Os jogadores (europeus) mais leais da história

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Por André Vidiz

Texto traduzido de: Foot and Ball

Para mim, lealdade significa mais do que ficar no mesmo time durante toda a carreira: para que seja verdadeira, a lealdade tem que ser testada. Eu já vi listas similares com nomes como Ryan Giggs, Paul Scholes, John Terry, Iker Casillas, Carles Puyol, Javier Zanetti e Paolo Maldini, para citar alguns. Mesmo que eles tenham sido (ou sejam) ótimos jogadores, eles jogaram nos maiores clubes do mundo e ganharam tudo possível, sacrificarando muito pouco de suas carreiras por seus times. É difícil imaginar como cada um deles poderia ter tido uma carreira mais magnífica do que a que tiveram. E, como resultado disso, eu não incluirei esse tipo de jogador na lista, já que sua lealdade nunca foi testada. Os jogadores que eu escolhi são os que acredito terem ficado em seus clubes apesar de perderem algo maior por isso, seja dinheiro ou a chance de serem vistos e lembrados por um público maior.

Bülent Korkmaz

Nomeado “o Grande Capitão” pelo Galatasaray, ganhou 29 troféus durante sua carreira – passada toda no clube. Apenas outro jogador, Turgay Seren, jogou mais jogos no Galatasaray do que ele. Mesmo tendo alcançado a glória enquanto jogava, ele deixou de lado muito dinheiro ao rejeitar diversas transferências para a Inglaterra, Alemanha e Itália. Como resultado disso, também ficou muito pouco conhecido fora de seu país. Sua imagem mais lembrada é a da final da Copa da UEFA de 2000, contra o Arsenal, quando Bülent deslocou o ombro e se recusou a ser substituído. Os médicos tiveram que enfaixar seu ombro e ele continuou em campo até o final da partida, com o Galatasaray ganhando por 4×1 nos pênaltis. Tratava-se de um grande líder que queria vencer a qualquer custo.

Alan Shearer

Quando o Newcastle pagou £15 milhões para o Blackburn em troca de Shearer, além da maior transação da história (na época), concretizou-se o sonho de vida do jogador: jogar pelo time que torcia desde menino. O Blackburn também tinha aceitado a proposta do Manchester United e foi o jogador que decidiu onde passaria os melhores anos de sua carreira. Shearer quebrou todos os recordes de artilharia no Newcastle, desbancando Jackie Milburn depois de 49 anos e se tornando o maior goleador da Premier League de todos os tempos (e mantendo-se no posto até hoje com 260 gols). Mesmo quando as chances de título do Newcastle esvairam-se e surgiram rumores que Alex Ferguson faria novas investidas para trazer Shearer para Manchester todos sabiam que o maior artilheiro inglês da geração não iria a lugar algum.

Angelo Di Livio

Di Livio construiu uma belíssima carreira, tornando-se uma figura cultuada na Juventus do técnico Lippi, no qual sua vontade de jogar coletivamente personificava o time. No final de sua carreira ele transferiu-se para a Fiorentina, mesmo ainda sendo parte importante da Juventus. Apesar de ter 36 anos, Di Livio foi selecionado para a Itália da Copa de 2002 e jogou a controversa 8as de final contra a Coréia do Sul, apitada pelo infame Byron Moreno. A razão para a inclusão de Di Livio na lista aconteceu logo após a Copa: a Fiorentina entrou em processo de falência e foi dissolvida, sendo re-fundada em Agosto de 2002 e tendo que começar da Serie C2. Di Livio, apesar de ter sido um jogador da seleção alguns meses antes, foi o único a permanecer em Florença, ajudando o time durante todo o processo de recuperação, até voltar à Serie A na temporada 2004-2005, aos 39 anos. Um tremendo sacrifício que os torcedores da Fiorentina nunca esquecerão.

