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Copa C3 | Dia 11, o começo da saudade

Dia 11 – O começo da saudade

por Gabriel Brito

Inglaterra 6 x 1 Panamá – O folclore ainda existe

Na última manhã com três horários de jogos, o que já começa a dar aquele aperto, mais uma abertura regada a gols no grupo que ao lado do A foi o mais desigual.

O primeiro tempo da estreante seleção caribenha foi o maior vexame em Copas desde… A última semifinal, quando um certo país-sede desceu aos vestiários com o mesmo 0-5 nas costas.

É, o 7 a 1 continua a impressionar a cada vez que tentamos dimensioná-lo e o colocamos em perspectiva.

Mas aqui falamos de um time amador que foi curtir o passeio e cada minuto de sua passagem pela Rússia que ainda renderá filmes, livros e entrevistas na TV no dia em que os membros de sua delegação se tornarem tiozões de bairro.

Até a questão disciplinar do time destoou do padrão, com destemperadas reclamações ao juiz a todo momento.

A Inglaterra foi fazendo os gols porque sim, qualquer forçada era meio gol. Terrível na bola aérea e lento na leitura, os panamenhos fizeram a festa dos artilheiros da tarde, o grande matador Harry Kane e o zagueiro Stones.

O english team, mesmo ciente da facilidade, manteve sua nova linha de 5 e um jeito de jogar que começa a animar o país – mesmo assim, estão todos cientes de que a prova de fogo só virá daqui dois jogos.

Nervoso na estreia, Dele Ali deu lugar a Loftus-Cheek, cujo nome representa uma nova faceta das sociedades modernas, mais uma daquelas coisas interessantes que só fico sabendo graças ao futebol: a geração do sobrenome composto representa os filhos de casais não casados, que por vezes sequer moraram juntos. Mas com uma peculiaridade que por aqui causaria rejeição em muita gente de bem, no caso, a equiparação dos sobrenomes de pai e mãe, sem a primazia do progenitor. Oxlade-Chamberlain, cortado por lesão, é outro exemplo que me ocorre.

Devaneios

Mais um dado curioso do jogo foi o replay que validou o terceiro gol de Harry Kane. Aparentemente impedido, fiquei realmente cabreiro com a linha de impedimento apresentada pela turma do vídeo. Diante da farra que era a partida, parece terem ficado com preguiça de ver centímetros pra lá ou pra cá e anular a bolinha na rede que tanto gostamos.

Conversando a respeito, eu e o amigo Tiago Zau entramos numa digressão: a considerar que ver impedimentos milimétricos ainda é um belo de um inferno mesmo com toda essa aparelhagem atual, não parece absurdo imaginar que logo mais o atacante que tiver qualquer pedaço do corpo na mesma linha do defensor seja considerado habilitado. Algo parecido com a saída de bola, que se tiver um só centímetro sobre a linha de cal é tida como em jogo.

Não parece um absurdo tal mudança na regra. Afinal, se a máquina de Marty Mcfly viesse à realidade e pudéssemos viajar no túnel do tempo do futebol, a ver todos os gols decisivos pela linha da defesa, descobriríamos que metade da história do futebol é uma farsa, convenhamos (tentei pensar em qual gol histórico eu me poria a marcar no lugar do protagonista real, mas não consegui me decidir).

Dito tudo isso, o gol do Panamá foi o desconcerto que anula a crítica: dada a enorme comemoração até do técnico, devemos ignorar todas as análises depreciativas deste precário time ao longo de seus 180 minutos e 9 gols sofridos.

Lembrou-me da primeira vez que assisti a uma partida entre Brasil e Venezuela. Eliminatórias para a Copa de 1994, o Brasil sob muitas críticas visitava a vinotinto em San Cristóbal. Quando já estava 4-0, um chutão do arqueiro local foi até o outro lado da cancha, Taffarel e Marcio Santos se enrolaram e um tal Gomez aproveitou o quique da bola para marcar. A comemoração foi a mesma que o tento de Felipe Baloy gerou nos panamenhos.

Não é mal que ainda vejamos essa faceta mais que romântica, amadora, dar as caras de vez em quando.

De resto, os europeus que já liquidaram a chave chegam leves para um jogão entre ambos que não cortará na carne de ninguém. O que deve evitar que seja um jogão.

Senegal 2 x 2 Japão – Bravo, Japão

 Ótima partida a do meio dia. Senegal e Japão atuaram como dois times que se medem de cima a baixo e pensam consigo: “dá pra nós”.

Sempre em busca do gol, a partida alternou momentos de velocidade com bola no chão, um pouco de acordo com o estilo de cada um, mas acima de tudo porque em momento algum o empate foi visto como bom negócio – e na verdade foi.

No impulso de um time que chega forte pelos lados, Sadiou Mane empurrou o rebote de Kawashima com a canela. Outro gol pra conta do pinball. O campo é cada vez menor e as rebatidas, voluntárias ou involuntárias, já são marca deste Mundial.

O Japão empatou em lance evitável pelo lado direito, que o bom ponta Inui igualou. Do mesmo jeito ele quase virou.

No grande lampejo individual da partida Senegal voltou à frente do placar através do lateral Wague, que constava no projeto catariano de formar uma seleção de futebol do mesmo jeito que um clube.

Impressiona esta matéria do Trivela a explicar o funcionamento da academia Aspire, financiada pelo reino que comprou o direito de sediar a próxima Copa do Mundo, a mais distópica de todas.

