Copa C3 | Dia 19, leis da natureza

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Dia 19 – Leis da natureza

por Gabriel Brito

Brasil 2 x 0 México – Apenas o óbvio

De um lado aquele que ainda permanecerá como o maior campeão do mundo. Do outro, um time historicamente incapaz de converter o talento em glória, ainda que seja ótimo em aprontar contra grandes times. E que parara nas mesmas oitavas de final nas seis (SEIS!) Copas anteriores, em alguns casos de maneiras inacreditáveis.

É preciso fazer essa contextualização histórica para compreender que a vitória brasileira sobre os astecas cumpriu um daqueles protocolos quase imutáveis no futebol. Por mais que os tempos permitam mais equilíbrio entre times díspares, e este Mundial seja pródigo nisto, ainda há algumas ordens que dificilmente são subvertidas no futebol.

Tudo transcorreu como um analista frio poderia prever: momentos de ousadia e desenvoltura mexicana, solidez defensiva e pouca loucura no início da partida dos comandados de Tite. A seguir, abertura de brechas, conforme os times já tinham tomando nota o bastante do que havia do outro lado.

Como manda o figurino do gaúcho, nada de se atirar demais ao ataque no começo. O importante é entender o repertório de jogo adversário e bloquear os caminhos do gol.

Mais conservador na formação, com o volante Rafa Marquez no lugar do habilidoso Layún, o México foi incisivo no começo, achou bons espaços com Lozano e Vela, botou aquela correria esperta que dá um pouco de calafrio. Mas mal finalizou de forma efetiva.

Ainda apegado a um modelo de jogo estabelecido nas Eliminatórias, o Brasil gastou o primeiro tempo tentando fazer suas jogadas de manual. Neymar variava a individualidade com a conexão com Coutinho e Gabriel, William se virava sozinho na ponta direita e Paulinho se lançava a seu gosto em todas as vezes.

Assim, o time canarinho perdeu o meio campo, por vezes deixando Casemiro quase sozinho no combate. Paulinho chega até a ficar de costas para o gol adversário, como se fosse um meia adiantado, na ânsia de acelerar o jogo, o que deixa o início da jogada nos pés de defensores e do solitário cabeça de área.

No segundo tempo, Osorio cometeu a ousadia que lhe custaria caro. Tirou o experiente volante, que curiosamente não era muito encarado por Coutinho, e retomou a formação mais ofensiva da primeira fase.

Não levou dois minutos para um Brasil com leves ajustes criar uma jogada que aproximou seus atacantes justamente por onde estaria o recordista de participações em Copas, William invadir a área e bater para o carrinho de Neymar.

O Brasil inteiro preferia que Gabriel Jesus tivesse alcançado a bola antes e desencantasse.

Dito isso, a partida estaria praticamente decidida, ao menos de acordo com os preceitos da titebilidade e sua capacidade de manter placares.

O México tentava, assediava, fazia uma partida boa tecnicamente, mas simplesmente não entrava. Alisson não era exigido, tal como no primeiro tempo.

Quando tudo era desespero e a visão dos tricolores já se turvava na busca insana do gol salvador, veio o contra-ataque que Fernandinho armou e Firmino, melhor reserva até aqui, completou.

Mais um 2-0 cirúrgico, com pouco ou nenhum risco. O coletivo supera as individualidades largamente. Cada pecinha cumpre seu papel, ocupa seu espaço de campo corretamente, troca os passes, faz as recomposições que se pedem e vai minando o rival de forma sutil, sem alarde, como se vê no baixíssimo número de faltas cometidas pelos brasileiros.

De volta às quartas de final, e com pinta de favorito, o Brasil mostra uma grandeza ainda um tanto imune às intempéries que nos desiludiram nos últimos anos.

No fim das contas, ninguém chega tão naturalmente a esse estágio quanto o time das cinco estrelas. E ninguém cai tão honrosamente em oitavas de final como os mexicanos.

Fora de campo

Um dia antes da partida, o México elegeu António Manuel López Obrador, do Movimento de Regeneração Nacional (Morena), para a presidência de sua República tão destroçada por acordos de livre comércio e seu legado de Narco-Estado.

A chatice da politização fora de hora, aquela que adora encaixar discursos e preferências ideológicas na hora do nosso deleite futebolístico como se os próximos 47 meses não fossem suficientes, diz que pelo menos fora de campo o México venceu, enquanto o Brasil estaria derrotado de antemão em outubro.