Stelios Manolas

Considerado o melhor zagueiro grego de todos os tempos e o melhor jogador da história do AEK Athenas, Stelios Manolas levou seu clube aos seus melhores tempos de sua história. Como jogador, ganhou 6 campeonatos gregos, sendo capitão do time em 4 deles. Manolas logo atraiu a atenção de toda a Europa, mas notadamente declinou duas ofertas do Porto (que em seguida sagrou-se campeão da Copa da Europa em 1987) e uma do rico Mônaco. Sua declaração de que “eu nunca vou deixar o time que eu amo e eu quero me aposentar pelo AEK Athenas” ficou famosa e foi cumprida. A camisa do AEK foi a única vestida por Manolas (além da da seleção grega) e ele se aposentou como um símbolo do clube e do futebol grego. Seu sobrinho, Kostas Manolas, é atualente um zagueiro promissor do Olympiakos, já tendo jogado também pelo AEK.

Henrik Larsson

No verão de 1997, Wim Jansen trouxe Henrik Larsson de seu ex clube, Feyenoord, para o Celtic por £650,00, considerada posteriormente uma das melhores transações da história. Larsson chegou no momento em que o Rangers igualou o recorde do Celtic de 9 títulos nacionais seguidos, caracterizando uma época horrível para os torcedores de seu novo time. A temporada de 1997-1998 tornou-se uma questão de orgulho para o Celtic, depois de uma série de temporadas interessantes mas infrutíferas sob o comando da lenda Tommy Burns. Larsson terminou marcando um gol decisivo no último jogo da temporada, assegurando o título para o Celtic e evitando que seus rivais ganhassem o 10o. título seguido. A carreira de Larsson nos alvi-verdes foi de vento em polpa, tornando o jogador o artilheiro do time na época moderna, Chuteira de Ouro em 2001 e apelidando-o de “O Rei dos Reis”. Larsson encontrou um lar no Celtic e, considerado pela torcida como um dos melhores jogadores a vestir a camisa do time em todos os tempos, ficou em Glasgow por 7 anos, dando ao clube os melhores anos da carreira de um jogador. Consequentemente, muitos duvidavam da capacidade de Larsson de jogar em alto nível num campeonato mais competitivo. Quando Larsson marcou dois gols na final da Copa da UEFA de 2003 contra o Porto de Mourinho na presença dos 80.000 torcedores do Celtic que se locomoveram até Sevilha, essas dúvidas se mostraram rizíveis. No ano seguinte Larsson deu aos seus fãs uma despedida emocionante ao se transferir para o Barcelona aos 33 anos, onde ganhou 2 títulos da Liga e foi essencial na final da Champions League de 2006, dando as 2 assistências que garantiram a vitória sobre o Arsenal por 2×1. Ao final do jogo, Thiery Henry declarou “As pessoas sempre falam sobre Ronaldinho, Eto’o, Giuly e tudo o mais, mas eu não os vi hoje, eu só vi Henrik Larsson. Ele entrou, mudou o jogo e foi isso que decidiu a partida. As vezes você fala de Ronaldinho e Eto’o e pessoas assim, mas você precisa falar sobre o jogador que fez a diferença e hoje esse jogador foi Larsson”.

Em tempos nos quais a lealdade morre a cada minuto, Larsson ficou na Escócia, um campeonato que é visto como não atrativo comparado a Espanha, Itália, Alemanha e Inglaterra. Na época moderna não é conhecido outro caso de um jogador deste nível a fazer isso.

Uwe Seeler

O melhor jogador da história do Hamburgo, que marcou mais de 400 gols pelo clube, e até hoje um dos melhores alemães de todos os tempos. Apenas para ilustrar o quão bom ele era, a Alemanha nominou 5 capitães honorários de sua história (quatro homens e uma mulher). Seeler é um dos homens que recebeu tal honra, ao lado de Franz Beckenbauer, Lothar Matthaus e Fritz Walter. Como muitos nessa lista, ele jogou toda a carreira num único clube: o Hamburgo (além de uma atuação como convidado no Cork Celtic, 6 anos após sua aposentadoria). Seeler também ganhou o prêmio de melhor jogador da Alemanha três vezes (1960, 1964 e 1970). Apesar de tudo isso, ele só ganhou 2 troféus em sua carreira: um campeonato alemão e uma DFB-Pokal, a Copa Alemã, em 1963. Graças à vontade de Seeler de ficar no time, o Hamburgo rejeitou uma oferta da Inter de Milão em 1960, que caracterizaria na época a maior transação de todos os tempos. Diz-se que os torcedores do Hamburgo comemoraram a recusa do time em vender Uwe Seeler como se tivessem ganho o campeonato alemão.