De todo modo, um dia a renda do petróleo acaba. Se não for pra formar uma grande seleção de futebol, todos os esforços servem ao menos para realizar e renovar essa imensa acumulação de capital de outras formas: “independente de potenciais motivos escusos, espalhar dinheiro ao redor da África é condizente com o projeto do Catar de transformar o dinheiro do seu petróleo em relevância na economia, na cultura, na educação e, claro, também no esporte”, resume a matéria de Bruno Bonsanti. Na Europa o serviço se encontra em estágio bem mais avançado.

Veremos se 2022 será um canto do cisne, a laranja chupada até o bagaço. Fico curioso pra saber como andará nossa paciência com tudo isso até lá.

O tempo que levei pra escrever essas últimas linhas foi mais ou menos o mesmo que os japoneses precisaram para descobrir novo caminho para o empate.

Numa Copa de grandes barreiras físicas e defensivas, buscar a igualdade duas vezes na mesma jornada não é fácil.

E apesar da nossa declarada simpatia pela representação africana, se o jogo pendeu para um lado na reta final foi para os nipônicos, agora muito bem posicionados para avançar às oitavas.

Colômbia 3 x 0 Polônia – bailá conmigo

Fechando a segunda rodada, isto é, a primeira metade do total de jogos, mais um bom jogo no movimentado grupo H.

Grande favor os poloneses fizeram ao amesquinhar sua preparação para a Copa acumulando amistosos contra times inferiores e, dessa forma, fabricar uma posição de cabeça de chave no ranking da FIFA – que por isso mesmo se reafirmou como algo entre o ridículo e o inútil.

Quem fez outro grande favor ao mundo e também ao país foi Jose Pekerman, que devolveu Yerri Mina e James Rodriguez ao time titular.

O primeiro engoliu Lewandowsky e voou lindamente para anotar o primeiro gol. O 10 foi senhor do campo, distribuiu bolas suculentas aos seus colegas, a exemplo daquela que abriu o marcador, e colocou os polacos para correr atrás da redonda, do jeito que nos ensinavam quando éramos pendejos.

A partir daí, os poloneses tiveram de buscar o empate com tudo, o que deu todos os espaços possíveis ao time cafeteiro. O segundo e terceiro gols emolduraram um baile para a memória desta Copa.

Só tapa, só golaço, linda vitória colombiana. Declarando minha torcida, a Polônia podia fazer mais uma gentileza ao sul do mundo e ajudar numa classificação de colombianos e senegaleses. Não é a cara, mas vou ficar quieto.

Dito isso, que uniforme terrível da Colômbia. Como Adidas e Nike andam fazendo mal aos nossos apegos estético-futebolísticos. E como a FIFA faz questão de se mostrar cretina com sua idealização de times monocromáticos em campo, ou divididos entre claros e escuros. Como bem diz meu grande amigo e editor desta Central3, Leandro Iamin, daqui a pouco vira judô e teremos sempre um time azul e outro branco em campo.

O que haveria de mal na Colômbia de amarelo? Faltou anotar no diário de ontem esse detalhe da indumentária sueca. Os nórdicos jogaram contra a Alemanha com seu velho uniforme dois, simples inversão do principal, a tolerar calções e camisas de cores distintas. “Heroico” nestes tempos de padronização até da rede do gol.

Consegui assistir aos 32 jogos da Copa. Eu não deveria ter orgulho disso.

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Central 3 na Copa #13 Espanha e Portugal

O Central 3 na Copa desta segunda-feira comenta as primeiras definições de confrontos das oitavas de final do Mundial: Uruguai x Portugal, Espanha x Rússia. Com Paulo Junior, Leandro Iamin, Matias Pinto, Bruno Bonsanti, José Trajano e o convidado Alvaro de Campos, autor do livro ‘O Outro Lado da Bola’, uma ficção que aborda o homossexualismo no futebol.

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Copa C3 | Panamá? Problema é a Polônia

A cada gol da Inglaterra na manhã brasileira de domingo pipocavam mensagens, comentários e pensatas sobre o que poderia se esperar de uma Copa do Mundo com 48 seleções, visto que com 32 a diferença técnica de alguns jogos já é bastante evidente.

Mas a atratividade de um jogo não se mede também só pelo placar eternizado na tabela, até porque não é preciso ir muito longe para lembrar a última vez que um time fez cinco gols num primeiro tempo de Copa do Mundo, pelo contrário, é bem perto, só dar um pulo ali na Pampulha e voltar no tempo uns vinte e poucos jogos de Mundial atrás. E nem vamos entrar num dilema sobre dignidade entre panamenhos de 2018 e brasileiros de 2014.

É claro também que dá para desfrutar da comemoração do gol de Baloy, imagem para sempre nas caixas de DVDs do maior torneio de todos, e ser contrário a uma Copa tão inchada. Muito da festa do país estreante vem exatamente da forte disputa nas eliminatórias, que para ter um Panamá deixa em casa uns Estados Unidos – ainda que de qualquer maneira continuará existindo, claro, mas num nível muito mais abrangente, com quase um quarto das seleções do mundo viajando para disputar a taça.

Agora, antes o Panamá que a Polônia. Fazendo uso de uma constrangedora frieza em analisar a participação no ranking da Fifa e evitar amistosos para se manter nos primeiros lugares da supérflua lista e seu sistema de pontuação esdrúxulo, o time polonês foi eliminado como equipe mais condenada ao esquecimento neste Mundial. Levou o maior totó da Copa em duas rodadas, com a Colômbia se impondo física, técnica, tática, mental e qualquer outro mente que vier à cabeça.

Pior: não tem nem um gol de Baloy para chamar de seu.