Quem dera. Mas o candidato identificado à centro-esquerda promete não tocar fundo em nenhum aspecto que realmente incomode o deus-mercado. Privatizações, como a do petróleo, não serão revertidas e o discurso contra a corrupção no aparato de Estado foi uma das tônicas.

Enfim, o modelo econômico liberal de periferia será mantido e, de certo modo, seria muito difícil reverter isso após décadas de um neoliberalismo que já destroçou a integridade das instituições, abriu caminho para a afirmação de poderosíssimos grupos criminosos que rateiam o país entre si – e com as corporações que exploram recursos naturais – e fazem da violência barbárica o pão de cada dia. Não menos importante, um Estado que já concedeu avançada segurança jurídica para os ditames do mercado.

São mais de 20 anos de vigor do NAFTA, com resultados socialmente trágicos e muito êxodo para o vizinho imperial. De resto, um racismo institucional que se equipara ao brasileiro, se não supera. Todos os candidatos competitivos, num país de maioria indígena ou mestiça, eram brancos (15% da população);

Já a candidatura que aliou os indígenas e os zapatistas, representada por Maria de Jesus Patricio Martínez, a Marichuy, terminou impugnada, por excessos burocráticos que os partidos dominantes impuseram. Entre outras coisas, para colher o mínimo de assinaturas e registrar uma candidatura independente era necessário ter um aplicativo num celular que nem sequer todos os aparelhos podiam suportar. Não precisa explicar muito mais.

Ainda assim, Marichuy, que percorreu quase todos os estados do país em caravana repleta de percalços, colheu cerca de 300 mil das mais 800 mil exigidas. Mais de 93% consideradas válidas, disparado o maior índice de veracidade se comparamos com os demais “independentes” – entre aspas pois todos eram representantes relegados pelos partido tradicionais, como Margarita Zavala, esposa do ex-presidente Vicente Fox. Édgar Ulises Portillo Figueroa teve sua candidatura aceita mesmo com 2,63% de veracidade das firmas. Todos contaram com fortes máquinas e aportes financeiros para obter a alta cifra de assinaturas.

Dentro de toda essa farsa, dizem que López Obrador é uma barreira ao projeto neoliberal mexicano. Resta saber se havia como aprofundá-lo. Como diz o poeta, o país continuará tão longe de deus e tão perto dos Estados Unidos (e seu muro).

Bélgica 3 x 2 Japão – A frescura deu lugar à força

No jogo que fechava o dia, mais uma prova, não tão fumegante, para os badalados belgas.

Ninguém imaginava vitória japonesa, ainda que tenha ficado na mão no começo do segundo tempo.

O primeiro tempo foi todo dos vermelhos, que mais uma vez esbarraram no próprio preciosismo e concentração abaixo do nível dos grandes campeões. Uma cavada de Hazard para De Bruyne no final de um primeiro tempo onde o zero persistia simboliza a atitude do time.

A pouca decisão de Vertonghen na bola que deixou passar e terminou no gol de Haraguchi foi outra demonstração de que aos belgas falta um pouco de faca nos dentes. Witsel e De Bruyne, como bem disse Mauricio Noriega no Sportv, pareciam esperar o jogo começar de novo, tamanha a passividade após o 2-0 do bom Inui.

O técnico Roberto Martinez percebeu que faltava noção de urgência e colocou Fellaini, muito menos jogador do que alguns creem. Recado claro, um pouco mais de força e menos frescura. E, com a ajuda também do acaso que traiu Kawashima, vieram dois gols rápidos, pelo alto e na marra.

Quando a prorrogação já era tida como certa, os japoneses voltaram a validar todos os preconceitos a respeito de “ingenuidade” que ouvimos por aí. Tentar a sorte na última bola beleza, tá certo. Mas não dava pra não prevenir o contra-ataque com jogadores encostados em todos os belgas que ficassem fora da área. Courtois apanhou a bola e o crime se desenhou. Os nipônicos nem tiveram como chegar perto de quem tinha a bola e um inacreditável gol de desempate ceifou o sonho de uma quarta de final que esteve a um passinho.

Impressionante, um desfecho como em tempos onde o futebol de fato se jogava de forma menos paranoica. Os belgas livraram a cara, mas deixaram a impressão de que na hora que o chicote estalar mais alto fraquejam. Cabe aos discípulos do pastor gaúcho comprovar o que os galeses já conseguiram.

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