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Central 3 na Copa #04 Sabadão

O Central 3 na Copa da noite deste sábado falou dos quatro jogos da Copa do Mundo – vitórias de França, Dinamarca e Croácia, empate entre Argentina e Islândia – com um time de peso: Paulo Junior, Felipe Lobo e Bruno Bonsanti receberam Vitor Birner e Gerd Wenzel para tratar também, claro, das estreias de Brasil e Alemanha amanhã.

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Cristiano Ronaldo, um adulto

Por Leandro Iamin

Era justo o ranço com Cristiano Ronaldo, pré-millenial em um mundo novo, já tão adaptado às coisas que pareciam nos ferir – porque se adaptar ao novo muitas vezes machuca. Ele exagerava no gel, olhava demais para o telão, preferia um bom drible a um gol decisivo e, afinal de contas, “nunca ganhou nada na carreira, tá achando o quê?”. Ele apanhou bastante de uma parte da opinião pública mundial engajada em um contraponto aos majoritariamente jovens que se identificavam com sua prática estética do jogo. E a forma como reagimos ao escarro explica um pouco de como desfrutamos os beijos.

É preciso ter ouvidos. Cristiano tem, e teve. Se o mundo reprova o que eu faço, eu preciso repensar. Então, cada vez que o gajo se viu criticado ou, pior, colocado em dúvida, o mundo do futebol acabou, no momento posterior, tendo a sua devida resposta. Não um “cala a boca”, mas uma resposta. O CR7 que diz “eu estou aqui” nos gols é dono de uma marra que a gente gosta quando é do nosso lado, mas nunca foi disso que se tratou para ele. Se hoje é um atacante completo, creditemos sua evolução à sua incansável busca por melhorar. Entre o Cristiano pontinha driblador e o centroavante absurdamente eficiente existem alguns anos de dedicação devidamente fomentada pelo inconformismo em ser rejeitado. Ele se negou a ser rejeitado, e o fez da melhor forma. Parecia só marra, mas tinha muito mais.

Pois sua imagem mudou, e muito. Passa, fora de campo, imagem oposta àquela que achávamos que passaria quando tinha 20 ou 22 anos. Se tornou um líder, um capitão de seleção de conduta realmente notável, desdizendo quem o rotulava como um ególatra incorrigível. Sua autoestima opressiva e angustiante não o transformou, no final das contas, em uma figura intragável, pelo contrário, e Ronaldo se relaciona com fãs e mídia de um jeito menos afetado do que poderia se supor lá atrás para alguém com tantos fãs e tantos anunciantes ao redor. Trocando em miúdos, Cristiano Ronaldo era moleque quando tinha idade para ser moleque e se tornou adulto na hora de virar adulto. Amadureceu o seu jogo, aperfeiçoou o dito cujo, e nos dias mais áridos se alimentou de nós, críticos dos detalhes, cujos apontamentos negativos foram encarados como pista para a solução de suas imperfeições. Em um futebol de eternas crianças, ele teve a idade que tem, sempre.

O amontoado de músculos chamado Cristiano Ronaldo ganhou muitas taças, fez muitos jogos e gols decisivos e entregou o que o povo mais pragmático da bola lhe exigia: marcas, números, recordes, algo a mais. Os críticos de Cristiano Ronaldo só poderão ainda resistir se forem tão engajados na negação a CR7 quanto o próprio foi comprometido  em atender e responder esta gente – aos quais me incluo – que um dia achou que o craque português se perderia na carreira e se tornaria só mais um entre tantos, com sorte um Quaresma, nunca um Nani, léguas distante de Figo. Os três gols de Cristiano Ronaldo em Sochi entram para a primeira prateleira da história das Copas do Mundo. Ele está na prateleira onde dorme Eusébio.

