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Xadrez Verbal #91 Coreia do Norte

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PODERIO MILITAR NORTE-COREANO, ETA ENTREGA SEU ARSENAL NA FRANÇA

A Coreia do Norte pode destruir os EUA? O Japão? O mundo? O pouco que se sabe sobre o poderio do país é abordado nesta edição, resolvendo todas suas dúvidas. Também falamos das ligações políticas e da retórica da última semana entre as potências. Dos EUA pra Coreia, de lá pra China, passando pelo Afeganistão, chegando na Rússia, dali pra OTAN, parando na Síria. Cansou? A gente resume pra você.

Também fazemos uma retrospectiva histórica do Euskadi Ta Askatasuna (“Pátria Basca e Liberdade”), conhecido pela sigla ETA, que entregou suas armas nessa semana. Separatismo? Terrorismo? Qual é o contexto em que o movimento nasce e qual o contexto em que ele deixa de existir?

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Corpo Delito (2017)

*por Murilo Costa

O longa de estreia do diretor Pedro Rocha transita numa linha tênue entre a ficção e o documentário. Vemos a história de Ivan, cerca de 30 anos, como uma mosca na parede, numa proximidade inerte que chega a incomodar, numa linguagem que bebe diretamente da fonte do Cinema Direto. Porém, também há um trabalho forte de roteiro – conduzido por Diego Hoefel – que leva os personagens reais a encararem situações sugeridas e previamente pensadas. Por mais que isso possa soar estranho, tal recurso não tira em nenhum momento o grau de realismo do filme e a sensação de estar assistindo a algo muito autêntico.

OUÇA AQUI O CENTRAL CINE BRASIL #50, QUE ENTREVISTOU O DIRETOR PEDRO ROCHA

“Corpo Delito”é ambientado no Ceará, com suas particularidades geográficas e sociais. Mas, ao mesmo tempo, tem um eco muito forte do Brasil como um todo. Para um paulista desavisado, por exemplo, é possível assistir ao filme crendo que se passa em uma comunidade qualquer da cidade, e se pegar refletindo sobre essa realidade “paralela”. Sobre esse outro Brasil que não estamos acostumados a ver, esse Brasil periférico que não tem voz.

Ivan está em regime de semi-liberdade, utilizando uma tornozeleira eletrônica e com restrições em seu ir e vir. Precisa dormir todos os dias em casa, prestar contas de onde estava, o que fez, com quem, por quê. Logo de início um advogado faz crer que Ivan está recebendo um grande privilégio, e até dá motivos convincentes para isso. Ele pode dormir em sua própria casa ao invés de dividir uma cela – onde caberiam 6 presos – com outras 12 pessoas. Mas fica claro desde o princípio que a percepção de Ivan sobre essa pretensa liberdade é bastante diferente da visão que pretendem que ele tenha.

Temos um protagonista inconformado com sua vida cheia de restrições. Acossado por esse estado de semi-liberdade, de estar preso e solto ao mesmo tempo, vigiado o tempo todo, devendo satisfações de cada passo. E é nessa contradição que o filme se constrói, curiosamente fazendo um retrato contemplativo e sem emitir juízos sobre uma pessoa que está sendo julgada o tempo todo. Seja nas audiências com o juiz, em encontros com defensores,a advogados, ou até mesmo nas conversas em casa com sua companheira ou com o amigo, há sempre uma opinião de fora sobre o que ele deveria estar fazendo. Por que não procura um emprego? Por que não sossega? Por que não quebra a tornozeleira? Porque está se deixando submeter a isso? Ou por que não pode se submeter?

Em meio a todos esses questionamentos, Ivan só quer levar sua vida simples de sempre: tomar uma com os amigos, ir pro forró, fumar um baseado, dar umas voltas, conversar, sair na rua, ver seu Corinthians jogar. Há uma recusa em se submeter ao sistema, ao que esperam dele – sossegar, arrumar um emprego, ser responsável, cumprir tudo que manda o juiz. Curioso é pensar que muitos filmes de ficção usam essa premissa como algo positivo, o jovem que não se encaixa no que esperam dele e precisa de sua liberdade. O hedonismo e a busca de uma geração que não se acomoda no lugar comum. Mas são narrativas focadas na classe média ou média alta. Esses jovens podem ambicionar uma vida diferente. Livre. É como se o jovem de periferia não tivesse essa escolha. Sua vida logo está delineada em tons muito precisos, claro e escuro, caminho certo e caminho errado. Para traçar uma trajetória “de bem”, há uma rota muito estreia a se seguir; estudar, trabalhar, obedecer a lei, batalhar. Meritocracia.