A menos atraente cabeça de chave da história se enforca no próprio pragmatismo de tabelas de Excel que a fez escapar de grupos como o de Brasil e Argentina. Pior para… Brasil e Argentina, que tiveram em seus rivais europeus muito mais repertório e força que no tedioso time de Lewandowski – antes tivessem encontra os poloneses, ao invés de Suiça, Sérvia, Islândia ou Croácia.

O pior time europeu da Copa nos faz pensar que se o evento dos 48 pode desabrochar uma série de times sorridentes mesmo goleados, ao menos será capaz de tirar o foco sobre Polônias sem graça alguma.

Fica de lição, por que não. O grupo assinalado como o menos formoso, renegado pela própria letra às últimas páginas dos guias da Copa, premiou a primeira metade do Mundial com as duas mais bonitas vitórias da África e da América do Sul na Rússia. Valeu, Polônia.

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Copa C3 | Dia 10, a campeã voltou

Dia 10 – A campeã voltou

por Gabriel Brito

Bélgica 5 x 2 Tunísia – Ainda de passeio

Segundo final de semana de Copa aberto. Karine continua espantada com o respeito que este cronista passou a nutrir pelo despertador.

Chego com meu cobertorzinho à sala e estes olhos nem precisaram se abrir tanto para notar que a badalada esquadra europeia ia mesmo passar o carro.

2 a 1 em 20 minutos, um golzinho norte-africano pra não fazer o jogo desandar cedo demais, mas a superioridade belga saltou aos olhos.

Além disso, o azar ou sabe-se lá o que em relação aos tunisianos marcou sua pobre campanha. Se na estreia contra a Inglaterra o goleiro Hassen teve de sair logo cedo, ontem vários jogadores sentiram ao longo do jogo.

O autor do primeiro gol Bronn teve de deixar o gramado e ao que parece o estilo físico e defensivo das Águias do Cartago cobraram uma boa fatura. Diante da precariedade técnica de um time apenas esforçado compreende-se.

A Tunísia fez o que podia para equilibrar o jogo, mas não resistia a uma saída de jogo mais desenvolta, pois logo um passe errado punha tudo a perder e os belgas esmerilhavam, como no terceiro gol, no apagar das luzes do primeiro tempo, daqueles que não se toma de jeito nenhum antes de ir ao vestiário.

À vontade, o time belga continuou criando espaços ante um adversário já desanimado e a naturalidade dos gols traduz bem o talento dos diabos vermelhos. No entanto, como dito anteriormente, terá de provar na hora do arrebento.

Seis pontos dos mais fáceis possíveis nesta Copa. Portanto, tudo pela frente ainda.

México 2 x 1 Coreia do Sul – Osório e os mariachis

Um técnico colombiano altamente intelectualizado e afeito a métodos de trabalho heterodoxos ao futebol. Um país de seleções tradicionalmente descompromissadas com a glória e enamoradas dos pequenos momentos de autorrealização que um campo de futebol permite.

Juan Carlos Osório e a seleção mexicana parecem uma combinação escrita nas estrelas, a unir estilos de vida, digamos assim, tal como um casal que gosta dos sabores incomuns e detesta a rotina.

No meio deste romance, uma Copa do Mundo, hora ideal para escrever paginas inesquecíveis que podem vir a ser contadas até por idiomas completamente alheios ao solo asteca.

Depois da belíssima vitória sobre a Alemanha, quando os vendavais Lozano, Layun e Vela lembraram a Joachim Low que Hummels e Khedira já não são garotos, a expectativa era grande.

Do lado oposto uma necessitada e sempre combativa Coreia não foi páreo. E mais uma vez o México sobrou em campo, voando pelos lados do campo e somando três pontos que começam a dar tintas épicas à campanha de um time que vem desacreditado há alguns anos, marcado por um 7-0 na Copa América Centenário que poderia fazer tudo isso aqui descrito ser atirado no lixo bem antes.

Bonito de ver o segundo tento da vitória deste sábado repetir quase à perfeição o golaço de Lozano. Desta vez, Chicharito mostrou a chamada jerarquia, excelente termo com que os irmãos da Pátria Grande definem jogadores que resolvem.

Son, aquele do Tottenham, porque coreano chamado Son deve ser algo na casa dos milhões, marcou bonito gol pra deixar seu nome na galeria das Copas. De todo modo, um time sem brilho, extremamente dependente deste jogador, e que terá de tentar de novo no Catar.

Um aspecto interessante, a ser averiguado na sequência do certame, é a condição física dos mexicanos. Aparentemente, estão na ponta dos cascos. Não é qualquer time que deixa coreanos deitados no chão de tanto cansaço ao final de uma partida.

Seis pontos e classificação que só não veio pela cagada que se lerá adiante. Mas o time de Osorio e seus mariachis esfuziantes já são nossa paixonite do grupo F.

Alemanha 2 x 1 Suécia – Deixando chegar…

Pra fechar a tarde, uma das partidas que o Brasil parou pra ver. Ao fazer tantas mudanças, algumas até inusitadas, Joachim Low deixou clara sua insatisfação com a derrota da estreia.

O que não mudou foi o ímpeto. De novo os alemães caíram matando. E de novo só podemos aplaudir a postura. Jogam como campeões, não querem saber de estudar adversários já estudados e tentam apavorar logo de saída.

O paredão sueco resistiu ao assédio. Numa boa estocada, Toivonen fez um bonito gol de cobertura e, dessa forma, já superou o insuportável Ibrahimovic em termos de história em Mundiais.

O drama estava desenhado e a partir daí passamos a torcer desbragadamente pelos suecos. Eliminações tidas como vexatórias são atração sempre irresistível.

O primeiro tempo foi embora e a cena do crime parecia montada: alemães resvalando para o desespero e suecos confortáveis com a situação. Naquele momento, o grupo estava liquidado.