A imagem vem de Moscou, por coincidência capital da anfitriã da Copa: em 2008, o Manchester United vence, nos pênaltis, a Champions League. Cristiano Ronaldo, que perdera a sua cobrança, chora exageradamente e sozinho enquanto os companheiros se abraçam. Na época, Ronaldo foi acusado, por exemplo, de querer as câmeras só para si, de fazer muitas caras e bocas para as lentes, de não se desligar do show mesmo na hora de maior emoção. Pode ser, quem duvidaria? Na final da Euro em 2016, lesionado, ficou ao lado do técnico a prorrogação inteira, gesticulando, claro, consciente das imagens que renderia ao público – mas agora já seria preciso algo mais potente do que isso para criticá-lo. Ele gosta de aparecer, com certeza. Acontece que ele gosta de jogar futebol também, gosta muito, e poucos fizeram tanto esforço para ocupar a seleta lista que hoje ele ocupa. Em gratidão à isso, a gente “perdoa” o resto.

Então ele sofre a falta, pega a bola, levanta o calção, dá passos para trás, abre as pernas, exibe as coxas, respira fundo, olha para o telão, respira fundo de novo, passa a mão na testa, faz biquinho, olha de novo para o telão, e, vejam só,  isso agora parece não nos incomodar tanto. Porque Cristiano Ronaldo faz o gol e está lá, e ama estar no lugar que a gente gostaria de estar se pudesse escolher.

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Copa C3 | A Hora Fatal e O Jogaço

Dia 2 – A hora fatal e o jogaço

Por Gabriel Brito

Depois do piquenique russo no jogo de abertura, a sexta-feira trazia de fato o início do Mundial e o mergulho total em guias, matérias, escalações e fichas técnicas. Três partidas no cardápio, agora sim é Copa.

Logo cedo, nosso querido Uruguai, o paisito onde a vida anda com mais vagar e lucidez, ninguém traga a erva mate mais rápido por causa de algum ônibus. De outro lado o não menos simpático Egito, de volta à Copa depois de 24 anos, após participar das duas Copas da Itália.

Impossível não começar a falar da partida em Ekaterimburgo pela estrela da companhia faraó (curiosamente, o povo que fez Outubro assim definia os policiais do czarismo).

Diante das fragilidades da equipe rubro-negra, só podemos pensar que Mohamed Salah, o melhor jogador do mundo nesta temporada, está em condições realmente muito preocupantes. A ver como – e se – chega à decisão da rodada seguinte, quando seu time terá de ganhar da Rússia.

Como Hector Cúper sempre foi um notório pragmático, talvez tenha calculado que a derrota para a Celeste Olímpica era o resultado mais factível, ao passo que somar seis pontos nas demais partidas há de ser o pulo do gato. Pode ser, mas que pecado a sensação do ano não poder jogar a full o campeonato da vida de um país inteiro.

Já o Uruguai, sofreu com o início tenso e seu novíssimo meio de campo um tanto travado. Quem ouve o Conexão Sudaca sabe que rogamos uma renovação neste setor. Ela não se deu nas Eliminatórias. A velha guarda garantiu a vaga, mas agora a falta de rodagem pode ter preço.

De toda forma, Carlitos Sanchez no lugar de Nandez parecia a opção ideal desde o início. O campeão da Libertadores 2015 tem gás, técnica, chegada e está no auge da carreira. Arrascaeta poderia ter ficado mais minutos em campo, mas pelo menos o velho de guerra Cebolla Rodriguez entrou bem.

Se não é sofrido, o Uruguai nem vai, dizem. Verdade, mas os discípulos do maestro Tabarez dominaram toda a partida contra um time esforçado e carente de qualquer refinamento técnico. Impressionante a quantidade de contra-ataques que o Egito perdeu logo na construção, o que de certa forma ajudou os charrúas a se jogarem de vez pela vitória.

Se Suárez, sempre sanguíneo em campo, estivesse mais fino, o jogo se encaminharia mais cedo. Teve de ser pelo alto, no gol do excelente Josema Gimenez. O time tem bala pra crescer.

Fora de campo

País apaixonadíssimo por futebol, o Egito é mais uma dessas nações que vive sob feroz ditadura militar omitida nos noticiários da nossa mídia liberal (só na economia). Desde a queda de Hosni Mubarak, que passou 25 anos no poder, em 2011, quando a primavera árabe era primavera, o país vive instabilidade política, protestos massivos que já geraram milhares de mortes e eleições teleguiadas para manter o status quo.

