Copa C3 | A Hora Fatal e O Jogaço

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Dia 2 – A hora fatal e o jogaço

Por Gabriel Brito

Depois do piquenique russo no jogo de abertura, a sexta-feira trazia de fato o início do Mundial e o mergulho total em guias, matérias, escalações e fichas técnicas. Três partidas no cardápio, agora sim é Copa.

Logo cedo, nosso querido Uruguai, o paisito onde a vida anda com mais vagar e lucidez, ninguém traga a erva mate mais rápido por causa de algum ônibus. De outro lado o não menos simpático Egito, de volta à Copa depois de 24 anos, após participar das duas Copas da Itália.

Impossível não começar a falar da partida em Ekaterimburgo pela estrela da companhia faraó (curiosamente, o povo que fez Outubro assim definia os policiais do czarismo).

Diante das fragilidades da equipe rubro-negra, só podemos pensar que Mohamed Salah, o melhor jogador do mundo nesta temporada, está em condições realmente muito preocupantes. A ver como – e se – chega à decisão da rodada seguinte, quando seu time terá de ganhar da Rússia.

Como Hector Cúper sempre foi um notório pragmático, talvez tenha calculado que a derrota para a Celeste Olímpica era o resultado mais factível, ao passo que somar seis pontos nas demais partidas há de ser o pulo do gato. Pode ser, mas que pecado a sensação do ano não poder jogar a full o campeonato da vida de um país inteiro.

Já o Uruguai, sofreu com o início tenso e seu novíssimo meio de campo um tanto travado. Quem ouve o Conexão Sudaca sabe que rogamos uma renovação neste setor. Ela não se deu nas Eliminatórias. A velha guarda garantiu a vaga, mas agora a falta de rodagem pode ter preço.

De toda forma, Carlitos Sanchez no lugar de Nandez parecia a opção ideal desde o início. O campeão da Libertadores 2015 tem gás, técnica, chegada e está no auge da carreira. Arrascaeta poderia ter ficado mais minutos em campo, mas pelo menos o velho de guerra Cebolla Rodriguez entrou bem.

Se não é sofrido, o Uruguai nem vai, dizem. Verdade, mas os discípulos do maestro Tabarez dominaram toda a partida contra um time esforçado e carente de qualquer refinamento técnico. Impressionante a quantidade de contra-ataques que o Egito perdeu logo na construção, o que de certa forma ajudou os charrúas a se jogarem de vez pela vitória.

Se Suárez, sempre sanguíneo em campo, estivesse mais fino, o jogo se encaminharia mais cedo. Teve de ser pelo alto, no gol do excelente Josema Gimenez. O time tem bala pra crescer.

Fora de campo

País apaixonadíssimo por futebol, o Egito é mais uma dessas nações que vive sob feroz ditadura militar omitida nos noticiários da nossa mídia liberal (só na economia). Desde a queda de Hosni Mubarak, que passou 25 anos no poder, em 2011, quando a primavera árabe era primavera, o país vive instabilidade política, protestos massivos que já geraram milhares de mortes e eleições teleguiadas para manter o status quo.

No último processo eleitoral, realizado sob forte boicote popular, vitória fajuta do candidato dos militares. E o silêncio por aqui continuará, ao menos enquanto um dos berços da humanidade seguir submisso aos movimentos de Estados Unidos e Israel.

O crime de Estado na partida do campeonato local de 2012 contra a torcida do Al-Ahly, que visitava o Al Masry de Port Said e deixou 74 mortos nas arquibancadas, é um dos episódios mais sombrios da história do futebol.

Marrocos 0 x 1 Irã

Jogo que para os menos fanáticos traz mais atrativos fora do que dentro das quatro linhas, a partida do almoço é a pior até aqui. Esperávamos mais do Marrocos, fruto inusitado do êxodo de sua empobrecida população para o solo europeu, que em rara retribuição aos esbulhos históricos ajudou a formar uma geração de bons atletas para o reino magrebino.

O começo até prometeu, a superioridade técnica fez o Leão do Atlas dominar o primeiro tempo, a ponto de abrir mão de um dos três zagueiros no desenho tático, mas os persas se seguraram. Raça e coração nunca faltam à seleção iraniana, que quase terminou em vantagem quando Azmoun saiu na cara do gol e parou em El Kajoui.

O segundo tempo foi definitivamente caso perdido e, salvo um ou outro arremate, o jogo se arrastava para um merecido zero a zero. Mas os deuses do futebol resolveram adiar o primeiro placar em branco da Copa e, novamente, um gol (esse contra) em bola aérea nos estertores premiou o dedicado quadro de Carlos Queiroz (um dos quatro técnicos de 2014 que voltou ao Mundial).

Confesso minha pequena decepção. Gosto mais do jeito norte-africano de jogar futebol. Mas não houve superioridade de fato.