Assistir a Corpo Delito incomoda porque o longa nos faz questionar o protagonista e suas escolhas, e logo percebemos quão carregados de preconceitos e lugares comuns podem estar sendo nossas opiniões. Queremos que ele siga um caminho que nós mesmos, muitas vezes, nos recusamos a seguir. Ao final, fica uma reflexão importante: quão livre é Ivan em seu regime de semi-liberdade? E quão livre era Ivan antes de estar preso? Quanto de sua vida já estava delineada por sua condição social?

“Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.” 

*Murilo Costa é cinéfilo, cineasta e integrante da bancada do Central Cine Brasil.

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Dibradoras #75 – MMA

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It´s Time!

IIIIIT’SSSS TIIIIME! Já estava mais do que na hora de falarmos sobre MMA feminino e, no podcast #75, compensamos esse atraso com convidadas de peso! Falamos com Fernanda Prates, jornalista especializada nas artes marciais mistas e repórter do MMA Junkie, e também com a lutadora Jéssica Bate-Estaca, que disputa o cinturão da categoria peso-palha no UFC no próximo dia 13 de maio.

Aos 25 anos, Jéssica já foi moto-táxi, entregadora de farmácia, atendente, aspirante a jogadora de futebol até finalmente se encontrar no MMA. Começando a lutar em 2011, a atleta já tem um currículo invejável com 16 vitórias em 21 lutas.

No entanto, até chegar a ser a primeira brasileira a lutar no UFC, Jéssica teve um caminho tortuoso. “O início é muito difícil, não tem estrutura, não tem dinheiro para comer nem nada”, afirmou, contando um pouco da realidade difícil da maioria dos lutadores e lutadoras até chegar ao sucesso no MMA.

“Acho que é um esporte muito ingrato, porque o esforço é muito, o atleta passa por tudo, as técnicas de desidratação que são desumanas para esses atletas que estão começando, sem nenhum acompanhamento profissional correto…e são pouquíssimos os que realmente conseguem sucesso, conseguem assinar com UFC e tal”, explicou Fernanda.

Jéssica e Fernanda comentaram também sobre os preconceitos que já sofreram por trabalharem com um esporte considerado “masculino”.

“A gente ouve muito de tudo, já ouvi que ninguém iria querer ver luta de mulher e hoje tá aí, tem vários eventos em que a luta principal é de mulheres. Hoje não tem mais essa, nós podemos ser quem nós quisermos ser”, afirmou Jéssica.

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Trivela #123 Só Jogão

O podcast Trivela nesta semana repercutiu, claro, a semana cheia de Libertadores, Champions League e Copa do Brasil. De Dortmund a Perdizes, do Maracanã ao Juventus Stadium, tudo sobre o que de melhor aconteceu no planeta bola. Com Felipe Lobo, Bruno Bonsanti, Leandro Iamin e Paulo Junior. Vem com a gente!

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Cine #50 Corpo Delito

Na 50ª edição do Central Cine Brasil entrevistamos o cearense Pedro Rocha, diretor do documentário ‘Corpo Delito’. Parte da Mostra Itinerante Histórias que Ficam, financiada pela Companhia Siderúrgica Nacional, o filme acompanha Ivan, um homem de 30 anos que depois de oito anos na cadeia volta para casa. Sua liberdade, porém, não é plena. Ivan é obrigado a levar a vida com uma tornozeleira presa ao tornozelo. O objeto condiciona todas as relações do protagonista, relações essas acompanhadas sem filtros pelo espectador.

A bancada também lembrou Glauber Rocha no bloco de história e passou por lançamentos e novidades do cinema nacional. Vem com a gente!

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Travessia #61: Trens e Estações

O trem é a saudade de um tempo que já passou. Ou a metáfora da passagem, da decisão importante, da vida que vai mudar.