Fritz Walter

Em 2003 a UEFA pediu a seus associados que escolhessem um jogador para ser seu “Jogador de Ouro”, um prêmio que eles pretendiam dar aos melhores jogadores dos últimos 50 anos. A associação alemã elegeu Fritz Walter, proclamando sua contribuição para o futebol alemão durante e depois sua carreira. Como “Jogador de Ouro” ele entrou numa elite acompanhado de jogadores como Bobby Moore, Hristo Stoichkov, Johan Cruyff, Michael Laudrup, Eusebio, George Best, di Stefano, Dragan Dzajic e Lev Yashin, entre outros. E, assim como Uwe Seeler mencionado a cima, Walter foi um dos capitães honorários da seleção alemã, junto com Lothar Matthaus e Franz Beckenbauer.

A carreira de Fritz Walter parecia ter encontrado um fim logo em seu início, já que a Segunda Guerra Mundial começou quando ele tinha 19 anos. Walter contou como a partida de sua vida não foi ganhar a Copa do Mundo de 1954 na Suíça, mas sim na fronteira entre a Hungria e a Ucrânia, num campo de prisioneiros de guerra. Fazendo parte de um grupo de prisioneiros de guerra alemães que esperava para ser enviado para uma gulag na Sibéria, Walter e outros prisioneiros acharam uma bola e começaram a jogar. Ao marcar dois gols de bicicleta, ele chamou a atenção de um guarda, que lembrou de tê-lo visto numa partida da Alemanha em Budapeste, na qual a habilidade de Walter já havia encantado todos. O guarda húngaro foi direto ao chefe do campo, lhe contou quem era Walter e terminou salvando a vida dele e de seu irmão, já que a expectativa de vida de um prisioneiro na Sibéria era de 5 anos. Walter foi enviado aos franceses e chegou de volta à Alemanha em Outubro de 1945. Depois da Guerra, Walter voltou a jogar pelo único clube de sua carreira, o Kaiserslauten, levando-os aos melhores anos de suas histórias, ganhando dois campeonatos alemães. Como dito, ele foi essencial na conquista alemã na Copa do Mundo de 1954. Marcou 380 gols em 411 jogos por seu clube, números inacreditáveis já que Walter jogava com a 8, que tinha o papel primariamente de criação. O jogador se aposentou em 1959, mas mesmo depois de parar foi considerado uma importantíssima figura ao atrair grandes nomes como Youri Djorkaeff e Andreas Brehme para o Kaiserslauten. Ele morreu em 17 de Junho de 2002, durante a Copa da Coréia do Sul e do Japão. Em 1985 o Kaiserslauten renomeou seu estádio em homenagem ao seu melhor jogador da história, que até hoje se chama Fritz Walter Stadion.

