalhes que escapam ao controle de qualquer humano e ainda decidem o jogo. Com um pouco de sorte, a joelhada na trave de Thiago Silva poderia ter entrado e o acidente do gol contra não ocorrido.

O Brasil pecou pela ansiedade em empatar logo e ofereceu uma sequência de contra-ataques que era o sonho de um time que ficou leve com o contexto. E numa impressionante falta de presença de espírito permitiu-se a Lukaku puxar o contra-ataque do segundo.

Os três reservas melhoraram o time, o que deixou gosto tão amargo que sequer foi possível elogiar Tite por isso: ele mexeu bem ou escalou errado?

Ademais, como em 2010 o Brasil morreu com um atacante que o próprio técnico não via condição de utilizar.

E se Tite, apesar da cansativa publicidade, de fato tem boas ideias, por outro lado repetiu velhos vícios da “camaradagem dos vestiários”, “grupo fechado” e outras inutilidades mais do que datadas. Foi muita gente em mal estado físico.

Pois por mais colonizadas que estejam as mentes que acham factível dar preferência cega a quem joga na Europa, aí estava mais um motivo para apostar em jogadores do futebol nacional, afinal, estamos na metade da temporada.

Ainda neste sentido, preciso entender quem tanto caiu de pau em Fagner. Fez uma Copa correta, menos decepcionante que as de Daniel Alves em 2010 e 14, por exemplo (mas quem questiona o lateral fashion que deu passes pro Messi?).

Foi dos que mais sentiu o jogo, no sentido que precisávamos, na reta final. Vejo gente que nem torce para a seleção fazendo uma questão danada de dizer que por ali foi o caminho belga das pedras, por mais que as imagens evidenciem que o oposto sempre foi o mais convidativo e Hazard inclusive tenha trocado de lado na reta final do segundo tempo. Entendeu por onde o pau ia cantar e onde não.

Gostem ou não, o jogador brasileiro ainda sente coisas que os “europeus” já esqueceram. Corre na pressão duas vezes por semana e lida com torcedores que ainda mantêm uma relação mais visceral, ou “necessitada”, com o futebol. Melhor do que jogar na Europa é viver na Europa, convenhamos.

Enquanto a defesa se virava para evitar o terceiro, víamos atuações quase lunáticas de atacantes que reiteradamente tentaram empatar o jogo por meio da simulação de pênalti, mesmo quando faziam jogadas promissoras.

Nunca tiveram a frieza de construir a jogada ou dar o toque que a ocasião exigia. Agiram quase como autômatos que insistiam no repertório de sempre, a cumprir corretamente o protocolo. Renato Augusto de fato mostrou uma lucidez solitária.

Domesticado por essa vida mansa onde reina a ordem tática e um estrelato que o faz viver muito acima da realidade humana, o jogador brasileiro virou mais um no bolo.

Pior do que perder da Bélgica é tentar entender em que momento da história passamos a ter, a rigor, um time bem equivalente, sem um diferencial realmente preponderante para o país pentacampeão. De 1 a 11, não é absurdo considerar os belgas melhores. Ainda mais sem Casemiro. Chocante ler, e concordar, com Tostão: “temo pelo Brasil não ter um craque como de Bruyne no meio campo”.

Pior ainda é ver que quando a pressão aumentou os belgas não se furtaram de matar jogadas logo no início. Em que momento da história a tal da malícia passou pro lado de lá?

Desde 2006 vemos um elenco com 20 convocados do futebol estrangeiro e 3 nacionais. Não deve ser coincidência o acúmulo de fiascos cada vez menos comoventes.

Por fim, como é “interessante” notar que os semifinalistas tiraram dois grandes times do futebol de suas periferias, do campo de terra e da rua (é, na Europa também tem isso), enquanto por aqui tornamos a formação do jogador e seu acesso ao esporte mais popular algo cada vez mais corporativo e empresarial.

Agora todos começam a dar conta do prejuízo. Até o Galvão Bueno se meteu a questionar a CBF após a eliminação. Mas quero ver quem se dispõe a cortar na carne. Pra muita gente tá bom assim.

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