Na volta, Marco Reus finalmente conseguiu fazer o que sabe numa Copa do Mundo. Ok, quem foi cortado de duas Copas e uma Euro por lesão merece um golzinho desses.

Mas o resultado continuava péssimo para o lado tetracampeão. A pressão seguia e o zagueiro Granqvist saía-se com uma atuação lendária. Bloqueava tudo e liderava seu time de forma exemplar.

O contra-ataque parecia pertinho de sair. Mais ainda depois de Boateng perder a paciência e varrer Berg com tudo.

Faltavam 10 minutos, era hora da tal frieza nórdica mostrar do que era feita. Segurar a bola, ousar um pouquinho só e matar o tempo ante uma cansada Alemanha.

Não foi o que aconteceu. Além da dificuldade em trocar passes com desenvoltura e ir passeando pelos espaços vazios do campo, os suecos se deixaram levar por uma tranquilidade que só seu IDH explica.

O jogo chegou aos acréscimos, hora em que a loucura supera largamente quaisquer aspectos táticos ou racionais. Os alemães também entendem disso, têm em seu histórico viradas e reações geniais.

Os suecos deviam saber. Tomaram uma bola na trave de Brandt já aos 46. Depois, ao perderem bola no ataque, apenas marcaram, em vez de, muito obviamente, assassinar a jogada no meio campo. Mas não. O último ataque alemão vinha incólume até que Durmaz, já quase na linha da área, tomou a providência negligenciada 50 metros antes.

Toni Kroos na bola. Ele certamente disse “foda-se”. O ângulo não era lá essas coisas. Mesmo assim, bateu com sua destreza de sempre e pôs lá dentro. Pois é só de vez em quando que camisa pesa. Tipo numa hora dessas.

Uma criança vizinha grita o gol. Fico estupefato na sala, pelos dois motivos. Se antes era bom ver os germânicos irem embora de forma inapelável, em duas rodadas, agora não há nada mais sedutor do que um Brasil x Alemanha logo nas oitavas para liberar de vez o caos pela terra da revolução. Que venha!

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Central 3 na Copa #12 Totó de colombianos e ingleses

O domingo que encerrou a segunda rodada da Copa e marcou a metade dos jogos disputados está debatido no Central 3 na Copa, escalado com Leandro Stein, Bruno Bonsanti, Leandro Iamin, matias Pinto, Vitor Birner e Joshua Law. Na pauta, os massacres de Colômbia e Inglaterra, além do empate bom entre japoneses e senegaleses.

Tá no ar!

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Central 3 na Copa #11 Virada alemã

O Central 3 na Copa da noite deste sábado falou muito da vitória da Alemanha sobre a Suécia, nos acréscimos, e também do 100% de aproveitamento do México e da Bélgica. A mesa também comentou o fim da segunda rodada neste domingo, com Paulo Junior, Leandro Stein, Bruno Bonsanti, Vitor Birner e Gerd Wenzel. Vem com a gente!

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Copa C3 | Dia 9, um turbilhão emocional

POR GABRIEL BRITO

Brasil 2 x 0 Costa Rica – O turbilhão

No maldito horário da manhã, que prejudicou fortemente o mercado de carnes e cerveja, o Brasil encarou sua primeira decisão de fato, isto é, uma partida em que era ganhar ou ganhar.

Sofreu mais que a conta, mas cumpriu a tarefa. Um 2-0 na Costa Rica não é pra se comemorar, exceto na exata circunstância em que se deu: gols nos acréscimos.

Sofrimento imprevisto, mas talvez necessário a um plantel que carrega um peso indissimulável do passado recente. Talvez seja melhor este elenco encontrar sua própria carga de responsabilidade em vez de tentar reparar aquilo que, a bem da verdade, nem o hexa pode nos fazer esquecer ou perdoar.

Ou seja, é preciso jogar a Copa da Rússia de acordo com os desafios do presente momento, e não para compensar problemas estruturais que se encontram em estágio praticamente irreversível em nossa pobre e espoliada pátria. Até porque, dialogando com o que comentamos a respeito da Argentina, podem chorar mil pitangas, mas no business que descaracteriza tudo ninguém mexerá.

E se há um obstáculo a caracterizar esta Copa do Mundo são os muros defensivos que os times da prateleira inferior têm erguido. As retrancas a exigir doses iguais de técnica e paciência já são uma marca.

A Costa Rica e seu paredão de cinco defensores, neste sentido, foram um bom adversário. Inclusive para testar o time emocionalmente, no que o camisa 10 brasileiro vem se mostrando uma figura temerária.

Como destacado no texto do amigo Paulo Junior, um aspecto negativo deste time é não ter um capitão de fato. O revezamento da tarja não traz nenhum bom augúrio.

Primeiro por evidenciar a ausência de líderes autênticos. Segundo por sugerir (o que está pra se provar) uma espécie de dependência emocional do treinador Tite, mestre na retórica que mistura moral do trabalho, autoajuda e espírito corporativo.

Com isso, somos obrigados a lidar com atletas tão milionários quanto carentes do ponto de vista intelectual e mental.

Parece até negativo o segundo gol, da prima dona Neymar, já depois dos 50 do segundo tempo. Lamentavelmente, é o bastante para vermos disparar o gatilho da fanfarronice midiática e bajulação a uma figura que está longe, longe mesmo, de ser ídolo.

O choro pós-jogo é piada, que me desculpem os sensíveis. Segunda rodada de Copa contra a Costa Rica e o sujeito que ousam comparar aos maiores de todos os tempos desaba assim no gramado?

