Não existe coerência no futebol

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Não sei se o futebol nos subverte ou mostra quem realmente somos. Não sei se a paixão que temos pelos nossos times nos faz mudar completamente nossas convicções ou se apenas nos impede de escondê-las. Por exemplo, eu tenho um amigo, Pedro, que defende a redistribuição total do patrimônio e da renda no Brasil e associa a lógica capitalista a todos os problemas da humanidade. A análise, crítica e busca de soluções para os problemas sociais do Brasil (e do mundo) é algo importante para a vida e personalidade dele e a igualdade é o valor sagrado que norteia suas reflexões. Ele também é corintiano, o que aparentemente seria coerente, até começarmos a discutir as cotas de TV. Nesse quesito a linha de raciocínio de Pedro é bem clara: o Corinthians atrai mais público, dá mais ibope e vende mais, por isso é justo que ele ganhe mais dinheiro da Globo. Não apenas justo, como inevitável, é o modo como o mundo gira! Não importa se isso cria um desequilíbrio na competição, afinal não existe coletividade no futebol, estamos todos sozinhos na selva da bola e por isso não se pode impedir cada um de procurar o que é melhor para si, sob o risco de deixar todos em situação pior.

Pedro não é o único, já vi pessoas que vivem (e adoram) intensamente o mercado defenderem uma lógica socialista quando o assunto é futebol, juristas que lutam diariamente pela interpretação do espírito da lei clamarem pela aplicação fria do texto desta nos tribunais esportivos, pessoas que tentam viver sob a moral kantiana não conseguirem deixar de adotar uma visão consequencialista nos campos, defensores da beleza a cima de tudo torcerem por uma vitória via muricybol, práticos preferirem uma derrota jogando futebol bonito a uma vitória vazia de significado, céticos acreditarem em metafísicas futebolísticas e padres isolando o resultado de uma partida de qualqer interferência não mundana. O que dizer, então, da administração (em especial a financeira) do economista Luiz Gonzaga Belluzzo quando este foi presidente do Palmeiras?

Eu, por exemplo, sou contra qualquer proibição imposta via leis e punições. Acho que se algo é de fato importante para a sociedade ela conseguirá fazer com que na prática aquilo não seja aceito. O advento da lei (e suas consequentes repressões) permite a grupos se apoderarem deste mecanismo para impor suas vontades, mesmo que não compartilhadas por todos. No estádio, no entanto, eu gostaria de proibir (e PUNIR!) o uso de câmeras fotográficas. A arquibancada é um espaço sagrado, onde deixa-se de lado a individualidade para fazer parte de algo maior. Quando torcemos não somos mais pessoas, mas parte de um time, formamos um laço mágico com aqueles 11 caras lá embaixo e por isso nos sentimos tão bem quando ganhamos e mal quando perdemos (e nunca dizemos “eles ganharam” ou “eles perderam”). Nesse momento, quando se experencia tal conexão, uma câmera apontada para sua cara não apenas prova que o ser atrás dela está blasfemando contra este momento único (para satisfazer um desejo individualista de ter um vídeo de merda mostrando a mesma coisa que 500 outros no youtube mostrarão, com a mesma qualidade duvidosa, só para “poder dizer” que ele estava lá). Ser filmado também te arranca deste momento, te relembra que você é um indivíduo e vive naquele mundo dos outros 6 dias, 22 horas e 30 minutos do resto da semana.

Como dito, eu não sei se no fundo sou um autoritário e o futebol não me deixa reprimir isso ou se sou aquilo que acredito ser mas o futebol é tão envolvente que me faz mudar de crença durante 90 minutos. Seria Pedro um capitalista e o Corinthians sua válvula de escape do personagem que ele montou para seu dia-a-dia ou a paixão pelo Timão é tão forte que muda sua essência? Sinceramente não sei, mas ambas as possibilidades só reforçam a importância e força do futebol em nossas vidas. Que venham logo os próximos 90 minutos e foda-se a coerência!

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