Cruyff, o Sim e o Não

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A Puma patrocinou Pelé quando esse negócio de fazer negócio engatinhava. Décadas depois, pagou Maradona para usar suas chuteiras e camisas. Entre um e outro mito, fechou contrato com Cruyff, compositor de outros mitos, nem todos digeridos ainda por um futebol mais difícil do que parece – e do que ele dizia ser – de se entender.

1974, Havelange eleito para um século de mandato com uma candidatura musculosa turbinada pela aliança da Adidas com tudo que se movia e parecia ser situação, ou oposição, qualquer coisa que a colocasse como marca oficial de uma – digamos assim – Nova Fifa, aberta ao mercado e desapegada de certas tradições. O tecido das três listras conquistou a adesão esportiva e a lealdade política de continentes inteiros, mas a família Dassler preferiu não entrar em dividida com Cruyff, indisposto a grandes concessões ideológicas dentro e fora de campo.

Leal à marca e à graça de sua chuteira, sofreu com questões morais na Copa seguinte, em 1978, e dela se retirou. O ruído da época: a ditadura militar argentina o desmotivou. Trinta anos depois, na época em que sua língua virou faca afiada, alegou questões familiares de segurança. O fato é que sua personalidade desagradou, agora, também a Puma, sem sua maior estrela na maior competição. Portas fechadas, manobra rumo aos Estados Unidos, menos dinheiro, menos prestígio, motivos intactos: Cruyff é, dentre os gênios da bola, o mais capaz de preservar suas convicções, de se propor prejuízos, narizes torcidos, portas fechadas. Nunca lhe faltou a prata para o cigarro.

De modo que Cruyff, se não dividiu águas, serviu de ponte técnica, tática, mas não ideológica, que ligou duas épocas do futebol. Então tantas vezes o espetáculo é bárbaro, os rabiscos táticos desafiam e encantam, tem craque na cancha mas falta alguma coisa de ideia, de proposta, de peito e prejuízo, algo que chamam vulgarmente de alma, naquela dança toda. O inevitável embrutecimento físico da espécie podia ter absorvido um pouco mais de Cruyff e a rotina deliciosa dos astros do novo século nada entendeu sobre dizer não quando é não o que está na ponta da língua.

Do lado de cá da ponte, acham a Copa de 70 um tédio lento e previsível. No outro lado debocham, com dentaduras, desta pressa medrosa e desta arrogância de achar que, só por ser mais “intenso”, o velhíssimo é o novo. Cruyff foi a transição artística na hora exata para ser ao mesmo tempo metáfora de um futebol que mudava na grama e nas salas acarpetadas, de um mundo que mudava nas ruas e nas telas, de uma série de coisas que deveriam ser mais simples, sim e não, quero e não quero, vou e não vou.

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