O gosto da derrota e a sina do amor eterno

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Por Josie Rodrigues

A derrota para mim tem gosto. Um gosto azedo  e rançoso como um queijo estragado. Por mais que escove os dentes, esse gosto permanece na boca por dois ou três dias. Fica difícil engolir a saliva. O gosto da derrota fica lá – indigesto – até meu time entrar em campo novamente e, tal qual uma amante que perdoa qualquer traição e humilhação, volto a torcer por um bando de pernas de pau. Não é fácil torcer. Muito menos para time que só perde. A dor do futebol é pior que a dor de amor. A dor de cotovelo amorosa passa .Pode levar semanas, meses ou anos… mas passa.

Crédito: Divulgação Internacional
Crédito: Divulgação Internacional

Eu mesma não lembro da minha primeira dor de amor. Mas lembro da primeira vez que sofri por futebol. O ano era 1996: Campeonato Brasileiro Série A. Naquela época o campeonato era disputado em dois turnos, mas com uma diferença: apenas os oito primeiros colocados do primeiro turno iriam disputar o mata-mata. O Internacional – meu time do coração – precisava apenas de um empate contra o rebaixado Bragantino para se classificar. E o Inter – que era uma tristeza de dar dó – perdeu por 1 a 0. Eu tinha 13 anos e estava em uma excursão em Santa Catarina pelo colégio que estudava. Guardei parte do dinheiro que levei e usei para comprar uma camisa do Colorado: a minha primeira camisa comprada com minha própria mesada! A volta do passeio se deu no fatídico domingo e paramos o ônibus em Criciúma para assistir ao vexame do meu time. Como se não bastasse perder, voltei até Camaquã (minha terra natal) sendo barbaramente torturada: 399km e mais de quatro horas de todo tipo de bullying futebolístico por parte dos coleguinhas gremistas. Ah, e para completar o Grêmio foi campeão naquele ano.

Mas o que mais me marcou nesse amargo dia não foi o fiasco de ser zoada por horas dentro de um ônibus. Foi quando cheguei em casa. Eu entrei com olhos de fúria e fui direto falar com meu pai. Tirei a camisa, cuspi em cima (blasfêmia) e xinguei meu próprio pai! Sim, xinguei meu velho por me fazer torcer por aquele time mequetrefe! Papai me fitou com aquele olhar que os pais olham para nós  quando querem dizer que não sabemos de nada, inocentes… Olhou-me para ensinar uma das maiores lições de amor e persistência que aprendi na vida. Meu velho, com muita paciência, explicou que é fácil amar e torcer por aquilo que sempre nos dá alegria. O difícil é torcer para time que perde. E se eu quisesse torcer precisava entender isso. Então Seu Zé contou todas as façanhas do Colorado – do rolo compressor – dos anos 40: o time do lendário Tesourinha. Das tabelas de cabeça do Falcão e do gol “iluminado” de Figueroa nos anos 70… E assim, fiquei anos a fio esperando para que esses heróis voltassem aos gramados do Beira Rio. Não os vi voltarem. Eles partem e nunca mais descem do Olimpo que ocupam os grandes heróis do futebol. Mas os deuses do futebol me mandaram outros: Gamarra, D’Alessandro e o inesquecível Fernandão, que levantou a taça de campeão do mundo em 2006 contra o temível Barcelona.

Resumindo, amigos, qual outra paixão te permite isso? A cada ano poder sonhar de novo? Qual paixão te permite sempre poder voltar para casa? Mesmo que essa paixão às vezes se descuide, se esqueça de cuidar bem de você… Ela sempre pode voltar com todo o seu esplendor. A cada temporada podemos ter a chance de viver uma grande emoção. A possibilidade de sermos campeões – para alguns nem que seja da série B ou C. Só o futebol nos permite isso: a mesma paixão durar a vida inteira, com a mesma intensidade, com o mesmo furor. É uma pena que não podemos viver isso com todos os nossos amores… mas ao menos em um, isso é possível.

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