Outra notícia no pós-jogo estarrecedora: o lateral Danilo, que deu lugar a Fagner, de atuação correta, passou mal pela tensão da partida. Se já era estranha a lesão que o tirou de combate após 90 minutos incólumes na estreia, agora parece tudo claro.

Quanto ao jogo jogado, tivemos um time muito apegado ao desenho tático no primeiro tempo, que fez apenas as movimentações de manual, para o que os costarriquenhos estavam preparados.

Na etapa final, Douglas Costa voltou melhor que o burocratizado William, que tem habilidade pra ir além do óbvio, mas não consegue decolar. O canhoto fez bem para o time e talvez ganhe a posição.

Tite também acertou ao sacar Paulinho e por Firmino para acompanhar Gabriel, considerando que do outro lado havia um time praticamente inofensivo. Trata-se da mesma base que fez uma campanha brilhante em 2014, mas envelhecida, sem nenhuma boa novidade individual.

Neymar mostrou que fora do mundo de Galvão e Arnaldo, inserções comerciais na TV e até no metrô, não goza de credibilidade alguma no universo futebolístico. Pela primeira vez vimos o recurso do vídeo fazer o árbitro voltar atrás em favor da defesa numa marcação importante.

A verdade é que o mundo não o reverencia. E Neymar, ao não querer arrematar em gol e se jogar pra trás no lance da discórdia, pareceu mais preocupado em vencer seu duelo particular com o árbitro.

Histérico, o atacante mais blindado da história do futebol brasileiro saiu de campo pendurado até eventual quartas de final. Adoraria que algum veículo de grande circulação fizesse a enquete: “você prefere o Brasil campeão do mundo com ou sem Neymar?”.

Ouso afirmar que um time sem ele e com Douglas pode jogar até mais leve. Sempre impaciente com certos padrões de comportamento a mídia britânica, mais especificamente a BBC em sua transmissão, fez uma interessante observação: “o time inteiro vive em torno dos dramas de Neymar e isso não deve mudar para os próximos jogos”.

Vitória e testes importantes. Porém, contra a Sérvia necessitada dos três pontos o sarrafo aumenta. No final das contas, o Brasil bateu o adversário mais fraco possível entre todos os que pode encontrar nesta aventura na Rússia.

E com este emocional…

Nigéria 2 x 0 Islândia – Musa ou Messi?

Ao meio dia, uma partida que se tornara dramática para a Argentina. Espirituosa, a população hermana fez todas as manifestações de apoio possível ao time africano, de tantos e tantos encontros em Copa.

O que parecia ser um jogo de dois times duros e pouco criativos acabou indo além. O primeiro tempo corrido e truncado se resumiu a lançamentos e cruzamentos infrutíferos, dando a entender que teríamos mais uma partida decidida por uma joelhada ou coisa assim.

Afeitos a este cenário, os islandeses pareciam mais perto do gol.

Mas veio o segundo tempo e os nigerianos foram capazes de resgatar um pouco de sua velha magia. Musa, autor de dois gols contra a Argentina no Beira Rio, apareceu com seu talento e resolveu a partida.

Primeiro no belo domínio que nem o zagueiro esperava, finalizado com arremate indefensável no quique da bola. Depois, após despachada da defesa aquela arrancada de que nem todos os mortais são capazes, com uma linda resolução.

A Nigéria e sua camisa energizada ainda se distraíram e deram a chance do bom Sigurdson registrar seu golzinho em Copa, mas o 10 do gelo repetiu Cueva.

Os Superáguias decidiram a partida em lances de pura força e velocidade. A seguir a desordem completa de uma Argentina desastrosa em todos os aspectos, que não sabe nem com quantos joga na última linha (ou em qualquer linha) os africanos já têm metade do caminho das pedras.

Aliviada, a torcida albiceleste comemorou o resultado de forma que já entra para o folclore desta Copa.

Agora, depende só de si pra se classificar. Mas a Nigéria também.

Suíça 2 x 1 Sérvia

Pra fechar o dia, o interessante confronto europeu do grupo brasileiro. Suíça-Kosovo-Albânia e Sérvia fizeram o jogo que se esperava, isto é, partida muito combativa, com a cara desta Copa, física, tática e psicológica.

Os aliados dos russos neste Mundial deram o famoso enquadro no começo, criando oportunidades e logo abrindo o jogo com Mitrovic.

Tadic, Ljajic, Matic e Milinkovic-Savic eram boas companhias e o time balcânico se assenhoreava do campo.

Mas o domínio não deixou novos frutos e, tal como contra o Brasil, os helvéticos entraram no jogo, o que depende de seus meio-campistas Xhaqa e Shaqiri, basicamente.

Ambos foram os personagens por todos os motivos possíveis. Fizeram os belos gols de um time que mandou no segundo tempo e ainda entraram pra memória das Copas do Mundo ao comemorarem com menções à bandeira da Albânia, de onde descendem e cuja relação com a antiga república iugoslava não é nada pacífica.

Ainda assim, não houve descalabro no estádio, tal como na partida entre Sérvia e Albânia pelas Eliminatórias da Euro, quando um drone com a bandeira vermelha e preta baixou no gramado, desatou a loucura e cancelou a partida no Estádio Partizan.

Voltando a Kaliningrado, estranho como um time recheado de bons jogadores desapareceu da partida. Cada seleção teve um tempo e o segundo gol suíço se deu em contra-ataque que simplesmente não se poderia tomar àquela altura do jogo, ainda mais em vantagem na tabela.

Dessa forma, o Brasil enfrentará um adversário duro e necessitado da vitória na rodada final. Já é mata-mata e não há mais margem de erro para desvarios emocionais.

