De Lupicínio Rodrigues para Teião, com amor

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Por Marcelo Mendez, publicado originalmente no ABCD Maior

“Entra, meu amor, fica à vontade/E diz com sinceridade o que desejas de mim/Entra, podes entrar, a casa é tua…”

Quando Lupicínio Rodrigues compôs sua imortal música “Cadeira Vazia” para um grande amor seu, decerto que jamais pensou em assuntos boleiros. Mesmo ele que compôs magistralmente o hino do seu Grêmio, nem de longe pensou em futebol de várzea. Tampouco conheceu a história de Teião do Guaraciaba.

Uma pena…

Se o mestre ouvisse o relato do que houve com Teião, com certeza o dedicaria odes e versos. Com certeza entenderia a alusão que se faz à sua música e ao trecho citado.

Era um dia de final na várzea de Santo André. O Guaraciaba enfrentaria o Marajoara pela grande decisão do principal campeonato da cidade perante aos cinco mil olhos de sonhos que habitavam a cancha do estádio do Nacional. Todos ávidos pela grande festa que ali se realizaria, olhos de alegria, de festa. No entanto um dos olhares entre esses todos me chamou atenção pela peculiaridade do dono do mesmo.

Na beira do campo, enquanto os titulares eram cumprimentados pelo prefeito da Cidade, em meio a hinos, narradores e pompas, Teião observava a tudo do banco de reservas do Guaraciaba. Seu olhar vagava por ali, como o olhar do poeta vaga pela noite fria em busca de seu verso catártico. Teião queria algo ali que eu não sabia o que era e então fui atrás de saber.

Me aproximei, começamos a conversar e então ele me disse: “Hoje é meu último jogo de futebol. Depois daqui dessa final, penduro de vez as chuteiras.”

O último jogo de bola.

Há quem diga que o jogador de bola morre duas vezes; Uma delas, quando para de jogar futebol…

De uma hora pra outra acaba tudo. Se for da elite do futebol, acabou as luzes, holofotes, repórteres, autógrafos na rua, paparicos. Na várzea, que é uma reserva de encanto disso tudo, pode-se dizer que então o sujeito tem a terceira morte. Ali, Teião não teria mais o domingo, o cheiro de bálsamo do vestiário de massagens, o ritual de amarrar sua chuteira colorida. Era o fim de tudo.

No final daquele dia, o Guaraciaba foi campeão, nos pênaltis. Após o empate de 1×1 em um match emocionante, o time de Teião foi campeão e com glórias. E ele fez sua despedida. Olhei para ele. Vi em seu rosto um sorriso, uma alegria sim, mas também vi que algo lhe faltava naquele domingo de sol. Afinal de contas, como havia me contado, ali terminava um ciclo de sua vida e o jogador que já não tinha os repórteres, as fãs, as reportagens e paparicos, agora, também não teria o domingo de várzea. Mesmo assim Teião comemorou e o tempo passou.

Eis que no sábado tem um jogo de veteranos: “Eu sofri demais quando partiste/Passei tantas horas triste…”

E tal e qual Lupicínio cantou, eis que Teião voltou.

Para abrandar minhas horas tristes, o Velho Atacante tava lá, com a camisa de veterano do seu Guaraciaba para enfrentar o time do Flamenguinho. E com uma alegria de menino recém apaixonado, Teião jogou. E jogou muito. Fez 4 gols para seu time na goleada de 5×1 ante o Flamenguinho e então o sorriso junto dele voltou para o terrão.

Entre tantas outras coisas do mundo, o jogador varzeano retomou o seu mundo e isso só poderia acontecer em um universo como este. A várzea não abandona os seus, não os demite, não lhes dá as contas e Teião sabe disso tudo como ninguém. Portanto em agradecimento a isso dedico essa crônica para o Grande Teião do Guaraciaba.

Se Lupicínio Rodrigues acá estivesse, decerto lhe dedicaria a canção também…

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