Steven Gerrard

Indiscutivelmente o melhor jogador inglês de sua geração, Gerrard é um torcedor do Liverpool que cresceu para realizar o sonho de qualquer menino: se tornar um símbolo do time que torce. Em toda a história de um dos maiores clubes do mundo, apenas Kenny Dalglish teve uma carreira mais fantástica que a de Gerrard em Anfield. Ele foi o único jogador a marcar na final da FA Cup, na final da Copa da Liga, na final da Copa da UEFA e na final da Champions League. Futuramente sua atuação no 2o tempo da final da Champions League de 2005 fará parte do folclore do futebol inglês. E no ano seguinte, nos acréscimos da final da FA Cup contra o West Ham, mesmo com restrições de movimento e dores causadas por uma lesão, Gerrard conseguiu levar a partida para os acréscimos com um voleio de 30m, seu segundo na partida. Seus prêmios pessoais também impressionam: Jogador do Ano da UEFA de 2005, Jogador do Ano eleito pelos Jogadores de 2006 – PFA, duas vezes Jogador do ano eleito pelos Torcedores, duas vezes Jogador Inglês do Ano e sete vezes parte do Time do Ano – PFA, além de muitos outros. Apesar de ter ganho diversos troféus, notadamente a Champions League de 2005 e a Copa da UEFA da 2001, Gerrard nunca ganhou uma Premier League, provavelmente a medalha mais desejada de todas. Durante sua carreira, o clube esteve de cabeça para baixo, tendo como único período de constante participações na Champions League os anos 2004-2010, quando Rafa Benitez foi o técnico. Desde então, o time se encontra fora das 4 primeiras posições, perdendo espaço para o emergente Manchester City.

Gerrard é um jogador que poderia, durante grande parte de sua carreira, ter escolhido qualquer time para jogar. Ele mesmo admitiu que o Liverpool recebeu diversas propostas generosas, mas ele nunca sentiu vontade de partir. Ele estava vivendo seu sonho em Anfield.

Paul McStay

McStay nasceu para jogar pelo Celtic, o clube corria em suas veias: dois de seus tios-avó (Jimmy e Wille) tinham sido grandes jogadores do Celtic e seus irmãos (Willie e Raymond) também já estavam no time. No começo de sua carreira, McStay foi capitão da seleção escocesa sub-18 que conquistou o Europeu da categoria em 1982, até hoje a maior conquista do selecionado do país. Em 1989 McStay, apelidado de Maestro pelos torcedores do Celtics, já havia ganho uma quantidade impressionante de títulos: 3 campeonatos escoceses, 3 Copas da Escócia e uma Copa da Liga. Isto estava prestes a acabar: os Rangers começaram a gastar quantidades respeitáveis de dinheiro, trazendo jogadores como o capitão da Inglaterra Terry Butcher e a lenda do Liverpool Graeame Souness, e embarcaram numa década de demínio do futebol escocês, empatando o recorde do Celtic de 9 conquistas seguidas. Ao mesmo tempo, o Celtic passava por dificuldades financeiras, a ponto de quase ser extinto, o que o obrigou a fazer diversos cortes e passar por severas restrições, gastando recursos mínimos em comparação aos seus rivais. Durante este período Paul McStay se tornou uma das únicas estrelas do Celtic em um dos períodos mais difíceis de sua história. Em 1992, quando rumores do interesse das superpotências italianas Inter de Milão e Juventus não paravam de aparecer, assim como de grandes clubes da Inglaterra, parecia que o tempo de McStay em seu clube de infância estava próximo do fim. Muitos torcedores nem estavam bravos com a saída iminente, já que achavam um desperdício que seu talento estivesse atolado em meio a tanta mediocridade e que uma transferência só deixaria mais claro a qualidade do jogador. No que muitos acreditaram ser um gesto de despedida, McStay jogou sua camisa para os torcedores da “Floresta” (uma parte da arquibancada do Celtic Park que tem a fama de ser feroz) e sua ótima performance pela seleção na Eurocopa de 1992 só aumentou as chances de sua partida.

No entanto, para a surpresa de quase todos, McStay ficou no Celtic. As temporadas seguintes, como as 3 anteriores, não viram troféus, mas em 1995 o time acabou com a fila de 6 anos ao vencer a Copa da Escócia, batendo o Airdrie por 1×0 na final, com gol de Pierre van Hooijdonk, que assim descreveu o jogo: “O momento que eu percebei o que tudo aquilo significava foi quando o jogo terminou e eu vi Paul McStay e Peter Grant – dois verdadeiros torcedores do Celtic – chorando e se abraçando no campo por 10, 15 minutos. Foi aí que entendi o que aquilo significava”

O Celtic foi o único time de McStay, que se aposentou em 1997 devido às lesões. No ano seguinte, o Celtic venceu o campeonato escocês, impedindo que o Rangers alcançasse o 10o. título consecutivo. McStay é tão conceituado entre os torcedores do Celtic que foi eleito para o melhor Celtic de todos os tempos, mesmo tendo jogado quase que a totalidade de sua carreira em um do piores Celtics da história.

