Carta de não-amor para Ganso. O fim

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Por Marcelo Mendez

Quando você apareceu para jogar futebol meu coração sorriu.

Por entre zagueiros caneludos e perdidos, em meio a volantes que jogavam futebol de punhos fechados, tua classe me redimiu de toda mesmice que emergia. Foram noites lindas. Em um tempo que nada de muito bom me acontecia, te ver jogar me arrefeceu de todos meus erros e fui feliz, pelo menos durante 90 minutos que duravam tuas bênçãos ludopédicas, fui feliz.

Por um tempo que foi breve e lindo eu o vi para muito além do craque. Você foi a renascença de chuteiras, foi Michelangelo de camisa 10 do Santos. Nesse tempo, você não se contentava apenas em jogar futebol; fizeste com os pés verdadeiras odes ao encanto, teus passes, ah teus passes… Através deles a beleza se perpetuou de maneira inexorável.

Tudo ia muito bem nessa nossa relação. Você jogava lindamente e eu o admirava. Me peguei a isso, o defendi de pragmatas torpes que lhe cobravam “objetividade”, que te perturbavam com “metas”, com outras mumunhas que nós mortais somos, preocupações tolas nossas, coisas que o craque não precisa se ocupar.

Mais de uma vez escrevi que você era a redenção do futebol nosso, que tua classe nos salvaria, que tua magnitude principesca acabaria com o engodo ludopédico. Várias vezes, em campo, com a bola nos pés, você fez valer cada vírgula dessas que foram escritas. Mas então, do nada, veio a mudança.

Sim, uma estranha e repentina mudança.

Não o vi mais bailando. Você não sorria mais. Era estranho, parecia um sofrimento dilacerante para você essa coisa de jogar futebol. De uma hora para a outra, o desejo de ser grande passou e então você não quis mais brilhar, não quis mais encantar, abriu mão de redimir, ficou de saco cheio de tanto encanto e então, passou a ser comum.

Um comum.

Você então passou a não jogar, não quis mais pegar tanto na bola. Jogava burocraticamente, como um contínuo de repartição pública dos anos 50. Queria ali que aqueles 90 minutos acabassem logo para sair logo da cancha. Ficou triste. Ficou óbvio. Ficou comum.

Tão comum que agora reclama de arbitragem. Tão óbvio que até passou a ser dedo-duro, entregando o menino zagueiro que falhou em um dos tantos gols que se toma por aí. Ficou tão duro que até mal educado, agora, você está conseguindo ser.

Quando te vi em uma atitude de menino mimado, deixando um bom homem trabalhador, sério, educado como vosso técnico, de mão estendida no ar sem cumprimentá-lo, não deu mais.

Cansei.

Cansei de ver o que você insiste em ser. Cansei de ver você desperdiçar todo talento que tens para grandiosidade, em detrimento da vala triste e sem cores dos comuns. Não vai dar mais, Paulo Henrique. Acabou.

Aqui nessa crônica peço minha alforria da amarra de gênio com a qual um dia você me entrelaçou. Exorcizo todo o feitiço de craque que jogou em mim, me liberto de tudo, de sentir a bruma leve da genialidade sua, que um dia soprou em mim.

Hoje você é apenas um rapaz triste. Um cara infeliz.

E para não te ver se acabando nessa tristeza, me separo de você. Desisto de ti, com a esperança que um dia você volte a enfeitiçar outro com o que você tem de melhor. Não ficarei triste. Quem sabe você consegue?

Até lá, sigo aqui com o Lou Reed cantando algo. A gente se vira…

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Leitura recomendada: Somos Todos PH Ganso

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