Copa C3 | Dia 17 – Um sábado para a memória coletiva

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Por Gabriel Brito

 

Memorável a abertura das oitavas de final. Tanto pelos jogaços infartantes como pela reunião de toda a família paterna aqui em casa depois de uma década, com direito a uma feijoada que ainda se digere.

França 4 x 3 Argentina – o time e o bando

Enquanto a casa estava vazia, o coração sudaca sofria, ainda que estivesse preparado. Algo já nos dizia que era melhor a Argentina ter caído fora logo na primeira fase, evitar a ilusão que o futebol está sempre pronto a oferecer e entender de uma vez por todas o que se passa na atual conjuntura.

Mas não foi assim. E a classificação não se tratava de uma concessão tão generosa dos deuses do futebol. Pela frente, apenas o melhor elenco da Copa.

E não houve lugar para velhas místicas e milongas, “huevo y corazón”. O time atropelou o bando. “Y le hizo precio”. 4 a 3 para os franceses é placar mentiroso. Se por lampejos platinos e distrações azuis o jogo chegou a ser acessível para a albiceleste, por desempenho individual e coletivo só poderia ter dado França.

A arrancada monstruosa de Mbappé era só o começo. Os segundos da disparada que terminou em pênalti evidenciava a plenitude de um lado e incompletude de outro. Até porque o contra-ataque começou num erro besta de domínio de bola de Banega.

Já estava claro que o time do prodígio de 19 anos estava uns três degraus acima no aspecto físico, a exemplo da falta que Mascherano e Tagliafico fizeram-lhe ao mesmo tempo e Griezman atirou no travessão. Sempre, absolutamente sempre, atrasados os argentinos. Mascherano nem se fala. Passaria o jogo chegando tarde demais.

Comparemos os trios de volantes: Kanté, Matuidi e Pogba; Mascherano, Enzo Perez e Banega. Claríssimo quem será o dominador e o dominado, até por uma questão etária.

E não se trata de questionar a “vergonha na cara” ou coisa do tipo, tal como gostamos de fazer por essas terras mais calientes. Se não fosse isso, o atropelo seria ainda mais inequívoco. Por questões como amor próprio é que jogadores como Di Maria ainda conseguiram tirar uma boa atuação de onde não se esperava – como bem explicou o editor aqui.

Se o empate levava um resultado mentiroso ao vestiário, que dizer então do gol-acidente de Gabriel Mercado? Nada disso, porém, seria suficiente.

Desastrosa no aspecto estrutural, a Argentina levou três gols e uma virada fulminante em dez minutos.

Notemos que não é por acaso. No gol de empate, a jogada começa pela esquerda francesa, o cruzamento vai para o outro lado e o lateral Pavard faz o golaço. Isso tudo mundo viu. Mas o que vale observar é como os franceses são maioria numérica na área. Mascherano e Perez não conseguem fazer a recomposição rapidamente nem se postar à frente do chute.

No gol da virada, a França entra tocando rápido e quando Mbappé arremata são 5 franceses contra 3 na área. O quarto gol de contra-ataque apenas sentencia a verdade: um bando com velhas e cansadas referências diante de um time que ainda tem outras duas Copas do Mundo.

E parecia que um 6 a 2 ou coisa assim viria. Meio inexperiente e meio avoada para grandes jogos, a França não teve tanto sangue no olho. Deschamps teve daquelas atitudes indecifráveis que alguns técnicos adoram tomar e sacou Mbappé e Griezman, para ver se complicava alguma coisa. Quase conseguiu. Seria uma tremenda mentira.

O futebol de exportação da América do Sul e seus lamentáveis dirigentes pensam que os ricos atletas que fazem a vida do outro lado do Atlântico morrem de encanto pelas camisas que nossos pais ensinaram a respeitar.

Não é assim. Eles não precisam. Não dependem de velhos caudilhos e fanfarrões para nada na vida. Por fora do pastiche midiático que, a nós mortais, vende o sentimento de pátria eles estão é cagando e andando pra isso. Ou encontram um ambiente agradável ou vão correr só metade do que podem. Não tem romantismo.