Fora de campo

Quanto ao Kosovo, é mais uma daquelas nações que se filiou com plenos direitos primeiro à FIFA que à ONU, dado que grande parcela, inclusive o Brasil, como destacado por um incomodado Petkovic no Sportv, não reconhece sua independência. A Sérvia ainda reivindica o território, mas é muito difícil que a recente República volte atrás em sua marcha. A festa nas ruas de Kosovo e Albânia dizem o bastante.

De todo modo, vale rememorar a interferência ocidental em toda a década de 90 no processo de dissolução da Iugoslávia e nascimento de novas repúblicas. O antigo presidente Slobodan Milosevic, no comando de um país que não pretendia perder outro pedaço de território, foi acusado de crimes de guerra e genocídio nos conflitos bélicos do processo independentista kosovar.

No entanto, as tropas dos países acusadores cometeram crimes do mesmo tipo a granel na Bósnia, quando foram fomentar além da conta os separatismos dos anos 90 com suas tropas internacionais.

Neste sentido, os trabalhos do quadrinista Joe Sacco Área de Segurança: Gorazde e O Mediador: Uma História de Sarajevo, são marcantes, além de filmes como e “A informante”, dentre outros sobre o processo de separação da Bósnia, evidente elã da ruptura kosovar. Isso pra não deixar de fora “A vida secreta das palavras”, provavelmente o filme que mais me fez sentir mal numa sala de cinema.

Julgado no Tribunal de Haia por crimes de guerra e genocídio, Milosevic foi encarcerado por cinco anos, tendo falecido antes do veredito final. Depois, acabou inocentado pelo massacre de Srebrenica, movido mais a ódios étnico-confessionais do que por uma decisão do governo. De todo modo, o maior trauma da história europeia do pós-segunda guerra.

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O Jardineiro de Rosário

Por Leandro Iamin

É certo que em um dia desses últimos quinze ou vinte anos o jardineiro do Newell´s Old Boys, de Rosário, parou por alguns segundos o seu trabalho matinal no clube social e falou sozinho, para ouvir de si mesmo aquele absurdo: “Como é que deixamos Messi ir embora tão cedo, e por tão pouco?”. Regar plantas, sua principal rotina, vê-las crescendo, tomando forma para depois podá-las, era parte do seu trabalho, e sorriu quando encaixou em sua atividade a boa metáfora sobre o que o clube rubro-negro fez com a sua maior joia. “Cortaram essa planta cedo demais”. E seguiu a vida.

Hoje este jardineiro já não corta o jardim do clube com tanto lirismo. O Newell´s Old Boys, que começou a formar Lionel Messi mas não capitalizou com isso, simplesmente se encontra incapaz de lhe pagar em dia os salários. É a realidade dos clubes que não são o Barcelona e não vivem na gema européia. Nada de muito novo para quem nunca prosperou pra valer na vida, como este jardineiro de sonhos simples, desejos discretos, um bom almoço aos domingos, uma visita surpresa da filha com a neta, o pequeno jardim de sua casa bem cuidado, e, de quatro em quatro anos, se possível, uma seleção de futebol que redimisse a angústia de, por 3 anos e 11 meses, sofrer com o Newell´s Old Boys, representação futebolística fiel de sua pobre vida.

Falando em jardinagem, a lei do plantio e da colheita salva alguns ateus, como eu, da completa desconexão com questões relativas ao destino, ao intangível misterioso ou ao que você pode chamar do que quiser, mas não pode comprovar que existe. Crer que a gente um dia colhe aquilo que plantou de bom e de ruim dos sentimentos e pensamentos e ações às vezes serve como uma visita à igreja do vizinho mais beato. Se a seleção argentina de futebol sofre com esta lei tácita, eu não sei – nem o jardineiro de Rosário. O funcionário do teatro parece ansioso pra fechar as cortinas e encerrar finalmente uma história que saiu do controle dos atores. No futebol, o fim significa sempre também um recomeço, a chegada de uma geração nova, mas não adianta pensar nisso quando estamos falando do fim de Messi. Deste não há dois.

O tempo de Messi na seleção argentina durou quatro Copas. Ainda dura, posto que tem jogo pela frente, e ainda pode durar, apesar de todos os indícios apontarem para a aposentadoria da seleção por parte do pequenino craque após os dias na Rússia. Ele volta para Barcelona em julho, e resta torcer por um vestígio de dignidade no fim deste ciclo à frente da seleção – dignidade esta arrasada por uma Croácia impiedosa. Como estão postas as coisas hoje, não está legal. Ele e seus Mascheranos Alados se vêem ridicularizados, machucados pelo descrédito nacional, açoitados pelas circunstâncias que não passam só por eles, prestes a se tornarem mesmo, efetiva e irreversivelmente, a face da geração que não ganhou nada, zero, nenhum título pela seleção argentina de futebol, sempre tão orgulhosa de suas glórias.

É curioso, pensa o jardineiro, que Messi volte para Barcelona e, de lá, assista nas redes sociais a primavera argentina, quando esta gente, apesar de toda a crise, pode abrir a janela e ver as cores de suas flores. Em Barcelona já será outono, quando secam e morrem – para renascer – as flores do jardim do craque. O jardineiro, como todo argentino que se preze, não vai abrir mão de encontrar algum lirismo no drama. Messi foi longe demais como jogador, um monumental jogador, e está perto de fazer o mesmo com sua narrativa dramática de celeste-e-branco. Ainda tem bola para rolar, e já já podemos estar falando de uma reviravolta, classificação e um espetacular Argentina x França pelas oitavas de final. Um jogo no qual Messi será a melhor versão de Messi, colocando a Argentina toda capenga, mas digna, na última semana do Mundial. Vai saber?, pergunta o jardineiro.