Trens e estações, este é o tema do Travessia, a música brasileira em revista, nesta semana, que traz:
– Milton Nascimento
– Edu Lobo cantando Villa-Lobos e Ferreira Gullar
– Raul Torres e Florêncio
– Almirante interpretando João de Barro
– Chico Buarque
– Caetano Veloso
-Gilberto Gil
– Ivan Lins
– Sergio Sampaio
– Raul Seixas.

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Botão #104 Vasco x Palmeiras 97

O Meu Time de Botão desta semana, chegando na edição de número 104, destacou a final do Campeonato Brasileiro de 1997 entre Vasco e Palmeiras, que terminou com título carioca após dois empates sem gols. O escândalo antes da Série A começar, as campanhas dos dois times, o ano iluminado de Edmundo, o efeito suspensivo na semana do segundo jogo e muito mais histórias envolvendo grandes nomes como Felipão, Antônio Lopes, Juninho, Viola, Alex, Pedrinho, Zinho… vem com a gente!

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Uma tarde Lado B

*Por Daniel Soares

Em tempos de Flamengo (meu time) itinerante, jogando em todo o país, menos no Rio de Janeiro, eu estava com saudade de estádio. Até compareci à estreia na Libertadores, no Maracanã, no início de março. Muito embora golear em estádio lotado seja ótimo, eu estava também com saudade de um certo tipo de jogo. Aquele meio vazio, no qual podemos rodar pelo estádio, trocar de lado no segundo tempo e ouvir causos arquibancada afora. Daí, como os jogos do Mais Querido na cidade se tornaram eventos concorridos, de tão raros (e caros), resolvi que aquilo que eu procurava só poderia ser encontrado no Lado B do futebol.

Tabela do Carioca escrutinada, decidi-me por Bangu x Boavista, num sábado à tarde em Moça Bonita. Os atrativos eram vários. Do lado do Bangu, Loco Abreu em seu retorno ao Rio de Janeiro. Do outro lado, o “Cariocão All Stars” como bem define o pessoal do Baião de Dois, colegas na Central 3. O goleiro Felipe e o zagueiro Gustavo, ambos ex-Flamengo; o meia Fellype Gabriel, ex-Flamengo e Botafogo; e o técnico Joel Santana, que dispensa apresentações.

O estádio do Bangu fica ao fundo de uma bem cuidada praça, em frente à estação de trem de Guilherme da Silveira. É somente a poucos metros do estádio que dá pra perceber que tem jogo. Uns dois ambulantes vendem cerveja e refrigerantes. Tem uma barraca de pastel e uns dois varais com camisas piratas do Bangu. Ao se aproximar da bilheteria sou abordado por um ambulante, oferecendo ingresso a R$15 (a inteira na bilheteria sai a R$20). São meias-entradas que ele vende um pouco mais caro. Não tenho dinheiro trocado e a diferença em relação ao preço oficial se transforma em uma capa de chuva vagabunda (o céu tem nuvens ameaçadoras e Moça Bonita conta com cobertura apenas nas sociais).

A entrada no estádio não tem catracas. Um funcionário do clube recolhe os canhotos dos ingressos de papel no portão. A partir daí, você está livre para ir a qualquer setor do estádio. Não havia nada que impedisse, inclusive, o acesso à área dos jogadores. Subo a arquibancada principal, junto à social, e tenho uma visão nostálgica. As antigas cadeirinhas amarelas, que habitaram dois setores das arquibancadas do antigo Maracanã (de 2000 a 2010) estão lá. Cadeiras retiradas do estádio pré-Copa foram distribuídas para os estádios pequenos do Rio.

O jogo não está lotado, mas também não é vazio. A parte central está quase lotada. Até um deputado federal com base na região (conhecido por andar sempre com um pitoresco chapéu de cowboy) apareceu para prestigiar. Um popular o reconhece e faz um pequeno protesto: “o povo só toma!!”. O deputado sorri amarelo e seus seguranças observam intimidadores. O popular não se intimida, mas em poucos segundos segue para seu lugar na arquibancada.

O jogo, que é televisionado pela TV a cabo, atrasa alguns minutos. Não havia policiamento em campo. A viatura da PM chega e está tudo resolvido. A bola rola. Dois minutos de jogo e o zagueiro do Boavista põe a mão na bola. Loco Abreu surge, garboso, para a cobrança. No meio do gol. O goleiro não escolheu canto e faz a defesa. Apupos na torcida. Loco Abreu não faz no campeonato o que dele se esperava. “Esse aí veio só pra ter matéria com o Bangu”, resmunga um. “Só quer saber de ganhar dinheiro”, responde o mesmo que abordara o deputado.