No último processo eleitoral, realizado sob forte boicote popular, vitória fajuta do candidato dos militares. E o silêncio por aqui continuará, ao menos enquanto um dos berços da humanidade seguir submisso aos movimentos de Estados Unidos e Israel.

O crime de Estado na partida do campeonato local de 2012 contra a torcida do Al-Ahly, que visitava o Al Masry de Port Said e deixou 74 mortos nas arquibancadas, é um dos episódios mais sombrios da história do futebol.

Marrocos 0 x 1 Irã

Jogo que para os menos fanáticos traz mais atrativos fora do que dentro das quatro linhas, a partida do almoço é a pior até aqui. Esperávamos mais do Marrocos, fruto inusitado do êxodo de sua empobrecida população para o solo europeu, que em rara retribuição aos esbulhos históricos ajudou a formar uma geração de bons atletas para o reino magrebino.

O começo até prometeu, a superioridade técnica fez o Leão do Atlas dominar o primeiro tempo, a ponto de abrir mão de um dos três zagueiros no desenho tático, mas os persas se seguraram. Raça e coração nunca faltam à seleção iraniana, que quase terminou em vantagem quando Azmoun saiu na cara do gol e parou em El Kajoui.

O segundo tempo foi definitivamente caso perdido e, salvo um ou outro arremate, o jogo se arrastava para um merecido zero a zero. Mas os deuses do futebol resolveram adiar o primeiro placar em branco da Copa e, novamente, um gol (esse contra) em bola aérea nos estertores premiou o dedicado quadro de Carlos Queiroz (um dos quatro técnicos de 2014 que voltou ao Mundial).

Confesso minha pequena decepção. Gosto mais do jeito norte-africano de jogar futebol. Mas não houve superioridade de fato.

Fora de campo

Não preciso dizer que a República Islâmica ainda mantém tratamento detestável às mulheres, proibidas de irem a estádios de futebol, num país que também cerceia movimentos políticos democratizantes. Quando se é inimigo do papai do norte a notícia chega.

O que vale destacar é a causa do Saara Ocidental, território entre Marrocos e Argélia, já ocupado em certos momentos por tropas da ONU e que reivindica autonomia nacional desde os anos 70. A Palestina africana, me permito classificar (a bandeira do pretenso país é quase igual). Mas o reino sunita não tolera tal movimentação e exige se apoderar dessa pobre terra (mas rico subsolo).

É nisso que reside o recente rompimento diplomático entre os adversários do dia. Ambos retiraram seus diplomatas das contrapartes. Basicamente porque o Marrocos acusa o Irã de facilitar a passagem de armas para a Frente Polisário, movimento que luta pela independência local. E considerando que o país dos aiatolás não é de se omitir nas querelas regionais, não duvidamos. De todo modo, a autodeterminação dos povos continua a ser uma boa bússola.

O jogaço – dos times e do “homi”

Maravilha de jogo o clássico ibérico. Daqueles que justificam a ansiedade pela chegada da Copa do Mundo, o estoque de cerveja e as fugas dos compromissos da vida.

Jogo ótimo que não precisa de edição caprichada nem discursos inflamados de narrador chato. Do começo ao fim, times em brasa em busca do gol. Esperto, Cristiano Ronaldo tratou de logo ir pra cima do mais inexperiente espanhol, o lateral que faria um golaço mais tarde, e arrumou um providencial penal para por os lusos na frente.

Superior, mas nem tanto, a Espanha tratou de por em prática sua marca que virou um fetiche mundial. A escola e a ideia permanecem, mas ouso dizer que aquele tiki taka não existe mais. Claro que há resquícios e, mais que isso, uma confiança dos atletas em aplicar este estilo de jogo, verificável na liga local.

Posso me equivocar e terminar dando razão aos defensores da Fúria – Roja é o Chile. Mas tenho dificuldades em achar que a Espanha dispõe de jogadores realmente excepcionais. Iniesta segue magistral, mas não deve ter folego pra decidir as paradas mais pesadas. Os demais são jogadores competentes, não muito mais.