A França de 2006, teimosa, passou de fase sem merecer, e achou o rumo da noite para o dia. Zidane estava se aposentando, e levou o time até a final, de onde saiu com uma cabeçada em Materazzi. Já o Brasil de 2014, infame, passou de fase sem merecer e se arrastou até dar de frente com um 7×1. Querer a continuação do drama é aceitar estas duas possibilidades. É disso que se trata o jogo entre Argentina x Nigéria, terça-feira. Prefiro sempre a opção na qual resta a Messi um pouco mais de bola para jogar, mas posso estar sendo egoísta. Às vezes a hora é de fazer a poda, cortar as folhas, fechar os ciclos e plantar o novo. O jardim do futebol argentino já passou por outros invernos severos.

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Xadrez Verbal #146 Direitos Humanos

Matias Pinto e Filipe Figueiredo recebem o historiador Andrew Traumann, autor do recém-lançado livro Os Colombianos, para comentar o resultado eleitoral no nosso vizinho. Quais incógnitas que ficam e o que a vitória de Ivan Duque representa?

Falando em eleições, fomos até a Turquia, onde teremos pleito neste final de semana. Quais os principais candidatos e o que muda no país, que agora será presidencialista?

Já no bloco principal voltamos aos EUA, com a saída do país do Conselho de Direitos Humanos da ONU e a repercussão da política migratória no que concerne crianças. Afinal, alguém tem razão ou é política partidária?

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Dia 8 – Veias abertas

por Gabriel Brito

Dinamarca 1 x 1 Austrália – o amigo e o inimigo do VAR

Iniciamos os trabalhos com um confronto leve antes das partidas que envolveriam dois representantes sul-americanos.

O golaço de Eriksen logo de cara deu a entender que começaríamos a ver a famosa Dinamáquina funcionar de forma mais eloquente, após vitória com impressionante dose de “sorte” na estreia.

Mas foi alarme falso. Os australianos são duros na queda, têm a força física e organização tática que já são marca de uma Copa onde os pequenos não tremem.

Novamente o VAR fez a alegria dos socceroos e a tristeza do time nórdico, em especial do ligeiro Yurari Poulsen, que se de um lado fez o gol do triunfo inicial tomou dois flagrantes das câmeras.

Jedinak, certamente um dos incorrigíveis entusiastas do advento tecnológico, igualou.

No segundo tempo, definitivamente o time da ilha-continente mostrou que não estava a passeio e acuou os europeus. Ainda que sem brilho, mereceram a virada.

E a Dinamarca soma 4 pontos quando poderia estar zerada, pensando num roteiro de férias por ali mesmo. Delaney esteve mal, Eriksen, apesar do gol, não conseguiu levar seu time adiante e o autor dos dois pênaltis, suspenso da partida com a França, perdera o brilho no meio do caminho.

França 1 x 0 Peru – Dor e injustiça

Missão ingrata do time mais bem representado nas arquibancadas. Mais uma vez o Peru jogou bem, colocou toda a alma em campo, teve boas atuações individuais, nas não viu nada disso se efetivar no placar.

Deschamps melhorou o time. E que timaço. Sacar o ainda verde Dembelé pelo maduro Giroud fez bem, pois permitiu a Griezman jogar mais fora da área e dialogar com seu meio campo. Atacante completíssimo esse.

Matuidi no lugar do jovem Tolisso também compensou, tanto pela técnica como pelo combate ao colossal Advíncula, importante escapa peruano. Pogba parece melhor com tais companhias.

Com Guerrero de volta, o time de Gareca, cujo trabalho merece aplauso, contou com sua formação ideal, apesar do desfalque do volante Tapia.

Jogo lá e cá, dos melhores da Copa. A França contou com a sorte no lance que terminou no gol de Mbappe.

A partir daí, era duro ir atrás do resultado contra um time tão repleto de recursos. Mas o Peru foi à luta, até o final, botando bolas na trave, perto do arco, parando em Lloris, enfim, fez de tudo e ficou sem nada.

Cueva duelou contra o fortíssimo e bom de bola Kanté, se entregou e fez todo o possível para compensar o pênalti que marcará o resto dos seus dias. Os pontas Flores e Carrillo criaram e agastaram seus marcadores incessantemente, dois bons jogadores. Entraram Farfán, Ruidiaz e nem parecia que do outro lado havia um timaço, por mais que os bleus também tenham ameaçado fazer o segundo.

Deu tristeza, tanto por time como torcida. Esta, jogou junto de verdade – porque tem relação de verdade com o time, ao contrário dessa farsa verde-amarela que dizem que agora aprendeu a balbuciar uma ou outra canção.

Eliminação dolorosa. Mas a vitória contra a Austrália é necessária. Todos merecem.

Croácia 3 x 0 Argentina – O cambalache

Um desastre absoluto a derrota da albiceleste para o bom time croata. Só podemos fazer a mesma leitura que o 7 a 1 nos obrigou: um futebol descaracterizado, europeizado, com atleta alienados da realidade que, dessa forma, perderam aquilo que defini como “senso de urgência na vida” na sala do nosso amigo Paulo Junior.

Não representam mais o povo que veste a mesma camisa, pelo simples fato de que vivem vidas dionisíacas demais para sentiram aquilo que ainda desejamos quando vestem uma camisa com o escudo da federação nacional, em puro e simples passe de mágica.

E no futebol cada vez mais científico nossos apelos à magia e à mística de antes são cada vez mais patéticos, lunáticos.