Francesco Totti

O jogador mais leal da era moderna do futebol e um dos mais talentosos de sua geração. Nascido e criado em Roma, fala-se que ainda garoto recebeu uma oferta do Milan, que foi rejeitada por sua mãe, ja que essa não conseguiria viver com seu filho jogando por uma equipe do norte e preferia esperar pelo Roma. Não demorou muito e a aposta se mostrou bem sucedida. Totti foi o capitão do Roma já aos 21 anos e liderou o time à conquista de seu terceiro Scudetto em 2001 sob o comando de Fabio Capello. Ele foi escolhido o Jogador da Partida na final da Eurocopa de 2000, apesar da vitória francesa, quando jogou contra outros grandes atacantes como Zidane, Del Piero, Thierry Henry, David Trezeguet e Youri Djorkaeff. Logo em seguida, quando formava seus Galáticos o presidente do Real Madrid Florentino Perez queria contar com Totti, mas ele terminou se tornando um sonho impossível para Perez. Outro ponto alto de sua carreira foi a Copa do Mundo de 2006, quando se mostrou decisivo no título italiano. Totti havia quebrado o tornozelo 3 meses antes do torneio e uma imensa dúvida pairava sobre sua participação na Copa. Depois de um massante processo de reabilitação, Totti foi incuído no elenco italiano. Ele terminaria a Copa como o jogador com mais assistências do torneio e tendo marcado um gol de pênalti vital para a campanha italiana, nos acréscimos do 2o tempo das 8as de final, contra a Austália. Depois da Copa ele admitiu que sentia que estava a 60% de suas condições ideais, mas que não suportaria ficar de fora do time com uma geração tão talentosa. O diretor da Roma Walter Sabatini declarou: “Totti é atemporal, ele é a luz sob os telhados de Roma. A luz se acende e espalha. Falam como se ele fosse cansado e preguiçoso, mas ele entra em campo e acaba com os adversários”

A parte mais memorável da carreira de Totti são seus gols. Atualmente ele é o 2o artilheiro de todos os tempos da Serie A. Pense em todas as lendas que a Serie A acolheu em sua história e você descobrirá que Totti marcou mais gols que TODOS. Apenas Roberto Baggio chega perto de Totti e apenas o legendário Silvio Piola (1929-1954) o superou. O fato se torna ainda mais digno de admiração quando se considera que Totti nunca jogou como um centroavante, e normalmente era posicionado atrás do 9 até a metade de sua carreira. Ele também amadureceu muito bem e é o único atacante de sua geração a continuar jogando em alto nível: ele foi um dos únicos 5 jogadores das 5 grandes ligas européias a terminar a temporada 2012-2013 com dois dígitos de assistências e gols (os outros 4 foram Theo Walcott, Lionel Messi, Marco Reus and Marek Hamsik). Suas conquistas pessoais incluem 5 “Jogador Italiano do Ano”, 2 “Jogador da Serie A do Ano” e uma Chuteira de Ouro. Seus títulos com a Roma, no entanto, não são tão vastos: ele participou apenas das conquistas de um Scudetto e duas Coppa Italia. O fato de ter ganho a Copa abranda bastante esta falta de troféus, mas mesmo ainda assim são poucas conquistas para um jogador tão talentoso. Na última década, com Totti como capitão a Roma ficou 6 vezes na 2a colocação do campeonato italiano.