E vou seguir implicando com os pontinhas de pé trocado que terminam girando e tocando pra trás, como David Silva e Isco em algumas ocasiões que afastaram o time de um possível quarto gol em nome da tara da posse de bola.

O tempo dirá: parece que quanto mais passar, mais aquele período 2008-2012, que teve no gol de Iniesta em Johanesburgo seu ápice, brilhará na história da seleção subitamente comandada por Hierro.

O frango de Gea desviou, para melhor, o roteiro do jogo. Portugal cedeu o empate e a virada quando de fato era dominado. Mas vale lembrar da chance que Cristiano ofereceu a Gonçalo Guedes pouco antes do golaço de Diego Costa. Pepe quis ser malandro, mas voltou a falhar na estreia, tal como em sua expulsão que abriu caminho para o 4-0 alemão em 2014. E o novo gol de Diego era daqueles que, quando se está em vantagem contra um grande time, deve-se dar um jeito de evitar.

Posto isso, Cristiano foi lá e arrancou a falta que determinou o empate. Batida brilhante, coisa rara no futebol atual um gol por cima da barreira quando a falta é perto demais da área. Aliás, Cristiano fez aquilo que muitos de nós reclamamos: jogou sem posição, não se conformou em esperar a bola no lugar perfeito. Em sua 14ª partida de Copa, a exibição de fato memorável, numa partida que constará entre as mais belas. Era necessário, digamos assim.

A Espanha ainda tem a provar. Portugal, no que também me parece parte da explicação da excelente atuação de Cristiano, se renovou bem e tem um time até melhor que na Euro 2016. Devem fechar com sete pontos.

Que venha o verdadeiro sábado de aleluia.

Gabriel Brito é jornalista e editor do Correio da Cidadania. Na Central 3, é da equipe do Conexão Sudaca, todas as sextas. Ao longo da Copa, escreve na casa, sobre Copa, é claro!

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Xadrez Verbal #145 Singapura

Sua revista semanal de política internacional em formato podcastal chegando em clima de Mundial (de Futebol)! Matias Pinto e Filipe Figueiredo vão até Singapura, onde ocorreu o histórico encontro entre Kim e Trump. Quem disse o quê? O que foi assinado? Quem ganhou? O que vai acontecer agora? Quem é Dennis Rodman? O que a Coreia do Sul achou? Quem comeu costela? Todas essas perguntas serão respondidas no programa de hoje.

Recebemos nosso amigo da Flórida, Gustavo Rebello, que comenta sobre os referendos e votos populares dentro dos EUA, especialmente a proposta de divisão da Califórnia em três estados diferentes. Também fomos até o G7, no qual Trump e Trudeau trocaram farpas após o encontro, com a retirada dos EUA da declaração final. Aproveitamos e passeamos pelas notícias dos países integrantes além de um Menino Neymar que não é rei fecham o programa.

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Central 3 na Copa #03 Três Vezes Ronaldo!

Portugal, 3, Espanha 3. Cristiano Ronaldo em noite imensa, Espanha jogando bem, empate no final e uma certeza: foi uma partida memorável em Sochi, um empate que quem viu, viu. Este jogo, e os outros do dia, estão na pauta do Central 3 na Copa!

Deu Uruguai aos 44, deu Irã com gol contra aos 49, o dia estava carente de um jogaço, mas não de emoção. No fim, teve as duas coisas no jogaço da noite, e para falar sobre o dia de Copa estiveram Roberta Nina, das Dibradoras, Felipe Lobo, da Trivela, Felipe Bigliazzi, Matias Pinto e Leandro Iamin.

Tá no ar!

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Central 3 na Copa #03 Tres Vezes Ronaldo!

Portugal, 3, Espanha 3. Cristiano Ronaldo em noite imensa, Espanha jogando bem, empate no final e uma certeza: foi uma partida memorável em Sochi, um empate que quem viu, viu. Este jogo, e os outros do dia, estão na pauta do Central 3 na Copa!