Mais patéticos ainda se sabemos de todo o processo argentino que desaguou nesta Copa. Como dito por um jornalista hermano, “queremos milagres, mas o milagre é a Argentina ter chegado à Copa”.

Três técnicos depois do vice no Maracanã, de estilos totalmente desconectados um do outro. Uma geração que claramente já tem a cara da derrota, um Mascherano cansado e incapaz de liderar outra epopeia, Aguero e Higuain indecifráveis. E Messi. Que cara foi aquela no hino, se não a da derrota antecipada, da depressão profunda na alma?

De resto, Sampaoli armou contra a Islândia o time que deveria enfrentar a Croácia – linha de 4 trás, meio mais preenchido e Messi no centro de tudo – e vice-versa.

O time axadrezado é bom, tem jogadores até melhores que a Argentina no meio campo. Neste aspecto, a vizinha simplesmente acabou. Exportou tanto, formou tanta gente apta a ser vendida de acordo com as demandas do mercado europeu e seu modo de jogar que, quando foi olhar o estoque, viu que não dispunha de volantes decentes. Enzo Perez ser resgatado a essa altura da vida é mostra cabal.

Como estudante que leva tudo na flauta e na hora do grande exame quer acertar tudo, a Argentina quis aplicar uma complexa ideia de jogo sem o menor lastro anterior. Caballero já ensaiara a cagada histórica que abriu o jogo. Mas o tiki taka virou fetiche né? Mesmo quando você não treinou, não se preparou. E o bom Armani ficou no banco porque um veterano arqueiro tem nome na Europa. O segundo gol jamais aconteceria também. Explosão zero de Willy.

Como dizem os acadêmicos da análise, a partir do primeiro tento o jogou ficou ao feitio dos “controladores” Modric e Rakitic. Que de fato mostraram-se excelentes. A questão é: em que ponto da história a Argentina deixou de ser capaz de formar jogadores dessa estirpe? E por quê?

Quando finalizava o texto, vejo que Sampoli corre risco de demissão antes da terceira rodada. E que Messi foi o segundo argentino que menos tocou na bola na partida.

Dito isso, se somamos o 4-0 pra Alemanha em 2010 com a debacle de Nizhny Novgorod, temos um 7 a 1 na vizinhança também, simbolicamente falando.

Naquela vez, o grondonismo senil achara bacana a ideia de colocar o chefe da torcida em 2006, no caso Maradona, como técnico. Agora, o pós-Grondona lembra nosso pós-Teixeira, a reafirmar a velha máxima de que nada é tão ruim que não possa piorar.

Nosso futebol exportação é uma tragédia. E, como tentamos avisar em 2014, não pensemos que haverá mudanças estruturais. Isso tudo dá dinheiro como nunca. Para “ellos”, o futebol-mercado é uma delícia. Tais vexames são apenas estorvos circunstanciais. Não tenhamos dúvida: farão de tudo pra que continue assim.

Num futebol que reflete cada vez mais as relações globais do mundo ditado pelo capital, neste rubro, onde encantávamos o planeta, também aceitamos o papel subordinado de exportar o que temos de melhor a troco de (para os torcedores) nada.

Aguardemos a AFA exigir a padronização do campo em 105 x 68 metros, ordenar que as redes dos gols sejam todas iguais e todos assistam ao jogo sentados. São uns desgraçados.

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Lágrimas Sudacas

Desde que a Copa do Mundo passou a contar com cinco seleções sul-americanas, a partir da edição de 1998, esta foi a pior estreia do Brasil e seus hermanos, contrariando a expectativa das respectivas hinchadas, pois tirando o Uruguai – curiosamente o único que venceu e classificou-se – os demais países estão no Top 10 de vendas de ingresso: Brasil (3º), Colômbia (4º), Argentina (7º) e Peru (9º).

O caso dos peruanos é o mais emblemático. Sem disputar a competição há 36 anos – aproximadamente 67% da população do país nunca tinha visto La Blanquirroja em um Mundial – a equipe comandada por Ricardo Gareca já está eliminada, restando um jogo para cumprir tabela contra a Austrália. Apesar da frustração, os incas deixaram uma boa impressão na Rússia e mostraram atuações coesas, jogando de igual para igual com dinamarqueses e franceses.

Ao contrário dos argentinos, que pouco agrediram a Islândia e tomaram um baile da Croácia. Resta torcer por um tropeço dos islandeses diante da Nigéria, para depender apenas de uma vitória sobre os africanos e ainda tirar a diferença no saldo para os nórdicos, que enfrentam os líderes croatas.

Mas é justamente esta dependência que aflige os albicelestes, já que nenhum jogador teve atuação destacada nas duas rodadas, marcadas pelos erros de Caballero, o nervosismo do sistema defensivo, a pouca combatividade do meio-de-campo e a falta de tranquilidade do ataque.

Em relação aos cafeteros, a avaliação é mais complexa devido às circunstâncias que levaram ao primeiro gol japonês. A expulsão precoce de Carlos Sánchez – ironicamente, já que é um jogadores que mais se doam no plantel de José Pekerman – seguida do pênalti convertido por Shinji Kagawa, fez com que a Colômbia corresse atrás do resultado, jogando mais de 80 minutos em desvantagem numérica. O empate transitório veio na vivacidade de Juan Quintero, mas a primeira vitória asiática diante da América do Sul se deu numa pane defensiva aproveitada por Yuya Osako.

A atual generación dorada já dava sinais de declínio ainda nas Eliminatórias, e no equilibrado e imprevisível Grupo H não seria surpresa que os colombianos acompanhassem peruanos e, provavelmente, argentinos em um retorno antes do esperado para o nosso continente.

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