O jogo segue entre resmungos e gritos de apoio. O torcedor resmungão é interpelado por uma senhora pelo excesso de palavrões. Ele dá um passa-fora nela, que diz que por causa disso vai passar a torcer pelo Boavista. O torcedor boquirroto ainda encontra tempo para fazer bullying com o filho adolescente vascaíno: “tem estádio, mas não tem time!”. Deve ser muito duro sofrer bullying em casa de um torcedor do Bangu.

No segundo tempo eu me mudo para a arquibancada oposta. É onde se concentra a torcida organizada Bangoró (e sua seção infantil, a Banguaraná). Há ainda alguns torcedores soltos, mais quietos e sóbrios que os do outro lado. Um deles, encostado no último degrau, assiste ao jogo com os olhos da resignação de quem já viu passar por aquele gramado times do mesmo nível dos grandes nos anos 60 aos 80.

Na enésima vez que o lateral direito tentou uma jogada e se enrolou com bola, ele não aguantou e gritou: “centra de primeira! Você sabe que não tem capacidade de conduzir!”. No fim do jogo o Boavista quase marca e a torcida alvirrubra que queria a vitória passa a desejar o fim do jogo para garantir um pontinho. O árbitro apita pela última vez sem que as redes tenham balançado. Não vi gol, mas vi o que eu queria.

 

*Daniel Soares é integrante do podcast Lado B do Rio, na Central3.

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Fronteiras Invisíveis do Futebol #32 Japão Pt.1

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サムライ・ブルー

Convidamos mais uma vez o amigo de origem okinawana Ubiratan Leal, comentarista de beisebol e futebol nos canais ESPN, para abrir os trabalhos do díptico sobre o Japão. Nesta primeira parte, nos dedicamos à ocupação do arquipélago, localizado no Oceano Pacífico, desde os primeiros vestígios arqueológicos até o período do Xogunato, passando pelos conflitos internos e a formação cultural do povo japonês. Ou povo Yamato?

Acompanhamos também a chegada e expulsão dos portugueses e o subsequente isolamento japonês, que só terminará no século XIX, quando as modalidades esportivas ocidentais são introduzidas nas ilhas. Entenda como o beisebol tornou-se o passatempo favorito dos japoneses e o futebol ganhou popularidade no final da década de 1980, através das diversas competições sediadas no país e a legião de jogadores e treinadores brasileiros, inclusive defendendo a seleção nacional.

Explicamos também a Restauração Meiji, consequência direta da Diplomacia da Canhoneira. Com a modernização do país pelo alto e a restauração do poder imperial, o Império Japonês torna-se a primeira potência mundial asiática, adotando uma política expansionista, até a Segunda Guerra Mundial.

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O Som das Torcidas #104 BaVi

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In Memoriam Carlos Henrique!

Conversamos com Irlan Simões, nosso correspondente em Salvador, sobre os incidentes que permearam o primeiro clássico da Bahia nesta temporada.

Irlan derrubou o mito do “bom baiano”, expôs a violência da sociedade local e o histórico de rivalidade entre rubro-negros e tricolores.

Também debatemos a sugestão do MP-BA de torcida única para os próximos BaVis, assim como ocorreu no Clássico das Multidões entre CSA e CRB na vizinha Alagoas.

Conheça outras arquibancadas através do SDT

Acesse a página especial do podcast e visite também o site com a primeira temporada do Som das Torcidas em vídeo, numa turnê pelos estádios da capital paulista!

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Ideologia de gênero é o que se faz desde sempre

*Por Miguel Rios

Começa já na ultrassonografia quando detecta os genitais. “É menino!” ou “É menina!”. Notícia dada, pai e mãe compram Transformers ou Barbies, decidem a cor do quarto, o nome, a sexualidade da criança. Imaginam como vai se portar, como vai se vestir, o destino que terá.

Desde cedo, a criança entra na linha montagem ideológica. Vai aprender que há brinquedos de menina e brinquedos de menino, que há comportamento de menina e comportamento de menino, que há roupa de menina e roupa de menino, que menino tem que namorar menina e menina tem que namorar menino, que menino tem que ter muitas namoradinhas e menina tem que sonhar em se casar e gerar filhos, que menino é para ser bravo, aventureiro e desafiador, e menina é para ser doce, frágil e caseira.