Deu Uruguai aos 44, deu Irã com gol contra aos 49, o dia estava carente de um jogaço, mas não de emoção. No fim, teve as duas coisas no jogaço da noite, e para falar sobre o dia de Copa estiveram Roberta Nina, das Dibradoras, Felipe Lobo, da Trivela, Felipe Bigliazzi, Matias Pinto e Leandro Iamin.

Tá no ar!

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Copa C3 | Dia 1 da Copa que eu não decorei

Por Gabriel Brito

Vigésima primeira Copa do Mundo, sétima da minha vida, primeira com a pequena Ana Cecília no colo. Certamente o Mundial com o qual me sinto menos envolvido. Dei conta disso ao notar que nem de perto havia decorado os grupos. O que se mantém igual é a pretensão de assistir a todos os jogos.

Os motivos deste aparente desencanto podem ser vários, desde o cansaço que o futebol-negócio nos causa até a vertigem alucinante de um futebol brasileiro que teve o jogo mais importante do campeonato nacional 12 horas antes da partida de abertura. E cujo êxodo, a ponto de formarmos garotos que antes de construir qualquer história com a camisa de um grande clube não têm pejo de assumir seu sonho europeu, sem dúvida alguma nos tira um pouco das energias de outrora.

Posto isso, lá estava eu diante da tevê a conferir mais uma chatíssima cerimônia de abertura, desta vez com o mérito de ter sido mais curta que as anteriores.

Em campo, uma partida de abertura que nada prometia e talvez por isso mesmo tenha sido tão leve. Rússia e Arábia, essa sem dúvida, não convertem suas portentosas economias em talento futebolístico.

No primeiro caso, estranho, pois investimento no futebol não faltou nos anos 2000. Desse modo, a seleção e sua bela camisa vermelha ainda carregam destaques da Euro-2008, sua única boa campanha da era pós-soviética.

O lado saudita é de dar pena. Time inexpressivo, comandado por monarco-oligarcas que fazem o que querem com esse jogo de bola. Revoltante ver o técnico do meu Corinthians trocar um trabalho que já era histórico em nome de um “projeto” num país no qual uma mulher não pode sair na rua, o que ajuda a explicar a introdução do texto, óbvio.

Considerando o tradicional nervosismo que qualquer time local tem em abrir o maior campeonato de todos, um adversário perfeito.

Assim, o 2–0 do primeiro tempo veio sem grandes segredos. No primeiro gol, a impressão de empurrão de Gazinskyi foi logo desmentida pelo replay; foi só escorregão do zagueiro. No segundo, uma manjada saída de jogo de um time que não prima pela velocidade foi parar no golaço de Cheryshev. Capacidade de recuperação próxima de zero dos sauditas.

O terceiro gol reitera essa fragilidade física, quando o zagueiro não salta uma gilete e Dzyuba marca. Fim de papo. Os dois gols depois dos 40 minutos, a selar a goleada, reforçam a ideia de que o time da monarquia fundamentalista é o pior de todos no aspecto físico.

Destaque para Cheryshev, improvável herói saído do banco ainda no primeiro tempo, com dois golaços. Ambos com classe e bonitas definições.

E também para a transmissão feminina, sob o comando da voz da narradora mineira Isabelly Moraes, na FoxSports, por onde vimos este cotejo inaugural. Essa é a boa lufada de ar nas transmissões e, principalmente, em nossa combalida cultura machista, ainda mais em tempos de jornalismo mais afeito ao estúdio do que às ruas.

Fora de campo

Para além das quatro linhas, impossível ignorar a política em países tão marcados por regimes autoritários que frequentemente mexem no tabuleiro geopolítico.

Mais ainda ao depararmos com a foto das tribunas, com Giovanni Infantino, presidente de uma FIFA que faz de conta que os tempos são outros, em meio ao novo e todo poderoso príncipe do reino Mohamed bin Salman e o inefável Vladimir Putin, presidente e autocrata do país-sede.

