Com paz e com amor

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Por Luiz Felipe de Carvalho

Todos os anos me lembro do aniversário de todos os Beatles, mesmo os que já se foram, e penso neles com carinho. Tenho um grau de beatlemania que talvez não possa ser considerada grave, daquelas de amarrar no pé da mesa, mas é bem alta. Já tive uma fase mais apaixonada, mas, como toda boa paixão, esta virou amor. Hoje os Beatles são grandes companheiros de vida, daqueles que ficam ali, muitas vezes desaparecidos por um tempo, mas que eu sei que posso contar quando precisar.

Digo isso porque Sir Richard Starkey completou, neste 7 de julho, oitenta anos de idade. A efeméride, embora não signifique nada na prática, me fez ter vontade de escrever sobre o beatle menos famoso (se é que se pode dizer isso de um beatle), e mais conhecido por seu nome artístico: Ringo Starr!

Há uma ideia meio generalizada de que Ringo não era um bom baterista. Não sou um especialista em bateria, mas me parece difícil (impossível?) que o baterista dos Beatles, uma das maiores bandas de todos os tempos (olha que beatlemaníaco sensato eu sou, não escrevi “a maior”), fosse um mau músico. É certo que Ringo não era um inventor, não quebrou paradigmas da profissão. No entanto sua regularidade era o que os Beatles precisavam, especialmente no começo da carreira. Estamos no começo dos anos 1960, não era fácil ter um kit de bateria em casa. O primeiro baterista dos Beatles era o bonitão – e mediano – Pete Best, que acabou sendo mandado embora (não só por ser medíocre, mas também porque seu humor não batia com o dos outros três). Então os Beatles meio que roubaram Ringo de outra banda, Rory Storm and The Hurricanes, porque Ringo era o melhor baterista de Liverpool. Ponto. É fato também que George Martin, o produtor dos Beatles, chegou a trocar Ringo por um baterista de estúdio nas primeiras sessões de gravação da banda, insatisfeito com seu trabalho. Mas isso se deveu mais a uma falta de experiência em gravações de estúdio do baterista.

Confesso que, quando ouço The Who, outra banda inglesa contemporânea dos Beatles, às vezes me pego imaginando o que seu maravilhoso baterista, Keith Moon, seria capaz de fazer caso pertencesse dos Beatles. Mas esse pensamento dura pouco. O efeito borboleta de tirar Keith Moon do The Who, e tirar Ringo Starr dos Beatles, poderia ser desastroso para a música pop mundial. As duas bandas poderiam nem ter gravado discos, na melhor das hipóteses. O mundo poderia não mais existir, na pior.

E aí está o ponto: Ringo foi o baterista dos Beatles. Não há como mudar essa realidade. A maior e mais influente banda de música pop de todos os tempos (lá se foi a sensatez) tem o senhor Richard Starkey como baterista.

A seguir vou listar aquelas que considero as melhores contribuições de Ringo aos Beatles como baterista, como cantor e como compositor.

1 – O baterista Ringo Starr nos Beatles

A verdade é que Ringo sabia ser um baterista criativo, quando queria. Mas na maior parte das vezes optava por se manter no fish and chips, no básico, sem grandes floreios, sem muitas viradas, marcando o tempo como um bom operário. Em “She said she said”, do álbum Revolver (1966), ele sai do básico e entrega algo que para mim representa perfeitamente a canção de John Lennon, cuja letra remete a uma viagem de LSD. Ringo “viaja” na bateria, segura os tempos, é dinâmico, não perde a precisão mas se deixa levar pela canção (que para mim entra fácil num “dez mais” dos Beatles).

Se a versão “normal” não convence, tem essa aqui, com baixo e bateria isolados:

2 – O cantor Ringo Starr nos Beatles

Ringo em geral recebia uma faixa para cantar em cada disco dos Beatles – quando muito. Nos primeiros álbuns era comum que ele cantasse alguma versão de outro artista, normalmente algo mais pesado, que mostrasse “a voz feroz do homem da bateria” (esta expressão, de Toni Barrow, está no texto que acompanha um dos primeiros vinis da banda lançados no Brasil). Mas com o tempo Lennon e McCartney perceberam que a voz de Ringo se encaixava bem com números mais lentos, e até divertidos, e começaram a dar canções como “Yellow Submarine” e “With a Little Help From My Friend” para seu não-tão-feroz baterista cantar. Mas o número que eu mais gosto de Ringo é uma das faixas menos conhecidas dos Beatles, chamada “Goodnight” ( do “Álbum Branco”, de 1968). É uma canção de ninar feita por Lennon e McCartney, e se encaixa perfeitamente “na voz doce do homem da bateria”, soando aqui como um crooner de gravata borboleta branca.