Fora de campo

Não preciso dizer que a República Islâmica ainda mantém tratamento detestável às mulheres, proibidas de irem a estádios de futebol, num país que também cerceia movimentos políticos democratizantes. Quando se é inimigo do papai do norte a notícia chega.

O que vale destacar é a causa do Saara Ocidental, território entre Marrocos e Argélia, já ocupado em certos momentos por tropas da ONU e que reivindica autonomia nacional desde os anos 70. A Palestina africana, me permito classificar (a bandeira do pretenso país é quase igual). Mas o reino sunita não tolera tal movimentação e exige se apoderar dessa pobre terra (mas rico subsolo).

É nisso que reside o recente rompimento diplomático entre os adversários do dia. Ambos retiraram seus diplomatas das contrapartes. Basicamente porque o Marrocos acusa o Irã de facilitar a passagem de armas para a Frente Polisário, movimento que luta pela independência local. E considerando que o país dos aiatolás não é de se omitir nas querelas regionais, não duvidamos. De todo modo, a autodeterminação dos povos continua a ser uma boa bússola.

O jogaço – dos times e do “homi”

Maravilha de jogo o clássico ibérico. Daqueles que justificam a ansiedade pela chegada da Copa do Mundo, o estoque de cerveja e as fugas dos compromissos da vida.

Jogo ótimo que não precisa de edição caprichada nem discursos inflamados de narrador chato. Do começo ao fim, times em brasa em busca do gol. Esperto, Cristiano Ronaldo tratou de logo ir pra cima do mais inexperiente espanhol, o lateral que faria um golaço mais tarde, e arrumou um providencial penal para por os lusos na frente.

Superior, mas nem tanto, a Espanha tratou de por em prática sua marca que virou um fetiche mundial. A escola e a ideia permanecem, mas ouso dizer que aquele tiki taka não existe mais. Claro que há resquícios e, mais que isso, uma confiança dos atletas em aplicar este estilo de jogo, verificável na liga local.

Posso me equivocar e terminar dando razão aos defensores da Fúria – Roja é o Chile. Mas tenho dificuldades em achar que a Espanha dispõe de jogadores realmente excepcionais. Iniesta segue magistral, mas não deve ter folego pra decidir as paradas mais pesadas. Os demais são jogadores competentes, não muito mais.

E vou seguir implicando com os pontinhas de pé trocado que terminam girando e tocando pra trás, como David Silva e Isco em algumas ocasiões que afastaram o time de um possível quarto gol em nome da tara da posse de bola.

O tempo dirá: parece que quanto mais passar, mais aquele período 2008-2012, que teve no gol de Iniesta em Johanesburgo seu ápice, brilhará na história da seleção subitamente comandada por Hierro.

O frango de Gea desviou, para melhor, o roteiro do jogo. Portugal cedeu o empate e a virada quando de fato era dominado. Mas vale lembrar da chance que Cristiano ofereceu a Gonçalo Guedes pouco antes do golaço de Diego Costa. Pepe quis ser malandro, mas voltou a falhar na estreia, tal como em sua expulsão que abriu caminho para o 4-0 alemão em 2014. E o novo gol de Diego era daqueles que, quando se está em vantagem contra um grande time, deve-se dar um jeito de evitar.

Posto isso, Cristiano foi lá e arrancou a falta que determinou o empate. Batida brilhante, coisa rara no futebol atual um gol por cima da barreira quando a falta é perto demais da área. Aliás, Cristiano fez aquilo que muitos de nós reclamamos: jogou sem posição, não se conformou em esperar a bola no lugar perfeito. Em sua 14ª partida de Copa, a exibição de fato memorável, numa partida que constará entre as mais belas. Era necessário, digamos assim.

A Espanha ainda tem a provar. Portugal, no que também me parece parte da explicação da excelente atuação de Cristiano, se renovou bem e tem um time até melhor que na Euro 2016. Devem fechar com sete pontos.

Que venha o verdadeiro sábado de aleluia.

Gabriel Brito é jornalista e editor do Correio da Cidadania. Na Central 3, é da equipe do Conexão Sudaca, todas as sextas. Ao longo da Copa, escreve na casa, sobre Copa, é claro!

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Um comentário em “Copa C3 | A Hora Fatal e O Jogaço”

  • muito boa a leitura.

    concordo que o uruguai ainda deve crescer, principalmente quando esse citado meio campo estiver mais comodo em campo. Mas acredito na melhora vindo destes jovens mesmo, o carlos sanchez é uma boa opçao, agrega em experiencia, mas ja passou um pouco do ponto. cebolla rodriguez é o de sempre.

    e apesar de muita vezes a tara pelo tiki taka jogar contra a furia, vejo um coletivo mt afinado, com fatal capacidade de criar jogadas em questão de tempo, ao contrario de brasil, argentina e frança, que dependem mais de inspirações individuais.

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