Na grande mídia, não faltam debates sobre o déficit de democracia russo e as manifestações de intolerância, especialmente racistas e sexistas, que podem marcar esses dias de “confraternização dos povos”. Até aí beleza, mas parece até que vivemos um éden democrático por aqui.

Ver a Globo falar em cerceamento à livre-manifestação e lembrar do que houve por aqui nos protestos contra a Copa, inclusive no dia de abertura, quando uma manifestação na zona leste foi massacrada pela Polícia Militar de São Paulo, é de chorar. Lembrar do papel do jornalismo hegemônico no ciclo de 2014 é pra chorar mais ainda.

Mas o que mais impressiona é ver a presença de Bin Salman não suscitar discussão alguma sobre o que se passa no reino do petróleo. O processo sucessório que levou o atual príncipe ao poder, com direito à prisão e até torturas de membros do alto escalão da dinastia nas lutas intestinas pelo poder, é coisa que faz da Lava Jato brincadeira de criança (ver aqui e aqui)

A prisão de lideranças feministas locais que lutavam pelo singelo direito de dirigir sem autorização de pais, irmãos ou cônjuges não poderia passar batida. O detalhe é que no fim deste mês tal direito será enfim concedido, o que não quer dizer que o despotismo tenha descansado. Os monarcas querem os louros de sua “generosidade” (ver aqui).

Por fim, cabe constatar a semelhança do público, ordeiro e “família”, com aquele das últimas copas. De fato, um evento com cara cada vez mais corporativa, em estádios cujo padrão arquitetônico já são uma marca. Tristes tempos em que batemos o olho no campo e não conseguimos distinguir o estádio e cidade, como se o videogame tivesse superado a realidade.

De toda forma, a bola rolou. E assim será até 15 de julho.

Gabriel Brito é jornalista e editor do Correio da Cidadania. Na Central 3, é da equipe do Conexão Sudaca, todas as sextas. Ao longo da Copa, escreve na casa, sobre Copa, é claro!

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Lado B do Rio #64 – Roleta da Pistolagem NA COPA

A Copa do Mundo começou, mas as notícias não param. Muito assunto para tratar, já sabe né? É a ROLETA DA PISTOLAGEM DE VOLTA. Enquanto a gente grita gol, a Argentina aprova o aborto, o Ciro Gomes corteja o DEM e o assassinato de Marielle Franco completa três meses sem nenhum culpado identificado. Esses e outros assuntos no Lado B do Rio #64!

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Cine #102 As Boas Maneiras

O Central Cine Brasil desta semana, gravado em 14 de junho, conversa com Juliana Rojas e Marco Dutra, diretores de As Boas Maneiras, em cartaz desde o último dia 7. A bancada com Paulo Junior, Lucas Borges e Bruno Graziano debate o premiado filme e também repercute o Cine PE e a Mostra Ecofalante.

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Central 3 na Copa #02 Rússia 5×0

O Central 3 na Copa da noite desta quinta-feira repercute a abertura do Mundial, com cerimônia rápida e goleada da Rússia sobre a Arábia Saudita por 5-0. A mesa – Paulo Junior, Leandro Iamin, Felipe Lobo, Leandro Stein e Xico Malta – também falou dos jogos do segundo dia, claro, com a estreia do Uruguai e o clássico entre Portugal e Espanha. O Central 3 na Copa é diário, acompanhe!

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Desqualificadas #04 Maternidade Real

Episódio #03 – Maternidade Real

As desqualificadas Camila Cabete e Beatriz Alves convidam a qualificada Cassia Carrenho, produtora de eventos e fundadora da escola LabPub, totalmente EAD e voltada para o mercado editorial. Ah, e também mãe de 3 filhos adolescentes!!! Maternidade real, sem romantismo, sem filtro, mas com amor e auto estima de sobra.

