C3 na Copa | Dia 28 – A era da eficiência

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Por Gabriel Brito

Dia 28 – A era da eficiência

Croácia 2 x 1 Inglaterra – Façanha histórica, sabor estranho

O frio e a contemplação resignada são as marcas desses últimos dias de Copa aqui em São Paulo.

Novamente, diante da televisão, via com meu irmão o último jogo de meio de semana em horário comercial, o que também representa um fim de Copa.

A melancolia plenamente representada no engravatado que entra rapidamente no bar pra ver o placar, na garota que após almoçar ficou até o intervalo, mas abdicou do segundo tempo para voltar ao escritório e, claro, no cretino que após duas doses de uísque e passividade total diante da TV desembesta a discorrer para o bar inteiro que “a Inglaterra quer o mal do Brasil” e, portanto, tinha que se foder.

Aliás, se antes tínhamos o “torcedor de Copa do Mundo”, agora temos o “sociólogo de Copa do Mundo”.

Cinco minutos de jogo e Trippier já tinha botado uma bola na caixa, primeiro gol de falta nesta fase desde Garrincha contra o Chile em 1962, que bela e amarga lembrança da viagem à Rússia ficará para este bom lateral.

Camisas pesadas na final, logo pensamos. Inglaterra e França, que duelo, duas grandes escolas de futebol e a luta pelo primeiro bicampeonato.

O english team chegando ao jogo máximo e um país que respira futebol como poucos não são qualquer porcaria. E, pensando bem, aqueles que tanto cultuam a Premier League, seus padrões irrealistas e ajudam a criar gerações de torcedores de times que só se vivenciam pelo sofá e internet bem que mereciam o título inglês. Pra entender de uma vez por todas para onde o futebol-exportação nos levou e quem dele se beneficiou.

Outro detalhe interessante é que depois de décadas jogando com linhas de quatro burocratizadas e atletas que, mesmo quando excelentes, se restringiam aos passes laterais, lançamentos e cruzamentos como solução para as partidas, agora víamos uma lépida linha de três avantes que dribla, vai dentro, cria volume de jogo a partir de um permanente assédio e muita movimentação sobre o rival.

Ok, como ciscam Dele Ali, Lingard e, principal e disparadamente, Sterling. Os caprichos e freios na hora de finalizar custariam caro. Harry Kane também poderia ter resolvido, chance não faltou, inclusive na última testada do jogo. Bastava dar na bola como fosse, mas o artilheiro mais sem graça da história das Copas buscou a cabeçada perfeita no último instante. Fora a chance que o VAR validaria, ainda no primeiro tempo.

Pecados que ficarão numa dolorosa memória de um país que mostrou espírito mais copeiro, mas voltou a falhar na hora H diante de uma camisa leve.

Constantes e imbuídos de incontestável garra, os croatas foram crescendo na partida a cada momento. E sempre com a bola no chão, elogie-se.

Voltamos a questionar em que momento da história o futebol brasileiro tornou-se incapaz de produzir um Modric, um Rakitic. A exemplo de outros, não são craques, ao menos de acordo com nossos critérios. São excelentes jogadores, inteligentes, com ótima leitura de campo e acurados naquilo que, lá na tenra idade, nos apresentaram como fundamentos básicos do jogo.

Num futebol mecanizado e padronizado como nunca, tem sido suficiente. E de pé em pé, sem perder a cabeça para o relógio, os adriáticos foram chegando, pressionando.

Ciscar e não resolver cansa. Quando caíram de produção, os ingleses cederam o empate. Walker poderia ter ido mais de encontro à bola. Esperou demais sua queda. A zaga segura e firme que lembrava a velha escolha começava a fazer água.

Os dez minutos seguintes seriam de desencontro total. A Inglaterra sentiu o baque, os inúmeros traumas recentes diziam presente. Os croatas perceberam e tomaram conta da partida. A virada já era pra ter vindo antes da terceira prorrogação dos axadrezados.

Do lado inglês, vale destacar que os gols de bola parada e chances criadas a partir deste velho expediente também são mérito (apesar das críticas cabíveis) dos habilidosos jogadores mencionados no início. Alguma coisa precisa ser feita para se obter tantas infrações e escanteios. E numa falta sofrida por Rashford, na última bola, Harry Kane falhou no expediente que tanto resultado trouxe nesta campanha.

Na prorrogação Stones quase fez do mesmo jeito. Mas na famosa bola vadia que pingou daqui e dali, um vacilo tão sutil quanto trágico permitiu a Mandzukic fazer o gol mais importante da história do futebol croata. Aliás, impressionante que tenha se mantido em campo após o choque com o goleiro Pickford no finzinho do primeiro tempo-extra.

E tome gol de pinball nesta Copa, pródiga em demonstrar que para os atuais atletas o campo está pequeno.

A partir daí as ideias se turvaram, os ingleses não foram capazes de elaborar uma única chegada em mais de 10 minutos e os croatas ainda passaram perto do terceiro.

É sempre bonito observar como reagem os jogadores de um time azarão que obtém uma façanha deste tamanho na hora que o juiz sopra o apito final.

Mas ficou uma sensação estranha. Final de Copa para este time parece grande demais. Não se trata de um onze encantador, ainda que ofensivo. Não jogara absolutamente nada de empolgante contra dois times medíocres nas oitavas e quartas.

Talvez seja retrato fiel de um futebol onde a eficiência coletiva e a força mental têm tido enorme peso. E talvez o futebol de hoje seja basicamente isso mesmo.

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