O Triste Fim de Luiz Felipe Scolari

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Por Victor Faria

Primeira Parte

Em razão do imenso sucesso alcançado com a Seleção Brasileira no início do século, Luiz Felipe Scolari, mais conhecido como Felipão, se tornou figura célebre dos periódicos nacionais. A conquista da Copa do Mundo fora exaltada principalmente pela sua capacidade de recuperar os ídolos do time em busca de uma glória maior, um conjunto. Grande motivador, agregador, homem de oratória simples e de pensamento objetivo. Seu perfil de rabugento salientava ainda mais seu caráter familiar, patriarcal. Um líder nato, reconhecido e reconhecível.

É bem possível que as aventuras internacionais não estivessem em seus primeiro planos, mas é certo afirmar que o treinador, naquele momento da carreira, não poderia negar tamanho desafio. Ele já havia passado por clubes da Arábia Saudita e Japão, mas sem o devido reconhecimento.

Felipão fora convidado para assumir a Seleção Portuguesa que sediaria a Eurocopa. Já classificado para o torneio, tinha tempo para implantar sua filosofia tanto de vida como de jogo. Um bom desempenho caseiro era fundamental. Os planos se encaixavam perfeitamente, se orquestravam de maneira natural até a fatídica final. Não é necessário se apegar ao resultado obtido em campo, o mais importante era a retomada da alma coletiva, do respeito, do orgulho nacional. O quarto lugar na Copa do Mundo realizada em solo germânico fora sua grande conquista. Conseguira implantar uma reforma cultural, comportamental. Um grande feito salvo alguns defeitos.

Algum tempo mais tarde aceitou uma nova empreitada. Mudou-se com sua família e seu fiel escudeiro, Murtosa, para Londres. A capital inglesa lhe reservara amargos transtornos. O choque cultural, a distância, o idioma, as diversas nacionalidades, tudo eram um obstáculo. Não acostumou-se. Era difícil encontrar noutra terra conceitos tradicionais de motivação. Tampouco seus comandados o queriam lá. Um fracasso retumbante. Ter de dar explicações em russo agravava ainda mais o problema. Partiu sem deixar o mínimo de saudade.

Mas a trajetória internacional do treinador não terminara ali, chegaria mais longe. Por motivos que somente sua aposentadoria e independência financeira podem explicar fora parar no Uzbequistão. Uma nova missão diferente de qualquer outra. Implementar e expandir no país a prática do esporte, despertar nos torcedores do outro lado do mundo a mesma paixão vistas em campos nacionais. Não se sabe ao certo o legado deixado, mas o importante fora o reconhecimento, a experiência. Somente ele sabia por quantas havia passado e talvez por isso, ou por falta de informações concretas, se fazia muito bem respeitar. Sua trajetória não fora duradoura e poucos são os de lá que sabem se de fato ele falava em português ou javanês.

Segunda Parte

Uma década se passou desde a conquista do pentacampeonato mundial e seu prestígio continuara intacto. Retornara ao comando do time com todas as glórias que lhe eram devidas. Ao lado de Carlos Alberto Parreira formava uma dupla perfeita, dignos campeões do Mundo, capazes de conduzir a equipe para a conquista dos sonhos, ganhar uma Copa em solo materno. Seu perfil era de um patriota exaltado, dominado pela ideia de um Brasil acolhedor, amável e confiável. Em seu idealismo patriótico, ele via o país como um recanto de farturas, talentos, compreensão e cumplicidade. Possuía a ideia de uma idolatria nacional cujo objetivo era despertar a pátria do sono inconsciente em que jazia, ignorante de seu potencial, e conduzi-la ao merecido lugar de maior nação do futebol.

José Maria Marín, mandatário da Confederação Brasileira de Futebol à época, bradava em alto e bom som: “Você é um visionário Felipão!”. E assim todos deveriam pensar e confiar.

Acreditava no talento individual de seus craques, na alegria das pernas, do grito vindo da arquibancada, do coração na ponta da chuteira. A família Scolari. Tudo perfeitamente pensado. Porém o destino havia de lhe pregar mais uma peça.

A cena mais trágica de sua história profissional ocorreu num 8 de Julho em Minas Gerais. Com o estádio a arena em festa, a Seleção Brasileira protagonizou umas das cenas mais lamentáveis vistas no esporte bretão. Uma derrota acachapante para a Alemanha, avassaladora em termos táticos e pessoais.

O time em campo simplesmente naufragava, parecia um navio sem almirante que passivamente busca o fundo mar. Simplesmente um desastre que marcava o fim de sua segunda passagem.

A constatação era uma só e repetida em condições de outro herói nacional. Muita técnica e pouca tática, os males do Brasil são.

Ao fim de sua jornada ufanista no comando da amarelinha, o país revela-se inóspito, precário, infecundo, cruel, opressor e odioso. Nada de seu passado era lembrando, nem mesmo sua capacidade de contar com o próximo. O laço familiar não mais causava comoção. De repente a alma coletiva de que tanta se orgulhara se voltara contra ele, essa sim em perfeita sintonia e razão. Natural.

Via-se tal qual um general sem batalha, um Albernaz.

Terceira Parte

Felipão retornara para o pago. Desejava uma vida mais pacata, isolada, buscava velhos ares regionais. Objetivos mais simples, uma reconstrução a partir de suas origens. Quase vinte anos depois retornava ao lugar de tantas conquistas, de tanto carinho e reciprocidade.

Seria o fim perfeito para ambos, a união de dois amantes dispostos através do tempo. Ambos capazes de superar os problemas em busca de novas resoluções. Eram dias esperançosos aqueles e que duraram menos de um ano, pouco mais de cinco dezenas de jogos. Em campo não mais conseguia boas apresentações. O destino se apresentava no mais terrível dos planos.

Novos tempos, mesmas ideias. Os anos foram cruéis ao seu conhecimento. Sentiu um abrupto rompimento de seu passado. Os fatos, pra hoje, não contam. O seu papel de salvador, de protetor, de professor já não era mais útil. Não conseguia oferecer nem mesmo suas conhecidas qualidades.

Saiu sem se despedir. Sem querer ao menos se explicar. Nenhum bilhete como resposta. Deve querer se isolar num ilhéu qualquer ou quem sabe só deixar se esquecer. Reconhecendo que o distanciamento seja a melhor resolução. A lição de dar tempo ao tempo, tão repetida em almoços dominicais. A memória e suas devidas proporções. É reconhecer o pouso antes que o mesmo se torne queda, antes que se acabem até os momentos bons.

 

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