O comprometimento de Totti com o Roma é a melhor expressão do amor nos dias atuais. Um jogador do calibre dele ficar em Roma é equivalente a Wayne Rooney passar toda a carreira no Everton ou Fernando Torres dizer não ao Liverpool para ficar no Atletico de Madrid. A devoção de Totti ajudou a inspirar a geração seguinte de ídolos do Roma, como Daniele de Rossi que parece seguir o caminho de Totti. Mesmo os recursos ilimitados de Florentino Perez e seu time de superestrelas não convenceram Totti a deixar Roma, sua lealdade não estava a venda. O ex-presidente do Roma Rosella Sensi declarou que “nenhum jogador na história do futebol significou tanto para um clube quanto Totti para o Roma”

Eduard Streltsov

Pouco conhecido fora de sua terra natal, mas tido por quem o viu como um dos melhores jogadores russos de todos os tempos. Streltsov estreou no Torpedo Moscou com 16 anos e já na sua segunda temporada como artilheiro da liga soviética. Aos 18 estreou no seleção soviética com um hat-trick ainda no primeiro tempo contra a Suécia (aquela que alguns anos depois chegaria à final da Copa de 1958, contra o Brasil). Nas Olimpíadas de 1956, em uma de suas partidas mais conhecidas, Streltsov foi elemento chave na virada contra Bulgaria: mesmo com apenas 9 em campo a União Soviética virou o jogo na prorrogação, com um gol e uma assistência de Streltsov. Ao final do ano, ele recebeu dois votos na Bola de Ouro.

Apesar do sucesso dentro de campo, Streltsov fez diversos inimigos fora dele. Com seu cabelo extravagante ele começou a destacar-se num país soviético e de forma seca recusou-se a casar com a filha de Yekaterina Furtseva, a mulher mais influente na política soviética. O Partido Comunista, descobriu-se posteriormente, tinha aversão a Streltsov, principalmente depois do interesse estrangeiro nele crescer e provocar suspeita. O jogador encontrou-se no meio de um cabo de guerra quando o Dinamo de Moscou, administrado pela KGB, e o CSKA Moscou, sob a tutela do Exército, começaram a invejar o Torpedo e disputar sua estrela. Sua recusa em deixar o Torpedo para alguma dessas equipes foi vista como uma afronta ao Estado. Durante o período de treino pré Copa de 1958 os jogadores soviéticos ganharam um dia de folga e Streltsov e dois companheiros decidiram ir a uma festa. Depois de uma noite de bebedeira os 3 foram presos acusados de estuprar uma garota de 20 anos, chamada Marina. Uma testemunha o descreveu como “confuso e contraditório”. Streltsov disse depois que lhe aconselharam a admitir a culpa, para evitar toda a burocracia e ser liberado para jogar, e por isso ele o fez. Ao invés de ser autorizado a jogar a Copa, Streltsov foi julgado e sentenciado a 12 anos de trabalhos forçados na Gulag na Sibéria. O técnico da seleção da época revelou, quando Streltsov estava morrendo, que o policial que tomou conta do caso lhe confessou que foi a alta cúpula do Partido Comunista, em especial Yekaterina Furtseva, que decidiu o futuro do jogador. Streltsov terminou cumprindo 5 anos de trabalho forçado, enquanto a União Soviética perdeu por 2×0 as quartas de final da Copa de 58 contra a Suécia, a qual havia goleado por 6×0 com Streltsov em campo.

Após sua soltura ele começou a jogar no futebol amador, esperando que o Torpedo o procurasse. Evidentemente eles o fizeram, para alegria de sua torcida. Em sua primeira temporada na volta Streltsov ajudou seu time a ganhar a liga soviética e logo voltou a ser chamado para a seleção, embora fosse nítida sua decadência física após o tempo na Gulag. Neste ano ele ficou em segundo no prêmio de melhor jogador soviético da temporada. Dois anos depois ele se aposentou como um dos melhores jogadores russos de todos os tempos, apesar de ter tido 7 de seus melhores anos roubados. Atualmente o campeão enxadrista Anatoly Karpov e o prefeito de Moscou encabeçam uma campanha para limpar o nome de Streltsov da acusação de estupro. Uma história trágica mas fascinante, que nos faz imaginar quão extraordinária teria sido a carreira de Streltsov (e do Torpedo Moscou e da União Soviética) se tais problemas não tivessem acontecido.

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