Cem jogos que deram em nada

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A roteirista Antonia Pellegrino lançou no ano passado um livro de concepção simples, porém bastante curioso e provocador, onde lista dezenas de iniciativas que ela foi começando dia após dia, semana após semana, mostrando que nossa vida é uma constante procrastinação de projetos e grandes sacadas que vão ser esquecidas ou atropeladas ali na frente. Cem Ideias Que Deram Em Nada trata disso, dessa nossa necessidade de ir criando novidades que vamos largar ali na frente, ou então de seguir fingindo para nós mesmos que agora tudo vai ser diferente, que isso vai ser minha prioridade, que a partir dessa reunião a coisa vai engatar. Sei.

No futebol, é parecido. O Dunga, que nessa hora de almoço de véspera de amistoso da seleção me embrulha o estômago com pizza de ontem e coletiva de imprensa requentada no microondas, precisava ler esse livro.

O Brasil vai a campo com um time bastante parecido com o que fez o que fez na Copa do Mundo. E o técnico, que já teve quatro anos de trabalho e fez, a meu ver, algumas das piores convocações na história brasileira em Mundiais – sim, Kléberson, em maio de 2010, foi chamado para uma Copa, assim como Baptista, Nilmar e Grafite nas óbvias vagas de Ganso e Neymar – quer fingir que tudo é novo.

‘É hora de ter mentalidade vencedora’, de ‘trabalhar forte para atingir os objetivos’, ‘de dar ritmo para os jogadores neste início de trabalho’, e eu vou imaginando uma versão do livro da Antonia onde o Dunga vai listando suas ideias que não vão dar em nada:

ideia 45. dar mais ritmo pros laterais jovens

ideia 46. fortalecer os treinamentos pensando nas competições futuras

Onde se quer chegar? Daí o repórter português questiona sobre os jogadores do Porto, Alex Sandro e Casemiro, e o treinador diz que ‘mantém uma conduta de não comentar jogadores que não estão na seleção, todos têm de estar preparados’. E o Roberto Firmino, que treinou como titular, por que a escolha por ele? ‘O colete é só para determinar a posição, não quer dizer que ele vai jogar, todos têm de estar preparados’. Tá, mas ao menos o goleiro, qual vai jogar? ‘Amanhã você vai ver, todos têm de estar preparados’.

ideia 47. numa seleção brasileira, todos os jogadores têm de estar preparados.

Cagando regras e prolongando os programas com clichês, vivemos mais uma semana em que o Brasil faz seu jogo anual contra a França e depois encontra um parceiro sudaca na Europa – desta vez o Chile, em Londres.

A irrelevância desses amistosos é tamanha que chego a pensar que ainda bem que os campeonatos no Brasil não param. Não faz sentido derrubar o encontro dos amigos e a cerveja com futebol na TV da noite de quarta-feira se estão todos cagando pro que vão fazer brasileiros e franceses.

Pensar que duelos internacionais serviam para se testar a força de cada escola de futebol, encontrar o desconhecido, desafiar times e jogadores diferentes daqueles em que se está acostumado, colocar frente a frente estilos de jogo.

Agora, diante dessa reunião de colegas redefinidos em camisas com as cores de cada país, resta a enrolação, a promessa de preparação, a cascata da continuidade, do ritmo.

Vai dar em nada.

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