3 – O compositor Ringo Starr nos Beatles

Esta não pode ser chamada de uma escolha difícil. Ringo tem créditos de composição em um total de cinco faixas da discografia oficial dos Beatles. Dessas cinco, três são em parceria com seus colegas, sendo uma instrumental (“Flying”, bonitinha e talz, mas né?), outra que ele mesmo diz ter contribuído com “umas cinco palavras” (“What goes on”) e outra que é praticamente uma vinheta, com apenas cinquenta segundos (“Dig it”). Restam as duas faixas em que ele é creditado como único compositor: “Don´t pass me by” (do “Álbum Branco”, de 1968) e “Octopus´s Garden” (de “Abbey Road”, de 1969). Nesse dilema com duas opções, fico com a primeira composição de Ringo para um disco dos Beatles, “Don´t pass me by”, que já estava pronta desde 1964, mas só foi gravada em 1968 – em um disco com tantas faixas que a banda parece ter concedido a Ringo o direito de incluir sua canção. Está ensanduichada entre “Rocky Racoon” e “Why don´t we do it in the road?”, mas não faz feio, muito pelo contrário, é um country divertido, com um violino perpassando toda a melodia.

Além de dizerem que “não toca nada”, outra coisa muito comum de dizerem sobre Ringo é que ele é o mais adorável dos Beatles. O mais gente boa. O cara da paz e do amor. Li há muito tempo (e agora fui pesquisar e descobri que foi o poeta e compositor Ulysses Machado que escreveu) que Ringo era o maior representante da paz de todos os Beatles, porque “nunca odiou nenhum dos outros três, ou melhor, dos outros quatro Beatles”. É uma ideia bonita, mas um pouco ingênua – como é típico dos poetas, aliás (ei, isso é um elogio aos poetas, tá?). Será mesmo que Ringo nunca odiou seus colegas de banda, ou a si mesmo? A figura do artista atormentado realmente não encaixa muito em Ringo. Mas vale lembrar que em 1968, no meio das gravações do Álbum Branco dos Beatles, ele abandonou a banda, insatisfeito consigo mesmo e com a relação com os colegas de banda. Provavelmente rolou um odiozinho por ali. E isso não diminui Ringo. Quem nunca odiou a quem ama que atire a primeira pedra.

Não sei se Ringo odiou alguém ou a si mesmo, mas sei, com absoluta certeza, que eu amo Ringo. E desejo a ele outros oitenta anos de vida.

P.S.: mostrando-se um oitentão antenado, Ringo fez uma live para comemorar seu níver. O vídeo tem pouco mais de uma hora, por isso coloco aqui meus destaques, com sua respectiva minutagem:

Aos 6:25 – Que cachorro é esse? Se alguém puder escrever aqui nos comentários, agradeço. É absurdo, o cachorro. Nunca vi um cachorro assim. Meu pai, é um cachorro daqueles. Tem dois cachorros na cena, mas eu não preciso escrever a qual me refiro. É um cachorro. E tanto.
Aos 14:25 – Sheryl Croz faz uma versão de “All need is love” em que toca uns 72 instrumentos. Foda.
Aos 23:00 – Esse negócio de tocar uma música enquanto passam fotos é um troço que emociona. A música chama “Photograph”, e as fotos são de Richard Starkey desde pequerrucho. Belezinha.
Aos 25:44 – Mais um momento fofura, com a neta de Ringo, Tatia Starkey, e seu filho, bisneto de Ringo, Stone Low.
Aos 27:30 – Aparece o filho de Roy Orbison e sua família dando os parabéns a Ringo.
A 1:00:40 – Um parabéns, tocado e cantado por todo mundo que participou da live.

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