Uma ideologia de gênero condicionante, baseada no senso comum e na repetição de padrões. Foi assim com pai e mãe. Foi assim com avô e avó. Tem sido assim. Um rolo compressor.

Mas juram: o que vai doutrinar a criança é a escola debater sobre homossexualidade, bissexualidade e transexualidade. É informar que existem outras formas de ser e sentir fora da caixa azul e rosa. Que existem desde sempre, que a construção de preconceitos e opressões existe para que só um tipo seja tido como normal. Porque a defesa do normal é muito cara para quem quer se sentir correto e superior.

A escola perde direitos que lhe são óbvios: ampliar o conhecimento, desmentir inverdades, promover pluralidade. Esse é o real medo. De que haja a desdoutrinação. Algo que o conhecimento consegue ao estimular o raciocínio, o contraditório e o coerente. Faz-se o quê? “Vamos destruir o conhecimento. Essa coisa maligna enviada por Satã”.

Representantes da bancadas religiosas que entopem o Congresso marcham com rapidez até o Palácio do Planalto para pressionar Michel Temer. Que pressiona o ministro da Educação, Mendonça Filho, que já autoriza a retirada dos termos “orientação sexual” e “identidade de gênero” da Base Nacional Curricular. “Temer deu sinalização que nos apoia nesse sentido. Está somando conosco para defendermos a família brasileira”, Victório Galli, líder do PSC na Câmara.

Alegam que não é biológico, que é mera sociologia. Ainda não aprenderam o básico: a biologia sozinha não nos define. Somos humanos. Somos biopsicossociais. Somos complexos.

Marco Feliciano opinou: “Os pais podem descansar. O Estado não vai interferir na educação dos filhos”. Marco Feliciano dar pitaco em educação? Marco Feliciano que propôs o ensino do criacionismo como alternativa à Teoria da Evolução. Que crianças aprendam como possibilidade científica a humanidade ter surgido após um homem feito de barro e uma mulher feita de costela baterem um papo com uma cobra e comerem uma maçã.

O MEC alega que o documento “passou por ajustes finais de editoração/redação que identificaram redundâncias”. Deixaram lá arremedos como “pluralidade” e “convivência” e “diversidade”. Despiste. Lusco-fusco. Retirar “identidade de gênero” e “orientação sexual” é claro recuo diante da pressão. O combate a opressões e violências não pode ficar nas entrelinhas. Tem que estar ao Sol.

Crianças LGBTs sofrem nas escolas. Agredidas, abusadas e isoladas. Um bullying feroz e constante. Apelidos, empurrões, tocaias, volta pra casa chorando… um número incontável de violências. Pablo Vittar, cantora e performer, já relatou que levou sopa quente na cara na fila da merenda pelo simples fato de dar pinta. Grande incômodo, né?

Sabe a dificuldade de uma travesti terminar o ensino médio? Sabe o que ela passa? A chance de chegar à faculdade? O índice de evasão escolar é altíssimo. É insuportável permanecer. Depois a acusam de enveredar pela prostituição.

Aí está a real ideologia de gênero nas escolas. A que mói almas e esperanças.

“Se tiraram da base por redundância, é fácil resolver. Basta recolocar. São palavras que não fazem mal se estiverem redundantes. O que faz mal é retirá-las”, defendeu o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Idilvan Alencar. “Eu sempre recebo alunos com problemas por discriminação de orientação sexual. Agora vamos fazer de conta que isso não existe?”

Não é questão de redundâncias. É um projeto político. Um projeto conservador de poder. Doutrinar crianças para que obedeçam as regras religiosas e binárias em uma humanidade que é diversa. O projeto castrador e fracassado de blindar crianças da homo e da transexualidade as vestindo de azul e rosa, de super-herói e princesa

 

*Miguel Rios é jornalista, recifense, militante LGBT e filho de Oxalá.

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Thunder #142 Bike

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Musica ao vivo? Turnê internacional, festivais, clipes, discos novos e velhos? Carreira, referências e retaguarda? Tá tudo aqui: Thunderbird falou com a Bike, e você ouve a íntegra clicando abaixo.

Vamos nessa?

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