Indicações:

Série:
Investigação Criminal – Netflix

Livros:

-O Escravo de Capela – Marcos Debrito – http://faroeditorial.com.br/produto/o-escravo-de-capela/

-Taking Charge of your Fertility – Toni Weschler https://www.harpercollins.com/9780062409911/taking-charge-of-your-fertility/

-Embaraçada – Meaghan O`Connell – http://primaveraeditorial.com/shop/embaracada/

-LabPub – http://labpub.com.br/

Conversa com a gente:

Facebook: /asdesqualificadas
Instagram: @asdesqualificadas
Twitter: @desqualificadas
Email: asdesqualificadas@gmail.com

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Copa C3 | Alô, torcida brasileira

Poucas pessoas tiveram o privilégio de escolher o time para o qual torcem. Ainda crianças, acabam atravessadas por motivos aleatórios que – entre a família, o vizinho, um rastro de imagem de TV, uma mudança de casa, um barulho da rua, um ruído do rádio e até mesmo o mais puro acaso – definem o rumo dos afetos. Me vi palmeirense, aos cinco anos e diante do gol de Evair que completa bodas de prata nesta semana, por razões, digamos, alfabéticas: chegaram na fazenda, era final dos anos 1960, com uma camisa com o símbolo do Palmeiras e outra do Corinthians; meu pai, Paulo, escolheu a que tinha um P no peito, é o time com a letra do meu nome! Seu irmão, meu tio, ficou com a outra, e a casa estava dividida, entre alviverdes e alvinegros, definitivamente.

Com a seleção, na Copa, é diferente. Essa coisa de representar a pátria, as conexões forjadas com os contextos político e econômico, o distintivo e o chamado da Confederação, as apropriações da camisa amarela, os comprovadamente corruptos na gestão do futebol e megaeventos, o time formado por gente que atua longe dos nossos gramados, os jogos mandados na Inglaterra… há um universo de poréns na razão entre torcedor e equipe nacional. Daí perguntam, a cada esquina: você vai torcer pelo Brasil?

Seja qual for a utilidade da resposta e para desespero de quem vê o mundo em cara ou coroa, haverá, entre o afeto da criança e a razão do senso crítico, entre o pacheco fanático e o secador convicto, um universo de indiferentes que escapam um sorriso quando Neymar deixa o zagueiro no chão ou mesmo um mundo de torcedores que, na derrota, não comprarão a briga canarinho. É um troço maravilhosamente estranho. Sábio, só surge a cada quatro anos, como um enviado do caos para escancarar as mais evidentes contradições no sentimento de um apaixonado por futebol. Um estorvo saboroso, uma delícia insuportável no casamento atual do brasileiro com o maior torneio de todos.

Copa do Mundo, enfim: amamos e odiamos.

Mas, dentro dessa salada russa, diante de eufóricos e antipáticos, uma coisa é fato: a seleção brasileira não se apresentava com um time tão bem armado há muito tempo, talvez desde 1994. Ali, o protagonismo era a força coletiva, a organização, e com menos talento ofensivo do que hoje. Desde então, nunca soou tão bem estruturada para essas semanas de loucura. Salvo alguns bons momentos, pareceu sempre mais dependente de seus craques que do entendimento do jogo, ainda mais, na maior parte desse tempo, sob o comando de técnicos que nem de longe eram os melhores nos respectivos momentos.

Além desse onze bem azeitado, o poder de definição da linha de frente desse escrete é raro. Nem no famigerado quarteto mágico, que foi à Alemanha aos trancos e barrancos e caiu antes do jogo decisivo, havia tanto cheiro de gol a essa altura. Com Willian, Coutinho, Neymar e Gabriel, a sensação é a de que sobrou é caixa.

O que isso garante? Absolutamente nada. Ainda que diante de três Copas seguidas tão pobres o que se vê de véspera já seja alguma coisa. Esse time, no mínimo, tem bola e cara para sair da paralisia vista e revista contra França, em Frankfurt, Holanda, em Porto Elizabeth, e Alemanha, em Belo Horizonte. Frente a torcedores, indiferentes e secadores de hoje, não que fosse possível piorar, também. No fim das contas, o campo é o termômetro do humor do sofá-arquibancada, e o mês de bola, a cada quatro anos, é quem escreve as memórias.

Boa Copa!

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