Ademais, forjados no futebol mais confortável e blindado da história, nem sequer tiveram, de fato, as velhas atitudes e mostras de personalidade de outros tempos. Se não gostam de Sampaoli e montam o time a seu gosto, por que caralhos Dybala não joga? Já não bastou Tevez fora em 2014 por conta de caprichos de vestiários de meninos sensíveis e intocáveis? E que vestiário é esse que prefere o papo do mate em um mês de convívio à imortalidade de um título mundial, mesmo ao lado de desafetos?

Quando a Argentina fez 2 a 1, quantas vezes Messi pediu a bola para pisá-la, irritar o jovem time francês, ganhar tempo, mostrar que havia um senhor do futebol em campo? Não temos pretensões freudianas aqui, mas a imagem de cabeça baixa e mão sobre a cara a cada intempérie do jogo são de irritar qualquer monge budista. Não dão a impressão de que alguma reação valente, épica ou briosa virá à tona.

A Argentina do grondonismo sem Grondona dá pena. Deixou de formar os craques da velha estirpe, exporta promessas até pra MLS e não consegue estabelecer uma linha de trabalho duradoura. Sampaoli pode ter tido seus erros, mas pegou um rabo de foguete e comeu na mão de jogadores que sabem perfeitamente dos desmandos e imoralidades do futebol local – aquele do qual saíram voando, assim que puderam.

O boicote a seu trabalho e ausência completa de uma equipe, na acepção da palavra, são apenas mais uma elucidação do que se fez por aqui nas últimas décadas. E considerando o potencial técnico francês, o desfecho foi suave.

Uruguai 2 x 1 Portugal – Jogando, de verdade, por um país

Do outro lado do Rio da Prata residia nossa esperança. Desta vez feliz para nosotros, o final não foi, novamente, obra do acaso.

O Uruguai tem tudo que a Argentina perdeu em alguma esquina escura. Não apenas coesos, os jogadores da Celeste valorizam cada minuto vivido com a camisa que envergam sobre o dorso.

E quem tem a melhor dupla de zaga e de atacantes do mundo – ou quase isso – pode sonhar alto.

O gol de saída de Cavani, em sua melhor jornada com a camisa bicampeã do mundo, deixou o jogo do jeito que os charruas gostam – se charrua chega a ser um devaneio diante da realidade étnica do país, ao menos em termos lúdicos é mesmo aplicável.

O Uruguai gosta até demais do jogo de trincheira. Tem time e argumentos para ousar um pouquinho, mas parece que todos gostam mesmo é da dividida, do corte que aborta o chute frontal, das mil subidas de cabeça para frustrar um Cristiano Ronaldo.

Por outro lado, é magistral neste tipo de jogo. Se por um lado chamou demais os campeões da Europa e finalmente sofreu o empate, por outro não precisou de 10 minutos para providenciar o gol de desempate e retornar ao cenário de seu feitio.

Lamentável a lesão de Cavani, que volte a tempo do pesadíssimo confronto de quartas. Mas Suárez se virou, Torreira, que tocava bumbo na torcidinha de seu time de cidade pequena, viveu uma noite de Obdulio Varela; Laxault, cuja entrada arredondou o time, ganhou todas por seu lado, que corte lindo fez aos 47 do segundo tempo, em cruzamento de Quaresma que André vinha pra matar.

Suárez se virou como pode na frente, lutou e ganhou o tempo que lhe foi possível. A aí temos uma bela diferença para Messi. O uruguaio entende seus colegas, não espera que ninguém jogue no seu nível; adapta-se à realidade de um time que combate, combate, combate e quando dá belisca lá na frente.

Portugal é uma versão europeia da Celeste. Sabe lutar e resistir, por uma questão de lógica compreende que nunca terá mais que seus rivais continentais e isso lhe forja a alma. Mas ontem alguém havia de ficar pelo caminho. E o Uruguai dispôs de um bocadinho mais de inspiração.

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